A Ceia do Senhor: Livre ou Restrita?

A NATUREZA DA CEIA DO SENHOR

...fazei isto em MEMÓRIA de Mim

...quando vos ajuntais na Igreja...Ou desprezais a Igreja de Deus...?

A NOSSA POBRE MEMÓRIA

ANTECIPO A CONCLUSÃO! Levam-nos a ela as Escrituras. É da própria natureza da Ceia do Senhor ser MEMORIAL e ECLESIAL.

O AMOR ANELA AMOR – A obra da Redenção do pecador é o resultado do Amor de Deus. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua Vida por nós” (I Jo. 3:16). Deu-no-la por sermos rebeldes e perdidos: “Mas Deus dá prova do Seu Amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós” (Rm. 5:8). “Nisto está o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou a nós, e enviou Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (I Jo. 4:10).

É-me irresistível! Minha alegria de salvo graças ao Amor de Deus me constrange a consigna-las. São conhecidas de cor por todos os crentes. Estão no coração agradecido deles. São as palavras de Jesus: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a Vida Eterna” (Jo. 3.16).

Uma das características do amor é o anelo da reciprocidade. O amor quer amor. Amando-nos Deus quer que O amemos. Não que Ele precise do nosso pobre e inconstante amor. Por amá-lO tornamo-nos ainda mais objetos do Seu Amor. Ele, em nos amando, quer que O amemos para nos cumular ainda mais de Seu Amor.

Paulo Apóstolo, cujo coração ardia de amor pelo Deus de Amor, levante este insopitável apelo: “Sede pois imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como Cristo também vos amou, e Se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave” (Ef. 5:1-2).

O INIMIGO – A separação estiola o amor. E nada separa mais que o tempo e o espaço. Longe dos olhos longe do coração...

O tempo e a distância que trazem o esquecimento.

O esquecimento é a nossa terrível debilidade. De tudo perdemos a lembrança...Dos magnos acontecimentos da História. Diluem-se na névoa do passado os fato mais íntimos da nossa vida, os instantes mais decisivos...E as palavras? Os conselhos de nossa mãe em nossa remota infância? As exposições dos nossos mestres em nossa distante escola? Os discursos dos oradores que nos empolgaram naqueles longínquos dias da nossa vibrante mocidade?

E os nossos propósitos de emenda de conduta? Ontem feitos entre lágrimas já hoje olvidados.

O esquecimento é o inimigo do amor porque esquecer é deixar sair da memória, é por de lado, marginalizar, recuar aos subúrbios do nosso afeto até enterra-lo de vez. Esquecer significa desprezar, abandonar. Esquecimento é a repulsa do amor...

A FACULDADE DE ESQUECER – Um dos meus professores, na sua longa experiência com os homens, definia a memória... Não como a faculdade ou capacidade ou aptidão inata de conservar e reter as idéias, as impressões e os conhecimentos adquiridos.

Definia a memória como a nossa faculdade ou capacidade de esquecer...

Antinomia absurda a definição do meu velho professor? Aparentemente disparatada (e só APARENTEMENTE disparatada) pois sua realidade é impressionante. Esquecemo-nos de tudo...ao meu professor assistem todas as razões!

O ESPÍRITO DA MEMÓRIA – Na condição de Parakletos, em sua Missão especial para com os Apóstolos, o Espírito Santo, “o Espírito da Verdade”, ser-lhes-ia o Espírito da Memória, da Lembrança: “...Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto Eu vos tenho dito”, assegurou-lhes Jesus Cristo naquele momento de Se despedir dos Apóstolos (Jo. 14:26).

João escreveu os seus livros mais de cinqüenta anos após os eventos e os pronunciamentos de Cristo neles registrados. Como poderia ele de tudo recordar-se? Com que condições lembrar-se-ia do discurso da sinagoga de Cafarnaum anotado no capítulo 6o do seu Evangelho? Dos pormenores da conversação com os Apóstolos e dos longos pronunciamentos a eles dirigidos na noite de Sua última ceia pascal? Dos lances das altereações do Mestre com os judeus?

É de se salientar outrossim encontrar-se João em já avançada idade quando redigiu das suas obras. Aí pelos 90 anos ou mais.

Em hipótese alguma João teria capacidade humana de se recordar de tudo. Conseguiu-o só por inspiração do Espírito Santo, o Espírito Santo da Memória, o Espírito da Lembrança.

OS MONUMENTOS E A NOSSA BANDEIRA – Em mármore ou em bronze erguidos nas praças públicas os monumentos dos feitos e dos vultos da Pátria significam a nossa luta de séculos contra o esquecimento.

Majestosa a tremular içada nos mastros a bandeira é a lembrança sintetizada, concentrada, da Pátria, de oito milhões e quinhentos mil quilômetros quadrados, epopéia geográfica de heróis e feitos faustosos.

AS PEDRAS DE JOSUÉ – É uma das páginas impressionantes das Escrituras. Concluía-se a longa caminhada dos desertos. Quarenta anos de marcha, de aventuras, de surpresas e de perigos. Quarenta anos de palmilhar as areias escaldantes seguidos ao secular jugo egiptano.

Chega a glória da posse. De plantar os pés na Terra Prometida. Repete-se o portento. Há quarenta anos separaram-se as águas do Mar Vermelho. Interrompe-se a correnteza do Rio Jordão. “Os sacerdotes que levavam a Arca do Pacto do Senhor pararam firmes em seco no meio do Jordão, e todo o Israel foi passando a pé enxuto, até que todos o povo acabou de passar o Jordão” (Js. 3.17).

Ao zéfiro da glória da entrada na Terra Josué ouve a voz de Deus. Sua Voz Soberana só Se manifesta em assuntos de transcendental importância. O que fala o Senhor? Que se edifique um monumento. De pedras. Pedras escolhidas. “...do meio do Jordão, do lugar em que estiveram parados os pés dos sacerdotes...” Pedras do monumento da prodigiosa passagem do rio de águas separadas.

Quantas pedras? O Senhor é minucioso na edificação do monumento. Quantas pedras? Doze! Cada uma transportada por um homem, “de cada tribo um homem”.

Como carregar cada um a sua pedra? “...sobre o ombro...”.

Em que local instalar-se-ia a construção? Em terra seca. Da outra banda do rio. Nos limites internos de Canaã.

Porque semelhante marco? “...para que isto seja por sinal entre vós; e quando vossos filhos no futuro perguntarem: Que significam estas pedras? direis a eles que as águas do Jordão foram cortadas diante da Arca do Pacto do Senhor...e estas pedras serão para sempre por MEMORIAL aos filhos de Israel...”.

Ordenança dada, ordenança cumprida! “...e ali estão até o dia de hoje” (Js. 4:1-9).

O magno evento deveria ser assinalado para memória perpetua num monumento significativo da vitória e das características do próprio povo vitorioso até no número doze de suas tribos.

O júbilo da inauguração do marco histórico confirma a alegria da vitória assinalada.

Josué, o condotiero, na solenidade inaugural do monumento-memória, fala ao povo: “Quando no futuro vossos filhos perguntarem a seus pais: Que significam estas pedras? fareis saber a vossos filhos, dizendo: Israel passou a pé enxuto este Jordão” (Js. 4:21-22).

