A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 29 - João 5:34

“Mas digo isto, para que vos salveis”

Esta passagem da Escritura é muitas vezes produzida [1] como prova da séria intenção de Cristo em salvar alguns que não são salvos, a quem Ele deu meios suficientes de salvação, que eles recusaram; e consequentemente que seu Pai não tinha feito qualquer decreto, pelo qual eles estivessem excluídos da salvação, que Ele não morreu intencionalmente apenas para os tais que são realmente salvos, e que a obra da conversão não é realizada por um irresistível e insuperável poder. Ao que eu respondo:

1. É certo que os judeus, a quem Cristo fala aqui, não tinham meios suficientes para a salvação; pois embora os testemunhos das obras e milagres feitos por Ele, de Seu Pai, de João, o Batista, fossem os meios adequados para induzi-los a acreditar que Ele era o Messias, contudo não eram os meios suficientes para a salvação; pois para que tenha a salvação, uma obra interna da graça, a regeneração do Espírito, é absolutamente requerida e necessária; sem ela homem nenhum pode ser salvo. Agora é evidente, que esta lhes faltavam, uma vez que eles não tinham o amor de Deus neles (v. 42); nem Sua palavra habitando neles (v. 38); nem tinham conhecimento nenhum da divindade de Cristo ou de Ele ser o verdadeiro Messias (v. 18).

2. É tido como certo, que estas palavras dizem respeito a uma salvação espiritual e eterna; enquanto que elas podem muito bem ser entendidas de um modo temporal; e o sentido delas é este: digo isto, isto é, estes testemunhos de Meu Pai, e de João, Eu opero, nem tanto para Minha própria honra e glória, como para o vosso bem; que, por meio destes Meus testemunhos, possam acreditar que Eu sou o verdadeiro Messias, e assim serdes salvos da ruína e destruição temporal, que caso contrário, virá sobre vós e a vossa nação, por vossa descrença, negligência e desprezo a Mim. Contudo,

3. admitindo-se que Cristo falou essas palavras com uma visão para a salvação espiritual e eterna de Seu público; deve ser observado que Ele deve ser aqui considerado como um pregador, um ministro da circuncisão, enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel, por cujo bem-estar Ele teve uma consideração e interesse compassivo; e, portanto, declarou as coisas a respeito de Sua pessoa, ofício e graça, indefinidamente para todos eles, para que Ele pudesse ganhar alguns deles, não sabendo como homem, mas conhecendo como Deus, quem eram ou não os escolhidos. Essa consideração não é prejudicial para Deus nem para Ele.

4. Será difícil, se não impossível provar que as pessoas a quem Cristo falou estas palavras, não eram eternamente salvas; embora naquele presente momento, elas fossem incrédulas e destituídas da graça de Deus, ainda podiam, depois disso, ser convertidas e capacitadas a ir para Cristo, para ter a vida e salvação; ou pelo menos, podia existir algumas entre elas que eram as eleitas de Deus e as ovelhas de Cristo; por cuja causa Cristo podia expressar-se como o Salvador, a fim de fazê-las conhecê-LO e trazê-las a salvação por intermédio dEle; e, portanto estas palavras não militam contra qualquer decreto ou ato de preterição feita por Deus, respeitando qualquer parte da humanidade, ou as doutrinas da redenção particular e da graça infrustrável na conversão.

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NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Remonstr. em Coll. Hag. art. 3. 4. pág. 216; Sínodo lei. pág. 81; Curcell. 1,6, c. 13, ver 6, pág. 402; Limborch. 1. 4, c. 13, seita. 13, pág. 373; Whitby, pág. 13, 73, 135, 162; ed. 2. 13, 72, 132, 158.________________________________________

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 09/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 06/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 09/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br