A Ceia do Senhor: Livre ou Restrita?

UM ADVÉRBIO E DOIS VERBOS

AS TEOLOGIAS ADULTERADORAS da Palavra de Deus, bitoladas nos trilhos dos seus interesses, engendram os mais fantasmagóricos sofismas. Por se trata de sofismas precisam apresentar-se com a roupagem da Verdade Bíblica.

Os sacramentalistas ávidos da presença real (física ou espiritual) de Cristo nas espécies buscam entroncar sua interpretação da Ceia Memorativa. Neste intento tomam o verbo SER das frases: “Isto É o Meu Corpo… Este cálice É o novo pacto no Meu Sangue…”. E sofismam: se realmente Cristo não se tornasse presente nos elementos jamais alguém poderia ser acusado de indigno e por isso culpado do Corpo e Sangue do Senhor.

Outrossim prosseguem a sofisticar: Seria fora de propósito a divergência paulina quanto ao dever de se examina o comungante antes de comer do pão e beber do cálice. Se não discernir à condenação porque Cristo realmente está presente nas espécies.

Ao indivíduo por qualquer motivo informado por essa interpretação sacramentalista da presença real, física ou mística, de Cristo nas espécies, pode parecer um raciocínio lógico decorrente dessas observações no tocante ao advérbio INDIGNAMENTE e aos verbos EXAMINE-SE e DISCERNIR.

Todavia os ensinamentos oriundos desses vocábulos encaixados por Paulo Apóstolo no texto de I Cor.11:27-30 favorecem, sem quaisquer sutilezas, muito mais a interpretação espiritual e verdadeira da Ceia do Senhor, símbolo das mais relevantes Doutrinas Bíblicas.

1)- Ao menos a espaços vai bem uma gramática. Muito bem vai um dicionário.

A Palavra de Deus é transmitida e compreendida pelas palavras de Deus é transmitida e compreendida pelas palavras de Deus. A Escritura é o acervo dos escritos de Deus na Revelação de Sua Palavra. Escrevem-se vocábulos e os vocábulos, na transmissão do Pensamento de Deus nosso Senhor se alinha e se correlacionam mediante normas gramaticais.

Nas Sagradas Escrituras eu não encontro estas anomalias: nóis vai, nóis fumo, o home é iníquo, todos pecou…

A sadia compreensão das Escrituras também requer observe-se algo de gramático. Pelo menos o mais trivial.

Livrar-nos-íamos de muitos absurdos em mátria de interpretação bíblica se levássemos em conta as regras gramaticais.

Que susto! Azambuja, você me mata do coração! Que foi? Agora o que aconteceu? Por que essa gargalhada de trovão? Onde o gracejo?

Lembrou-se o Azambuja de um fato acontecido no Seminário Teológico Batista do Norte, no Recife Pernambuco. Logo no inicio do ano letivo, em plena aula de português, um aluno despejou esta: Professo Mervá, porquê istudá portugueis? Nóis já sabi! Num era mio a gente istudá ingreis?

Desconheço a reação e a resposta do Pastor Merval Rosa. Se não aconteceu o fato poderia bem ter sucedido.

Com este preâmbulo volto-me ao termo INDIGNAMENTE do v.27 da nossa perícope.

INDIGNAMENTE não é adjetivo a qualificar o substantivo.

Escapa da minha responsabilidade nesta emergência definir o substantivo e o adjetivo. Os inteligentes que se esqueceram do aprendido na velha escola busquem uma gramática, da mais elementar, e se recordem.

Paulo não empregou aí o adjetivo INDIGNO a classificar ou avaliar o aspirante à Mesa Memorial, porquanto neste passo o advérbio não se aplica às pessoas que a celebram, mas à maneira como a celebram.

A Ceia é “a comunhão do Sangue de Cristo”, “a comunhão do Corpo de Cristo” (I Cor.10:16). Todos somos indignos desta comunhão. Não há confessionário clerical que nos torne dignos. Nem penitências…

No Calvário a nossa indignidade foi salientada. Jesus Crucificado é a plena e definitiva revelação de sermos nós indignos. Se não fosse nossa indignidade por que a cruz? No Calvário outrossim, realçada a nossa indignidade, foi ela eternamente remedida, purificada e perdoada; efeitos estes a me beneficiarem pela instrumentalidade de minha fé no Sacrifício Remidor e Vicário de Jesus Cristo.

