Cap 9 - A Doutrina da Salvação

Resumo da Doutrina de Salvação

Hebreus 10:5-7

O Velho Testamento fala tanto da salvação por Jesus Cristo quanto fala o Novo Testamento. O que o Velho Testamento revela por símbolos, tipos, enigmas e mistérios, o Novo Testamento revela abertamente. Entendemos melhor os ensinos do Novo Testamento se consideramos as profecias e mistérios do Velho Testamento. Entendemos melhor os mistérios do Velho Testamento se consideramos os ensinos do Novo Testamento. O que sobreveio como figuras no Velho Testamento foi escrito para nosso aviso (I Co. 10:11) e para nosso ensino (Rm. 15:4). Fazemos bem quando tomamos as Escrituras do Velho Testamento e do Novo Testamento como todos proveitosos para fazer-nos perfeitos e perfeitamente instruídos para toda a boa obra (II Tm. 3:15-17).

Por Deus ser imutável (Mal 3:6; Tg. 1:17), e por Ele ter somente um eterno propósito em Cristo Jesus (Ef. 3:11), convém examinar todas as Escrituras para sermos bem instruídos nesta doutrina gloriosa da salvação. Pelo Espírito de Cristo estar nos profetas (I Pe. 1:10-12; Ap. 19:10), o que foi escrito, mesmo desde o princípio, no Velho Testamento, fala da obra expiatória de Cristo (Hb. 10:5-7).

Para resumir muitos aspectos da salvação vistos claramente no Novo Testamento, o Velho Testamento pode ser bem útil. A arca de Noé, com a sua pregação a todos por mais de cem anos, a exclusividade da graça de Deus sobre a família de Noé, a preservação e perseverança destes até a obtenção da nova terra, pode ser mencionado para resumir essa doutrina de salvação. Pode ser considerado também o tabernáculo com as suas ofertas e o seu sacerdócio, tido como simbologia de todos os aspectos de salvação. O tempo esgotaria se também mencionássemos as vidas de Abraão, José, filho de Jacó, Josué, Rute e Ester, pois essas vidas manifestam claramente a graça e misericórdia de Deus no assunto de soteriologia. Não correremos para todos esses casos mas queremos estudar um único caso do Velho Testamento e assim fazendo, com as bênçãos de Deus, entenderemos melhor esse assunto importante. Queremos observar o tratamento do rei Davi para com Mefibosete (II Sm. 9:1-13).

O designo da restauração de Mefibosete foi a glória do rei. O caso Bíblico da restauração de Mefibosete trouxe um incapaz e desprezível à mesa do rei, uma ação que redundou para a glória da graça do rei. Assim entendemos o designo da salvação é trazer um morto em pecados e ofensas à gloriosa luz da presença de Deus para a Sua glória (Rm. 11:36, “Porque dEle e por Ele, e para Ele, são todas as coisas; glória pois a Ele eternamente.”; Ef. 1:6, “Para louvor e glória da Sua graça”).

A causa da restauração de Mefibosete foi o desejo, o poder e a graça do rei. A procura da descendência da casa de Saul, foi iniciada pelo rei (v. 1). O rei quis buscar o Mefibosete. Nisso entendemos que a salvação é operada pelo seu beneplácito, ou seja, o bom prazer da Sua vontade (Ef. 1:11). O rei tanto poderia procurar ou deixar de procurar este aleijado. Ninguém o forçou a fazer isso como também ninguém o impediu. Isso mostra a soberania de Deus na salvação (Sl. 135:6; Dn. 4:35; Rm. 9:21). Graças à boa vontade e soberania do rei, o Mefibosete foi restaurado. Graças à boa vontade e soberania de Deus, pecadores hoje são salvos (Ef. 1:11).

O necessitado da restauração foi Mefibosete. O nome Mefibosete significa coisa vergonhosa (Leaves, Worms, Butterflies & T.U.L.I.P.S., p. 150). O nome do lugar que ele morava era Lo-Debar, um nome que significa sem pastagem (Leaves .., p.152). Mefibosete é descrito como aleijado de “ambos os pés” (v. 3,13) e um “cão morto” (v. 8). Este homem buscado pelo rei não tinha nada de glorioso para merecer a atenção do rei. Ele era descendência do inimigo do rei, aleijado e desprezível. Externamente, ele era incapaz de viver uma vida real (aleijado de “ambos os pés”), e, internamente, ele reconhecia que não merecia nenhuma bondade do rei (“cão morto”). Tudo isso retrata a posição do pecador que Deus busca. O pecador é descendência do primeiro Adão, e inimigo (Rm. 5:12; 8:6-8) como também é terrivelmente aleijado espiritualmente (Rm. 5:6,8; Ef. 2:1). Além disso, o pecador habita contentemente nas trevas (Jo. 3:19) onde a morte reina (Rm. 6:23) não merecendo nada senão a justa condenação de Deus. Se o rei Davi não buscasse em graça e misericórdia, Mefibosete não teria sido restaurado. Assim é a condição do pecador hoje (Rm. 3:10-18; 5:12). Sem Deus buscá-lo em graça e amor, nenhum pecador será salvo (Rm. 5:8; Ef. 2:8,9).