É a tragédia da nossa memória! Já os filhos daqueles Israelitas lhes perguntariam: “Que significam para vós estas pedras?”. Qual manto indevassável o esquecimento se estendera sobre aquele memorial...

OS MEUS GUARDADOS – O ser humano, apesar de tão e sempre esquecido dos outros, apavora-se com a ameaça de ser ele esquecido. Por isso inventou a lembrança. Aquele pequeno objeto que se deixa a quem se ama. Inexplicável poder evocativo da lembrança a recolocar em nossas retinas o semblante daquela criatura querida, daquele sorriso, daquela voz, daqueles gestos...

Tenho-as nos meus arquivos. São muitas. Gosto de as guardar. Pétalas de flores desbotadas e ressequidas nos seus trinta e cinco anos de conservação. Cartas de papel amarelecido do tempo distante. Lenços com que enxuguei as derradeiras lágrimas dos meus melhores amigos na hora da última partida. Fotografias...Ah!, as fotografias das minhas reminiscências...

Quando eu morrer tudo será queimado como lixo e alguém perguntará: o que significava para o velho tudo isso?

CRISTO NOS CONHECE – E por conhecer a fragilidade da nossa memória decidiu deixar-nos uma lembrança. Um marco.

O seu mano? A túnica inconsútil? A manjedoura do Seu Natal? A coroa de espinhos? A Sua cruz? A espada que Lhe lacerou a Coração Enxangue? Um pão do milagre dos ermos de Cafarnaum?

Nada disso! Poderiam eles ser transformados em alvos de culto.

Ao comemorar a Páscoa judaica quando a extinguiu, poucas horas antes de Sua Paixão e Morte, fundou a Sua Lembrança dramatizada com o emprego de pão e vinho.

O memorial fixa um evento definido. Não o Seu Nascimento. Nem nenhum de Seus milagres. Nem a Sua Ressurreição. A Ceia Memorativa assinala a Sua Morte. O pão símbolo do Seu Corpo Partido. O vinho emblema do Seu Sangue esparzido. Na singeleza do seu ritual ela nos evoca a Suprema Obra do Senhor em nossa Redenção Eterna e desperta em nosso íntimo os mais vivos sentimentos de amor e gratidão ao nosso Salvador.

A INSTITUIÇÃO

A GRANDE SALA do festim, o anaigon dos gregos ou o cenaculum dos latinos, no crepúsculo daquele dia 14 de nizan, acolhe treze convivas.

No centro da mesa coberta de alvejante toalha franjeada de vermelho e roçar o pavimento em ladrilhos. Em cima dela pratos e as taças do ágape. Dos cestos sobressaem pães ázimos, o matzot dos judeus, de farinha triga sem levedura no simbolismo do pão feito às pressas no momento histórico da fuga do jugo egípcio. A memorar os tijolos amassados com o barro do Nilo, o molho avermelhado, o harozet, de formula minuciosa, composto de tâmaras, amêndoas e figos, macerados num fio de vinagre. Lembranças das amarguras suportadas à sombra das Pirâmides, escarolas, agriões, rábanos e salsas aos maços. As taças recheadas da bebida feita de dois terços de água e um de vinho. Na postura central do rito o cordeiro branco, macho, de um ano e sem defeito, assado no calor do fogo vivo; acima das brasas suspenso em espetos de romanzeiras que lhe conservam os ossos inteiros. Tudo pronto para a ceia legal da Páscoa, a máxima solenidade judaica, cuja instituição divina Moisés anotara no capítulo 12 do livro do Êxodo.

Os treze homens acomodam-se em ordem de precedência nos largos divãs amaciados por almofadões. Reclinam-se sobre o braço esquerdo afundado nos coxins e o direito fica livre para se servirem dos manjares.

Distingue-se uma voz. Enseverada de emoção, embrandecida de afeto: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, ante da Minha Paixão, pois vos digo que não a comerei mais até que ela se cumpra no Reino de Deus” (Lc. 22:15-16).

É a Palavra de Jesus rodeado dos Doze Apóstolos. Adensa-se a tristeza. Carregam-se os semblantes de apreensões. Um frêmito de angustia perpassa o coração dos discípulos. Entre os sinedritas naquela mesma hora concertam-se planos, os sacerdotes conspiram, confabulam os esbirros. A fisionomia carregada e soturna do Iscariotes reflete a trama da traição.

Numa atitude de majestade sobrenatural a presidir o ágape litúrgico, nosso Senhor profere a oração ritual, abençoa o cálice cintilante aos reflexos dos lampadários suspensos do teto. Prova seu conteúdo. A taça circula de mão em mão.

Impetra a bênção sobre a travessa das ervas amargas. Dela retira algumas folhas, umedece-as no harozet cor-de-tijolo, mastiga-as, sendo, ato continuo, secundado pelos Doze.

Um dos comensais solicita ao presidente a explicação daquela solenidade. Exibindo o anho assado recoberto de ervas amargas e vegetais aromáticos de pronunciado sabor: orégano, loureiro, tomilho e manjericão, Jesus exclama: “Esta é a Páscoa do Senhor!”E minucia o episódio da libertação de Egito.

De novo a taça circula. Outra vez os convivas abluem as mãos. Aos Apóstolos o Mestre oferece pequenos pedaços do pão ázimo por Ele partido misturados com as ervas amargas embebidas no molho harozet.

A comemoração pascal atinge o ponto culminante. É o do partir o cordeiro. Jesus o abençoa. Trincha-o. A cada participante do festim oferece um pedaço. Recita a primeira parte do Hallel, o hino composto pelos Salmos 113-118. Segue-se o terceiro brinde, a “taça da benção”. É entoado o cântico das graças, a segunda parte do Hallel.

Todas essa ritualística, a prolongar-lhe o tempo se mesclava de alegre conversação acerca dos mais variados temas.

***

Naquele 14 de nizan o cântico do Hallel consumou em definitivo a Páscoa judaica. O antítipo daquele cordeiro, nosso Senhor Jesus Cristo, o Verdadeiro Anho de Deus, poucas horas seguintes, seria levado ao altar do Sacrifício. Consumar-se-ia a Velha Dispensação. Caducaria a Lei. Ter-se-ia vencido o sacerdócio levítico. Extinguir-se-ia a razão dos sacrifícios prefigurativos de animais. Com a explosão da luz da realidade desvanecer-se-iam as sombras...

***

Segundo o costume, a antecipar o quarto cálice, ocorria um banquete sem qualquer formalidade ritual.

Neste momento de descontração o Mestre afasta-se da presidência. Despe-se do himátion, o mantéu externo. Recobre a túnica com uma toalha de linho. Enche dágua a bacia das abluções.

Que fará Ele?

Gesto inusitado!

Prostra-se por terra...

À carga das emoções e das tristezas provocadas pelo semblante sério do Mestre, sobrepõe-se a espantosa surpresa: o presidente da Mesa Pascal a humilhar-se à semelhança dos escravos. E na postura de servo lava os pés dos Apóstolos...

Naquele hiato entre o fim definitivo do solene festim pascal e a instituição da singela Ceia Memorial, o surpreendente gesto de humildade evangélica... O escravo Jesus Cristo de rojo a lavar os pés dos discípulos....

