A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 13-Isaías 5:4

“Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? Por que, esperando eu, etc.”

Nenhum outro local das Escrituras é mais frequente nas bocas e nos escritos dos patronos do livre-arbítrio, [1] e adversários da graça de Deus, do que esse usado por eles, para provar que Deus dá graça suficiente para a conversão daqueles que não são convertidos, e que Ele não efetua esse trabalho por meio de uma força irresistível, por uma operação infrustrável. De tal operação é dito que se a vinha necessita produzir os frutos esperados, mas não os produz, deve-se supor que esta não tinha graça suficiente para atender as expectativas do seu Senhor; e sendo assim, Ele deve irracionalmente reclamar que ela produziu uvas selvagens, e mais irracionalmente, esperar boas uvas, e mais irracionalmente ainda puni-la, por não fazer aquilo que Ele não deu a graça suficiente para executar. [2] Ao que eu respondo:

1. Estas palavras são parte de uma parábola que representava o estado e a condição do povo judeu. Agora, a divindade parabólica não é argumentativa, nem as parábolas deveriam ser aumentadas além do seu propósito e designo; a intenção desta é mostrar a ingratidão dos judeus, no meio de muitos favores concedidos a eles, e a paciência e a longanimidade de Deus para com eles, e para reivindicar Sua justiça na ruína deles como uma nação.

2. Vendo que existe uma aplicação particular desta parábola ao povo de Israel e Judá, versículo 4; a vinha do Senhor dos exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá suas plantas agradáveis; os quais foram favorecidos com as bênçãos peculiares acima de todas as pessoas da face da terra, ela não pode ser prova de qualquer bênção ou graça comum a toda a humanidade, ou noutras palavras, a parábola não pode servir como prova que Deus dá a todos os homens a graça suficiente para a conversão, apesar dela não ser eficaz por causa da perversidade deles.

3. Não parece, portanto, que Deus deu a todos os homens de Israel e Judá graça suficiente para a conversão. A graça não é nacional, mas uma bênção pessoal; e é evidente que alguns entre eles não tinham a graça que detêm, não tinham noção dos próprios pecados nem tinham o temor de Deus diante de seus olhos; eles arrastaram a iniquidade a si mesmos com cordas de vaidade, e o pecado com tirantes de carro; eles disseram: deixe O apressar a Sua obra, para que a vejamos; e que Ele permite a aproximação do conselho do Santo de Israel, para que o conheçamos; eles ao mal chamam bem, e ao bem mal; fazem das trevas luz, e luz trevas (vv. 18, 20). Nem todos os homem em Israel e Judá eram capazes de julgar se Deus tinha dado graça suficiente ou não a qualquer um ou a todos entre eles.

4. Estas palavras, Que mais se poderia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito; não podem ser entendidas como se Deus tivesse feito tudo o que era suficiente e necessário para a conversão salvadora daqueles que são determinados pela vinha; pois uma resposta à questão, tomada neste sentido, pode facilmente ser feita desta maneira: que Deus poderia ter transformado esta videira ruím numa boa, o que era absolutamente necessário para sua produção de uvas boas; Ele poderia pela graça interior ter efetuado a obra completa da conversão de salvação; para a qual, os meios externos não eram suficientes; Ele poderia ter removido o véu do seu entendimento, ter tirado o coração de pedra e lhes dado um coração de carne: todos esses são requisitos para a verdadeira obra da conversão.

5. As semelhanças na parábola apenas consideram a cultura externa da vinha e podem apenas, no máximo, esboçar os meios exteriores de reforma que estas pessoas gozaram, tais como: a atuação dos profetas do Senhor entre elas; o ministério da palavra; admoestações, exortações, repreensões, etc., por isso, o que poderia se esperar deste povo que gozava de tais privilégios, era que ele se comportasse bem em sua conversa moral; tivesse feito justiça comum um ao outro, tivesse buscado julgamento, ajudado o oprimido, feito justiça ao órfão, apelado em prol da viúva: tudo o que eles poderiam ter feito, sem supor que eles tinham a graça suficiente para a conversão da salvação, mesmo assim, ele era capaz de praticar as ações descritas, portanto não era irracional o Senhor esperar deles uvas boas deste tipo, nem se queixar de suas uvas selvagens, nem puni-los por elas.No entanto, tudo que ele fez foi: ser culpado de pilhagem, isto é, roubo, opressão, luxúria, embriaguez, orgulho, desprezo ao próprio Deus, pecados dos quais ele é acusados neste capítulo.

6. Se a parábola for estreitamente examinada, será encontrado que as coisas boas que Deus tinha feito por Sua vinha, os homens de Israel e Judá, eram de natureza civil, e que Ele considerava sua constituição civil e estabelecimento como um corpo político; tal como sua plantação num outeiro fértil, na terra de Canaã, terra que manava leite e mel; cercando-a com boas e saudáveis leis, que os distinguiam e mantinham-nos separados de outras nações, bem como com o seu todo-poderoso poder e providência; especialmente nas três festas anuais, quando todos os seus machos apareciam em Jerusalém; juntando as pedras, ou seja, lançando os pagãos para fora e dirigindo os Cananeus diante deles; plantando-a com a mais excelente vinha, como tendo caído no deserto quem murmurou e rebelou-se contra Deus, construindo uma torre nela, expressando proteção divina, e colocando um lagar, o que pode significar abundância de bênçãos temporais, ou os profetas, que foram colocados entre eles, para agitar e exortar o povo para uma séria consideração às leis de Deus.

7. A procura e espera de Deus que esta vinha deva produzir uvas, não devem ser interpretadas literalmente, mas em sentido figurado, segundo o costume dos homens, pois, de tal governo bem formado, de tal excelente constituição, de um povo gozando de tais vantagens, não poderia ser razoável esperar ter aparecido frutos de justiça comum e com equidade? Não poderia ter sido buscado o juízo, em vez de opressão, a justiça, e em vez de um clamor? Mas infelizmente, provaram justamente o contrário!

8. A interrogação não deve ser interpretada como se faz por nossos tradutores, Que mais se podia fazer à minha vinha? nem como o Dr. Whitby o lê, O que havia mais a fazer por minha vinha? etc, mas ymrkl rws twselAhm deveria ser traduzida, O que deve ser feito aqui, após a minha vinha? etc., e assim não designa nada do passado, mas alguma coisa por vir; e não deve ser entendida por coisas boas concebidas antes, mas de punição a ser infligida a seguir, como evidentemente aparece da resposta a ela, (vv. 5, 6): - Agora, pois, vos farei saber o que eu hei de fazer à minha vinha: tirarei a sua sebe, para que sirva de pasto. Derrubarei a sua parede, para que seja pisada, e a tornarei em deserto, etc., que foi cumprido na destruição da terra pelos Caldeus, um castigo que Deus nunca infligiu em tal grau nessas pessoas antes; e assim as palavras têm muito do mesmo significado como aquelas em Mateus 21:40,41: - Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Dizem-lhes eles: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores, que a seu tempo lhe deem os frutos; pois a questão deve ser da mesma natureza que a resposta; e se é assim, as palavras são estão muito longe de provar que a graça suficiente para a conversão é dada a alguns que não são convertidos, ou de contradizer a doutrina da graça inconfundível na conversão.

NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Remonstr. in Coll Hag. art. 3. 4. p. 216, 219; Act. Synod. pág. 89. etc: Curcell. Christ. Institut. 1. 6. c. 13. sec, 3, p. 400; Limborch. 1. 4, c. 13, sect. 2, 3, 4, pág. 369.

[2] Whitby, pág. 334; ed. 2. 229.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 08/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 05/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br