A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 28 - João 1:7

“Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele”

É pensado que um argumento considerável em favor da extensão da morte de Cristo a todos os homens surge da obrigação destes de crer em Cristo, obrigação esta que é e sempre foi dada a todas as pessoas a quem o Evangelho é ou foi revelado, que Ele veio para salvá-las e morreu por elas; pois se Ele não morreu por elas, elas são obrigadas a acreditar numa mentira e se condenadas por não acreditarem, são condenadas por não acreditar numa inverdade. [1] Eu observo:

1. O argumento é muito miseravelmente coxo e deficiente. A coisa a ser provada é que Cristo morreu por cada homem e mulher individualmente que tem estado, está ou estará no mundo. O meio pelo qual se espera que isso seja provado é: existe naqueles a quem o Evangelho é revelado, uma obrigação de crer que Cristo morreu por eles; e a conclusão é que, portanto, Cristo morreu por todos os homens. Agora, o Evangelho não tem sido, nem é revelado a todos os homens, apenas a alguns; portanto se existia alguma verdade no meio, a conclusão não seguiria. O argumento fica assim: todos os homens a quem o Evangelho é revelado são obrigados a crer que Cristo morreu por eles; alguns homens têm o Evangelho revelado a eles, portanto, Cristo morreu por todos os homens. A fraqueza e falácia de tal argumento devem ser percebidas por todos. Que argumento mais miserável este! que procede sobre uma revelação parcial do Evangelho para uma redenção universal. Eu observo: de crer em Cristo, tendo assim a fé a qual os homens são obrigados, está em proporção e de acordo com a natureza da revelação do Evangelho, que os obriga. Saiba, a revelação do Evangelho é externa ou interna: a revelação externa é pela palavra e o ministério dela; que respeitando Cristo, encontra-se nestas coisas, que Ele é real e propriamente Deus e verdadeiramente homem, Ele é o Filho de Deus, e o Mediador entre Deus e os homens, Ele é O Messias, Aquele que veio verdadeiramente em carne; Ele morreu e ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu, está sentado à direita de Deus e virá uma segunda vez para julgar o mundo com justiça; e que por Sua obediência, sofrimentos e morte, Ele se tornou o Salvador dos pecadores, e que ninguém pode ser salvo, senão por Ele. Agora, que seja observado, que esta revelação é geral e não particular, não necessariamente obriga as pessoas as quais esta mensagem veio a ser conhecida, a crerem que Cristo é o seu Redentor e Salvador, e que Ele morreu por elas em particular; embora o Espírito de Deus possa e atualmente abençoe a muitos com a geração da fé especial e pode e realmente estabelecer uma base geral para atos especiais e apropriados dessa graça, embora requeira apenas uma fé histórica, ou simples consentimento à verdade das ditas propostas. Agora tal fé não é salvadora, os homens podem ter isto, e ainda ser condenados; sim, os próprios demônios a têm. Segue ainda que os homens possam ser obrigados a acreditar, e contudo não para a salvação de suas almas, ou que Cristo morreu por eles. Além disso, esta revelação não é feita para todos os homens, e, portanto, eles, tais como os Indígenas, e outros, não são obrigados a acreditar em Cristo, nem mesmo para dar um simples consentimento à verdade das coisas ditas acima, muito menos para crer que Cristo morreu por eles, e de fato, Como eles crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? (Romanos 10:14). E talvez nem todos sejam obrigados a acreditar como aqueles que não têm sua razão natural e audição, ou a utilização devida e adequada e exercício delas, tais como: as crianças, os idiotas, os loucos, e aqueles que são totalmente surdos; apenas aqueles a quem esta revelação é feita e são capazes de ouvir e entender, são obrigados a ter fé em Cristo por essa mensagem, como eram os judeus do passado, que foram condenados por sua incredulidade, não porque eles não acreditaram que Cristo morreu por eles, ao que eles não eram obrigados, mas porque eles não acreditaram que Ele fosse Deus, o Filho de Deus, o verdadeiro Messias e Salvador dos pecadores. A revelação interna do Evangelho, e de Cristo por este Evangelho, é dada em seu conhecimento o Espírito de sabedoria e de revelação; por meio do qual uma alma é sensibilizada de sua condição e estado perdidos e de sua necessidade de um Salvador; é familiarizada com Cristo como o único Salvador, capaz e disposto a salvar perfeitamente todos os que vêm a Deus por Ele; de onde é encorajada a aventurar-se nEle, confiar nEle e acreditar nEle para a sua salvação: agora esses tais, e ninguém além desses, devem crer que Cristo morreu por eles. Esta fé todos os homens não têm, que é a fé dos eleitos de Deus, o dom de Deus, a operação do Seu Espírito e produzida pelo Todo-Poderoso.

