O BATISMO DE JESUS

Ron Crisp, 2012

“Então veio Jesus da Galiléia ter com João, junto do Jordão, para ser batizado por ele. Mas João opunha-se-lhe, dizendo: Eu careço de ser batizado por ti, e vens tu a mim? Jesus, porém, respondendo, disse-lhe: Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda a justiça. Então ele o permitiu. E, sendo Jesus batizado, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba e vindo sobre ele. E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.(Mateus 3:13-17)[1]


O batismo de nosso Senhor é estranhamente negligenciado nos círculos evangélicos. Até o próprio homem que batizou Cristo é negligenciado. O profeta Elias é um favorito de uma série de sermões biográficos. Mas João Batista, o Elias do Novo Testamento, quase nunca é o tema de uma série biográfica.

Infelizmente temos de confessar que dizendo “é estranhamente negligenciado” não descreve totalmente a situação. Devo dizer que este assunto é “tragicamente” negligenciado. Até um mínimo de estudo revelaria que Deus tem dado uma ênfase surpreendente para o ministério de João Batista e o batismo de Jesus. Certamente nossa geração passou por cima de algo de grande importância. Deus clamou, mas não ouvimos. Aquilo que o Todo-Poderoso enfatizou com pontos de exclamação, temos relegado a uma nota de rodapé. Concorda comigo que é a hora de voltar para a o Rio Jordão para dar outro olhar no assunto?


I. A SUA ATENÇÃO, POR FAVOR!

Nossa primeira tarefa agora é provar a nossa afirmação de que Deus dá grande ênfase ao batismo de seu Filho. Isso deve garantir a atenção séria dos estudantes reverentes da Bíblia. Devemos todos concordar que onde Deus dá ênfase, devemos enfatizar.

A. A repetição nas Escrituras é um meio de dar destaque, e esse método de dar destaque é claramente utilizado nos relatórios do batismo de Jesus e das circunstâncias que o relacionam.

1. O batismo de Cristo é descrito em todos os três evangelhos sinóticos. O ministério de João Batista é registrado em todos os quatro evangelhos. Em contraste, o nascimento de Cristo é relatado em apenas dois evangelhos. Da mesma forma, a oração modelo e o Sermão da Montanha são registrados em apenas dois evangelhos.

Considere quantos acontecimentos importantes na vida de Cristo e muitas das Suas ​​palavras memoráveis são encontradas em apenas um evangelho. Por exemplo:

- A vinda dos magos.

- O menino Jesus reconhecido como o Messias por Simeão e Anna.

- A atividade de Nosso Senhor e as palavras no templo quando tinha doze anos.

- O primeiro milagre de Cristo.

- As conversas de Cristo com Nicodemos e a mulher no poço.

- Várias parábolas como as do Filho Pródigo e do Bom Samaritano.

Quando consideramos quanta atenção todos esses itens recebem em púlpitos evangélicos, em contraste com o batismo de Cristo, certamente devemos admitir que as nossas prioridades estão fora de alinhamento!

2. A ênfase por repetição é certamente evidente nas profecias que falam do ministério de João Batista. Esse ministério, obviamente, inclui o batismo de nosso Senhor. Considere os seguintes textos:

- Isaías 7:14,  que prevê a concepção virginal e o nascimento de Cristo, é citado apenas uma vez no Novo Testamento. Isaías 40:3-5, que profetiza a obra de João, é citado cinco vezes no Novo Testamento.

- Miquéias 5:2, que predisse o nascimento de Cristo em Belém, é citado apenas uma vez no Novo Testamento. Por outro lado, Malaquias 4:5-6 é citado e apontado várias vezes no Novo Testamento. Este texto fala de João como Elias, quem deve preceder a vinda do Messias.