Na comunhão do Sangue e do Corpo de Cristo quando me sento á Mesa do Senhor, sou levado por minhas reflexões despertadas mediante os símbolos de pão e sumo da vide, a contemplar o meu Senhor Jesus Cristo Crucificado na Gloriosa Obra de me purificar da minha indignidade.

Sou por minhas próprias forças indigno de comer do pão e beber do cálice do Senhor. Somos todos, em decorrência de nossos deméritos, indignos.

Nenhum de nós é digno de Cristo ou do Calvário ou da Ceia. De minha pare pessoal não sou digno nem de clamar. Senhor tem misericórdia de mm!!!

Ninguém é digno da Ceia! E a Ceia não é destinada a pessoas dignas!!!

Todavia, embora não sejamos dignos da Ceia, não podemos celebrá-la indignamente! Vil ou impropriamente!

Paulo Apóstolo, divinamente inspirado, usou não a adjetivo INDIGNO, mas o advérbio INDIGNAMENTE.

ADVÉRBIO é uma palavra invariável colocada junto de um verbo para modifica a ação por ele expressa. Às vezes pode ele ser empregado na função modificativa de um adjetivo ou de outro advérbio. O advérbio portanto exprime circunstâncias de tempo, de lugar, de modo etc.

INDIGNAMENTE é advérbio de modo. Não é adjetivo a referir-se às qualidades ou virtudes ou condições espirituais e morais dos partícipes do memorial.

INDIGNAMENTE é advérbio de modo a tratar da maneira de se observar a Ceia.

INDIGNAMENTE quer dizer vilmente, desprezivelmente, impropriamente, inconvenietemente.

Com esse advérbio a Palavra de Deus proíbe a maneira indigna de se celebrá-la e de se participar dela. Não proíbe as pessoas indignas de se assentarem a ela. Se as proibisse ninguém poderia alimentar o desejo da comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo em doce e santo simbolismo de pão e vinho.

Os coríntios indignamente celebravam a Ceia. A sua maneira de participar dela tornava culpados do Corpo e do Sangue do Senhor. Ajuntavam-se, “não para melhor, mas para pior”, em conseqüência de suas dissensões, rivalidades, facções partidárias, de sua glutonaria e bebedice, de seu espírito de classe ou acepção de pessoas com os ricos em círculo próprio a comer e a beber á tripa forra enquanto os pobres humilhados na fome e revoltados com os olhos compridos de cobiça.

INDIGNAMENTE ou inconvenientemente a promover a Ceia os coríntios afrontavam o Corpo e Sangue de Jesus Cristo.

Os coríntios ainda conspurcavam o Doce e inefável Memorial do Salvador porque numa gesta de amizade e benevolência, de sociabilidade com seus amigos e parentes pagãos, freqüentavam as celebrações sacrificiais deles e lhes franqueavam assento à Mesa do Senhor. Um autêntico intercâmbio religioso em entendimento amplo de amigos. Paulo Apóstolo na sua fraqueza de impertérrito baluarte da lidima Doutrina, a objurgar esse comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente, brada: “Não podeis beber do cálice do Senhor e do cálice de demônios; não podeis participar da Mesa do Senhor e da mesa de demônios” (I Cor.10:21).

Com essa prática de larga ceia ecumênica os coríntios afrontavam o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo.

Se aqueles insensatos por repetir indignamente com suas rivalidades, glutonarias e bebedices a Mesa Memorativa insultavam o Senhor, há muitas outras maneiras indignas de se tornar réu do Corpo e do Sangue do Senhor ao se celebrar indignamente a Ceia. Todo pecado é contra o Senhor. O pecado de comer indignamente a Ceia é contra o Corpo e o Sangue de Jesus Sacrificado no Calvário. É um ultraje direto a Cristo Crucificados. Ultraje esse sujeito a severas penalidades. Por isso em Corinto havia “muitos fracos e enfermos” e muitos morriam (I Cor.11:30). Porventura hoje muitos crentes não estão sujeitos a idênticas penalidades por tratarem indignamente o Instituto Anamnésico?

De muitas maneiras as pessoas podem se aproximar indignamente da Mesa do Senhor.

