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A caridade é o oposto de um espírito egoísta

O amor bíblico e seus frutos – Exposição de 1 Coríntios 13 – Capítulo 8

O amor…não busca os seus interesses.

I Coríntios 13: 5.

A queda do homem no pecado fez com que ele perdesse em parte os princípios mais elevados da benevolência da sua natureza, mergulhando assim em um amor próprio indevido. Antes da queda, a sua natureza refletia a natureza de Deus, na medida em que ele se preocupava com o bem-estar dos outros. Ele se interessava especialmente por Deus. Mas depois da queda, o amor próprio se tornou o mestre absoluto de sua alma. O pecado, como um poder dominante, restringiu e confinou sua alma a dimensões muito mesquinhas de egoísmo. Deus, no entanto, através da redenção em Cristo, restaura e alarga o coração do homem, capacitando-o novamente a abraçar o seu próximo, compartilhando o amor do Criador, que excede o entendimento. A doutrina contida nesta passagem é: o espírito da caridade ou amor Cristão, é o oposto de um espírito egoísta.

I. A NATUREZA DO EGOÍSMO.

Nem todo amor próprio é pecado. É bom que o homem ame a sua própria felicidade. Sem isso, ele deixaria de ser essencialmente homem. Se não amarmos a nossa própria felicidade, então não haverá felicidade para nós. A ordem de amarmos o próximo como a nós mesmos (Mateus 19: 19), pressupõe que podemos, e devemos amar a nós mesmos. Não somos ordenados a amar mais ao nosso próximo do que a nós mesmos, mas como a nós mesmos. E já que o amor ao próximo se assemelha ao nosso amor a Deus, então devemos amar a nós mesmos da mesma maneira. As ameaças e promessas das Escrituras apelam todas para o nosso amor próprio natural, seja pelo temor da miséria ou a esperança da felicidade.

A caridade se opõe àquele amor próprio que é pecaminoso e inapropriado. Como este tema é facilmente mal entendido, então devemos pensar e falar claramente sobre isso.

Negativamente, o amor próprio inapropriado não consiste no grau em que uma pessoa ama a sua felicidade e a si mesmo. O amor próprio natural não implica em crescer ou diminuir.

Na conversão, Deus nos dá uma nova felicidade, mas não remove de nós o amor por qualquer tipo de felicidade.

Na santificação, o amor pela felicidade não diminui, mas é regulado em seu exercício, influência, curso, e objeto a que se destina.

Na glorificação, se o nosso amor pela felicidade diminuísse, isso também ocorreria com a santidade, pois santidade é felicidade.

Positivamente, o amor próprio inapropriado consiste em duas coisas. Primeiramente, ele pode ser comparativamente muito grande. O amor próprio dos homens tornou-se inapropriado quando o seu amor a Deus e ao próximo desapareceram após a queda. Este amor próprio não cresceu, mas o amor pelos outros é que desapareceu, e então, comparativamente falando, o amor próprio aumentou. Em certo sentido, os pecadores, por não amarem a si mesmos de forma adequada, também não têm o devido amor pela felicidade de suas próprias almas.

Por isso lemos: O que rejeita a instrução menospreza a própria alma, e O que tem parte com o ladrão odeia a sua própria alma (Provérbios 15: 32; 29: 24). De certa forma, ele odeia a si mesmo, embora, por outro lado, seja um tremendo egoísta.

Segundo, o amor próprio é inapropriado quando o homem limita a sua felicidade a si mesmo. Ele canaliza a sua felicidade na direção errada. Este tipo de amor busca seus próprios interesses, isto é, o bem particular, o interesse próprio, excluindo assim o bem aos outros. Este amor próprio é aquela auto-apropriação que lemos em Filipenses 2: 21 que diz: Porque todos buscam o que é seu, e não o que é de Cristo Jesus. Paulo nos alerta contra aqueles que são amantes de si mesmo, os quais possuem um amor próprio que deve ser considerado como inapropriado (II Timóteo 3: 2).

Não devemos falhar quanto a distinção clara que existe entre o amor próprio adequado e aquele que é pecaminoso. Se a felicidade que almejamos procura primeiramente desfrutar de Deus, contemplar Sua glória, e tem comunhão com Ele, então este amor a Deus se assemelha ao amor que devemos ter a nós mesmos. Além disso, quando o Cristão busca a felicidade do seu próximo, ele amplia a sua própria. E isso está bem longe daquele amor próprio que é pecaminoso.

II. COMO O ESPÍRITO DA CARIDADE SE CONTRAPÕE A UM ESPÍRITO EGOÍSTA.

Ele nos leva a ter interesse não somente por aquilo que é nosso, mas também por aquilo que é dos outros. Um espírito assim, busca agradar e glorificar a Deus. Ele busca as coisas que são de Cristo (Filipenses 2: 21). Cristo é o objetivo final das nossas vidas. Para mim o viver é Cristo (Filipenses 1: 21). Nós somos servos de Deus, fazendo de coração a Sua vontade (Efésios 6: 6). Quando comemos, bebemos, ou fazemos qualquer outra coisa, o fazemos para a glória de Deus (I Coríntios 10: 31).

