A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 39 - II Coríntios 5:14 ,15

“Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.”

A CAUSA DE DEUS E DA VERDADE.

Parte 1

Seção 39 - 2 Coríntios 5:14, 15.

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Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

Esta Escritura [1] nunca deixa de ter um lugar na controvérsia sobre a extensão da morte de Cristo. A redenção universal é concluída daí, pelos seguintes argumentos, agora a serem examinados:

I. O primeiro é tirado da palavra todos [2] aqui utilizada, se, ou um morreu por todos. Contudo, deve ser observado:

1. O texto não diz que Cristo morreu por todos os homens, mas para todos; e, portanto, de acordo com as outras Escrituras (Mateus 1:2 l; João 10:15; Efésios 5:25; Hebreus 2:9, 10), pode ser entendido por todos, as pessoas a quem Jesus salva dos seus pecados; de todas as ovelhas por quem Ele deu a sua vida; de todos os membros de Sua igreja, a quem Ele amava, e por quem Ele deu a Si mesmo; ou de todos os filhos por quem Ele provou a morte, e, como o Capitão da Salvação deles, traz para a glória.

2. Que é dito na última parte do texto, que aqueles pelos quais Cristo morreu, por eles também ressuscitou; que, portanto, devem viver ??????????, [3] para Aquele que por eles morreu e ressuscitou. Cristo não morreu por ninguém mais nem por quaisquer outros além daqueles por quem Ele ressuscitou. Estes são os por quem Ele ressuscitou, ou seja, Ele ressurgiu para a justificação deles. Se Cristo ressuscitou para a justificação de todos os homens, todos os homens seriam justificados, ou o fim da ressurreição de Cristo não seria respondido. Mas todos os homens não são, nem serão justificados. Alguns dos homens serão condenados. Além disso, Cristo não ressuscitou dentre os mortos para todos os homens e, consequentemente, não morreu por todos os homens.

3. Que a todos por quem Cristo morreu, morreram com Ele, e por Sua morte estão mortos tanto para a lei quanto para o pecado; logo todos morreram. Além disso, o propósito de Sua morte por eles era que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu; nenhum destes propósitos é a verdade de toda a humanidade. Isso para não falar da natureza e da forma da morte de Cristo por todos estes; que era para, ou melhor, no lugar e para o bem deles; e denota uma substituição feita, uma satisfação dada, que resulta no pleno cancelamento, na libertação judicial e na justificação deles. Este não é o caso de cada indivíduo da natureza humana.

4. Que o contexto (II Coríntios. 5:17, 18, 21), explica a todos dos tais que estão em Cristo, são novas criaturas, reconciliados com Deus, cujas transgressões não são mais imputadas a eles, estes por quem Cristo foi feito pecado, e que são feitos a justiça de Deus nEle. Isso não pode ser dito de todos os homens.

II. É observado que, [4] "as palavras, todos morreram, certamente devem ser tomadas em sua maior latitude; portanto, as palavras anteriores, se ou desde que Cristo morreu por todos, de quais elas são uma inferência, deveriam também ser tomadas na mesma medida." Ao que eu respondo:

1. A latitude na qual as palavras todos morreram, é e deve ser de acordo com aquela na qual as palavras anteriores, se um morreu por todos, devem ser tomadas. Por esta extensão a outra é fixada, e não a extensão destas por elas. O apóstolo não diz, nem é seu sentido, que Cristo morreu por todos os que estavam mortos; mas que todos eram mortos porque Ele havia morrido por eles; se um morreu por todos, logo ??????????????????, todos morreram; pois o artigo “??” é anafórico ou relativo, como Beza e Piscator justamente observam: supondo, portanto, que as palavras todos morreram, são capazes de serem tomadas em tal latitude de modo a compreender cada indivíduo da humanidade, não existe necessidade que elas devam ser tão utilizadas aqui, a menos que seja primeiro provado, que as palavras anteriores, se um morreu por todos, pelas quais a extensão destas é fixada, devem ser entendidas em tão amplo sentido; que é a coisa em questão, e não pode receber qualquer prova neste versículo. Até que isto seja provado, é suficiente dizer que todos por quem Cristo morreu estavam mortos: de onde não pode raciocinar, por qualquer consequência justa, que Cristo morreu por todos os que estavam mortos.

