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A ESPIRITUALIDADE DE DEUS

JOÃO 4:1-26

Introdução: Quando falamos de Deus, da Sua natureza e atributos, referimo-nos à essência de Deus e não às formas em que Ele tem se manifestado, e não estamos falando necessariamente sobre uma determinada pessoa da trindade. A palavra ‘Pai’ mostra a Sua personalidade, enquanto a palavra ‘Deus’ manifesta a Sua essência (Charnock, V. I, pág. 178).

Os atributos de Deus são as características distintivas da natureza divina inseparáveis da idéia de Deus e que constituem a base e o apoio das suas várias manifestações às suas criaturas

Chamamo-los atributos porque somos compelidos a atribuí-los a Deus como qualidades ou poderes fundamentais do Seu ser a fim de dar um relato racional de alguns fatos constantes nas auto-revelações de Deus. Não são existências separadas. São atributos de Deus (A. H. Strong, V.I, pág. 364, 366).

Atributo é a essência total agindo de uma forma específica. O centro da unidade não está em qualquer atributo, mas na essência… A diferença entre o atributo divino e a pessoa divina é que a pessoa é uma forma da existência da essência, enquanto o atributo é uma forma da relação, ou da operação da essência (Shedd, Dogmatic Theology, 1.335. citado em A. H. Strong, V. I., pág.367).

Qual é a Natureza de Deus?

“Deus é Espírito” (João 4.24)

Dizer que Deus é Espírito é fácil, pois a Bíblia diz assim. Mas o que queremos dizer por “espírito”? A palavra espírito é usada várias vezes com significados diversos. Quais apontam para Deus?

Espírito aerificado (Reduzir (-se) ao estado gasoso; aerizar, Dicionário Aurélio Eletrônico); Salmos 11.6, no hebraico “vento tempestuoso” ‘espírito de tempestade’.

Respiração – “espírito de vida”, Gênesis 6.17.

Anjos – Salmos 104.4, “faz dos seus anjos espíritos”. Podem ser tanto os bons quanto os imundos (Marcos 1.27)

Alma/espírito – do homem (Eclesiastes 12.7); de Cristo (João 19.30); Deus é Deus “dos espíritos de toda a carne” (Números 16.22).

Sem Carne – “… seus cavalos, carne, e não espírito” (Isaías 31.3); “um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lucas 24.39).

Ativo e eficaz – “Porém o meu servo Calebe, porquanto nele houve outro espírito, e perseverou em seguir-me”; Calebe manifestou uma afeição ativa e não uma índole preguiçosa. Usou-se ‘espírito’, pois um espírito geralmente tem uma natureza ativa (Números 13.24; Daniel 6.3).

Forte atividade – Oséias 4.12, “O meu povo consulta a sua madeira, e a sua vara lhe responde, porque o espírito da luxúria os engana, e prostituem-se, apartando-se da sujeição do seu Deus”. Esta mesma idéia é embutida em Provérbios 29.11, “O tolo revela todo o seu pensamento (Hebraico = ‘espírito’)” no sentido que ele não sabe refrear a atividade da sua mente; ação espontânea sem controle ou limite.

Quando a Bíblia diz que Deus é Espírito, ela quer transmitir que Deus é o somatório de todos os significados, ou seja: uma substância invisível e ativa que promove ações em Si e nos outros. Não tem corpo, é sem tamanho, sem formato, sem bitola, ou comprimento de um corpo completamente separado de algo que é carnal ou de matéria (Charnock, V. I, pág. 181). “Deus é Espírito espiritíssimo, mais espiritual de todos os anjos ou almas” (Charnock, V. I., pág. 181, citando Gerhard). Como Ele excede tudo na essência do Seu ser, assim Ele excede tudo na Sua natureza de espírito: não há nada grosso, pesado, ou de matéria na Sua essência.

A afirmação de que “Deus é Espírito” testifica contra a heresia dos Saduceus que deram a Deus um corpo somente. Atos 23:8, “Porque os Saduceus dizem que não há ressurreição, nem anjo, nem espírito; mas os fariseus reconhecem uma e outra coisa”.