Em ocasiões anteriores duas mulheres, uma antiga meretriz e a outra exorcizada dos demônios, banharam-Lhe os pés com suas lágrimas, enxugaram-Lhos com o véu dos seus femininos cabelos, ungiram-Lhos com recendente ungüento...Loucas ações impulsionadas pelo amor porque só o amor tem dessas loucuras...À arrependida ficou bem tal exagero porque muito, muitíssimo, se lhe perdoou. A Maria, que se antecipara a ungir o Corpo do Mestre para a sepultura, couberam os aplausos do Senhor e atribuir-se-lhe-ão ovações ao ser contado o seu feito “para memória sua”, “onde quer que for pregado o Evangelho”.

Que humanas e pecadoras criaturas se atirem aos Pés Sagrados...Pode-se entender!

Mas que Jesus se rasteje aos pés dos homens!!!

Ali está Ele...na suprema humilhação. Sem quaisquer formalismos...Porém sob o impulso do esvaziamento completo de Sua condição de Filho de Deus.

Vai chegar ao excesso do Seu desvairamento...

Desvario? Não tenho outro termo em meu pobre vocabulário. À vista dos homens, aos meus orgulhosos olhos é-me absolutamente impossível compreender...Só a título de desvario. De amor desvairado Jesus Se lança a lavar os pés daqueles homens. O amor tem desses excessos...

Já a Sua Encarnação não é um exagero de amor? O despojamento de Si mesmo ao nivelar-Se com os homens não é um extremo de amor? Suas lágrimas?

Sua compaixão dos pecadores?

De rastos achega-se a Judas Iscariotes. Acaso abluirá os pés do traidor? Ele de joelhos diante de Judas em cujo coração se instalara o diabo?

Há três anos, tentando-O, satanás propusera-Lhe prostrar-Se aos seus pés diabólicos para adorá-lo e em troca dar-Lhe-ia os reinos encantados do mundo com toda a glória deles.

Enérgico repelira-o o Senhor. Bravo e vigoroso esconjurara a atrevida proposta.

Agora, contudo, Ele ali...prostrado aos pés de Judas habitáculo do diabo...

Se uma alma vale mais do que o mundo inteiro com todos os seus suntuosos reinos e magnificentes glórias, nosso Senhor Se arrojou diante do traidor a lhe dar ainda uma oportunidade de se salvar da ação traidora. Por amor de uma alma, da alma de Judas, Jesus é capaz do desvairamento extremo e inconcebível de se prostrar diante do pecador possuído pelo diabo...

Jesus rasteja...Ele vai Se erguer. Lava os pés do último dos Doze. Levanta-Se. E é suspenso no madeiro do opróbrio. Se Ele veio para ser na cruz o maldito por nós e nos libertar da maldição da lei que nos incrimina e condena?

É nessa atmosfera de extrema sensibilidade e de excitada expectativa que o Senhor funda a Sua Solenidade Memorativa.

***

O relato evangélico é suscinto como simples é a Ceia do Senhor.

Entre esta e a Páscoa judaica cavam-se diferenças abismais.

A Páscoa judaica memorava o êxodo do Egito. Centrava-se seu simbolismo no cordeiro. Cercavam-se pomposos e complicados ritos, desde a sua seleção sob rigoroso critério.

O cordeiro se comemorava um evento posto na História pretérita, tipificava outrossim um acontecimento futuro na Pessoa de Jesus Cristo a Se imolar na Cruz.

Chegara o verdadeiro anho. “Eis o Cordeiro de Deus!”, clamara o Batista Precursor.

Na cruz consumiria os pecados dos crentes nEle.

Concretizara-se em esplêndido acontecimento o Prenúncio repetido pelo cordeiro pascal sacrificado a cada 14 de nizan. Esta comemoração, carregada de mensagem profética, perdera agora sua razão de ser. Extinguiu-a a cruz em cujos braços Se dependurara o Cordeiro de Deus.

O festim pascal olhava para o futuro. Chegara esse futuro. Caducou o rito hebreu!

A Ceia do Senhor, instituto inteiramente novo, memora o evento do Calvário já acontecido e anuncia outro episódio futuro. Lembra a Redenção da cruz e reaviva a expectativa da Segunda Vinda de Jesus: ATÉ QUE ELE VENHA (I Cor. 11:26).

Os elementos simbólicos da Ceia são outros. Não se concentram em carnes de um animal e sim em pão e vinho.

Seu rito é de uma eloqüente simplicidade. Seu dia de celebração, sem se restringir ao 14 de nizan, é qualquer um: “todas as vezes”.

Seu significado é o da libertação espiritual, da alforria do pecado.

A Ceia do Senhor não substituiu a Páscoa israelita. Nem a prolonga. As diferenças características de cada uma separam-nas por inteiro.

A Ceia do Senhor é instituto novo! Sem vínculo algum com o festim judaico.

***

ISTO É O MEU CORPO...ESTE CÁLICE É O NOVO TESTAMENTO NO MEU SANGUE...

De todo conveniente um Memorial de Sua Morte. Com A confiaria à lembrança fortuita dos homens?

No pão o símbolo do Corpo de Jesus! Do Corpo que Se prostrou à raiz das oliveiras...Do Corpo que rolou exânime na sala dos acoites...Do Corpo que arfou sob o peso do madeiro...Do Corpo que pendeu no patíbulo...Do Corpo por nós dado...

No vinho a figura do Seu Sangue! Do Sangue que molhou o Getsêmani...Do Sangue que lavou o pretório do procônsul...Do Sangue que gotejou as ruas jerosolimitanas...Do Sangue que manou da Cruz...Do Sangue por nós aspergido...

Na Ceia o MEMORIAL de Sua Morte Vicária e Expiatória.

“Partiu o pão...” A publicar o esfacelamento do Seu Corpo e a revelar-Se-nos Vítima por Sua própria Vontade.

Ao celebrar a Ceia arde-nos o coração com a inefável e enlevante lembrança do Seu Sacrifício, ÚNICO porque de VALOR INFINITO. Somos movidos à gratidão pelo dom de nossa salvação eterna.

...EM MEMÓRIA DE MIM

SOBERBO É QUEM “não se conforma com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Tm. 6:3) porquanto a advertência de Paulo a Timóteo também nos afeta: “Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido...” (II Tm. 1:13).

A Verdade de Deus é mais segura na “linguagem sã” (Tt. 2:8). Com efeito, as sãs palavras facilitam a sustentação da “Sã Doutrina”.

Expurguemos do nosso linguajar os termos que podem comprometer a Ordenança Memorial com as suas trágicas deturpações. Chamemo-la de CEIA DO SENHOR, ou MESA DO SENHOR ou ainda PARTIR O PÃO que são expressões bíblicas. Expunjamos as locuções “sacramento”, “eucaristia”, “santa ceia” e que tais porque além de não serem bíblicas, estão comprometidas com aberrações doutrinárias.

Lucas (22:9) e Paulo Apóstolo (I Cor. 11:24 – 25) consignam o vocábulo epigrafado MEMÓRIA. Estudemo-lo. Esta sã palavra encerra em compacto e sólido conteúdo doutrinário. Ela define a natureza da Sagrada Ordenança.

1) – MEMÓRIA é recordação. Um objeto é memória na medida em que desperta a lembrança de algo ou de alguém.