B. O batismo de Jesus recebe ênfase por Deus escolher esta ocasião para promover um grande avanço na revelação especial. A verdade da natureza trinitária de Deus foi levemente sugerida no Antigo Testamento, mas foi claramente manifestada no Jordão. As três Pessoas da Trindade não foram somente claramente reveladas, mas cada uma foi vista naquele papel que tinha na aliança da salvação. O Pai apareceu como Aquele que enviou o seu Filho e foi bem satisfeito com a Sua obediência. O Filho foi revelado como o servo do Jeová. O Seu batismo manifestou a Sua prontidão de morrer. O Espírito Santo foi revelado ungindo Cristo. Não é maravilha que os antigos hereges arianos eram instruídos a “ir para o Jordão, e lá, aprender a doutrina da Trindade”.

Será que nós mesmos entenderíamos as palavras de Cristo na Grande Comissão se não fosse a revelação dada em Seu batismo? “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). Três Pessoas, mas um nome! Aqueles que entendem o significado do nome sabem que ele ensina que as três Pessoas da Trindade são um em essência, em glória e em todos os atributos divinos.

C. Outros eventos que acompanham o batismo de Cristo e dão destaque a essa ocasião. Os céus se abriram e o Espírito Santo desceu sobre Cristo visivelmente - a barreira da invisibilidade foi violada. (Apenas nesta ocasião e no dia de Pentecostes é que lemos do Espírito sendo manifesto visivelmente). O Pai falou de forma audível - a barreira do silêncio foi quebrada. (Apenas três vezes durante o ministério público de Cristo é que lemos do Pai falar de forma audível). Certamente o céu viu as atividades no Rio Jordão como importantíssima!

D. Todas as Pessoas da Santíssima Trindade trataram o batismo de Jesus como significativo. O Pai falou de forma audível e estava bem satisfeito com Cristo. Jesus se cansou por caminhar muitos quilômetros em obediência ao obedecer ao Pai e submeter-se ao batismo. Ao ser batizado, o Espírito se manifesta a Cristo como sendo O Ungido. “E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo.”(João 1:32-33)

Tanto Cristo (no grego) como Messias (em hebraico), significam “o ungido”. Que Jesus em Seu batismo foi demonstrado ser o Ungido é altamente significativo.

E. Vemos a importância do batismo de Cristo em que antecedeu o Seu ministério público. Este é um exemplo para nós. O batismo é ainda o primeiro dever de todos aqueles que, sendo convertidos, desejam servir ao Senhor. (Veja Mateus 28:19-20, Atos 8:36-37).

II. RAZÕES DADAS PELA NEGLIGÊNCIA DO BATISMO DE CRISTO.

Deus colocou um holofote sobre o Jordão. Contudo tem atraído pouca atenção. Púlpitos evangélicos têm prestado pouca atenção àquilo que obrigou o Pai a falar do céu. Modernos autores cristãos parecem indiferentes aquilo que incentivou os escritores do evangelho. Qual a razão pela falta de interesse? Aqui estão algumas razões possíveis.

A. O assunto do batismo é tão controverso que muitos não mexem nele por medo de ofender alguém.Ter convicção sobre as suas crenças não é visto como positivo em nossa sociedade pós-moderna.

B. O batismo de Cristo é visto pela maioria como um tema de grande dificuldade teológica. O fogo cruzado de opiniões conflitantes deixa muitos pastores intimidados pelo sujeito.

C. A maioria dos evangélicos, bem como todos os Campbellitas (A Igreja de Cristo, fundada por Alexander Campbell) concluíram que o batismo de João não era batismo cristão. Tal pensamento, naturalmente, diminui o interesse pelo assunto.

III. SEGUIMOS CRISTO NO BATISMO?

Em 13 de setembro de 1855, um inglês chamado J. C. Philpot foi batizado por João Warburton em Allington, Wiltshire. Sr. Philpot era um estudioso experimentado de Oxford e um clérigo na igreja do Estado. João Warburton era um ignorante e rude pastor batista que sofreu ao longo de sua vida por ser vítima de pobreza, perseguição e problemas domésticos. Não é necessário dizer que este batismo levantou sérias suspeitas. A ação custou ao Sr. Philpot sua renda e sua respeitabilidade naquela sociedade muito gentil. Ele foi levado a pia batismal ainda bebê, contudo ele considerou este ser apenas um ritual supersticioso, uma relíquia do papado. Aos trinta anos de idade, custasse o que custasse, ele devia, como ele dizia, “seguir o seu querido Senhor no batismo.

