A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

SEÇÃO 56 - 2 PEDRO 3:9

“O Senhor não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se”

Essa passagem da Escritura aparece entre aquelas que são ditas ser muito claras e manifestas para a doutrina da redenção universal; e é observado que, ‘tines’, oposto a ‘pántes’, é um distributivo de todos, e, portanto, significa que Deus não deseja que qualquer indivíduo de todo o gênero humano pereça. Contudo,

1. não é a verdade que Deus não deseja que qualquer indivíduo da raça humana pereça, já que Ele fez e nomeou o ímpio para o dia do mal, mesmo homens ímpios, que são pré-ordenados para esta condenação, os tais são como vasos de ira preparados para a perdição; sim, existem alguns a quem Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos, pode ser condenado, sobre os quais já de largo tempo não será tardia a sentença, e a sua perdição não dormita (Provérbios 16:4; Judas 1:4; Romanos 9:22; II Tessalonicenses 1:11,12; II Pedro 1:3). Também não é Sua vontade que todos os homens, neste amplo sentido, cheguem ao arrependimento, já que Ele retém de muitos tanto os meios quanto a graça do arrependimento; e embora seja Sua vontade de preceito que todos se arrependam, todos a quem a pregação do Evangelho é garantida, contudo não é o Seu propósito, vontade determinante trazê-los todos ao arrependimento, porquanto, quem tem resistido à sua vontade? (Romanos 9:19).

2. É bem verdade que ‘tíves’, qualquer um, opondo-se ao ‘pántes’, todos, é um distributivo dele; mas então ambos, o qualquer um e o todos devem ser limitados e contidos por nós, a quem Deus é longânimo. Ele não deseja que mais ninguém pereça e não quer que ninguém mais chegue ao arrependimento além de nós a quem sua longanimidade é a salvação. A chave, portanto, para abrir este texto reside nessas palavras, ‘eis hmâs’, para nos guardar, ou por amor de vós; pois, essas são as pessoas que Deus não queria que qualquer uma delas perecesse, mas gostaria que todas elas chegassem ao arrependimento. Será apropriado, portanto,

3. questionar quem são essas. É evidente que elas são distintas dos escarnecedores que zombam da promessa da vinda de Cristo, versículo 3, 4. Elas são chamadas de amadas, versos 1, 8, 14, 17, o que deve ser entendido tanto elas sendo amadas por Deus, com um amor eterno e imutável, quanto elas sendo amadas como irmãs pelo apóstolo Pedro, os demais apóstolos e outros santos. Deve ser entendido também que essa não é uma verdade para a humanidade. Além disso, a concepção das palavras é para estabelecer os santos e confortá-los com a vinda de Cristo, até que Deus, que tem sido longânimo com eles, os conte na salvação, versículo 15. Adicione a isso, que o apóstolo manifestamente designa uma companhia ou sociedade à qual ele pertencia, da qual ele fazia parte, e assim não pode significar outra coisa além daqueles que foram escolhidos de Deus, redimidos entre os homens e chamados das trevas para Sua maravilhosa luz; e os que eram as pessoas a quem o apóstolo escreve. Algumas cópias leem as palavras ‘di umâs’, por amor de vós; do mesmo modo a MS. Alexandrina. a versão síria, ‘wktlfm’, por vós, ou por amor de vós; a mesma forma da etíope. Agora essas pessoas que eram os crentes que foram eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo (I Pedro 1:2); e os que como esses, ou aqueles que pertencem à mesma eleição da graça que eles, Deus não quer que qualquer um deles venha a perecer, mas quer que todos eles cheguem ao arrependimento para a vida; e, portanto, Ele espera ser gracioso para com eles e retarda a segunda vinda de Cristo. O caso fica assim: Existia uma promessa entregue da segunda vinda de Cristo, para julgar o mundo; esperava-se que esta segunda vinda acontecesse muito rapidamente, considerando que ela tem sido adiada por um longo tempo. Daí escarnecedores devem surgir nos últimos dias, acusando o Senhor de negligência e lentidão acerca de Sua promessa, embora Ele não seja tardio com relação a isso, mas é longânimo para com os Seus eleitos, esperando até que seja completado o número deles na vocação eficaz, e por amá-los, suporta toda a idolatria, superstição e profanação que estão no mundo; mas quando o último homem que pertence àquele número for chamado, Ele não ficará mais esperando, mas descerá como chamas de fogo, tomará Seus escolhidos para Si mesmo e queimará o mundo e os maus.