A Ceia do Senhor, por Ele próprio instituída e ordenada, é o símbolo, a representação dramatizada em figuras, a comemoração por meio do uso de emblemas específicos, da Morte de Jesus Cristo. É o Monumento Memorial da Redenção do qual os membros de uma Igreja, juntos, reunidos para esse finalidade, participam.

Em decorrência de ser memória a Ceia, também os seus dois elementos são simbólicos. O pão figura o corpo de Jesus que por nós foi “partida” e o vinho representa o Sangue do Salvador por nós “derramado”. Separados figuram outrossim a Sua Morte consumada na cruz precisamente com a separação do Sangue e do Corpo.

Nas refeições alimentamos nossos corpos. Eles definham sem a nutrição. Espiritualmente vivemos de Cristo (Gl. 2:20). Assimilando continuamente pela fé os méritos de Sua Morte somos nutridos por Ele. Pão e vinho por serem alimentos simbolizam no ritual da Ceia do Senhor esta apropriação de Cristo pela fé. Não é que esses elementos tenham em si qualquer poder de comunicar a Graça ou que tenham a “graça inerente”. Em sendo eles semelhanças figurativas de Jesus no Calvário, ao participarmos da Ceia do Senhor, a fé no Salvador é reavivada e reativada em nosso íntimo.

A Mesa do Senhor em pão e vinho é símbolo, repitamos até à saciedade. E a Verdade por ela simbolizada é a Expiação de Cristo pelo pecado. Ela jamais nos favorece a adoção do sentido de presença atual e real, física ou espiritual, do objeto lembrado nos elementos da memória ou símbolos.

A bandeira é memória da pátria. Todavia a pátria não está fisicamente ou espiritualmente presente na bandeira. A fotografia lembra-me meu pai, mas ela não o contém nem física nem espiritualmente.

2) – Nas Sagradas Escrituras é freqüente o emprego do vocábulo MEMÓRA em sua verdadeira acepção sem quaisquer possibilidades de se criar uma semântica a denunciar mudança ou transformação sofrida, no tempo e no espaço, pela sua significação.

Por mais que se queira criar dentro das Escrituras uma semântica acerca do termo MEMÓRIA, ele permanece irredutivelmente inalterado. Também em nosso linguajar comum de todos os tempos.

Naquelas duas pedras incrustadas nas ombreiras do éfode sacerdotal inscreviam-se os nomes dos filhos de Israel para memória deles diante do Senhor quando o sacerdote entrava no Santuário (Ex. 28:9-12,29; 39:7).

Na eventualidade de o marido suspeitar infidelidade da mulher deveria ele apresenta-la ao sacerdote acompanhada de uma oferta de farinha de cevada com incenso, “a oferta de manjares de ciúmes, oferta MEMORATIVA, que traz a iniqüidade em MEMÓRIA” (Nm. 5:15,18).

O povo de Amaleque prejudicou os filhos de Israel quando da saída deles do Egito. Quando repousassem de todos os seus inimigos na terra de sua herança apagariam a “MEMÓRIA de Amaleque de debaixo do céu” (Dt. 25:19).

Se os filhos de Israel se desviassem dos caminhos do Senhor seriam espalhados por todos os cantos e o Senhor “faria cessar a MEMÓRIA dentre os homens” (Dt. 32:26).

Por não ter filho algum Absalão levantou para si uma coluna que lhe conservasse a MEMÓRIA do nome (II Sm. 18:18).

Quando morreu o filho da viúva de Zarefate, a mãe desolada lamentou-se a Elias: “Vieste tu a mim para trazeres à MEMÓRIA a minha iniqüidade, e matares a meu filho?” (I Rs. 17:18).

A Festa de Purim celebrava o livramento dos judeus sob o império de Assuero e se constituiu em MEMÓRIA deles para os seus descendentes (Éster 9:28).

A MEMÓRIA do ímpio há de desaparecer na terra (Jó 18:17) e a do inimigo perecerá com as cidades por ele arrazadas (Sl. 9:6). Contra os malvados Se volta a Face do Senhor “para desarraigar da terra a MEMÓRIA deles” (Sl. 34:16). Se o nome dos ímpios perecerá, “a MEMÓRIA do justo é abençoada” (Pv. 10:7). “...o justo ficará em MEMÓRIA eterna” (Sl. 112:6). E o Salmista, nas suas aflições, suplica a Deus que a iniqüidade dos pais dos seus inimigos esteja na “MEMÓRIA do Senhor” (Sl. 109:15).

A MEMÓRIA do Senhor permanecerá de geração em geração (Sl. 102:12). “O Teu Nome, ó Senhor, permanece perpetuamente; e a Tua MEMÓRIA, ó Senhor, de geração em geração” (Sl. 135:13). As gerações “publicarão abundantemente a MEMÓRIA” de “Grande Bondade” de Deus (Sl. 145:7).

Os profetas igualmente sempre aplicaram o termo MEMÓRIA nesta significação de lembrança sem qualquer sugestão de presença física ou espiritual de alguém no objeto memorial (Is. 26:8, 14; 65:17; Jer. 11:19; Ez. 18:24; 21:24; 25:10; 29:16; 33:16; Zc. 13.2).

3) – O Novo Testamento encampa invariavelmente a mesma acepção.

Mateus ao se referir à mulher que derramara ungüento nos pés de Jesus, anotou a promessa dEle no sentido de que o seu gesto seria mencionado “para MEMÓRIA sua” (Mt. 26:13). Ninguém há de pretender uma presença física ou espiritual da mulher quando se lê o registro de seu feito ou quando a ela se alude.

Ao orar pelos romanos, efésios, filipenses, tessalonicenses, Timóteo e Filemon (Rm. 1:9; Ef. 1:16; Fl. 1:3; I Ts. 1:2; II Tm. 1:3; Fm. 4), tendo em sua mente a lembrança deles, é evidente que Paulo Apóstolo não tinha em si a presença física ou espiritual desses fieis. Em contrapartida, ao aludir à “afetuosa lembrança” que os tessalonicenses lhe dedicavam o Apóstolo estava longe de admitir a sua própria presença física ou espiritual no coração saudoso daqueles crentes (I Ts. 3:6).

Se no Antigo Testamento os verbos correlatos a MEMÓRIA ou LEMBRANÇA como recordar, lembrar, também na voz passiva (recordar-se, lembrar-se), têm o seu emprego natural, o mesmo ocorre no Novo Testamento, desde Mt. 5:23 a Ap. 16:19.

4) – Fato idêntico acontece no grego, a língua original do Novo Testamento. Se em português temos os vocábulos sinônimos memória, recordação, lembrança, igual fato se dá com a língua original do Novo Testamento. Por exemplo mneia, mnemosunon, mneme, e os verbos correlativos igualmente sinônimos: mimneskomai e mnemoneou.

5) – Há todavia um outro termo sinônimos que nos chama a atenção pela proposição ANA e ele juntada. É ANAMNESIS, usado por Lc. 22:19 e por Paulo em I Cor. 11:24-25, ambos no registro da Ceia do Senhor.

A preposição grega ANA tem várias aplicações. Pode expressar a idéia de para cima, no meio de, para trás, de novo. No caso específico da Ceia, é evidente, denota repetição. MEMÓRIA, COMEMORAÇÃO ou LEMBRANÇA REPETIDA, fazendo-nos voltar para trás em nossa recordação do Evento do Calvário já acontecido no passado. A preposição ANA aqui, por conseguinte, não denota qualquer indício de alguma presença da coisa ou da pessoa memorada. Nem aqui e nem em parte alguma quando vem anexada a MNESIS.

