Artigo 23

BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

BATISMO NO ESPÍRITO SANTO. Cremos que Deus, no dia de Pentecostes, autenticou a igreja que Cristo fundou em Seu ministério terreno 1, de uma vez para sempre, com o batismo do Espírito Santo 2, dando à igreja aprovação e poder para cumprir a Grande Comissão 3, e os dons milagrosos que o acompanhavam duraram somente até o fim da época apostólica, sendo substituídos pela Bíblia, completa e suficiente, com a finalidade de orientar os crentes 4. Referências: -1. Mt 16: 18,19; 18:15-20; Jo 4:1, 2; Mt 26:26-30; Mt 28:19, 20. -2. At 1:4; 2. -3. Lc 24:49. –4. II Co 12.12; I Co 13.8-13; Hb 2.1-4; Mc 4:14; II Tm 3:15-18; 4:1, 2.

Como devemos responder a essa pergunta?

“Você recebeu o batismo com o Espírito Santo?”

Thomas Williamson

Às vezes, um cristão é indagado se tem sido batizado com o Espírito Santo, ou se sua igreja tem o batismo com o Espírito Santo. Como deveríamos responder a esta questão?

Muitas teorias têm sido propostas sobre a natureza do batismo com o Espírito Santo. Em vez de rever todas elas, faríamos melhor se examinássemos as referências Bíblicas sobre esta imersão no Espírito Santo. (A palavra grega sempre se refere a imersão, ou literalmente na água ou tinta, ou num senso figurativo. Nenhum outro significado da palavra pode ser achado no Novo Testamento ou na literatura grega antiga.)

O batismo com o Espírito Santo foi profetizado por João Batista como um evento futuro em Mateus 3.11, onde é associado com fogo: “Aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu; cujas alparcas não sou digno de levar; Ele vos batizará com o Espírito Santo, e com fogo.” Esta profecia aparece também nas mensagens paralelas descrevendo o ministério de João. Em Marcos 1.8 lemos: “Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; Ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.” Em Lucas 3.16 nos diz, “Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem Aquele que é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de desatar a correia das alparcas; Esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.” João 1.33 identifica Cristo como Aquele Que teria autoridade para batizar com o Espírito Santo: “E eu não O conhecia, mas O que me mandou a batizar com água, Esse me disse: Sobre Aquele que vires descer o Espírito, e sobre Ele repousar, Esse é o que batiza com o Espírito Santo.”

Não há nos Evangelhos outras referências ao batismo com o Espírito Santo. A próxima referência, Atos 1.5, afirma quando este evento prometido aconteceria. Cristo, pouco antes de Sua ascensão, disse aos Seus apóstolos: “Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias.” Qual evento notável aconteceu apenas poucos dias depois da Sua ascensão, ou seja, em exatamente dez dias? Pentecostes!

Agora, que determinamos com precisão o tempo que o prometido batismo com o Espírito Santo aconteceu, podemos examinar a natureza deste evento. Como João Batista predisse, foi associado com fogo; não um fogo literal, mas línguas repartidas como que de fogo, foram vistas, Atos 2.3. Veio, repentinamente, um som do céu como de um vento veemente e impetuoso, Atos 2.2. Os discípulos começaram a falar noutras línguas, Atos 2.4. Não eram línguas estranhas, nem idiomas celestiais incompreensíveis aos homens; mas, eram línguas de outros países entendidas, claramente, pelos que as ouviram, Atos 2.8-11.

Esse maravilhoso evento de Pentecostes deve ser copiado pelas igrejas, hoje? Não há registro na Bíblia ou na história da igreja de uma reencenação de Pentecostes, nem qualquer ordem de Deus que deveríamos reencenar este evento. Qualquer igreja que reivindica a reencenação de Pentecostes deveria verificar se todos destes sinais são duplicados: o som de um vento veemente e impetuoso; as visíveis línguas repartidas como que de fogo; e a proclamação do evangelho em idiomas legítimos de outros países não entendidos por aqueles que as falavam.