De acordo com a revelação, os homens de fé são obrigados, e o que é produzido por ela: se a revelação é externa, ou o Evangelho vem somente em palavras, o que os homens de fé são obrigados a exercitar é apenas uma fé histórica, nem pode outro qualquer segui-la; e que Cristo morreu por cada um dos homens individualmente não é parte da revelação. Se a revelação é interna, uma fé espiritual especial e apropriada é o resultado dela; mas então esta revelação não é feita para todos os homens, nem mesmo os eleitos de Deus, antes das suas conversões, são obrigados a acreditar que Cristo morreu por eles; e quando eles são convertidos para crer que Cristo morreu por eles, este não é o primeiro ato de fé especial; é o plerophory, ou seja, a plena certeza de fé, para dizer, Ele me amou e se entregou, a Si mesmo por mim (Gálatas 2:20). Daí,

3. uma vez que não existe uma revelação feita do Evangelho para todos os homens, e eles não são obrigados a acreditar em Cristo, muito menos a crer que Cristo morreu por eles; nota-se que nenhum absurdo pode ajuntar-se a negação da redenção universal, que mais alguns são obrigados a acreditar numa mentira; nem será a condenação dos pagãos que não crêem em Cristo, mas que eles pecaram contra a luz, e quebrado a lei da natureza; nem quaisquer pessoas gozando de uma revelação ser condenadas por não acreditar que Cristo morreu por elas, mas pela violação das leis de Deus, negligência e desprezo do seu Evangelho; nem existe qualquer perigo de qualquer um acreditar numa mentira, uma vez que todos aqueles que crêem em Cristo, e que Ele morreu certamente por eles serão salvos, que é a mais completa prova que pode ser de Sua morte por eles. Cristo morrendo por um Cristão incrédulo e falso, e um Cristão estar sob um decreto condenatório, são frases ininteligíveis, meros paradoxos e contradições, apenas em termos. [2]

4. João, o Batista, dando testemunho de Cristo, a luz, e verdadeiro Messias, para que todos cressem por ele, não diz respeito a todos os indivíduos da natureza humana, uma vez que milhões estavam mortos antes que ele começasse seu testemunho, e multidões desde então, os quais nunca foram alcançados, nem pode apontar mais do que os judeus, a quem ele deu testemunho de Cristo somente; a fé que ele ensinou, e exigiu por seu testemunho, não era a crer que Cristo morreu por eles, que, como ainda não estava morto, mas uma aceitação da sua mensagem que Ele era o Messias. Este foi a obra, a vontade e ordem de Deus, que cresse no que após ele havia de vir, neste sentido, que Ele (o Pai) havia enviado. Isto é o que frequentemente Cristo solicitou deles, declarando, que se eles não acreditavam que Ele era o Messias, eles deviam morrer em seus pecados; e essa foi a razão pela qual o Espírito de Deus reprovou o mundo dos judeus, trazendo a ira de Deus em ruína temporal e destruição sobre as suas pessoas, nação, cidade e templo. Desde então, este texto, com multidões de outros, que falam de crer em Cristo, apenas diz respeito ao povo judeu, e aponta a apenas uma simples aceitação dEle como o Messias, o que teria preservado esse povo e nação da ruína temporal; isto não implica que todos os homens acreditarão em Cristo, que Este morreu por eles, e consequentemente pode ser de nenhuma utilidade para a doutrina da redenção universal.

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NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Ibid., Pág. 143, 144, 146; ed. 2. 140-142.

[2] Whitby, pág. 146; ed. 2. 142.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 09/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 06/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 09/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br