2. É apropriado considerar o sentido destas palavras, logo todos morreram. Os Remonstrants [5] compreendem-nas como uma morte pelo pecado, que é comum a toda a humanidade; e porque todos os homens estão mortos pelo pecado, eles concluem que Cristo morreu por todos os homens. Admitindo este sentido das palavras, eles provam nada mais, que todos por quem Cristo morreu foram mortos em pecado; o que é a pura verdade; pois os eleitos de Deus estão mortos em transgressões e pecados, enquanto num estado natural, bem como os outros; mas não que Cristo morreu por todos os que estavam mortos pelo pecado: e por isso, mesmo de acordo com esta interpretação, eles nada concluem em favor da salvação universal, ou contra redenção particular. Embora não pareça que este seja o sentido das palavras, uma vez que para estar morto no pecado não é consequência da morte de Cristo, isto é, a alguém que está dependendo de tal morte; pois teria sido uma verdade, que todos os homens descendentes de Adão, estavam mortos no pecado, se Cristo nunca tivesse morrido; ou se Ele tivesse morrido por alguns ou por ninguém; muito menos alguém morrendo no pecado é o fruto da morte de Cristo, ou aquilo que coloca as pessoas numa capacidade de viver para Cristo, que a morte aqui mencionada é intimada para ser e fazer; mas, pelo contrário, esta morte é o fruto do pecado, e é o que torna as pessoas incapazes, enquanto sob o poder dele, para viver para Cristo. E, portanto,

3. quando aqueles por quem Cristo morreu, são ditos estar mortos mediante a Sua morte por eles, o significado é, que ou eles estavam mortos com Ele, ou nEle, como se lê na versão Etíope, seu cabeça e representante federal; quando Ele foi crucificado eles foram crucificados com Ele, e assim era o seu homem velho, que o corpo do pecado seja desfeito, para que não sirvamos mais ao pecado; ou que eles estavam mortos para a lei pelo corpo de Cristo, como para a maldição dela, e a condenação por ela; e morto para o pecado, como ao seu poder condenatório, de modo que eles foram absolvidos, descarregados e justificados dele; cuja consequência é, uma libertação do poder reinante e domínio dele. Portanto, estando assim mortos para a lei e o pecado, eles são capazes, por meio da ajuda da graça divina, de viver para a justiça e para a glória de Cristo; tudo o que é privilégio dos santos, e o fruto e efeito da morte de Cristo. Agora, como o primeiro sentido das palavras nada conclui a favor da morte de Cristo por cada indivíduo da humanidade; este último sentido, o qual é tão genuíno, fortemente conclui contra ela; uma vez que todos os homens não estão, nem estarão mortos para a lei e para o pecado.