Certa noite de domingo presenciei um Culto em que se efetivava o Rito memorativo. Postei-me ao fundo do Templo. No melhor lugar para observar. Não era a igreja da qual sou membro, por isso não participaria. Deliberadamente ui olhar. Que horror! Antes não tivesse ido! Lá na frente tudo bonitinho. Pelo menos aparentemente. De metade do Templo para trás um espetáculo deprimente. Um casalzinho de namorados no enlevo da paixão… o rapaz beijou o pão e a taça de vinho entregando-os à moça e esta repetiu o gesto. Com os elementos da Ceia trocavam as gentilezas das carícias… Enquanto a comunidade aguardava o instante de comer o pão uma moçoila enrolava o seu pedacinho nas pontas dos longos cabelos. Rapazolas faziam bolinhas com o pão e as atiravam uns contra os outros. Tudo sob os olhares complacentes dos mais velhos… Repreendê-los? Ah!, pode afastá-los da Igreja. Seria falta de amor!!!

Todavia, embora contrarie a pieguice estúpida dos palermas, por se comportarem indignamente são todos réus do Corpo e do Sangue do Senhor. São fracos, enfermos e dormem. Se de fato são crentes serão corrigidos e castigados pelo Senhor a fim de não serem condenados com o mundo.

É impressionante o que há de irreverência em Cultos da Ceia… É uma das causas, a principal, da decadência espiritual de nossas Igrejas e de duros castigos (I Cor.11:30).

Por ter vindo da superstição sacramentólatra tenho horror a qualquer coisa que até de muito longe lembre a superstição, a feitiçaria, a idolatria, a sacramentolatria.

Creio firmemente na Ceia do Senhor como símbolo daquilo que Cristo fez no Calvário para me salvar. Os elementos não me outorgam graça alguma. Não os reverencio e nem os cultos. São símbolo! Respeito-os como símbolos!

Nessa postura de fé incentivada quando participo do Instituto Memorial, reclamo absoluta seriedade na sua celebração.

Se a Igreja deve se ajuntar num (I Cor.11:20) para, em ato congregacional, celebrá-la, reputo de coerência e de reverência, ocorrer esse sublime ato congregacional, simbólico e inspirativo, em Culto próprio, reservado exclusivamente para a Ceia, em horário deferente dos outros Cultos e programas da Igreja. Por exemplo, a membresia adrede informada, ajuntar-se-ia no Domingo as três ou quatro horas da tarde com o objetivo único de efetuá-la em seqüência à pregação alusiva e de permeio com cânticos apropriados. Embora os membros da Igreja oficiante pudessem ser acompanhados de não-crentes e de pessoas de outras Igrejas que não participariam, considero que nessa hora da Ceia até a porta principal do Templo deveria ser fechada.

A Espiritualidade do Cristianismo precisa ser vivida e defendida com todo rigor. É a missão das igrejas verdadeiramente Bíblicas!

2)- EXAMINE-SE (I Cor.11:28) é um dos verbos alvo de nosso estudo. Nele o clero romano quer ver a prova bíblica da necessidade da confissão auricular antes da comunhão da hóstia. Só mesmo na caixola oca dos podres!, pondera o Azambuja.

Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice.

Examinar e provar. (A cozinheira examina quando prova o tempero). É submeter a exame (Na escola há as provas). É analisar com atenção e minúcia. Ponderar. Refletir e meditar em ou sobre algo. É sondar. Perscrutar, investigar.

É a advertência da Palavra de Deus atinente à Ceia.

Antes de comê-la examine-se, pois o homem… Prove-se. Analise-se com minúcia. Pondere. Reflita e medite no que vai fazer. Sonde, perscrute e investigue o seu íntimo a Verificar os motivos pelos quais assenta-se à Mesa do Senhor.

Os adeptos da ceia livre se encastelam nesta recomendação alegando que, se cada indivíduo é o seu próprio juiz, se nos escapa a possibilidade de julgar se alguém deve ou não sentar-se á Mesa do Senhor e destarte, e já que cada um dará contas de si a Deus (Rm.14:12), foge-nos a autoridade de excluir alguém.

Ora, a segui-se este raciocínio, a Igreja estaria destituída de condições de impor limitações sobre todos os demais assuntos e se transformaria numa barafunda.