Nós, que somos batistas, geralmente falamos de “seguir Cristo no batismo.” Essa expressão significa que nós nos submetemos ao batismo de vontade própria, e que o batismo que recebemos é o mesmo daquele recebido por Cristo.

Aqueles que percebem o batismo de João como uma lustração da Antiga Aliança (lustração – cerimônia de purificação) ou como uma forma de batismo prosélito originada por alguma seita judaica, não falam, - na verdade, não podem - desta forma de batismo. Da mesma forma aqueles que foram batizados ainda bebês não podem falar que estavam seguindo a Cristo no batismo, pois tais não tinham nenhuma opção de escolha no assunto. Eles não vieram livremente como Cristo, mas foram trazidos ao batismo. Certamente, aqueles que acreditam que o batismo salva não podem dizer que estão seguindo Cristo na água, pois Ele não tinha pecados para serem purificados, nem tinha uma natureza para ser renovada.

Precisamos então considerar o que entendemos quando é reivindicada pelas Igrejas Batistas a expressão comum, “seguindo o Senhor no batismo.” Será que essas igrejas realmente seguem a Cristo no batismo único mencionado em Efésios 4:5? A única maneira de alicerçar esta alegação é comparar cada aspecto do batismo administrado por João Batista com aquele administrado nas igrejas batistas de hoje. As coisas que são idênticas em todos os seus aspectos são iguais. Portanto, vamos comparar.

A. Batismo requer um modo bíblico. Que eu saiba ninguém afirma que o batismo de João era diferente no modo daqueles batismos administrados mais tarde. Batistas, é claro, crêem que a imersão é o único modo bíblico. A palavra traduzida batismo no Novo Testamento é “baptizo”, que significa imergir, mergulhar ou submergir.

B. Batismo deve ser administrado por uma autoridade divina. Jesus nos mandou batizar em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mateus 28:19). Alguns erroneamente vêem isso como sendo somente uma fórmula de batismo, ou seja, um texto litúrgico destinado a ser recitado quando alguém é batizado. Enquanto certamente nenhum mal há em tal prática, Jesus estava explicando que o batismo deve ser realizado por uma autoridade divina. (Compare isso com Mateus 18:20 e I Coríntios 5:4. Também pensada frase comum: Pare em nome da lei!)

João, sem dúvida, batizava com autoridade divina:

“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João” (João 1:6)

“E João testificou, dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele. E eu não o conhecia, mas o que me mandou a batizar com água, esse me disse: Sobre aquele que vires descer o Espírito, e sobre ele repousar, esse é o que batiza com o Espírito Santo. E eu vi, e tenho testificado que este é o Filho de Deus.” (João 1:32-34)

Você podia perguntar: “Jesus foi batizado em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo?” A resposta deve ser clara já, mas para facilitar qualquer um que pode ser confundida, vou novamente ressaltar que a autoridade da Santíssima Trindade jamais foi mais evidente no seu batismo a não ser o de nosso Senhor Jesus Cristo. O Pai audivelmente expressou seu prazer nele. O Filho, obviamente, concordou pois, talvez tenha andado por dois dias e insistiu que João O batizasse. O Espírito Santo aprovou, pois, imediatamente após o batismo, ele visivelmente ungiu a Cristo .

C. Batismo requer um administrador adequado. Historicamente as igrejas batistas batizam por meio de seus ministros consagrados. Mas alguns podem questionar sobre o próprio João. Ele foi batizado? Ele era um membro da igreja? Ele era um ministro consagrado? Como já estudamos, a sua ordenação veio diretamente de Deus (João 1:6, 32-34). João Batista foi batizado? Respondemos dizendo que Adão não tinha mãe! Algumas coisas têm que começar com Deus. João Batista foi o primeiro batista. Com isso queremos dizer que ele foi o primeiro a administrar o batismo. Sua autoridade veio do céu. Não havia ninguém para batizá-lo. João era membro de uma igreja? Não. (Em João 3:29, ele chama-se a si mesmo simplesmente o amigo do noivo.)  Contudo, sem João não teria havido nenhuma igreja, pois a primeira igreja foi composta de pessoas batizadas por ele. Isto tornou-se a igreja em Jerusalém.

