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A caridade nos capacita a suportar mansamente as ínjúrias

O amor bíblico e seus frutos – Exposição de 1 Coríntios 13 – Capítulo 4

O amor tudo suporta. I Coríntios 13: 4

Vamos considerar agora a natureza do amor Cristão, examinando a descrição dos apóstolos de vários frutos excelentes e amáveis. O primeiro da lista é este: o verdadeiro espírito Cristão nos levará a suportar mansamente o mal que outros eventualmente possam nos causar.

A paciência faz parte dos frutos do Espírito (Gálatas 5: 22), sendo ordenada repetidas vezes nas Escrituras. Nosso Senhor pessoalmente enfatizou esta qualidade em Mateus 11: 29, não somente como um fruto que deveríamos manifestar, mas como algo que Ele mesmo manifesta e que aprendemos da parte dEle. Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração.

I. NÓS RECEBEMOS VÁRIOS TIPOS DE INJÚRIA.

Poderíamos compilar uma infindável lista de erros que são ou poderiam ser cometidos contra uma pessoa. Desonestidade nos negócios, opressão, vantagem injusta, descumprimento de acordos, calúnia, julgamento prematuro e injusto, pensamentos de desprezo, disposição de acreditar no pior e compartilhar isso com outros, resistência a autoridade, egoísmo, orgulho, malícia, vingança, rancor, e coisas semelhantes a essas. Os homens não precisam de nenhum motivo a mais para se odiarem. Aquele que exercita perversamente a sua imaginação, pensa que a queda de outros culminará na sua elevação.

II. O QUE SIGNIFICA SUPORTAR MANSAMENTE AS INJÚRIAS.

A natureza deste dever.

Suportar com paciência implica em não buscarmos nos vingar das injúrias que sofremos. Nós naturalmente desejamos injuriar aqueles que nos injuriam. Isso se chama vingança. Mas o amor Cristão não busca vingança nem retaliação. seja em obras ou palavras. Ao enfrentarmos a injúria, somos chamados a exercer a gentileza, a calma, e a paz. Mesmo que a injúria requeira que o ofensor seja reprovado, devemos fazer isso sem amargura e ressentimento, mostrando a ele que a sua ofensa é primeiramente contra Deus. Devemos buscar o bem e não o mal do ofensor.

Além disso, suportar com paciência significa que nós nos manteremos na disposição correta de amar ao nosso ofensor. Não devemos odiá-lo por causa da ofensa cometida. Devemos ter compaixão e não ódio do nosso ofensor.

Suportar com paciência significa que não devemos perder a compostura e a calma que devem repousar em nossa mente e coração ao sermos injuriados. Não devemos permitir que nenhuma injúria venha a nos causar inquietação

a ponto de nos afastar de nossos deveres, especialmente aqueles que dizem respeito aos deveres da nossa religião, que residem no intimo de nossas almas. Na vossa paciência possuí as vossas almas (Lucas 21: 19).

Em muitos casos, suportar com paciência significa renunciar um direito legítimo, sofrendo o prejuízo de interesses e sentimentos a fim de buscarmos a paz. Devemos, na maioria dos casos, nos recusar a reivindicar os nossos direitos. Pois, na maioria das vezes, isso leva a uma injúria maior da outra parte, estabelecendo assim uma hostilidade que raramente pode ser reparada. Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano? (I Coríntios 6: 7). Há casos em que temos que defender a nós mesmos e possivelmente causar alguma dor ou sofrimento, mas mesmo nestes casos, só devemos agir depois de termos exercitado por um bom tempo a paciência.

Por que isso é chamado de longanimidade ou suportar com paciência?

O termo não implica somente em uma pequena injúria, mas uma grande, ou várias. Não é que devemos “agüentar” o nosso ofensor até que cheguemos a um limite estabelecido por nós. Antes, devemos continuar a suportá-lo com paciência, assim como as suas ofensas a nós dirigidas, até o fim. Nos casos em que não temos escolha, a não ser defendermos a nós mesmos, devemos fazê-lo em espírito de amor, e não de vingança ou desejo de retaliação.

III. COMO O AMOR NOS PREPARA PARA SUPORTAR MANSAMENTE AS INJÚRIAS.

O amor a Deus faz com que sejamos dispostos a suportar com paciência.