Outrossim, deve-se em mente a advertência do Apóstolo no sentido de não se manter companheirismo cm aquele que, chamando-se irmão, é fornicário, idólatra, avaro… Com esse tal nem sequer comais” (I Cor.5:11).

Paulo Apóstolo não se dirigia ao mundo ou aos cristãos em geral. Escrevia diretamente a uma determinada Igreja, á de Corinto. Portanto, a pessoas salvas, batizadas sob profissão de fé e membros de uma Igreja. O Apóstolo sem lhes recomendar examinarem-se era salvos, batizados e membros de uma Igreja, porque tudo isso já eram, admoestãos a que cada um se examine a si próprio sobre algo diferente. Sobre a maneira de como e porque cada um tomaria a Ceia.

Considero dificultado e em extremo prejudicado este exame, esta análise íntima, quando a Ceia se dá após o Culto de longo período de cânticos e avisos, com uma pregação não menos longa. A pessoa já cansada, sonolenta, apressada de regressar á casa, tem inquestionavelmente sérias dificuldades de se predispor a examinar-se em reflexão santificante na direção do discernimento de nosso Senhor imolado na cruz. Eis outro motivo a me convencer da praticidade e utilidade da reunião congregacional em horário diferente para a solenidade Memorativa.

Este examine-se requer concentração favorecida pelo afastamento de todas as demais preocupações e cuidados.

Deparo-me com este verbo empregado no grego original do Novo Testamento em várias outras ocasiões. Expressa ele o estudo meticuloso do agricultor e do viajante a perscrutar as nuvens e os sinais do tempo mencionado por Jesus em Lc-12:56. Sublinha em I Jo.4.1 a prudência no investigar os espíritos na precaução de se evitarem os falsos profetas. Ainda na Primeira Epístola aos Coríntios Paulo adota-o ao referir-se ao juízo quando “o fogo provará qual seja a obra de cada um” (3:13).

Esses poucos exemplos do emprego do verbo examine-se revelam sua verdadeira acepção na qual precisa ser entendido também em I Cor.11.28. É um sondar um investigar, um inquirir cautelosamente, um esquadrinhar o nosso íntimo em referência à Ceia Simbólica do Corpo Exangue e do Sangue Esparzido do nosso Salvador.

Este examine-se, pois, o homem a si mesmo não se trata de um exame de consciência para se lembrar de pecados cometidos e com esta perquirição pedir perdão a Deus a fim de se tornar digno da comunhão do Corpo e do sangue do Senhor. Esta da comunhão do corpo e do Sangue do Senhor. Esta delicadeza e sensibilidade de consciência, sem quaisquer exacerbações psicopatas, devemo-las cultivar em cada dia e em cada instante do nosso viver. Esta atenção espiritual deve ser uma constância na vida do crente sem a espera do momento da Ceia. Não para que nos tornemos dignos de Cristo, pois isso é impossível, mas para correspondermos à sua Graça e aos Seus Desígnios sobre nossa visa e nossa personalidade.

E não será pelo fato de o crente no instante da Ceia recordar-se de pecado que deverá omitir-se de comê-la.

Aquele diácono com a bandeja quase vazia retornou à mesa da presidência e a tremer demonstrava seu desconforto. Encostou os lábios aos ouvidos do Pastor e em cochicho audível a todos do pequeno recinto, a apontar com o dedo, observou: Pastor, aquela moça rejeitou a Ceia… Ali tem coisa, Pastor!

A permanência de resíduos católicos e sacramentólatra entre os verdadeiros crentes ainda subsistem. Dentre eles essa noção de se ter o coração absolutamente isento de pecado para se tornar digno do Memorial. E quem, embora com a consciência pesada participar dele, comete sacrilégio.

Nenhuma lembrança de pecado, seja qual dor ele, permite o crente afastar-se da Mesa do Senhor.

Não é quem está em pecado que deve evitá-la. Quem não está em pecado? Se somos pecadores! Salvos, sim! Mas somos pecadores. Indignos da comunhão do Corpo e do Sangue do Salvador.

Ah!, e se um crente está em inimizade com outro! Desentenderam-se e estão de mal… Ressentidos, nem se falam…

Semelhante situação qualquer comunicação com Deus e qualquer ato de Culto. Não apenas a Ceia do Senhor.