Como Mefibosete era um aleijado (incapaz), morador de Lo-Debar (lugar sem pastagem) e reconhecia seu estado de baixeza ao ser trazido na presença do Rei (II Sm. 9:6, “Eis aqui teu servo”), assim o pecador é incapaz (Rm. 8:6-8), morto em pecado (longe da santidade de Deus, Rm. 3:23), e reconhece o seu estado de baixeza quando é trazido na presença de Deus (At. 9:6, “Senhor, que queres que eu faça?”; 16:29-31; 17:30).

Notamos que a incapacidade de Mefibosete, mesmo sendo total, pois era aleijado de ambos os pés, não o impediu do poder de escolha. Ele era livre para escolher segundo a sua capacidade. Todavia notamos também o fato de que a sua livre escolha não o capacitou a andar. Assim entendemos que o pecador, mesmo sendo um agente livre e com poder de livre escolha, não tem por isso, a capacidade de fazer nada agradável a Deus (Rm. 8:6-8). O poder de livre escolha não sobrepuja a natureza pecaminosa do homem.

Notamos também que a incapacidade de Mefibosete não o fez menos responsável de vir ao rei quando o rei o buscou. Mefibosete era inteiramente responsável de usar todos os meios possíveis para obedecer ao desejo do rei Davi. De maneira nenhuma devia Mefibosete usar a sua incapacidade como uma desculpa de continuar longe do rei. Contrariamente, por ser incapaz ele deveria clamar ao rei a ser misericordioso em capacitá-lo a obedecer (Mc. 9:24). Nisso entendemos a responsabilidade de todo o pecador a se arrepender e crer em Cristo Jesus (At. 17:30) apesar da sua triste incapacidade.

Entendemos, diante da incapacidade de Mefibosete e da soberania de Deus, que o rei Davi fez uma escolha sem depender das condições do escolhido nem considerar o que este pensava do assunto. Essa escolha do rei Davi foi pessoal e individual (v. 5, “mandou o rei Davi, e o tomou da casa de Maquir, filho de Amei, de Lo-Debar.”), particular e preferencial. A escolha do rei foi dirigida somente para com Mefibosete (v. 5) e não para qualquer outro aleijado na cidade. Essa escolha do rei para com Mefibosete foi primeira e antes de mencionar qualquer desejo ou ação de Mefibosete (v. 1-3). Assim também é a eleição. É pessoal e individual (Jr. 31:3; Rm. 9:11-13; Gl. 1:15), particular e preferencial e antes de qualquer desejo do homem para com Deus (Jo. 1:13; Rm. 9:15,16, “Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois isso não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece.”).

O preço pago para a restauração de Mefibosete foi totalmente pago pelo rei Davi (v. 3-5). Assim também, a salvação é paga por Deus. A salvação das nossas almas requer a obediência de um justo no nosso lugar e este Justo foi dado pelo Pai (Is. 9:6; 53:4-6). Cristo é este Justo no lugar dos injustos (I Pe. 3:18; Rm. 5:8). O que foi pago pelo rei Davi para trazer Mefibosete foi estendido não para trazer todos os aleijados à casa real, mas somente aquele que foi incluso na sua aliança. São estes também pelos quais Cristo morreu (Mt. 1:21; Jo. 10:11,14-16; Is. 53:4-6,8), estes que são chamados, justificados e glorificados (Rm. 8:28-30, “segundo o seu propósito”).

A base desta escolha foi o amor e fidelidade de Davi à aliança que ele fizera com Jônatas (v. 1,7, “por amor de Jônatas”). Essa aliança foi feita entre Davi e Jônatas antes mesmo de Mefibosete ter sido nascido (I Sm. 20:14-17,23,42). Esse acontecimento representa a fidelidade de Deus à Sua aliança feita em amor com Cristo antes da fundação do mundo (Hb. 10:5-7; Ef. 1:3-6) para com todos os que o Pai tem dado ao Filho (Jr. 31:3,31-33; Jo. 6:37; 17:9).

O efeito do preço pago é entendido pois restaurou eficazmente tudo a Mefibosete, e nisso cumpriu o desejo do rei Davi. É observado que ele verdadeiramente “veio a Davi” (v. 6). Depois disto, foi posto em lugares abençoados (v. 9-11). Todos pelos quais Cristo morreu, virão a Ele (Jo. 6:37, “Todo o que o Pai me dá virá a Mim”; Jo. 10:27, “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;”; II Pe. 3:9, “não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se.”).

É edificante notar o fato quando Mefibosete veio à presença do rei ele disse: “Eis aqui teu servo” (v. 6). Assim, ele mostrou seu reconhecimento do senhorio do rei sobre a sua vida. Assim entendemos que todos dos Seus que vêm a arrepender-se, reconhecem o Seu senhorio sobre as suas vidas (Rm. 8:15, “recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai.”; I Co. 1:1, “santificados em Cristo Jesus”).