Com efeito, ANAMNESIS é COMEMORAÇÃO ou lembrança repetida de um acontecimento. A Ceia do Senhor é a cerimônia em memória do importantíssimo acontecimento de Sacrifício de Cristo.

“...fazei isto em MEMÓRIA (ANAMNESIS) de Mim”, disse Jesus (Lc. 22:19 e I Cor. 1124-25).

O próprio contexto, sobretudo de I Cor. 11:23-34 demonstra o aspecto de repetição da solenidade destacada pela preposição ANA. A locução TODAS AS VEZES dos vv. 25 e 26 de I Cor. 11 sublinha esse aspecto e explica a presença da preposição.

A palavra ANAMNESIS aplicada por Lucas e Paulo Apóstolo ao consignarem a instituição da Ceia do Senhor, quando poderia ter sido adotado outro termo sinônimo não implica em idéia de qualquer presença real, física ou espiritual, de Cristo nas espécies de pão e vinho. Porque se o emprego dessa palavra é próprio do registro da fundação da Ceia, contudo, não é unicamente encontrado aí. Encontro-o na versão grega do Velho Testamento, a VERSÃO DOS SETENTA, a SEPTUAGINTA.

Vejo-o aplicado exatamente em relação ao pão também adotado no Culto a Deus. Em Lv. 24:5-9 deparo-me com as minuciosas instruções do Senhor Deus quanto ao pão disposto na “mesa pura” do Culto Sagrado da Antiga Aliança: “E sobre cada fileira porás incenso puro, que será para o pão por oferta memorial (ANAMNESIS); oferta queimada é ao Senhor” (Lv. 24:7). Também aí a preposição ANA denota o aspecto da permanência do símbolo- memória no elemento pão a ser renovado em tempos determinados.

Releva observar-se que a admitir-se qualquer presença real, física ou espiritual, no pão da Ceia do Senhor em resultado do emprego do vocábulo ANAMNESIS, de igual modo haver-se-ia de se aceitar semelhante presença naquele pão do Culto do Velho Testamento.

Paulo Apóstolo outrossim aplica-o mais uma vez além de em I Cor. 11:24-25. É em Hb. 10:3 onde, ao aludir à ritualística da Lei, diz: “Nesses sacrifícios, porém cada ano se faz comemoração (ANAMNESIS) dos pecados”.

Seria possível aceitar-se qualquer presença verdadeira, real, nesta ANAMNESIS?

Este vocábulo também tem seu verbo correlativo com o destaque da preposição ANA a ele ajuntada. É o verbo ANAMIMNESKO.

Macros emprega-o duas vezes. “E Pedro, lembrando-se, disse-Lhe: Mestre, eis que a figueira, que Tu amaldiçoaste, se secou” (11:21). “E o galo cantou segunda vez. E Pedro lembrou-se da palavra que Jesus lhe tinha dito...” (14:72).

Paulo Apóstolo, pelo menos em quatro outras oportunidades, adota o verbo ANAMIMNESKO. “...o qual” (Timóteo) “vos lembrará os meus caminhos em Cristo” (I Cor. 4:17). “E o seu” (de Tito) “entranhável afeto para convosco é mais abundante, lembrando-se da obediência de vós todos...” (II Cor. 7:15). “Por cujo motivo te” (a Timóteo) “lembro que despertes o dom de Deus que existe em ti...” (II Tm. 1:6). “Lembrai-vos, porém, dos dias passados, em que, depois de serdes iluminados, suportais grande combate de aflições.” (Hb. 10:32).

Seria incorrer em inconcebível e imperdoável absurdo admitir-se nesses versículos de Marcos e de Paulo, onde aparece o verbo ANAMIMNESKO qualquer vestígio de verdadeira presença física ou espiritual.

6) – A Ceia, em sendo simbólica em sua celebração e em elementos materiais constitutivos, dramatiza o Evento da Morte de Jesus Cristo e nossa posse de Seus Méritos por nossa fé nELe.

Drama é uma peça teatral, em geral dividida em atos, em que os atores encenam comovente episodio capaz de transmitir ensinamentos. Em suas vestimentas, caracterização e atitudes os artistas encarnam e reproduzem um papel.

No primeiro apresentam-se os atores. Não artistas homens e mulheres. Os atores deste drama são as espécies de pão e vinho. O pão sem fermento a representar Cristo impecável com “os ázimos da sinceridade e da verdade”, porquanto nEle não há a levedura do pecado. No Antigo Testamento a Páscoa se celebrava com Paes ázimos e todo o fermento se retirava das casas dos israelitas (Êx. 12:15,19). Elemento de corrupção deve ser removido das Igrejas com o afastamento dos indignos (I Cor. 5:7). De resto, Jesus assemelha ao fermento a doutrina dos fariseus e dos saduceus (Mt. 16:11-12). Em Lc. 12:1 outrossim adverte os discípulos: “Acautelai-vos do fermento dos fariseus que é a hipocrisia”.

O pão sem fermento da Ceia é o símbolo de Cristo Imaculado, limpo das doutrinas dos fariseus e saduceus. É o Cristo sem qualquer hipocrisia. Cristo é a nossa Páscoa! Deve celebrado sem a levedura da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade, exorta o Apóstolo aos coríntios e através deles a nós (I Cor. 5:7-8).

O suco do fruto da videira é o Sangue preço do nosso Resgate.

No segundo ato do drama a significação da solenidade é exposta com a leitura das Escrituras pertinentes a nos evocarem o Magno Episódio.

No terceiro ato o pão é partido e o vinho derramado. É a dramatização do Corpo partido de Jesus e de Seu Sangue Precioso manado da cruz. Sangue separado do Corpo partido a figurar a Morte com a qual tudo Ele consumou.

No quarto ato do drama os partícipes comem do pão e bebem do Sangue. A memória deles se reaviva em direção daquele momento culminante da conversão de cada um quando cada um pela fé foi ao Salvador. E como o nosso organismo físico se nutre pelo comer e beber, revigora-se a nossa vida espiritual pela fé em Cristo. Esta fé, porque por ela nos apropriamos de Cristo, assemelhada ao comer a Sua Carne e ao beber o Seu Sangue.

7) – Congregado com toda a Igreja ao participar da Ceia o crente exercita três capacitações: a memória, a fé e a esperança.

Pela lembrança ele se volve ao passado. Não a recordar-se de seus pais ou de episódios de sua infância. Mas de Jesus Cristo. Não de Jesus menino reclinado na manjedoura, nem a discutir com os doutores da Lei no Templo, nem a palmilhar as estradas palestinas, nem a estender as Mãos na cura de doentes e no acalmar tempestades, nem a ressurgir dos sepulcro. Recorda-se de Jesus Cristo cravado e morrendo na cruz.

Pela fé fixa-se no presente. Ao comer aquele pão e ao beber daquele fruto da vide, símbolos externos do Corpo e do Sangue do Senhor Jesus, ao discernir neles esse Corpo e esse Sangue, a fé lhe exibe Cristo a sofrer especificamente pelos seus pecados. Os pecados que o participante da Ceia tem cometido em seu viver.