(Muitas vezes ouvimos que o batismo requer autoridade da igreja. Isso é um pouco confuso. Batismo é administrado pela autoridade do Pai, Filho e Espírito Santo. A igreja não é a autoridade para o batismo, mas, ela recebeu a autorização de Deus para administrar o batismo; ver Mateus 18:20. Nesse sentido, a Igreja possui as chaves do reino, Mateus 18:18-20)

D. Batismo Cristão, bem como a Ceia do Senhor, é um ato simbólico e, portanto, deve ser investido com o significado bíblico correto. Ambas as ordenanças devem ser declarações do Evangelho e, portanto só pode ser entendido onde o Evangelho é crido. Onde não há pregação do Evangelho, não pode haver ordenanças do Evangelho. Como a lua reflete a luz do sol, o batismo e a Ceia do Senhor refletem a luz do Evangelho.

Isso nos leva a fazer a seguinte pergunta: “Será que João Batista pregou o Evangelho?” Somente na medida em que ele pregou o Evangelho poderia o seu batismo ser considerado como cristão. Para responder a esta pergunta, pedimos que o leitor refleta sobre as seguintes passagens:

“Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho, para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele.” (João 1:6-7)

“Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece.(João 3:36)

“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados.(Marcos 1:1-4)

“E tu, ó menino, serás chamado profeta do Altíssimo, Porque hás de ir ante a face do Senhor, a preparar os seus caminhos; Para dar ao seu povo conhecimento da salvação, Na remissão dos seus pecados; Pelas entranhas da misericórdia do nosso Deus, Com que o oriente do alto nos visitou; Para iluminar aos que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os nossos pés pelo caminho da paz.” (Lucas 1:76-79)

Outro ângulo no qual podemos considerar o simbolismo do batismo de João é para perguntar: “Como Jesus compreendeu Seu próprio batismo?” Em resposta a esta indagação, ressaltamos que durante Seu ministério terreno, o nosso Senhor falou duas vezes do “batismo” em um sentido metafórico.

“Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o batismo com que eu sou batizado, mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence dá-lo, mas é para aqueles para quem meu Pai o tem preparado.” (Mateus 20:20-23)

“Importa, porém, que seja batizado com um certo batismo; e como me angustio até que venha a cumprir-se!” (Lucas 12:50)

Observe que em ambos os casos, o “batismo” apontou para a obra salvadora futura de Cristo. Sim, Jesus entendeu bem a importância do Seu batismo. De fato, pelo Seu batismo, Ele manifesta Sua voluntariedade plena em morrer no Calvário. Tão profundamente impressionou-Se o Seu batismo que o significado sério pairava sobre ele como uma nuvem escura durante todo o seu ministério terreno, como Lucas 12:50 indica.

Jesus, antes que o Seu sangue deu,

Nas águas de Jordão Se imergiu,

Ali, e, desse modo, quis mostrar,

O que Ele veio experimentar.

E. O Batismo Cristão exige um candidato adequado. João batizou somente aqueles que se arrependeram e creram no evangelho, segundo Mateus 3:5-6, João 1:6-7. Historicamente, os batistas têm visto o arrependimento e a fé como pré-requisitos para o batismo cristão, claramente concorrendo com o velho João.

A objeção pode surgir na mente de alguns que Jesus não poderia se arrepender, pois Ele não tinha pecado. Enquanto a impecabilidade de Cristo é maravilhosamente verdadeira, isso não prova que Seu batismo não era cristão. Pelo contrário, a sua impecabilidade revela que pelo Seu batismo Ele estava identificando com o Seu povo e mostrando a Sua própria vontade de morrer no lugar deles.

F. Batismo como lei positiva pertence a um período determinado de tempo. Leis positivas não são permanentes como as leis morais. O batismo bíblico pertence exclusivamente ao tempo do Novo Testamento.