Os meios da chamada de Mefibosete para a restauração exemplificam os meios que Deus emprega para chamar os Seus até hoje. O Ziba, como servo do rei, representa todos esses meios. O Ziba representa o Espírito Santo e os pregadores da Palavra de Deus. O Ziba foi enviado a dar a mensagem do rei Davi a Mefibosete. Nisso entendemos que é o Espírito Santo que ilumina, desperta, convence e regenera o pecador (Jo. 16:7-13). O Espírito Santo faz essa obra magnificente pela Palavra de Deus sendo ministrada por seus servos (Rm. 1:16; 10:14,15). Essas duas representações dadas ao Ziba mostram as realidades que existem duas chamadas, tanto interna quanto externa para trazer os pecadores à obediência e santificação (Gl. 1:15, II Ts. 2:14).

Na hora certa, a vontade do rei Davi, a obra do servo Ziba e a responsabilidade de Mefibosete, fizeram com que a restauração desejada viesse a ser efetuada. A escolha do rei Davi não era a restauração, mas ‘para ela’. Assim também a eleição não é a própria salvação, mas “para a salvação” (II Ts. 2:13). O envio de Ziba não era a restauração, mas um meio eficaz a ela. A restauração foi manifestada quando Mefibosete veio ao rei Davi em obediência. Isso mostra que a eleição ou a predestinação não é a salvação nem unicamente a obra do Espírito Santo pela Palavra de Deus pregada, mas, tudo operando pela fé (dom de Deus) efetua um fim glorioso: a salvação do pecador (Jo. 14:6; II Ts. 2:13,14).

Notamos que a restauração de Mefibosete na casa do rei Davi não eliminou a sua invalidez física. Da mesma maneira a salvação também não elimina a natureza pecaminosa da nossa carne antes que morramos. Todavia, a restauração de Mefibosete deu a ele uma vida completamente nova que ele humildemente viveu na presença do rei Davi. Isso representa a salvação nos dando uma nova natureza que faz tudo “novo” (II Co. 5:17; Cl. 3:10,11), uma vida vivida em constante arrependimento e fé (Cl. 2:6; Hb. 11:6), uma natureza nova que nos traz mais e mais à imagem de Cristo que a criou (Cl. 3:10).

Consideramos outra vez como a restauração de Mefibosete representa as fases da salvação:

1. A restauração era uma conversão nítida na vida de Mefibosete (v. 8,11) como a conversão traz mudanças radicais na vida do salvo vistas no arrependimento do pecado e a fé no Senhor Jesus Cristo (II Co. 5:17).

2. A restauração fez com que Mefibosete fosse posto na casa do rei Davi (v. 11) como a salvação faz com que o pecador seja feito justo e posto diante de Deus (justificação - Rm. 5:1; 8:1).

3. A restauração fez com que Mefibosete fosse considerado como filho amado do rei (v. 11, “comerá à minha mesa como um dos filhos do rei”), como a salvação é vista na adoção de filhos por Jesus (Gl. 4:6. I Jo. 3:1,2).

4. A restauração fez com que Mefibosete viesse a viver bem diferente daquela vida que ele antes vivia no Lo-Debar (no lugar sem pastagem), para viver na cidade de Jerusalém (cidade de paz), assim como a salvação santifica os em Cristo tanto diante de Deus quanto diante dos homens (Pv. 4:18; I Co. 1:1; II Co. 6:14).

5. A restauração fez com que Mefibosete a ter uma eterna posição diante do rei (v. 13, “sempre”) como a salvação traz o pecador à glorificação eterna diante de Deus (I Ts. 4:17, “e assim estaremos sempre com o Senhor”).

6. A restauração fez com que Mefibosete “sempre comia à mesa do rei” (v. 12) assim como a salvação preserva os salvos para perseverar em obediência (Jd. 24,25).

Espero que agora entendamos melhor como no “princípio do livro está escrito” de Cristo (Hb. 10:5-7). Pelo Velho Testamento, essa passagem aparentemente obscura e somente histórica, exemplifica aberta e gloriosamente as grandezas da salvação que o Novo Testamento tanto ensina. Que Deus abra os nossos olhos para vermos a Sua obra de salvação por Jesus Cristo desde o princípio do livro tanto quanto a vejamos no Novo Testamento.

Conclusão -

Espero e oro para que as verdades deste maravilhoso assunto, com as bênçãos de Deus, tragam os pecadores ao Salvador, confirmem os ânimos dos salvos e glorifiquem o Senhor Deus Pai das luzes de Quem vem toda e boa dádiva e dom perfeito (Tg. 1:17).

Se você se considera um “cão morto” e está ouvindo a voz do Salvador, venha hoje mesmo a Ele para a salvação da sua alma. Venha se arrependendo do pecado crendo pela fé nas revelações divinas do Filho de Deus, Jesus Cristo.

Se você já foi posto na mesa do rei, viva humildemente ao serviço dEle crescentemente para a Sua glória.

 

Autor: Pastor Calvin Gardner
Correção gramatical: Edson Elias Basílio, 04/2008
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br