Afirmar que “Deus é Espírito”, no contexto de João 4.24, manifesta verdades sobre a verdadeira adoração do homem à Divindade. A própria essência de Deus, e não a vontade de apenas uma das Pessoas da Trindade, se agrada da adoração espiritual, espírito com Espírito. Não fica isento, nessa adoração espiritual, o uso de lugares específicos e de objetos corporais, pois tudo Ele criou, e ao homem deu-lhe um corpo, logo este deve dá a Ele o Seu devido louvor (Salmos 150.6). O uso do corpo, com gestos cerimoniais, como os quais Jesus referia-se no contexto, os dos fariseus e os dos samaritanos, não agradaram, pois eram cerimônias mortas, feitas por tradição e não por um coração com entendimento. Os gestos cerimoniais originalmente apontavam às verdades de Deus. Deus quer que O adoremos com entendimento e não com cerimônias mortas. Jesus disse à mulher Samaritana que ela deveria se separar de todos os modos carnais (“Nossos pais adoraram neste monte”, v. 20) e prestar louvor primeiramente nas ações do coração e acondicioná-lo mais corretamente à condição do Objeto adorado, que “é Espírito” (Charnock, V. I, pág. 179).

Substâncias espirituais são mais excelentes do que as corporais, pois dão vitalidade às corporais; a alma do homem mais excelente do que os outros animais; os anjos mais excelentes do que os homens (Salmos 8.5; Hebreus 2.7). O superior, na sua própria natureza, contém a dignidade do inferior; Deus deve ter, portanto, uma excelência acima de todos esses e assim sendo, está inteiramente removido das condições de um corpo (Charnock).

Alguns sugerem que no tabernáculo, o ouro e os outros ornamentos apontavam para uma qualidade de Cristo, mas qualquer coisa visível era inadequada para representar a natureza de Deus que é puramente invisível, não podendo representar-Se à mente do homem adequadamente. Porém, sabendo que a adoração envolve a Trindade e pelo fato do tabernáculo representar a presença de Deus no meio do povo pecador, seria apto para o tabernáculo manifestar os atributos de Deus. Para representar a espiritualidade da natureza de Deus alguns apontam o ar contido na arca da aliança. O ar é invisível e se difundi em todas as partes do mundo, flui por entre todas as partes das criaturas e, enche o espaço entre o céu e a terra, ensinando-nos assim, que Deus é espírito e não há lugar onde Deus não esteja presente. (Charnock).

“Deus é Espírito” – Se Deus tivesse a forma de homem, os gentios não seriam acusados de pecado por mudar a Sua glória incorruptível em semelhança de homem corruptível (Romanos 1.23) (Charnock, V. I, pág. 182).

Se “Deus é Espírito”, porque a Bíblia atribui a Ele partes corporais? Estas devem ser consideradas como antropomórficas e simbólicas. Quando se fala que Deus aparece aos patriarcas e anda com eles, tais passagens devem ser explicadas como se referindo às manifestações temporárias do próprio Deus em forma humana – manifestações que prefiguravam o tabernacular final do Filho de Deus em carne” (A. H. Strong, V.I, pág.373). Por Deus ser Espírito puro estas passagens devem ser tomadas num sentido figurado e simbólico (T. P. Simmons, pág.84). Gênesis 32.30; Deuteronômio 34.10 somente podem ensinar que Deus se manifestou a Jacó e a Moisés numa representação que adequava à mente, ao espírito ou à vista deles, não que Ele tivesse um corpo (A H Strong). Estas representações aludem à Sua obra, e não à Sua natureza invisível. O olho – Sua sabedoria; braço e mão – Sua eficiência. Nelas são manifestas as Suas perfeições ao homem: os olhos e os ouvidos – onisciência; a face – Seu favor; a boca – revelação da Sua vontade; as narinas – aceitação das nossas orações; as entranhas – Sua compaixão; o coração – a sinceridade das Suas afeições; a mão – a força do Seu poder; os pés – a Sua presença. Também por elas, Ele nos ensina e nos conforta: Seus olhos – a Sua vigilância sobre nós; Seus ouvidos – a Sua prontidão em ouvir as súplicas dos oprimidos, Salmos 34.15; Seu braço – Seu poder, para aliviar os Seus e para destruir os inimigos, Isaías 51.9 (Charnock, pág. 189).