O Pentecostes nunca foi reencenado e é um evento histórico único que, pela sua própria natureza, não requer nenhuma reencenação. Não esperamos a reencenação da divisão das águas do Mar Vermelho, hoje, em qualquer igreja; isto foi um evento único que serviu o seu propósito, ou seja, o êxodo dos israelitas da escravidão egípcia. Precisamos aprender as lições dessa intervenção milagrosa divina na história humana, e orientar as nossas vidas por elas, mas não precisamos duplicar o próprio evento.

Qual o propósito histórico foi consumado pelo batismo do Espírito Santo em Pentecostes? Os discípulos daquele tempo receberam poder para o ministério cristão, Atos 1.8, mas o Espírito Santo ainda capacita-nos a sermos testemunhas, hoje, sem necessitar de manifestações miraculosas ou visíveis. O batismo com o Espírito Santo era mais do que somente manifestações. No dia de Pentecostes, o Espírito Santo apareceu, visivelmente, aos homens para oficializar a Sua aprovação àquela instituição que Deus ordenou, pela qual toda a Sua obra na terra será feita, ou seja, a Igreja local.

Deus estabeleceu duas instituições no Velho Testamento pelas quais toda adoração e obediência do Seu povo devem ser conduzidas: o tabernáculo de Moisés e o templo de Salomão. O Espírito Santo apareceu, publicamente e visivelmente, na inauguração do tabernáculo (Êxodo 40.34-35) e no templo (1Reis 8.10-11). A Sua manifestação revelou a todos os homens que Deus aprovou e endossou estas instituições. Somente uma manifestação do Espírito Santo bastava em cada caso. Não deve nos surpreender de que o Espírito Santo endossou a igreja da mesma maneira pública em Atos 2.

Enfatizamos que a igreja que o Espírito Santo endossou no Pentecostes era a instituição da igreja local, não uma suposta “mística, invisível igreja universal,” um conceito não Escriturístico que é contrário a todo o ensino do Novo Testamento sobre a igreja. O conceito de uma “igreja universal”, como pregam muitos, é uma organização não-existente, que não pode reunir, batizar, celebrar a Ceia do Senhor, disciplinar membros ou receber dízimos. A igreja em Jerusalém, porém, fez todas essas coisas.

Devemos também, evitar o erro que diz que Pentecostes era “o nascimento da igreja” como é afirmada, espontaneamente, por alguns. Não há base escriturística para tal afirmação. A igreja em Jerusalém agregou 3.000 membros no dia de Pentecostes, Atos 2.41. Não pode agregar a algo que não existe. Em Atos 1, antes de Pentecostes, testemunhamos uma reunião de negócios da igreja em Jerusalém, quando Matias foi votado a servir como apóstolo. O fato de que Jesus instruiu Seus discípulos sobre disciplina pela igreja, Mateus 18.17, ensinando-os “dize-o à igreja” sem precisar explicar-lhes o que era uma igreja, revela que a igreja já existia e era instituída por Cristo.

Agora, que temos revisto a natureza e o propósito do batismo com o Espírito Santo no dia de Pentecostes, avançamos para cuidar da próxima (e última) referência bíblica ao batismo com o Espírito Santo. Em Atos 11.16 o apóstolo Pedro, defendendo a sua decisão de batizar e receber como irmãos os gentios convertidos de Cesareia, disse: “E lembrei-me do dito do Senhor, quando disse: João certamente batizou com água; mas vós sereis batizados com o Espírito Santo.”