O espírito de caridade busca o bem do seu próximo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros (Filipenses 2: 4). A felicidade espiritual dessas pessoas deveria ser o nosso principal interesse, inclusive o seu progresso material.

Este tipo de espírito se compadece com as dificuldades, as cargas, e as aflições do próximo. Um espírito egoísta se preocupa somente com a sua própria miséria. Mas um coração sincero e verdadeiro é cheio de misericórdia para com aqueles que estão em miséria, sendo pronto em ajudar, suprir, e aliviar.

Este tipo de espírito também é liberal, sempre pronto a atender as necessidades alheias quando oportuno. Então, enquanto temos tempo, façamos bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé (Gálatas 6: 10).

Este tipo de espírito, quando presente no homem, o torna consciente de suas obrigações com relação a comunidade que o cerca. Ele irá se esforçar para promover o bem-estar da sua cidade e nação. Ele terá interesse quanto ao benefício espiritual que poderá fazer aos outros, especialmente àqueles que pertencem à sua própria igreja. Aqueles que ocupam posições de liderança, seja no governo ou na igreja, se mostrarão dispostos a buscar os mais altos interesses daqueles que se encontram sob seus cuidados. Assim como uma pessoa egoísta se assemelha a Israel, pois não se afligiu pela ruína de José, uma pessoa amorosa, a semelhança de Davi, é lembrada como alguém que serviu a sua geração conforme a vontade de Deus (Amós 6: 6; Atos 13: 36).

O espírito de caridade nos leva a compartilhar daquilo que é nosso pelo interesse de outros. Nós iremos abdicar de nossos interesses particulares pelo bem do nosso próximo. Não somente abriremos mão das nossas possessões, mas também da nossa própria vida. (Atos 20: 24). Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos (I João 3: 16).

III. A EVIDÊNCIA QUE APÓIA O PRINCÍPIO DA CARIDADE QUANDO ESTE BUSCA OS SEUS PRÓPRIOS INTERESSES.

A natureza do amor como um todo. É da própria natureza do amor ser difusivo, procurar o interesse dos outros. O egoísmo contrai o coração, mas o amor o alarga a fim de alcançar a outros, compartilhando assim das mesmas coisas. Se alguém é injuriado, ele também o é: se alguém é promovido, ele se alegra.

A natureza peculiar do Cristão ou amor divino. O amor Cristão é o único que opera num princípio mais elevado do que o egoísmo. Um coração não regenerado pode amar a outros, na medida em que procura os seus próprios interesses. Este tipo de amor é meramente natural. Mas o amor do nosso texto é supernatural, está acima do eu e dos próprios interesses, é um dom de Deus. O amor natural pode parecer generoso e oposto ao egoísmo, mas é proveniente de um espírito egoísta, pois brota do princípio do amor próprio. Entretanto, o amor Cristão para com o próximo provém do princípio do amor divino. Ele ama os outros porque ama o Deus que os fez. Isso o capacita a amar até mesmo os seus inimigos. O amor natural é incapaz de fazer isso.

A natureza do amor Cristão quanto ao amor a Deus e ao homem. Quanto a amar a Deus, o primeiro e grande mandamento nos instrui a respeito da natureza deste amor. É um amor que entrega-se totalmente a Deus sem nenhuma reserva, com todo o seu coração, alma, mente e forças (Marcos 12: 30). Mas um coração egoísta nunca se entrega a si mesmo em favor de outros, mas espera que outros o façam. Sendo assim, o “eu” torna-se um deus.

Quanto a amar a Deus, somos ensinados no Velho Testamento a amar o nosso próximo como a nós mesmos (Levítico 19: 18). No Novo Testamento nos é dado um novo mandamento: Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis (João 13: 34). A novidade deste novo mandamento não está no dever de amar ao próximo, pois isto já vigorava, mas na regra ou motivo anexado a isso, os quais podemos ver claramente no evangelho. O amor de Cristo é o nosso padrão agora, e não somente o amor próprio. Enquanto consideramos o supremo exemplo de Cristo no cumprimento do amor que pratica a autonegação, vamos considerar quatro pontos.

Primeiro, Cristo amou os seus inimigos. Nós não somente falhávamos em amá-Lo, mas também estávamos cheios de inimizades e iras contra Ele. Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores… Porque se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho (Romanos 5: 8, 10).

Segundo, o amor de Cristo é tão extraordinário que de certo modo Ele nos vê como a Si mesmo, tomando o nosso lugar. Ele faz com que os nossos interesses sejam os dEle, até o ponto de fazer com que os nossos pecados sejam Seus. Ele assumiu a nossa culpa como sendo Sua, e também nos imputou a sua justiça a fim de que esta se tornasse nossa.