A esperança condu-lo adiante. Projeta-o no futuro. Posto no porvir preliba a Gloriosa Volta de Jesus. “Porque todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes do cálice estareis anunciando a Morte do Senhor ATÉ QUE VENHA” (I Cor. 11:26).

Todas estas considerações confirmam a convicção de ser, por sua própria natureza, a Ceia do Senhor o MEMORIAL, a recordação, ou lembrança, ou comemoração, de nosso Senhor Jesus Cristo cujo Corpo se dilacerou e cujo Sangue se espargia na cruz. A Ceia do Senhor é a sua anamnésia!

A Ceia Memorial se celebra, consoante sua Instituição Divina, com o uso de dois elementos ou espécies: pão e vinho. Ambos simbólicos. O primeiro do Corpo de Cristo e o segundo do Seu Sangue.

Em meu livro A MISSA, com a finalidade de rebater o dogma vaticano da transubstanciação, alongo-me em vários tópicos na análise dos testos escriturísticos da fundação da Ceia Memorial, no intuito de frisar a simbologia das duas espécies e do seu ritual.

II

Apresentadas a observação e a definição acima, consideraremos a ECLESIALIDADE da Ceia do Senhor como de sua própria natureza proclamando a seguinte tese neotestamentária:

Em sendo as IGREJA o Cristianismo biblicamente orgacional e local, o múnus do depósito, da administração e da preservação das Ordenanças Sagradas: Batismo e Ceia do Senhor.

O Batismo à entrada da Igreja e a Ceia dentro da Igreja. Porque pelo Batismo o crente entra, como membro, numa Igreja e participa da Ceia quando já dentro da Igreja.

Por ser esta segunda Ordenança o tema deste livro a ele nos restringiremos.

1)– Nosso Senhor Jesus Cristo ao instituir a Ceia Memorial fê-lo em assembléia com

os seus Apóstolos, participantes e núcleo originário e primacial da Igreja, e a eles, os Apóstolos, em congregação ou comunidade deu o mandato da Ceia.

Com efeito, os Apóstolos e somente os Apóstolos participaram com Jesus da celebração da primeira Ceia Memorial ocorrida por ocasião da última Páscoa do Mestre na noite antes de Sua Morte Redentora. Nem a mãe de Cristo lá esteve. Nem o chefe da casa em cujo “grande cenáculo” se deu o festim. Mt 26:20, Mc 14:17 e Lc 22:14 são explícitos ao determinarem os Doze Apóstolos na companhia do Senhor nessa circunstância.

Por que essa restrição? O que os Apóstolos tinham a mais dos outros discípulos? A mais de Maria a santa mãe do Senhor? De qual capacidade foram dotados?

O Pastor Jonas de Carvalho Lisboa, do Rio de Janeiro, em seu profícuo Ministério, prima por instruir seu rebanho na intransigente fidelidade à Sã Doutrina. Nesse afã escreve os esboços de suas pregações recheando-os de ricos e irrecusáveis argumentos. Deu-me ele uma cópia de seu valioso estudo sobre a Ceia do Senhor. Pois bem, no quarto ponto do seu perfeito desenvolvimento ele afirma: “A Ceia foi confiada primeiramente aos Apóstolos”. E pergunta: “E por que somente os Apóstolos?, seguindo-se a resposta precisa e segundo as Escrituras: “Porque eles ocupavam um lugar distinto entre as duas destinações”. E, em parágrafos posteriores discorre: “A eles coube a responsabilidade de dar forma à Igreja e de doutriná-la. É bem verdade que não receberam a Ceia para terem domínio sobre ela, assim como não organizaram Igrejas para estarem sobre elas, mas para servi-las e honrá-las, e para tanto, sempre se portaram como fiéis interpretes de suas Doutrinas porque não apenas a Ceia, mas todo o Cristianismo foi entregue aos Apóstolos”.

Sem se compreenderem a posição invulgar e o múnus ímpar dos Apóstolos torna-se impossível entender o Cristianismo Primitivo e, por conseguinte, o genuíno Cristianismo de sempre.

Fora de qualquer questionamento sensato, nosso Senhor Jesus Cristo é a Pedra Angular. A Rocha! (Mt.16:18; I Cor.3:11; Ef.2:20; I Pe. 2:4-8). Os Apóstolos, ligados e firmados à Pedra Angular Jesus Cristo, formam e compõem os alicerces sobre os quis nós todos somos edificados: “Edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, de que Jesus Cristo é a Principal Pedra de Esquina” (Ef.2:20). Destarte a Nova Jerusalém se cercará de muros fundamentados nos Doze (Ap.21:14).

Testemunhas presenciais, oculares e auditivas, “desde o princípio” (I Jo.1:1-2; Lc.1:2; Jo.15:27; At.1:21-22), do Ministério, da Paixão, da Ressurreição e da Ascensão, dos Discursos e Pronunciamentos de Cristo, são os Apóstolos, sob o Espírito Santo, os fundadores do Cristianismo, aos quais o Senhor conferiu a incumbência específica de Órgãos da Revelação Divina de Novo Testamento, também sob o Espírito Santo, o Espírito da Verdade, que neles habitou e os inspirou. São os primeiros colocados na Igreja (I Cor.12:28; Mt.10:1-5), investidos da missão de implantadores da fé foram no dia do Pentecostes alvos do especial e único revestimento do Poder do Espírito Santo, cognominado simbolicamente de Batismo no Espírito Santo. Nessas condições, já no dia do Pentecostes proclamaram o Evangelho na amplidão universal de todos os povos e a partir daí doutrinaram o Cristianismo (At.2:42). São o núcleo primeiro da Igreja que Jesus pessoal mento organizou e se tornaram como implantadores da fé, cofundadores sob o Espírito Santo das Igrejas do Período Apostólico, das quais foram superintendentes e orientadores.

A primeira nota (primeira em ordem de precedência e de importância), a primeira nota ou característica da Igreja em Jerusalém é que os discípulos, os antigos e os novos, “perseveravam na Doutrina dos Apóstolos” (At.2:42)-

Toda a Verdade Cristã está revelada e contida no Novo Testamento. Jesus Cristo, porém, não encerrou e nem revelou pessoalmente todo o depósito dessa Verdade. “Ainda tenho muito que vos dizer”, salientou eles; “mas vós podeis suportar agora. Quando viver, porém, Aquele, o Espírito da Verdade, Ele vos guiará a toda Verdade… Esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto Eu vos tenho dito” (João 16:12-13;14:26).

Esta Promessa, e evidente, não se destinou a todos os discípulos do Mestre, Seus contemporâneos e futuros. Limitou-se aos Doze, porque investidos do múnus especialíssimo e específico de Órgãos da Revelação Divina das Escrituras Neotestamentárias.

A Revelação parcial que Jesus em pessoa lhes fizera completar-se-ia pelo Espírito Santo que os revestira de poder ímpar e único porquanto ímpar e única a missão deles na Dispensarão da Igreja em seus primórdios.

Eis aí a legítima razão da presença exclusiva dos Apóstolos na oportunidade da instituição da Ceia memorativa.

Núcleo primacial, invariável, mínimo daquela primeira Igreja, por sinal peregrinadora com seu Pastor e Mestre nas Suas constantes viagens na Palestina. São eles a primeira oficialidade da Igreja: “E a uns por Deus na Igreja, PRIMEIRAMENTE, Apóstolos…” (I Cor.12:28; Ef.4:11).