Não é claro se Pedro estava afirmando que o cair do Espírito Santo em Cornélio e seus companheiros em Atos 10.44-45 era uma repetição do batismo com o Espírito Santo, ou meramente uma comparação do evento Àquele que ele conheceu no Pentecostes. O que é claro é que o Espírito Santo caiu, graciosamente, sobre estes gentios convertidos, o primeiro na história, para demonstrar publicamente a aceitação de Deus dos gentios na família de Deus, para que os irmãos judeus também os aceitassem. Este evento, como Pentecostes, era um evento histórico único que não necessitava e nem pode ser duplicado pelas igrejas, hoje. Só se pode ter uma única inauguração original.

Agora, findamos todas as referências bíblicas ao batismo com o Espírito Santo; não há outras. Alguns identificam o caso de Atos 19.1-7, quando Paulo rebatiza doze discípulos de Éfeso, como sendo um batismo com o Espírito Santo, mas devemos ser cautelosos, desde que aquele termo, ou seja, batismo, não é usado naquela passagem. Ao invés de argumentar sobre qual termo devemos aplicar nesta manifestação do poder do Espírito Santo, faríamos melhor se considerarmos a lição principal da passagem – a importância do batismo correto.

O batismo para ser válido, deve satisfazer estes quatro requerimentos: 1) Modo correto (imersão). 2) Candidato correto (um regenerado, e não uma pessoa incrédula). 3) Propósito adequado (mostrar nossa obediência como discípulos de Jesus, não para ganharmos a salvação). 4) Administrador propício (um representante de uma igreja neo-testementária, que não precisa, necessariamente, ser um pastor).

De alguma forma, o batismo dos discípulos efésios era deficiente. Desde que eles nem conheciam Quem era o Espírito Santo, provavelmente não eram salvos quando foram batizados. Aparentemente, foram batizados por um cristão não autorizado por uma igreja local, em contraste com Paulo que foi enviado pela igreja em Antioquia, Atos 13.1-3. Apolo tem sido sugerido como o culpado.

Qualquer que seja o problema, Paulo não concordou em tolerá-lo, mas insistiu que o problema fosse corrigido. Às vezes é afirmado, incorretamente, que não existiram rebatizadores (ou anabatistas) antes do século XVI. Os que afirmam isso esqueceram-se de Paulo! Os discípulos efésios, obedientemente, concordaram em ser batizados por Paulo quando eles descobriram que o batismo anterior foi deficiente, e o Espírito Santo outorgou, publicamente, Seu selo de aprovação neste ato de submissão.

A passagem, Atos 19.1-7, tem sido distorcida por alguns para argumentar que o batismo de João não é um batismo cristão e não servia para aquela época. Essa idéia é baseada na falsa suposição de que os discípulos de Éfeso, longe e bem depois da época de João o Batista, foram verdadeiramente batizados por ele. Essa passagem não diz isso de maneira nenhuma. Paulo elogiou o batismo de João, Atos 19.4. O fato de que Cristo e todos os apóstolos, os que começaram o cristianismo, estavam satisfeitos com o batismo de João e nunca procuraram um batismo mais moderno, deve ser uma prova suficientemente firme da atualidade do batismo de João para aquela época.

Temos, agora, examinado todas as referências na Bíblia a respeito do batismo com o Espírito Santo. Deve ser observado, porém, que haja alguns que interpretem 1Cor.12.13 (“Pois todos nós fomos batizados em um espírito, formando um corpo...”) como referência ao batismo com o Espírito Santo. Tal interpretação causa uma confusão tremenda num assunto de fácil entendimento. Este batismo com o Espírito Santo de 1Cor. 12.13, como concebido pelos que o apóiam, é singular, único, sem fogo ou outra manifestação externa, e ocorre no momento da salvação. Como pode este conceito reconciliar-se de alguma forma do batismo com o Espírito Santo de Atos 2 que foi público, sobre muitos, com fogo e manifestação externa, e derramando-se sobre pessoas já convertidas?