4. É realmente dito que o apóstolo, pelos eleitos, para quem ele escreve, não se refere, absolutamente, a todos os homens como concebidos para a felicidade eterna, mas apenas aos homens que professam o Cristianismo, ou esses que eram visíveis membros da igreja de Cristo: uma vez que Ele os convida a fazer cada vez mais firme a vocação e eleição deles, exortando-os à vigilância, visto que o diabo seu adversário, está buscando a quem possa tragar, e a guardar-se de que, sejam arrebatados e descaiam da vossa firmeza; e sim, ele fala de alguns deles como se tivessem deixado o caminho direito; e também profetiza que falsos profetas farão de vós negócio. Nenhuma dessas profecias observadas, podem se supor de homens absolutamente eleitos para a salvação; e, também, que a igreja na Babilônia era eleita, junto a essas pessoas, que não poderiam ser conhecidas e ditas como todos os seus membros. A todos aos quais eu respondo, que a chamada para fazer a sua eleição firme, não supõe que ela seja precária e condicional, como eu já mostrei numa seção anterior que exortações à sobriedade, e vigilância contra Satanás e advertência sobre a queda são pertinentes aos que são absolutamente eleitos para a salvação; pois, embora Satanás não possa devorá-los, ele pode causar-lhes muita aflição; e, embora eles não caiam final e totalmente da graça de Deus, contudo eles podem cair de algum grau de firmeza, tanto como à doutrina e à graça da fé, que pode ser para o seu prejuízo bem como para a desonra de Deus: que não é verdade, que o apóstolo fala de qualquer um desses eleitos a quem ele escreve, que eles haviam deixado o caminho direito, mas de algumas outras pessoas; e, embora ele profetize que os falsos profetas farão negócio deles, o significado é, que, por suas belas e lisonjas palavras, eles devem ser capazes de tirar dinheiro de seus bolsos, e não que eles devem destruir a graça de Deus operada nos corações deles. Quanto à igreja em Babilônia sendo mencionada como eleita com eles, o apóstolo podia dizer isso da igreja em geral, como ele faz, num julgamento de caridade, da igreja em Tessalônica e outras, embora cada membro em particular não tenha sido eleito para a salvação, sem qualquer prejuízo para a doutrina da eleição absoluta. Além disso, as pessoas que ele escreve que não eram membros visíveis de uma igreja em particular ou comunidade, professando o Cristianismo, mas eram estranhos dispersos em várias partes do mundo, e, eram os tais que tinham obtido fé igualmente preciosa com os apóstolos, e é uma forte evidência deles sendo homens absolutamente concebidos para a felicidade eterna. E considerando que é sugerido que essas pessoas já chegaram ao arrependimento e, portanto, não podem ser as mesmas a quem Deus é longânimo para que elas pudessem chegar a arrepender-se; eu respondo: Embora elas não sejam as mesmas pessoas individualmente, elas ainda são as que pertencem ao mesmo corpo e número dos eleitos, a quem o Senhor espera e está longânimo até trazê-las todas para participar dessa graça, tendo determinado que nenhuma delas jamais pereçam.

5. Assim, consequentemente, essas palavras não fornecem qualquer argumento em favor da redenção universal, nem militam contra a eleição (I Pedro 1.2) e reprovação absolutas, ou a graça infrustrável na conversão; mas, ao contrário, mantém e estabelece-as, uma vez que parece ser a vontade de Deus que nenhum daqueles que Ele escolheu em Cristo e deu a Este, por quem Este morreu, jamais pereça; e, na medida em que o arrependimento evangélico é necessário para eles, pois não podem chegar-se a Ele por esforço e iniciativa própria, Ele concede livremente sobre eles, e, por Sua graça infrustrável, opera-o neles; e, até que isso seja feito em e sobre cada um deles, Ele conserva o mundo, que é guardado para o fogo, o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 09/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 06/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 10/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br