Núcleo daquela Igreja com responsabilidades extraordinárias para uma missão extraordinária, o grupo dos Doze recebeu diretamente do Senhor o mandato do Instituto Memorial para transmiti-lo às futuras Igrejas Apostólicas que haveriam de celebrá-lo.

Com a primeira Ordenança, a do Batismo, também foram eles associados. Batizados por João o Batista foram os primeiros quando Jesus os convocou e com eles organizou a primeira Igreja. Sob a Autoridade de Jesus batizavam (Jo.4:1-2). No dia do Pentecostes batizaram os novos convertidos. E com estes, que “perseveravam na Doutrina dos Apóstolos”, celebraram o “Partir do Pão” (At.2:42).

A cobiçada sucessão apostólica dos “bispos” católicos é invencionice do orgulho humano. Os Apóstolos em sentido algum transmitiram seus específicos poderes e suas características funções a casta alguma de sucessores. Em sentido algum os Apóstolos têm ou tiveram sucessores. Nenhum clero recebeu deles a atribuição de perpetuar a celebração da Ceia do Senhor.

É a verdade cristalina e inocultável! O Augusto e Doce Memorial foi pelos Apóstolos, núcleo primacial da primeira Igreja organizada pessoal mento por Jesus, entregue à Igreja. Igreja que é a congregação dos regenerados, dos salvos, evangelicamente batizados. Confiada às Igrejas que são o Cristianismo biblicamente organizado. Demonstra-o At.2:42!

Paulo é Apóstolo. Em plena e total igualdade com os demais. “…em nada fui inferior aos mais excelentes Apóstolos”, em II Cor.12:11, confessa. “…porque Aquele que operou a favor de Pedro para o Apostolado da circuncisão, (Gl.2:8). Também ele é testemunha ocular e auricular de Cristo Ressuscitado (Gl.1:11-12; I Cor.15:1-8). É autor de mais da metade dos livros do novo Testamento. Mas do que qualquer outro Apóstolo implantou o Cristianismo entre a gentilidade. No apanágio de inexcedível doutrinador é o insuperável teólogo do Evangelho.

Paulo também escreveu acerca da Ceia do Senhor. Se os Sinóticos registram sua instituição, ele lhe consagra estudos nos quais memora sua fundação e estabelece diretrizes para sua correta celebração e administração. Aliás, foi o primeiro a escrever sobre ela, pois sua Primeira Epistola aos Coríntios foi redigida antes de qualquer um dos quatro Evangelhos. Por conseguinte, seu relato e suas orientações no tocante á Ceia como ato congregacional ou coletivo de uma igreja local apostólica forneceu as normas e as diretrizes da maneira de, já naquele primeiro século, se conceituar a Solenidade memorativa e de se celebrá-la.

Ele é textual. Definido! Categórico! “porque eu recebi do Senhor o que também VOS entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou pão; e, havendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o Meu Corpo que é partido por vós, fazei isto em memória de Mim” (I Cor.11:23-24).

Sublinhe-se esta notícia. Ela é fundamental! Tendo recebido diretamente do Senhor a revelação acera do Instituto Memorial ele o entregou á Igreja do Igreja! Não a uma outra instituição. Não a uma seita. Não a uma denominação. Não a uma hierarquia clerical, ambicionada sucessora dos Apóstolos. Confiou-a à Igreja local de Corinto. Como certamente entregou às outras Igrejas locais de outras cidades e regiões a exemplo da de Trôade (At.20:6-7).

Peço desculpas pela insistente repetição do pleonasmo: igreja local. Pleonasmo porque forçosamente toda Igreja é local. Como pleonasmo é dizer-se: batismo por imersão, pois todo Batismo é imersão.

Destarte toda vez que em Atos dos Apóstolos e nas Epístolas Paulinas nos deparamos com referências à Ceia encontramos alusão à Igreja na figura de um corpo local.

2) – Outra vez! Desculpem-me a insistência! É-me impossível deixar de insistir e persistir na mesma tecla. A atual conjuntura ecumenista, indenominacionalista e interdenominacionalizante, APÓSTATA, me obriga, me constrange, me impele a insistir. Torno-me persistentemente repetitivo! A celebração da Ceia do Senhor é da alçada, da competência, da responsabilidade da Igreja. Igreja congregacional. Igreja local.

Vamos lá! Às Escrituras Sagradas, nosso egrégio e inalterável tribunal de instância. Abramo-las em At.2. Após a anotação do resumo do discurso de Pedro.

Vejam! Passaram-se poucas semanas após a instituição da Ceia quando, no dia do Pentecostes, por haverem crido, batizaram-se quase três mil pessoas. “… naquele dia agregaram-se…” (v.41). (Congregaram-se. Eis aí a Igreja num determinado lugar). É a Igreja local em Jerusalém à qual se agregavam aqueles que se iam salvando (At.2:47).

À Igreja, na sua capacidade congregacional, se agregavam pelo Batismo os novos crentes. E estes, perseverando na Doutrina dos Apóstolos e na comunhão, perseveravam ainda em celebração, “no PARTIR DO PÃO”, isto é, na celebração da Ceia memorial sob a administração da Igreja, a congregação dos salvos biblicamente batizados.

Desde a organização da Igreja em Jerusalém e desde a instituição da Ceia, sempre em que nas Escrituras do Novo Testamento eu encontro me deparo com a Igreja simbolizada “num só pão” (I Cor.10:17), o pão que também figura o Corpo de Cristo (I Cor.10:16), Corpo de Cristo que também é a Igreja, pão e corpo de Cristo, “a plenitude dAquele que cumpre tudo em todos” (Ef.1:23; Col.1:18,24).

3) – Se ministério de pregar o Evangelho se destacou nas atividades de Paulo Apóstolo, sua intransigência em defender a pureza da Verdade do Evangelho e em corrigir desvios da vida eclesial distingue-o como guardião da Sã Doutrina.

Já naqueles primórdios do Cristianismo, a par de contrafações da verdade do Evangelho e perversões acerca da própria Pessoa de Jesus Cristo, surgiram adulterações na celebração da Ceia. Saiu a campo o Apóstolo a terçar a espada do Espírito na defesa de sua veracidade e da sua genuína pureza.

Meu amigo Dulçor abomina certas passagens das Escrituras. E é membro de uma Igreja Evangélica. É-lhe inconcebível a comparação paulina da espada aplicada á Palavra de Deus. Esse Paulo deveria estar em deliria quando escreveu: “e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus (Ef.6:17). Tão potente espada que é mais eficaz e penetrante que qualquer espada do aço (Hb.4:12). Espada é arma de guerra. Com ela se agride. Combate-se. Que brutalidade!!!, desabafa-se o Dulçor.

Deixe-se para lá o Dulçor com a sua doçura e macieza. Deixem-se de lado todos os seus êmulos que por aí abundam e se desmancham em mesuras às heresias por fugirem dos incômodos causados pela fidelidade à Sã Doutrina.

Bravo, desassombrado, levantou-se Paulo Apóstolo a terçar a Espada do Espírito na defesa indômita da “Santíssima Fé” e da preservação do senhor Memorial do Redentor.