A dificuldade é totalmente eliminada quando reconhecemos que o batismo mencionado em 1Cor. 12.13 é batismo na água e só isso. Muitos comentaristas nem crêem que o Espírito Santo é mencionado de alguma forma neste versículo; eles crêem que é um ensino de que todos os membros de uma igreja local, ou corpo de Cristo, tornaram-se membros daquela igreja pelo batismo com água em união espiritual. Outros tratam do Espírito Santo, nesta passagem, dizendo que pela liderança e capacidade do Espírito Santo nos tornamos membros da igreja local através do batismo em água. Qualquer interpretação cabe, perfeitamente, no contexto do ensino neotestamentário; a ideia do batismo com o Espírito Santo no momento da conversão é um intruso neste contexto.

O Espírito Santo entra em todos os crentes no momento da conversão para habitar neles (Rom. 8.9-16), mas nós não somos instruídos que o Espírito Santo batiza os crentes na conversão. Segundo Ef. 4.5, existe somente um batismo. Este deve ser o batismo em água, o qual a Bíblia ensina; não um “batismo espiritual”, que a Bíblia não ensina.

Podemos concluir de nosso estudo sobre tudo que o Novo Testamento ensina do batismo com o Espírito Santo: Foi um evento histórico, glorioso através do qual Deus autenticou Sua igreja no começo de seu ministério, depois da ascensão de Cristo. Não há mandamento para as igrejas, hoje, quererem repetir este evento, nem para indivíduos buscarem ser batizados com ou pelo Espírito Santo, na conversão e nem depois dela.

Isto significa que rejeitamos o ministério, dons e enchimento do Espírito Santo para nossa época? Absolutamente não! Somos mandados ser cheios do Espírito Santo, Efésios 5.18, e deveríamos estar abertos para todos os dons que o Espírito Santo deseja outorgar em nós, nesses últimos dias.

Deveríamos rejeitar o ensinamento daqueles que apresentam posições diferentes a respeito do batismo com o Espírito Santo? Não necessariamente!

A maior parte do ensino deles tem uma base escriturística, mesmo tendo os professores aplicado um vocábulo impreciso neste assunto que ensinam. Seria bem melhor experimentar todas as bênçãos, dons e enchimento que o Espírito Santo deseja-nos dar, e aplicar um vocábulo errado para este experiência, do que ser firmes na doutrina e nomenclatura sem experimentar em nossas vidas o poder do Espírito Santo.

Não devemos ser críticos com aqueles que descrevem suas experiências com o Espírito Santo como um “batismo”. Nem devem os defensores do batismo com o Espírito Santo ser críticos com aqueles que preferem não usar esta terminologia.

Estamos agora prontos para concluir o assunto, e responder a indagação posta no começo desse artigo: “Você recebeu o batismo com o Espírito Santo?” Que Deus nos ajude a sempre responder tal indagação com uma sondagem humilde dos nossos corações, e que possamos ser totalmente submissos ao Espírito Santo e sermos guiados por Ele em todos os aspectos da vida.

Mas para aqueles que desejam conhecer a nossa posição quanto à doutrina bíblica do batismo com o Espírito Santo, seria melhor refazer a pergunta assim: “Você é um membro de uma igreja local da mesma fé e prática da igreja em Jerusalém, e assim parte da divina instituição que Deus validou e autenticou pelo batismo com o Espírito Santo?”

Se a sua igreja continua na doutrina dos apóstolos (Atos 2.42) e requer imersão em água para ser membro (Atos 2.41), sua resposta à pergunta é "Sim, sou!" Se é membro de tal tipo de igreja , não precisa deixá-la na procura do batismo com o Espírito Santo. Entrega a sua vida completamente ao Espírito Santo, e Ele o usará melhor na igreja em que está.

 

Compilado pelo Calvin Gardner
Correção gramatical: Edson Elias Basílio, 04/2008;
Valdenira Nunes de Menezes Silva 11/2014
Fonte: www.palavraprudente.com.br
Bibliografia deste estudo está no capítulo 24
A Declaração Completa está no capítulo 25