“Deus é Espírito” – “Eu Sou o que Sou” (Êxodo 3.14) manifesta-se a Si mesmo com tal descrição, como um ser puro, simples, não criado; tão infinitamente superior ao ser das criaturas, quão mais alto do que as concepções que elas têm dEle (Jó 37.23; Isaías 55.8,9). A Sua superioridade é percebida em que Ele é nomeado “Pai dos espíritos” (Hebreus 12.9) – Charnock.

Se Deus não fosse Espírito:

1. Não poderia ser o Criador. A sabedoria, bondade, poder, são tão infinitos, perfeitos e admiráveis que não poderiam ser contidos numa forma corporal. Pode uma substância corporal pôr a sabedoria no íntimo, ou dar à mente o entendimento (Jó 38.36)?

2. Não poderia ser invisível. Paulo adiciona invisível como parte das perfeições de Deus (I Timóteo 1,17). A Sua divindade se entende pelas Suas obras que são visíveis, mas, não é visível o Seu ser (João 1.18; I Timóteo 6.16).

3. Não poderia ser infinito. Deus é infinito (II Crônicas 2.6; 6.18; Isaías 66.1), portanto, não pode ser feito de partículas e membros; nem partes finitas, que nunca poderiam constituir um Ser eterno e ilimitado, nem de partes infinitas, que precisariam existir antes do Deus que elas compõem. Portanto, não tendo membros e sendo infinito, Deus é Espírito.

4. Não poderia ser imutável. Por Deus ser Espírito puro e não composto, Deus é imutável (Malaquias 3.6; I Timóteo 1.17; Tiago 1.17). Tudo que é composto é mutável na sua natureza, mesmo que nunca tenha mudado. Se Adão não pecasse, nunca teria tornado ao pó, mas por ser um ser composto, poderia mudar. Mas, Deus é imutável em essência, e portanto, é Espírito.

5. Não poderia ser onipresente. Um corpo não pode encher o céu e a terra de uma só vez com tudo que é, pois, é limitado ao tempo e espaço. Mas, Deus é onipresente (Salmos 139.7-10; Jeremias. 23.23, 24), portanto, Espírito.

6. Não poderia ser o Ser mais perfeito. Como a alma e espírito do homem corporal fazem dele o ser superior dentre todos os demais que tem corpos (animais), e como os anjos, que são espíritos sem corpos são superiores aos homens, Deus é mais perfeito do que a Sua criação por ser Espírito puro. O efeito não pode superar a Causa. Cada ser composto é criado e é em essência, finito e limitado, e assim sendo, longe de perfeição. Por Deus ser Luz sem trevas algumas (I João 1.5) e sem sombra de mudança (Tiago 1.17), sabemos que Ele é perfeito. Se perfeito, é o mais sublime Espírito.

Por Deus ser Espírito, é tanto pecado (Êxodo 20.5; Deuteronômio 5.8,9) quanto tolice formar em matéria qualquer imagem ou desenho de Deus. Nossas mãos são tão incapazes de formar uma imagem dEle ou desenha-lO como são incapazes os nossos olhos de O ver. Que a proibição de fazer imagens de Deus para O adorar ou ajudar na adoração é para todos os povos e de todos os tempos é clara, pois, Ele julgará tanto o Seu povo quanto os pagãos por fazerem tal tolice (Isaías 40.18-26; Romanos 1.21-25). Tais pessoas que fazem as imagens e desenhos, reais ou imaginativos, são tão estúpidas quanto as imagens (Salmos 115.4-8).