III. A redenção universal é defendida a partir do propósito da morte de Cristo; que é, para que os que vivem, não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu. Sobre o que é observado, [6] "Esta certeza deve ser o dever de todos os Cristãos em particular (a menos que existam alguns Cristãos não são obrigados a viver para Cristo, mas sim em liberdade de viver para si mesmos), e que a morte, que é o motivo para isto, deve ser destinada a todos eles." A isso acrescento, em vez de responder, que esta é uma forma de raciocínio que não pode ser contrariada, certamente é o dever de todos os Cristãos viver para Cristo, e ninguém está em liberdade para viver para si mesmo; e não será negado, que a morte de Cristo foi destinada para todos eles, já que todos os Cristãos, os tais que realmente são os crentes, e estes são os eleitos de Deus. Contudo, então, existe uma grande diferença entre estas duas proposições, Cristo morreu por todos os Cristãos, e Cristo morreu por todos os homens. A menos que se possa pensar que todos os homens, turcos, judeus e índios sejam Cristãos. O argumento do propósito da morte de Cristo, aqui mencionado, é formado de uma maneira muito melhor, e com propósito melhor, pelos Remonstrants, [7], assim, "Aqueles que devem viver para Cristo, por eles Cristo morreu; mas não apenas os eleitos devem viver para Cristo, pois Cristo não morreu somente para os eleitos." Ao que eu respondo que embora este argumento possa parecer plausível, entretanto não tem fundamento no texto, que não diz que Cristo morreu por todos eles que devem viver para Ele; mas apenas, no máximo, prova, que aqueles por quem Ele morreu, devem viver para Ele: todos os homens devem viver para Cristo como Deus, como o Criador deles, eles são obrigados a isto pelas leis da Criação, e pelos laços da natureza, se Ele morreu por eles ou não, e de fato, supondo que Ele nunca tivesse morrido por qualquer um; mas além da obrigação da criação, existe uma nova sobre tais por quem Ele morreu para viver com Ele: daí não segue "dizer [8] que Cristo morreu apenas por alguns de todas as nações, judeus e gentios, é isentar todos os outros daquelas nações de viver para Cristo," pois embora eles não sejam obrigados a viver para Cristo na conta da redenção por Ele; ainda, porque eles são Suas criaturas, e são providos com as misericórdias temporais dEle: e quanto ao que é mais observado, [9] que "dizer que Ele morreu por todos os eleitos, que eles que vivem, podiam não viver para si, é de supor que alguns dos eleitos podiam viver, não para Cristo, mas para si mesmos; o que não pode ser verdadeiramente imaginado dos eleitos de Deus." Eu respondo, que há uma propensão em todos os eleitos de Deus, mesmo depois que eles são feitos espiritualmente vivos, para viver para si mesmos, e não a Cristo; e portanto, tal argumento, tirado da morte de Cristo por eles em particular, é um argumento muito bom para animá-los para os seus deveres, e envolvê-los com toda a prontidão e ânimo para buscar a glória e a honra de seu Redentor.

IV. Que Cristo morreu por todos os homens, é argumentado, pois, o amor de Cristo constrangendo os apóstolos a pregar o Evangelho a todos; e é dito, [10] o apóstolo “declara, que o sentido deste amor de Cristo prevaleceu sobre eles para persuadir os homens a acreditar nEle. Agora esta persuasão eles usaram para cada homem a quem eles pregaram; e portanto, eles persuadiram todos os homens a crer que Cristo morreu por eles (Colossenses 1:28)." Ao que eu respondo; ‘Não era o amor de Cristo, mas o terror do Senhor, que prevaleceu sobre eles para persuadir os homens (v. 11), e que não é dito, que eles persuadiram todos os homens, mas os homens; pois não foi a todos os homens a quem eles pregaram. Além disso, esta persuasão não era a crer em Cristo, mas num julgamento geral, para o qual todos serão convocados (v. 10), muito menos para crer que Cristo morreu por todos a quem eles pregaram; de que este tipo de persuasão, não temos exemplo, nem aqui nem em Colossenses 1:28, nem em qualquer outra passagem da Escritura.

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NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Remonstr. em Coll. Hag. art. 2. pág. 132; Curcellaeus, 1. 6, c. 4, seita. 6, pág. 360; Limborch, 50:4, c. 3, seita. 3, 4, pág. 319.

[2] Whitby, pág. l13, ed. 2. 111.

[3] Repete ??????????, sicut ratio hypozeugmatis requirit; Vorst em loc. [4] Whitby, pág. 119; ed. 2,116.

[5] Em Coll. Hag. art. 2. pág. 160, 192. [6] Whitby, pág. 119; ed. 2. 116. [7] Em Coll. Hag. art. 2. pág. 132. [8] Whitby, pág. 119; ed. 2. 116. [9] Ibid. [10] Whitby, pág. 119; ed. 2. 116.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 09/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 06/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 09/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br