Calha muito bem a admoestação de Jesus Cristo: “Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta” (Mt.5:23-24).

Quem está de mal com seu irmão nem tem condições de entregar sua oferta a Deus. Que primeiro se reconcilie. E nem a oferta pode entregar, acaso suas orações subirão ao Trono da Graça?

(Ouvi severas exortações no sentido de que os crentes em inimizade evitem a Mesa do Senhor. Porém, esses mesmos crentes são exortados à entrega de dízimos e ofertas…)

Ate nos espaços batistas, certamente por falta de instrução devida quanto ao simbolismo da Ceia, e por influência desse trágico interdenominacionalismo e por reminiscência da sacramentolatria católica, luterana e calvinista, há pessoas que consideram suas espécies como amuletos, elementos aos quais é inerente alguma graça e por eles comunicada aos participantes dignos. Assim crendo, erroneamente crendo, se privam da Mesa Memorativa.

Fariam muito bem em recusá-la por não discernirem biblicamente o Corpo do Senhor desde que conservam uma crendice sacramentalista.

Aquela mulher deveria esquivar-se. Aquela senhora por mim surpreendida a por na boca do seu filhinho o resto do suco de uva por ela deixado a propósito. É pro menino também sê abençoado, quis explicar.

Impedidos por tratá-la indignamente estão aqueles que só comparecem ao Culto no Domingo da Ceia com a intenção de comerem-na na cobiça de serem abençoados e terem melhor sorte.

Compete aos pregadores a gravíssima responsabilidade de instruir seu rebanho acerca de todos os ensinos da Palavra de Deus relativos ao Instituto Sagrado da Memória do Salvador crucificado. E ao se examinar cada um verificaria em que condições estaria se aproximando de Mesa do Senhor. Se houvesse o risco de fazê-lo indignamente recuariam ou, melhor ainda, consertariam sua maneira de considerar o Memorial.

“Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis n a fé; provai-vos a vós mesmos” (II Cor,13:5ª), é o clamor do Apóstolo a ser por nós ouvido sobretudo no solene momento da Ceia quando pela é podemos contemplar o Salvador, unicamente o Salvador a consumar na cruz a nossa Redenção.

3)- Este contemplar o nosso Salvador é aquele DISCERNIR o corpo do Senhor (I Cor.11:29).

Os coríntios incidiam em três gravíssimos e funestísimos erros decorrentes da sua pervertida ceia livre: o de franqueá-la ao fornicário (I Cor.5), o de abri-la aos pagãos (I Cor.10:16-20) e o de transformá-la num convescote de comilança e bebedeiras.

Bonzinhos quais o Dulçor no largo e abeto gesto da confraternização e sociabilidade confundiam Jesus Cristo com o fornicário, com os pagãos, com os glutões e bêbados.

Confraternizar-se à Mesa do Senhor sobrepondo outras pessoas, também crentes e salvas, à Pessoa Divina de Jesus, é tratar indignamente a Anamnese Simbólica com a infração do respeito ao Corpo e Sangue do Senhor.

A precaver-se desse risco deve o homem examinar-se a si próprio no objetivo de DISCERNIR o Corpo do Salvador.

DISCERNIR significa perceber, caracterizar, diferençar, distinguir, separar, discriminar.

Hebreus 4:12 realça o vigoroso sentido do verbo: “Porque a Palavra de Deus é Viva e Eficaz, e mais cortante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”.

Se no desenrolar do Ritual Memorativo e nos seus elementos simbólicos deixo de caracterizar, perceber, distinguir, discriminar o Sacrifício de Jesus Cristo em meu favor e por minha salvação consumado no Calvário, incorro em condenação, enfraqueço-me enfermo na ida espiritual e me sujeito ao sono de total anemia, e incorro na inflição de grave disciplina da parte do Senhor. Se me omito em separar e discriminar o Redentor no ato do Seu Sacrifício Vicário, imputar-se-me-á a culpa do Corpo e do Sangue de Jesus, culpa essa a me acarretar o castigo por have-lo profanado.