Terceiro, Cristo se entregou a si mesmo por nossa causa. O seu amor não consistiu de meras palavras ou sentimentos, mas em obra e verdade. Os seus sacrifícios não foram pequenos, mas imensos, a ponto de abrir mão de sua própria posição, interesse, conforto, honra, e riquezas. Ele se fez pobre, foi desprezado, e não tinha aonde reclinar a sua cabeça. E além de tudo isso, derramou seu próprio sangue, entregando a sua vida, oferecendo-se a Si mesmo como sacrifício a Deus em nosso lugar, para que pudéssemos ser perdoados, aceitos, e salvos!

Quarto, Cristo nos amou sem qualquer expectativa de ser recompensado por este amor. Ele sabia que éramos pobres, miseráveis, párias de mãos vazias, não tendo qualquer possibilidade de lhe retribuirmos tamanho amor. Ele sabia que tudo o que nos daria seria de livre e espontânea vontade, ou então não poderia nos dar. O seu amor por nós, não depende do nosso amor por Ele.

Se este exemplo de amor dominasse os nossos corações, então da mesma forma nós iríamos amar aqueles que não nos amam, estando dispostos a arriscar o nosso bem-estar a favor do deles. Não podemos seguir a Cristo sendo egoístas.

A grande aplicação deste texto é que devemos abandonar qualquer espírito ou atitude egoísta, sendo contrário a isso. Devemos primeiramente nos dedicar a Cristo, e depois ao nosso próximo. A fim de nos estimularmos ao amor e as boas obras vamos considerar as seguintes coisas:

I. VOCÊ NÃO PERTENCE A VOCÊ MESMO.

O homem não foi feito por si mesmo e nem para si mesmo. Há uma autoridade maior, um fim maior. Deus nos fez para si mesmo. Ele estabeleceu este nobre e sublime fim (servir a Ele e ao próximo) antes de nós existirmos. Como Cristãos, não somos de nós mesmos, mas fomos comprados por bom preço, pelo sangue precioso de Cristo (I Coríntios 6: 19, 20; I Pedro 1: 19). Se você se considera dono de sua própria vida, então é culpado de roubar àquele que o comprou, Cristo. Tudo o que temos pertence a Ele, estando à Sua disposição. Ele é o Mestre, nós os mordomos.

II. VOCÊ ESTÁ UNIDO A CRISTO E AOS IRMÃOS.

O apóstolo usa a ilustração do corpo humano para nos ensinar sobre o dever que temos uns para com os outros. Nenhuma parte do nosso corpo existe para atender o seu próprio fim. Antes, cada parte serve e promove o bem comum de todo o corpo. Se uma parte se fere, todas as demais se empenham em protegê-la e ajudá-la. Até os ouvidos ajudam os outros órgãos ouvindo as instruções do médico! Na igreja o mesmo cuidado deveria ocorrer, a fim de que Cristo, que é a nossa cabeça, seja glorificado.

III. AO BUSCAR A GLÓRIA DE DEUS E O BEM DO PRÓXIMO, VOCÊ DESCOBRIRÁ QUE DEUS CUIDARÁ DOS SEUS INTERESSES E PROMOVERÁ O SEU BEM-ESTAR.

Aqui está uma grande verdade. Não importa o quanto você venha a negar-se a si mesmo por causa de Deus, pois você nunca será abandonado. Deus cuidará de você. Você verá que os seus esforços não foram em vão. Embora Deus nunca esteja em débito com o homem, Ele não deixa de abençoar àqueles que lhe servem. Ele prometeu: E Jesus, respondendo, disse: Em verdade vos digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou campos, por amor de mim e do evangelho,

Que não receba cem vezes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, com perseguições; e no século futuro a vida eterna (Marcos 10: 29-30). Quando consideramos a infinita e indescritível benção da eternidade, descobrimos que Deus faz muitos mais do que nos reembolsar!

Deus prepara as coisas de maneira tal, que quando não buscamos o nosso próprio bem de forma egoísta, estamos na verdade buscando o nosso melhor, e isso num sentido mais sublime e elevado. Se você ama a Deus e serve ao próximo, você estará promovendo a longo prazo os seus maiores interesses. Você desfrutará de gozo verdadeiro aqui e de uma coroa de glória na eternidade ao lado de Deus. Você herdará tudo, até o próprio Deus (I Coríntios 3: 21-22).

Mas se você busca fazer a sua própria vontade de maneira egoísta, Deus o abandonará às suas próprias paixões, a fim de que você busque aquilo que acha melhor. Se você ama este mundo e tudo o que nele há, acabará perdendo tudo, e no final estará fora deste mundo e em eterna pobreza e desprezo. Portanto, vamos pedir a Deus que nos dê graça a fim de vencer o nosso egoísmo, e ter um espírito de verdadeira caridade, não buscando aquilo que é nosso.

Published inO amor bíblico e seus frutosVida cristã