Alguns podem objetar que o batismo de João não poderia ser cristão, pois ocorreu antes do Calvário e, portanto, a Antiga Aliança estava ainda em vigor. Aqui encontramos água teológica suficiente em que podemos nadar! Não vamos nem tentar explicar como tudo se encaixa. Na verdade, a teologia é cheia de dificuldades ou tensões. Vamos simplesmente ignorar a dificuldade e escrever sobre coisas que são claras nas Escrituras. (Às vezes, o melhor é aproveitar o peixe, e deixar que alguém engasgue nos ossos! Eu lembro-me de um pastor batista, quando questionado sobre como reconciliar a predestinação e responsabilidade do homem, respondeu que nunca tentou, pois quando ele finalmente conseguia reconciliar a sua conta bancária, era sempre hora de dormir!) Mantendo-nos ao ensino básico das Escrituras, perguntamos aos nossos perplexos amigos, “a Ceia do Senhor não era instituída antes do Calvário?” Se uma ordenança pode existir antes da Paixão de Nosso Senhor, porque a outra não pode? De fato, o batismo é um pré-requisito para a participação na Ceia do Senhor. Verdadeiramente, a Ceia do Senhor é uma ordenança da igreja, e sua celebração revela que Jesus e os apóstolos estavam respeitando a ordem neotestamentária da igreja naquele momento. (Compare com Mateus 26:30 com Hebreus 2:12). Não foram o tabernáculo de Moisés e o Templo de Salomão construídos antes de qualquer um deles serem purificados por sacrifícios ou cheios com a presença de Deus? Assim também Cristo instituiu a sua igreja antes do Calvário ou do Pentecostes.

Sim, nosso Senhor desfez a Antiga Aliança pela Sua morte. No entanto como cada teólogo sistemático sabe, é difícil com exatidão fixar todas as mudanças e perfeitamente associar toda revelação bíblica em categorias. Por exemplo, enquanto a Nova Aliança começou na cruz, os últimos dias ou os dias do Messias começaram com a vinda de Cristo (Hebreus 1:1-2; Gênesis 49:1, 8-10). Além disso, o Evangelho, nos termos de um “Evento Cristão”, começou com João Batista.

A frase anterior a essa pode chocar e provocar ciúme para os que querem ver Cristo como o tema central no Evangelho. Eu deixarei o leitor abordar esta questão com Marcos ou com o próprio Senhor.

“Princípio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus; Como está escrito nos profetas: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas. Apareceu João batizando no deserto, e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados.” (Marcos 1:1-4)

“Porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.” (Mateus 11:13) destes versos, Atanásio disse: “Até João, a lei; a partir dele, o evangelho”. Sem dúvida o Evangelho é sobre Jesus Cristo e Sua obra salvadora. Mas Cristo é um rei, e os reis devem ser anunciados. Eles são sempre precedidos por um precursor, que prepara o caminho. “Os profetas e a lei” apontaram para João. Como um precursor, ele foi o primeiro que aparece no radar com uma varredura profética procurando a presença do Messias. É por isso que Isaías 40:3-5 é repetido tantas vezes. Essa é a razão pela qual as últimas palavras do Antigo Testamento falam de João Batista.

“Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do SENHOR; E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.” (Malaquias 4:5-6)

“E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.” (Mateus 11:14)

Quando Pedro falou de um substituto para Judas Iscariotes, ele especificou que o novo apóstolo devia ser um testemunho do ministério de João (Atos 1:21-22). Sem disso, ele não poderia ser uma testemunha ocular da história do Evangelho inteiro. Também, quando Pedro levou o Evangelho aos gentios, a sua mensagem incluiu uma referência do ministério de João (Atos 10:37).

Na verdade, o testemunho de João fazia parte das credenciais do Messias. O próprio Cristo mostrou isso em Mateus 11:13-14. Ele assim interpretou, “Se João é Elias, então eu devo ser o Messias.” O verdadeiro pastor não sobe por outra parte, mas se apresentou a porta e foi reconhecido e admitido pelo porteiro. Sem dúvida, quando Cristo falou do porteiro, ele estava pensando em João Batista.