Deus é longânimo, e o amor nos leva a ter o desejo de imitá-Lo. Ele declarou este atributo a Moisés em Êxodo 34: 6: O SENHOR, o SENHOR Deus, misericordioso e piedoso, tardio em irar-se e grande em beneficência e verdade. Ele também é chamado de uma das “riquezas” da graça de Deus em Romanos 2: 4: Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade? Considere toda a maldade deste mundo, e então considere quão pacientemente Deus suporta tudo isso, enviando chuvas e alimentos aos homens. Deus é longânimo para com os pecadores, oferecendo Sua misericórdia a eles, mesmo quando estes ainda se encontram em rebelião contra Ele. Deus é longânimo para com os Seus eleitos conduzindo-os ao arrependimento. Paulo disse que quando ele era conhecido como Saulo de Tarso, Cristo demonstrou para com ele o padrão de toda a Sua longanimidade (I Timóteo 1: 16). Um coração amoroso tem o desejo de imitar esta qualidade tão maravilhosa manifestada por Deus. Como Seus filhos, devemos imitar ao nosso Pai, e sermos longânimos assim como Ele o é.

O amor também nos capacita a expressar nossa gratidão pela longanimidade de Deus para conosco. As injúrias que sofremos em nada se comparam com aquelas que acumulamos contra Deus. Se nos recusamos a suportar com paciência ao nosso próximo, estamos praticamente desaprovando a longanimidade que Deus exerce para conosco.

O amor produz verdadeira humildade, a qual é a raiz principal de um espírito longânimo. Através da humildade encontramos um profundo senso da nossa própria vileza e incapacidade de praticar o que é bom. Aquele que é pequeno aos seus próprios olhos não ficará pensando muito nas injúrias sofridas, mas isso não ocorre com aquele que tem pensamentos elevados sobre si mesmo. O orgulho é o fundamento de um espírito de ressentimento e vingança.

O amor a Deus nos capacita a enxergar a mão de Deus trabalhando nas injúrias que sofremos, e nos submetermos a Sua vontade. Na verdade, vemos a mão de Deus em tudo, e sabemos que seus propósitos são justos e amáveis. Por isso Davi pode suportar as injúrias de Simei. Ora deixai-o amaldiçoar; pois o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi; quem pois diria: Por que assim fizeste? (II Samuel 16: 10).

Em certo sentido, o amor a Deus nos coloca acima das injúrias que os homens poderiam fazer contra nós. Nossa vida está escondida com Cristo, em Deus (Colossenses 3: 3). Todas as coisas cooperam para o nosso bem (Romanos 8: 28). Todas as coisas culminarão a nosso favor. Quanto mais estivemos envolvidos e controlados pelo amor de Deus, menos as injúrias serão capazes de afetar o nosso espírito. Se os nossos corações não estiverem colocados nos interesses deste mundo, sendo estes a única coisa que os nossos inimigos podem chegar a tocar, então as injúrias não terão para nós um peso maior do que deveriam.

Amar ao próximo nos capacita a estarmos dispostos a suportar com paciência as injúrias. Como Provérbios 10: 12 declara: o amor cobre todos os pecados. Os pais suportam muitas ofensas dos filhos, as quais nunca suportariam de outras crianças. Por quê? Por causa do amor que eles tem para com seus filhos. Da mesma maneira, o amor Cristão nos ensina a suportar mansamente todas as injúrias cometidas contra nós. Vamos mencionar vários motivos para este fim.

O amor de Cristo nos ensina a sermos longânimos. Olhe para Ele em Sua encarnação e ministério terrestre, como objeto de desprezo e reprovação até mesmo da parte daqueles que Ele salvaria. Ele foi chamado de Samaritano e possuidor de demônios. Ele foi acusado de ser beberrão, blasfemo, amigo de publicanos e pecadores. Seus inimigos o odiaram com ódio mortal, respirando ameaças e mortes contra Ele. E como Ele foi longânimo! Nenhuma palavra de amargura saiu dos seus lábios, mesmo quando o torturaram e humilharam antes da crucificação. Dos seus lábios ouvimos a intercessão de perdão feita a favor daqueles que o pregaram na cruz! Nada foi capaz de interromper a Sua longanimidade. Devemos amar o nosso pior inimigo assim como nosso Senhor o fez.

Se nós não estivermos preparados para exercer a longanimidade, então não seremos aptos a viver de forma alguma neste mundo, pois aqui teremos que enfrentar muitas injúrias de nossos semelhantes. Nosso mundo é um mundo caído e corrupto, miserável, e sob o domínio do pecado. Os filhos de Deus caminham como ovelhas no meio de lobos (Mateus 10: 16). Se não estivermos dispostos a exercer longanimidade, então ficaremos continuamente aborrecidos e em constante perturbação. Não deveríamos ficar surpresos com as provações, como se algo estranho estivesse ocorrendo conosco (I Pedro 4: 12).

