A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 6 – Deuteronômio 32.29

“Se eles fossem sábios, entenderiam isso, e atentariam para o seu fim!”

Estas palavras foram usadas para contradizer as doutrinas da eleição absoluta, redenção particular e de graça inconfundível na conversão. Intima-se[1] que ao se fazer uma suposição dessas doutrinas, estas representam o Deus da sinceridade e da verdade como cheio de astúcia e hipocrisia; pois Ele sinceramente anseia por e deseja o bem-estar de todos os homens e que estes tenham sabedoria espiritual; porém apesar disso, Ele mesmo decretou deixar alguns sem um Salvador e sem nenhum meio de serem espiritualmente sábios. O resultado desta suposição é que apesar de Deus ter desejado ardentemente que estes fizessem parte do número de seus eleitos, Ele mesmo os excluiu desse número por um decreto absoluto desde a eternidade,. Em resposta ao qual, pedimos que seja observado

I. que deve ser demonstrado que Deus anseia pelo bem-estar espiritual e eterno de toda a humanidade e deseja que cada indivíduo com natureza humana possa ter sabedoria espiritual para conhecer o próprio estado espiritual e considerar o fim dele, pois é evidente que Ele não fornece a cada filho de Adão meios de ser espiritualmente sábio, e é certo que estas palavras não expressam um desejo universal, pois elas são dirigidas apenas à uma parte da humanidade—ou ao povo de Israel, ou aos adversários de Israel, como será visto a seguir. Portanto, por este versículo ter falado apenas de alguns, e não de cada homem individualmente, ele não dever ser interpretado como uma crítica à eleição e redenção apenas de alguns.

II. Também deve-se afirmar que Deus quer e deseja o bem-estar ou a sabedoria espiritual para qualquer um, mas o Espírito de sabedoria é dado, para a revelação do pleno conhecimento de si mesmos e de Cristo, apenas aqueles que Ele escolheu para a vida eterna, os quais Cristo redimiu por Seu sangue, ou em outras palavras, Deus quer e deseja o bem-estar e sabedoria espiritual para os tais, no caso de ainda não estarem eternamente salvos.

III. Deve ser considerado se estas palavras são realmente acerca do bem-estar espiritual de qualquer um, se contêm em si um desejo para sabedoria e entendimento das coisas espirituais. Conforme veremos, estas palavras tratam apenas das coisas temporais e do conhecimento destas.

IV. Supondo-se que estas palavras contenham um desejo de sabedoria e de entender as coisas espirituais, tal desejo deve ser atribuído a Deus, não pessoalmente, mas por uma antropopatia (a atribuição de emoções humanas a Deus, tais como emoções e sofrimentos, Ed.). Também por meio de desejos e veleidades (um grau muito baixo de desejo ou vontade. Ed.) são indevidamente, ou de uma forma figurada , atribuídas a Deus. Tais atribuições não supõem qualquer imperfeição nEle, nem suficiência em suas criaturas. Estas atribuições implicam, necessariamente, que não é a Sua vontade dar aos não escolhidos aquela sabedoria que ele deseja; nem Lhe é posto na obrigação de providenciar até mesmo os meios de obter essa sabedoria espiritual. Contudo, da mesma forma que um homem deseja o que é bom e agradável para si mesmo, assim também Deus deseja a sabedoria espiritual nos homens, e isto apenas nos indica que para Ele, esta sabedoria neles seria agradável. Além disso, tal modo de falar pode ser usado tanto como um meio de queixar-se da ignorância ou como uma expressão de compaixão por ela ou como uma análise acerca dela. Tal análise tem o objetivo de trazer o entendimento da ignorância e assim incentivar os homens a buscar em Deus, a sabedoria necessária que Ele dá livremente. Essa análise também têm como objetivo ainda de deixá-los inescusàveis. Mas

V. as palavras não são entregues na forma de um desejo qualquer, mas são uma proposição hipotética. A palavra hebraica usada aqui significa “se” [2], e o versículo devem ser interpretados assim: Se eles fossem sábios, entenderiam isso, eles considerariam o seu fim. Supondo que elas fossem entendidas em um sentido espiritual, o significado é: Se fossem tão sábios para fazer o bem, como são para a fazer o mal, eles teriam entendido as coisas que pertencem à sua paz e bem-estar espiritual e teriam seriamente considerado o fim de todas as coisas, e o fim deles mesmos. Mas eles não são sábios acerca das coisas divinas e espirituais; e, portanto, não as compreendem. Eles não consideram o fim das suas obras pecaminosas nem como os seus dias são curtos e o fim deles tão próximo. não consideram como é terrível o juízo que os seguirão após a morte, nem seu destino final para onde devem ir, para o céu ou o inferno. Embora,

VI. as palavras devam ser entendidas, de uma vez por todas, como se referissem à coisas mundanas, e não sobre o que diz respeito ao bem-estar espiritual e eterno de qualquer um. As instâncias da bondade de Deus para o povo de Israel são recitadas claramente no versículo 14 . Em seguida, os seus muitos pecados contra Deus e a sua grande ingratidão para com Ele são mencionados nos versículos 15-18, os quais atraiu o ressentimento e a indignação de Deus contra eles, como relatado por meio de ameaças de muitos julgamentos severos nos versículos 19-25, os quais Ele teria executado sobre eles, mas Ele temia a ira do inimigo e cuidava que os seus adversários não deveriam se iludir, dizendo: “A nossa mão está exaltada, não foi o Senhor quem fez tudo isso ( 27), pois Ele sabia que tais povos pagãos eram nações que tinham falta de conselhos: nem sequer havia entendimento neles (28), porque se tivessem sido sábios, eles entenderiam isso, que a destruição do povo de Israel era de Deus, e não deles. Pelo contrário, [3] se não fosse assim, como é que alguém sozinho poderia perseguir mil, ou seja, um único gentio a mil israelitas, e apenas dois fariam dez mil fugir? Não fosse pela Rocha que os israelitas venderam a eles e se Senhor não entregara-lhes os israelitas? (30). Estes povos pagãos também teriam considerado o seu próprio fim e aquilo que os sucederia inevitavelmente: assim como Deus havia cortado e destruído seu próprio povo de Israel por seus pecados, eles também deveriam esperar a mesma destruição por suas iniqüidades semelhantes. Agora, já que este é o sentido claro e óbvio deste pronunciamento, ele não pode ser usado com qualquer propriedade na polêmica sobre as doutrinas da graça distinguidora.

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ANOTAÇÕES:

[1] Whitby, pp. 181, 222, 223; ed. 2. 177, 216, 217.

[2] Os três Targums de Onkelos, Jonathan, e Jerusalém, usam “wla”, para “se”; como faz também R. Sol. Jarchi, R. Aben Ezra, e R. Levi ben Gerson , in loc. Também Noldius em Concord. partic. Ebr, Chal. p. 503, traduz as palavras, Si saparent. intelligerent ista; como também as versões em árabe e siría. A Septuaginta parece ter lido “al” para “lw”, pois lê ouk ejronhsan su ienai, eles não eram sábios para entender: assim também a versão Samaritana.

[3] Vid. Vatablum in loc,

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Benjamin G.Gardner, 04/2014
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/2004
Revisão gramatical: Erci Nascimento, 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br