Conquanto a Sagrada ordenança não se preste ao individualismo desenfreado, a pessoa é membro da Igreja, uma coletividade, à qual deve tributo de respeito também por ser ela investida do múnus de preservar a pureza da Inefável Anamnese do Senhor, precisando o indivíduo examinar-se a fim de no seu íntimo discernir através dos símbolos e além deles, as realidades do Calvário. O Corpo dilacerado de Cristo e Seu Sangue derramado.

Nesse discernimento específico, durante a Ceia há de se pensar comente em Jesus Crucificado. Não em Jesus Menino ou Ressuscitado, embora Ele é o Senhor Vivo. Não em Jesus a ascender Glorioso aos Céus ou Entronizado à Direita do pai. Não em Jesus a pregar o Sermão do Monte ou a curar doentes e a acalmar tempestades ou a multiplicar pães e ressuscitar mortos. A Ceia é Memória, a Anamnese, de nosso Senhor Jesus Cristo a Se sacrificar na hedionda cruz em condição de Vítima dos nossos pecados. Deve-se pensar nEle Crucificado por nossa Eterna Redenção. Aquele Corpo Macerado e Aquele Sangue Espargido se discernem na visão da fé pela memória avivada e despertada no desenrolar do rito Memorativo e nas espécies figurativas. “Fazei isto em MEMÓRIA de Mim…”, salientou nosso Senhor.

Celebrá-la para fins sociais: formaturas escolares, consagração de Templos, posse de Pastores, aniversário de Igrejas, significa ultrajar a Instituição Divina profanado o Corpo e o Sangue do Senhor não discernindo-0 de todos esses motivos. Todas essas ocasiões podem perfeitamente ser assinaladas com outros atos de regozijo e de gratidão a Deus.

Participar dela para fins domésticos é pisar o Filho de Deus Crucificado não discernido-0 na Ceia Memorial.

O casal se ama com aquela paixão do noivado e da lua-mel. Ele presbiteriano e ela batista. Combinaram… Em tudo entrar em acordo. Cada uma cedendo um tanto. Eu cedo cá e você cede lá … A harmonia perfeita reinava entre ambos que viviam aos beijinhos. Cada mês um tomava parte na ceia da Igreja do outro. Na Igreja Batista o marido reprimia o seu desagrado para não descontentar a esposinho. Lá vinha o pastor com a advertência de que pessoas de outras igrejas deveriam se sentir em consciência impedidas de tomar a Ceia. Para aquele maridinho, primo do Dulçor, tal aviso soava como um escárnio e atende-lo seria uma tragédia conjugal. Que gente estreita! Falta de consideração para com os irmãos na fé. Só porque são de outras igrejas. Sou crente. A mesa é do Senhor. Curtia o rapaz os seus ressentimentos contra os batistas “estreitos” e ao passar o prato, sem olhar as faces do diácono de carregados sobrolhos, surripiavam os elementos. Triunfante sentia-se por sobrepujar a “estreiteza” daqueles batistas “antiquados”. Aconchegava-se ainda mais à mulher, o seu benzinho, como que a sobrecarregá-la ainda mais de afeto. Discernia só o corpo da mulher! Não o corpo de Cristo!

Há tantas oportunidades na vida conjugal para o marido discernir a mulher e esta aquele. Nesses instantes é que eu quero ver o maridinho discernir a esposa e esta, firme na sua fidelidade, discernir o seu homem.

Aquele sentimentalismo idiota aliado ao sectarismo insensato do casal aludido é ultraje a nosso Senhor Sacrificado no vilipêndio da cruz.

De resto, Jesus ao comemorar a Páscoa e instituir a Sua Ceia Memorial evitou a presença de Sua próprio mãe carnal. E foi a última refeição dEle. Por que não Se deixou sensibilizar na qualidade de filho de Maria e levá-la à Mesa? Desprezou-a? Não!!! Dedicou-lhe afetuosa preocupação ao ponto de já exangue na cruz, confiar a guarda dela ao discípulo João. Impediu a presença de Sua próprio mãe à Ceia porque a Ceia não é ocasião de se externarem afeições humanas, nem as mais profundas que são as filiais.

Em definitivo se a Ceia não é um banquete social, nem um ato mágico, tampouco é prova de amor cristão.