A longanimidade capacita o Cristão a viver acima das injúrias. Ao invés de ser derrotado por elas, ele as vence. Quando permitimos que a nossa mente fique perturbada pelas ofensas, ficamos sob o poder delas. Entretanto, nossos inimigos ficam frustrados quando vêem a nossa serenidade de alma.

Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça (Romanos 12: 20).

Longanimidade é a marca da verdadeira grandeza de alma. Melhor é o que tarda em irar-se do que o poderoso, e o que controla o seu ânimo do que aquele que toma uma cidade (Provérbios 16: 32). Uma mente fraca é facilmente perturbada pelos maus tratos e indelicadeza dos homens, assim como um pequeno córrego é transtornado pelos obstáculos, fazendo barulho ao passar por eles. Mas um rio caudaloso passa sobre eles quieto e calmamente.

A longanimidade é um dos melhores exemplos dos santos que viveram antes de nós. Mencionamos o exemplo de nosso Senhor, mas também vamos ver o exemplo de homens sujeitos as mesmas paixões que nós, como Davi, quando sofreu nas mãos de Saul. Ele recusou o conselho de seus amigos e poupou a vida do rei mais de uma vez, colocando-se inteiramente sob os cuidados e proteção de Deus. Também vemos Estevão, que a exemplo de seu Senhor a beira da morte, orou para que Deus perdoasse a seus assassinos. Paulo é um dos primeiros exemplos de sofrimento nas mãos de inimigos, mas manteve a disposição de exercer a longanimidade. A história da igreja está repleta de exemplos como esses.

Se queremos ser recompensados com a longanimidade de Deus, então devemos exercer longanimidade para com os outros. Com o benigno te mostrarás benigno (Provérbios 18: 25). Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas (Mateus 6: 14-15). Será que não temos consciência do quanto necessitamos da longanimidade e do amor de Deus pelas muitas injúrias que cometemos contra Ele? Então vamos demonstrar a mesma graça para com aqueles que eventualmente nos injuriarem.

Vamos agora considerar algumas objeções que poderiam surgir contra este dever.

As injúrias cometidas contra mim são intoleráveis. A carne e o sangue não podem suportá-las. Mas estas injúrias são piores do que aquelas que cometemos contra Deus, que é o Pai das misericórdias, e a quem nós teremos que prestar contas? Você espera que Deus suporte com paciência os seus pecados, e que Cristo o receba com amor incondicional, perdoando todas as suas ofensas?

Você aprova a paciência que Deus tem exercido para com você, ou acha que teria sido melhor se Ele já tivesse exercido toda a sua ira há muito tempo atrás? Se você aprova esta qualidade de Deus, então por que não a coloca em prática em sua vida? A sua ofensa para com o Deus vivo é menor do que aquela que os homens cometeram contra você? Por que você ora para que Deus lhe perdoe, enquanto se recusa a perdoar seus ofensores?

O seu desejo de ser perdoado por Deus é o mesmo que você demonstra para com os seus ofensores? Cristo alguma vez se vingou dos seus inimigos enquanto esteve presente aqui na terra? Você não tem pisado em Cristo mais do que os outros tem pisado em você? Quem está cometendo maiores transgressões?

Aqueles que me injuriaram não se arrependeram e ainda persistem no erro. Em que ocasião devemos exercer a longanimidade, por acaso não é quando a ofensa persiste? Nunca ouvimos da longanimidade exercida a curto prazo! De que outra maneira Deus poderia testar a sua longanimidade? Deus não tem sido longânimo com as suas persistentes e obstinadas injúrias?

Se eu for paciente, meus inimigos ficarão encorajados em continuar me injuriando. Você sabe o que o futuro reserva no que diz respeito ao coração dos seus inimigos? Será que Deus não é capaz de colocar um fim na ira do homem? O coração de Paulo foi transformado enquanto respirava ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor (Atos 9).

Certamente a cólera do homem redundará em teu louvor; o restante da cólera tu o restringirás. Salmos 76: 10

A experiência prova que a longanimidade é que tende a por um fim as injúrias, enquanto a vingança somente as faz aumentar.

Valorize o espírito de longanimidade, e você possuirá a sua alma em paciência e felicidade.

Na vossa paciência possuí as vossas almas (Lucas 21: 19).

Published inO amor bíblico e seus frutosVida cristã