Na Igreja em Corinto cometiam – se desmandos de toda ordem. Também quanto à solenidade da Ceia do Senhor. Preocupado e Zeloso, na postura de Apóstolo, àquela Igreja escreveu a Primeira Epístola no afã de corrigir-lhe os desvios.

Releva acentuar que a primeira Epístola aos Coríntios é o Tratado de Eclesiologia inspirado.

O Pastor James Nasch, esmerado estudioso das Escrituras, com toda razão vê nessa Carta Três referências de Paulo à Mesa do Senhor quanto ao aspecto de sua administração e preservação pela Igreja local:

- No capítulo 5º o destaque da disciplina relativa à Ceia que só pode, evidentemente, ser estabelecida e observada por uma Igreja local;

- No capítulo 10º a ênfase da Igreja local na condição de Corpo de Cristo a se desincumbir de sua administração;

- No capítulo 110º o modo e os legítimos participantes que devem ser previstos pela Igreja.

Se o Instituto Memorativo houvesse sido confiado a uma denominação religiosa ou à suposta igreja universal, a conclusão é inevitável e lógica, essas instruções do Apóstolo seriam descabidas e intempestivas.

4) – A magistral perícope de I Cor.11:17-34 é a pagina sempre clássica porque riquíssima de ensinamentos sobre a Sagrada Ordenança Memorial. Em todo o seu conteúdo sobreleva o ensino de ser sua administração e preservação da alçada estrita e da responsabilidade exclusiva da Igreja na sua competência congregacional e local. E Igreja reunida precisamente para esse propósito.

Esta sólida verdade é evidente à luz dos seguintes enfoques:

- Paulo dirigiu a Epístola “à Igreja de Deus que está em Corinto…” (1:2). Portanto, uma Igreja local determinada.

- Em se tratando de uma Igreja local determinada, apontando-as, lamenta as divisões nessa Igreja e repreende a Igreja por manter um indigno entre sua membresia e por incidir em outras aberrações doutrinárias e morais.

- No capítulo 11, a começar do v.17, sempre empregando os verbos e os pronomes na segunda pessoa do plural por se dirigir à congregação, à assembléia, à comunidade.

- Repreende a Igreja pelos abusos perpetrados durante a celebração da Ceia e exorta-a corrigi-los. “Quando vos ajuntais (vos congregais)…”, VV.17,18,20,33. É evidente falar Paulo dessa maneira por considerar a Igreja local responsável pela administração e pela preservação da pureza da Ceia do Senhor. Por reconhecer e ensinar que a sua celebração é ato uma Igreja congregacional e local, pois a Ceia do Senhor é ato formal, simbólico, congregacional, coletivo de uma Igreja local. E também neste caso, a lógica nos impele à essa inferência, as Igreja não podem delegar poderes de celebrá-las a outros grupos e outras instituições como concílios, reuniões ecumênicas e encontros de representantes de diversas Igrejas.

- No v.18, ao dizer pleonasticamente: “…quando vos ajuntais (vos congregais) na Igreja …” sublinha ser a Ceia uma ação da Igreja em sua qualidade congregacional ou comunitária para usarmos de uma expressão hoje em voga.

- E há mais! Exatamente por se a administração da Ceia um ato eclesial participar dela indignamente é cometer uma ofensa à Igreja. “Porque comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro se embriaga. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou SESPREZAIS A IGREJA DE DEUS…” (VV.21-22). Ficaria sem sentido este desprezo à Igreja se não fosse de sua competência na capacidade de congregação a administração do Memorial do Senhor.

- A Ceia é uma solenidade da Igreja na sua capacidade coletiva: “quando vos ajuntais para comer…” (v.33). É pois um abuso levar os elementos da Ceia do Senhor a casas particulares a fim de dá-los a pessoas idosas ou enfermas. Dela todos em agrupamento eclesial devem simultaneamente participar. Paulo censura o abuso dos coríntios de cada um tomar antes dos outros a sua própria ceia (v.21). As diversas facções daquela Igreja vinham cada uma por seu turno. Não queriam esperar reunir-se toda a Igreja para toda a membresia ao mesmo tempo comer da Mesa do Senhor. Todavia a Ceia não é um ato de um indivíduo e nem é ato de uma facção ou partido numa Igreja local dividida. O Solene Memorial do Senhor é uma ação da Igreja na sua postura coletiva por também expressar sua unidade: “Pois nós, embora muitos, somos um só pão, um só corpo” (I Cor.10:17).

5) – Atos 20:7 outrossim concentra mais preciosismos ensinos. Em prol do nosso estudo ele também revela ser a celebração da Ceia do Senhor da alçada e responsabilidade da Igreja. Naquele Domingo, o “primeiro dia da semana”, em Trôade, onde se achava Paulo, “ajuntando-se (congregandose) os discípulos para partir o pão…”. Eis a Igreja em Trôade, os discípulos em congregação, a celebrar a Ceia Memorial, ao ensejo de que Paulo dirigiu uma prédica aos que “estavam juntos (congregados)”.

Muitos pastores batistas, dos mais novos, porque no seminário não tiveram nem oportunidade nem tempo de se instruírem também acerca da matéria, pretendem vencer a relutância dos mais antigos quanto à preservação do costume da Ceia restrita. Nesse intento alguns apresentaram o assunto à discussão em um dos encontros da Convenção Batista Brasileira. Por ser explosivo o tema, deixou-se a coisa sobre a mesa, ou seja, para se discutir numa outra ocasião. Vejam só! O fato de esses pastores apresentarem o assunto á discussão nesse encontro de mensageiros de Igrejas já revela sua ignorância quanto à competência exclusiva da igreja. O mais grave contudo é o fato de a cúpula da Convenção Batista Brasileira levar em consideração essa proposta de discussão. As Igrejas que à convenção se vinculam foram afrontadas em seu múnus de administração exclusiva da Solenidade Memorativas. Essa ingerência da cúpula da Convenção que ocorre de quando em quando é um abuso e uma arbitrariedade a ferirem a independência e a autonomia das Igrejas. Por outro lado, a matéria em tela está fora de qualquer discussão. As Escrituras Neotestamentárias são claras e definidas quanto à limitação dos participantes da Ceia do Senhor. Torná-la aberta ou livre é incorrer em apostasia e a Igreja que assim procede deixou de ser Igreja Batista e traiu sua responsabilidade perante o Salvador cujo Sacrifício é memorado toda vez que se celebra a Sua Mesa.

A Ceia do Senhor que em seus elementos: pão e vinho, representa, figura, simboliza, recorda, lembra o Sacrifício Redentor de nosso Senhor Jesus Cristo, é o Seu Memorial. Solene e Doce Memorial na tocante dramatização de Sua Morte Vicária pela qual fomos salvos.

Memorial do Senhor é ela ECLESIAL por competir às Igrejas, e exclusivamente às Igrejas, na sua capacidade congregacional, a responsabilidade de Celebrá-la, administrá-la e preservar sua pureza e intangibilidade.

Em parte alguma das Escrituras do Novo Testamento se encontra a Ceia do Senhor celebrada fora da Igreja! Ou por outra instituição que não a Igreja! Ou Igrejas delegando poderes a outras organizações para a celebrem ou discutam assuntos a ela concernentes. Autor: Aníbal Pereira dos Reis - ex-sacerdote Católico Romano
Digitação: Sabyrna Santos e David C. Gardner 12/2008
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br