Aplicações:

1. Por Deus ser Espírito, o homem só pode conversar com Ele através de um espírito vivificado por Cristo (I João 1.3). Ele não é um corpo, portanto a beleza de templos, o valor ou o tamanho dos sacrifícios, o cheiro do perfume doce da fumaça do incenso ou o esforço de qualquer ação externa, não são aceitáveis a Ele. Deus olha para o coração, para os sacrifícios de um espírito quebrantado. Isto é o que é agradável a Ele. Isso Ele não desprezará (Salmos 34.18; Salmos 51.16, 17). Para termos a comunhão mantida com Ele, devemos ter o espírito da nossa mente renovado (João 3.5; Efésios 4.23). Nunca podemos ser unidos a Deus senão em um espírito vivificado por Cristo. Não podemos manter comunhão com Ele se não nos mantivermos limpos espiritualmente. Quanto mais espirituais, mais comunhão temos com Ele.

2. Se Deus é Espírito, o Cristão só pode ser satisfeito verdadeiramente com Ele. Como somos feitos à Sua imagem pela natureza espiritual da nossa alma, assim não podemos ter nenhuma satisfação verdadeira senão nEle. Não temos inter-relacionamento com os anjos. A influencia que eles têm conosco, a proteção que nos dão, é oculta e não discernida; mas Deus, o Espírito mais sublime, vem a nós por Seu Filho. A Ele devemos buscar; nEle devemos descansar, com Ele podemos comungar (Salmo 90.1; Salmos 63.1). Deus, sendo Espírito, nos fez na Sua imagem espiritual, devemos, portanto somente nos satisfazer nEle.

3. Se Deus é Espírito, devemos ter cuidado com aquilo em que mais somos parecidos com Ele: o espírito. O espírito é mais nobre que o corpo, portanto devemos dar valor mais ao nosso espírito que ao corpo. A nossa alma, através do espírito tem mais comunhão com a natureza divina e, portanto, merece o nosso maior cuidado. Aquilo que tem a imagem do Espírito em nós deve ser valioso. Davi, entendendo esse valor, chama a sua alma de sua predileta (Salmos 35.17). Manifestamos pouca reverencia para Deus Espírito quando não cuidamos do nosso espírito.

4. Se Deus é Espírito, devemos desviar-nos especialmente daqueles pecados que são espirituais. O Apóstolo Paulo fez diferença entre a imundícia da carne e a do espírito. Devemos nos purificar de todo pecado, tanto da carne quanto do espírito para sermos aperfeiçoados em santificação (II Coríntios 7.1). Pela imundícia da carne corrompemos o corpo, aquilo que o homem vê e usa para servir Deus diante do homem. Pela imundícia do espírito corrompemos aquilo que, na sua natureza, tem parentesco ao Criador, e é pelo qual intimamente servimos a Deus e qual Ele vê particularmente. Quando fazemos o nosso espírito o anfitrião de imaginações vãs, desejos imundos, e afeições torpes, pecamos contra a excelência de Deus em nós; contaminamo-nos naquilo pelo qual temos comunicação e vida com Ele, o nosso espírito. Pecados espirituais são os piores pecados, pois como a graça em nossos espíritos nos conforma ao fruto do Espírito Santo, assim os pecados espirituais nos contaminam com semelhanças ao espírito depravado, os dos anjos caídos (Efésios 2.2,3). Pecado na carne transforma homens em brutos; pecados espirituais conformam-nos à imagem de Satanás. De maneira nenhuma devemos fazer dos nossos espíritos um monturo, mas, pela renovação dos entendimentos, por pensar no que é puro, justo e divino, seremos transformados para saber e realizar qual é a perfeita vontade de Deus (Filipenses 4.8,9; Romanos 12.1,2).

Essa transformação é espiritual (João 3.3, 5-8). É através de Cristo (Efésios 1.3, 7, 13; 2.13-18). Você já se arrependeu dos seus pecados e creu pela fé em Cristo Jesus? Já está na hora!

 

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