A Ceia não é comunhão fraternal! É “a comunhão do Corpo de Cristo”. É “a comunhão do Sangue de Cristo” (I Cor.10:16). Seu intuito primordial não é o da confraternização dos crentes.

Conduzir um membro de outra Igreja à Mesa do Senhor realizada em minha Igreja a lhe compreensão, meu apreço por ele, minha largueza de compreensão minha amplitude fraterna, significa discernir o meu amigo, distingui-lo, apreciá-lo… e marginalizar o Salvador.

Mais do que nunca à Mesa do Senhor se aplicam as severíssimas palavras de nosso Senhor: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim não e digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim não é digno de Mim” (Mt.10:37). E a mulher, e o marido, e o amigo, e o patrão, e o empregado, e o vizinho, e o noivo o a noiva…

Na Ceia do Senhor não se trata de por Jesus Cristo acima das pessoas. Trata-se de pó-10 sozinho. Com total esquecimento de todos os demais.

Alguém quer ser “liberal”? Excelente! Que o seja à bessa! Mas que o seja com o que é seu… com a sua carteira, sua casa, suas roupas, sua poltrona no ônibus… cortezia com chapéu alheio não vale. Se desejamos obsequiar alguém convidemo-lo para um banquete em nossa casa e fique a Ceia do Senhor unicamente do Senhor e como o Senhor ordenou. Cortezia e liberalidade à custa da fidelidade ao Rito Memorativo se constituem afronta ao Sacrifício do Redentor. Toda deferência humana na sua hora constitui-se em desprezo a Jesus por não se discernir o Seu Corpo.

E há mais! Nossas conveniências não justificam nossas desobediências!!!

Não discerne o Corpo do Senhor aquele “reverendo” que ao concluir a Ceia em seu templo, reserva elementos para levá-los a domicílio no dia seguinte às pessoas idosas e enfermas. Isto não é discernir o Corpo do Senhor, mas confundi-10 com amuletos e feitiçarias.

São alguns de tantos exemplos de ultrajes ao Instituto memorial possíveis de serem lembrados no desenrolar destas reflexões.

Que o genuíno povo de Deus fuja dos dois conceitos absurdos: o da sacramentolatria de todas as nuances e graus e o da pieguice sentimentalóide. Conceitos esse adotados por rebeldes à autoridade das Escrituras do Novo Testamento para os quais a Mesa do Senhor deveria ser instalada lá em campo aberto sob a ampla abóboda atmosférica, franqueada indistintamente a todos que assim se beneficiariam da graça pelas espécies transmitidas aos comungantes unidos no horizontal niveladas de todas as apostasias. E toda essa fantasia ao preço da afronta ao Sangue de Jesus Cristo e da contumácia à Sua Palavra.

Chego ao final destas considerações! Examinada a natureza memorativa e eclesial da Ceia do Senhor, a infrangível coerência dos ensinos das Sagradas Letras nos conduziu à incoercível conclusão: a comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo na Mesa Memorativa se delimita aos salvos, evangelicamente batizados, fiéis à Sã Doutrina, a “Santíssima Fé”, e membros da Igreja celebrante do simbólico ato congregacional.

Sair desses ensinos da Palavra de Deus revela “comer do pão e beber do cálice do Senhor indignamente”, incorrendo, por conseguinte, em culpa do Corpo e do Sangue do Senhor pelo que recairá sobre o réu o castigo de que ele é merecedor por haver pisado o Filho de Deus, profanado o Sangue do pacto e ultrajado o Espírito de Graça.

A fugir dessa condenação examine. Se cada qual a si próprio a reconhecer se no comer do pão e beber do cálice, verdadeiramente discerne o Corpo de nosso Senhor Jesus Cristo, o nosso Salvador.

Que a Palavra santa infalível, Inerrante e Indeficiente de Deus, “mais cortante do que qualquer espada dois gumes”, corte cerce no íntimo de nossa consciência discernindo os nossos pensamentos e intenções, as nossas frágeis convicções e os nossos escusos interesses humanos… E discernindo os refolhos mais íntimos do nosso íntimo nos conduza a discernir na celebração da Ceia Memorial o corpo do Senhor. Amém!!! Autor: Aníbal Pereira dos Reis - ex-sacerdote Católico Romano
Digitação: Sabyrna Santos e David C. Gardner 12/2008
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br