A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

SEÇÃO 53 - 2 PEDRO 1:10

“Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.”

Diz-se: “A eleição mencionada nas Escrituras Sagradas não é aquela de determinadas pessoas, mas apenas de igrejas e nações, que é para desfrutar dos meios da graça, que os coloca numa capacidade de ter todos os privilégios e bênçãos que Deus prometeu à sua Igreja e pessoas, e é apenas uma eleição condicional, mediante a nossa perseverança numa vida de santidade, e deve ser feita a nós com certeza pelas boas obras, de acordo com esta exortação." Contudo,

1. embora será garantido que existia uma eleição nacional dos judeus, que gozavam dos meios da graça, da palavra e das ordenanças de Deus e tiveram bênçãos peculiares e privilégios em consequência dessa escolha especial deles como uma nação. Contudo, esta não era uma eleição para salvação mencionada em outros lugares, e sobre a qual é a nossa controvérsia, e, portanto, em vão o Dr. Whitby produz tantas passagens do Antigo Testamento para provar o que ninguém nega. E embora, por vezes, comunidades inteiras ou igrejas sejam, pelos apóstolos, denominadas as eleitas de Deus, como as igrejas de Colossos, Tessalônica, Babilônia, (Colossenses 3:12; 1 Tessalonicenses 1:4; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 Pedro 5:13) e outras, no entanto, os membros que compõem as igrejas ou nações não foram escolhidos com tal eleição nacional; nem se deve pensar que todos eles foram ordenados para a vida eterna, embora os apóstolos falem deles, de forma geral, como os eleitos de Deus, estando eles sob uma visível profissão religiosa; exatamente como eles chamam a todos de santos, os santificados e fiéis em Cristo Jesus; embora não se deva supor que cada um dos seus membros individuais dessas igrejas eram verdadeiros santos. No entanto, não parece que as pessoas a quem o apóstolo Pedro escreveu as suas epístolas eram uma nação ou uma igreja, sendo os estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia; (1 Pedro 1:1) eles de fato são chamados a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido; (1 Pedro 2:9), mas isso é apenas em alusão à figura de Israel, e a eleição em sombra daquelas pessoas como uma nação. É certo que essas pessoas não foram escolhidas meramente por meios externos, bênçãos exteriores e privilégios, mas pela graça aqui, e no porvir a glória, porque foram eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus, e em consequência disso sendo de novo gerados, para uma viva esperança de uma herança incorruptível e incontaminável e que não se pode murchar, guardada nos céus, e que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação (1 Pedro 1:2-5). Eles eram um conjunto de pessoas em particular, que alcançaram fé igualmente preciosa com os apóstolos, (2 Pedro 1: l) e era para cada um deles procurar fazer cada vez mais firme o seu próprio chamado, e não outro chamado e eleição; portanto, não houve uma eleição nacional ou da igreja, mas uma eleição pessoal.

2. Essa eleição não é condicional, dependendo da perseverança de uma vida de santidade. O texto não diz: se fizeres estas coisas sereis vós eleitos, ou a vossa eleição permanecerá firme e segura, mas vós jamais caireis; significando, não em pecados menores e enfermidades da vida, porque todos tropeçamos ‘ptaiomen apantes’ em muitas coisas, todos nós caímos; mas para o grande mal de uma apostasia definitiva e total, ou nunca jamais tropeçareis (James 3:2) de modo a perder-se e perecer. A perseverança final dos santos é garantida pela graça eletiva. Isso significa que tal perseverança depende da eleição, não sendo, portanto, a causa desta, mas sim o seu fruto.

3. A eleição e a vocação aqui mencionadas em conjunto, devem ser feitas firmes. Todavia, não se deve pensar com isso que elas possam ser mais firmadas em si mesmas, ou em relação a Deus, do que elas já estão, sendo ambas não segundo as nossas obras, mas segundo o propósito e graça de Deus que não podem ser frustrados. Portanto, ficamos sobre um firme alicerce, que nunca pode falhar, e estamos inseparavelmente ligados com a glorificação, Romanos 8:30. Nem devem ser firmadas pelos santos por si mesmos, ainda que eles possam ter algumas dúvidas e escrúpulos em suas mentes sobre os próprios interesses nessas coisas, e uma garantia de que elas podem ser alcançadas, contudo, não é obra deles, mas do Espírito de Deus, para certificar ou assegurá-los da própria vocação e eleição de Deus. Mas os santos devem usar diligência para firmar a própria vocação e eleição e também ajudar a firmar a dos outros. Eles podem fazer isso quer conversando com os seus companheiros cristãos sobre a obra da graça sobre suas almas, quer dando testemunho ainda mais ao mundo, tal testemunho será ‘dia twn kalwn ejrgwn’, pelas boas obras. Como essas palavras são lidas em duas cópias das manuscritas de Beza, e pela síria, etíope e Vulgata Latina o significado é: Seja cuidadoso em manter as boas obras! Seja diligente em fazer estas coisas! As quais, pela graça de Deus, não serão apenas o meio de sua perseverança final, mas também o de fazer a sua vocação e eleição firmes para os outros. Considerando tudo dessa maneira, você, pelas obras boas e uma boa diligência, certificará e assegurará aos outros, dando a melhor evidência para o mundo que você é capaz de dar, ou eles de receber, que você é o chamado e escolhido de Deus que você professa ser.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 09/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 06/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 09/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br