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas ovelhas, e as traz para fora.” (João 10:1-3)

Talvez uma ilustração do nosso mundo moderno possa ajudar. Nos eventos esportivos e de entretenimento, uma estrela chama a multidão. Esta celebridade é introduzida pelo apresentador que enuncia com uma voz distinta. (Lembre-se, João se identificou como uma “voz”, João 1:23.) Quando o apresentador entra no palco, a multidão vai à loucura. O show começou! No entanto, quando o astro entra e sobe no palco, o apresentador se retira e é logo esquecido. Como a “voz”, João apresentou o Messias. Assim tendo terminado o seu trabalho, se retirou de vista. Seu testemunho foi, “que ele cresça e que eu diminua”(João 3:30).

Assim, vemos pelas Escrituras a insensatez de ligar o batismo de João com alguma lustração da Antiga Aliança. João não era o fim da lei, mas o começo do evangelho.

G. Concluímos este estudo chamando a atenção para as implicações por negar que o batismo de João era de fato o batismo cristão. Aqueles que têm uma visão diferente de viver com algumas incoerências gritantes. Se o batismo de João não era cristão:

- Cristo ficou sem batismo cristão.

- O Cabeça da igreja estava sem o batismo cristão.

- Os doze apóstolos estavam sem o batismo cristão.

- A primeira igreja começou sem o batismo cristão.

- A Ceia do Senhor foi celebrada pela primeira vez sem primeiro ter o batismo cristão.

- Os apóstolos passaram suas vidas realizando a comissão de Cristo e implantando igrejas sem terem o batismo cristão.

Que Deus nos impeça de crer tais coisas tão ridículas e que não honram a sabedoria de Deus!

Em conclusão, eu faço-lhe uma pergunta simples. Você já seguiu o Senhor no batismo?

Se você já é um cristão é seu dever ser batizado.

Prezaria as Suas instituições

A cruz levar e as humilhações;

Ouse defender a Sua nobre causa,

Às Suas leis rende a Sua justeza.

 

ADENDO SOBRE ATOS 19:1-7

INTRODUÇÃO
Alguns argumentam que a partir desta passagem o rebatismo dos discípulos mostra que o batismo de João não era válido para esta dispensação.

I. INFORMAÇÃO HISTÓRICA.

Entender vs. 1-7, devem ser reconhecidos vários fatos.

A. Neste momento João Batista estava morto a mais de vinte anos.

B. Éfeso ficava longe da Judéia, onde foi difundido o ministério de João.

C. João, enquanto na terra, tinha recebido autoridade do céu para batizar (João 1.6, Marcos 11.30). Esta autoridade não foi transmitida para os seus discípulos. Cristo e os apóstolos foram batizados por João e era Cristo quem dava a autoridade aos discípulos para que eles batizassem (João 4.1-2, Mateus 28.18-19).

D. Alguns dos que estiveram sobre a influência difundida por João não permaneceram para se tornarem discípulos de Cristo. Estes homens não sabiam da vinda do Espírito (Atos 2) e de outras grandes verdades.

E. Alguns destes homens durante anos tentaram ensinar os outros, mesmo tendo, eles mesmos, uma compreensão imperfeita daquilo que ensinaram. Alguns até puseram-se a batizar como João.

II. EXPOSIÇÃO DE VERSÍCULO POR VERSÍCULO.

A. Versículo 1 - Paulo veio para a grande cidade de Éfeso. Aqui foi iniciado um ministério que eventualmente afetou toda a Ásia Menor (verso 10).

B. Versículo 2 - Em Éfeso, Paulo conheceu certos homens que tinham sido erroneamente ensinados e tinham sido batizados sem a autoridade por alguém que professou ser um seguidor de João o Batista (Apolo?). Estes homens obviamente não haviam conhecido a João porque eram ignorantes sobre o batismo com o Espírito e de outras verdades que João pregou (Mateus 3.11; João 1.26 - 30).. Paulo, ao encontrar-se com eles, notou que lhes faltava algo. A sua pergunta e a resposta que eles deram revelou uma ignorância de:

 

1. A pessoa do Espírito Santo que habita no coração dos crentes.

2. O sinal do batismo com o Espírito predito por João. Este já havia sido recebido pelos judeus crentes (Atos 2), e foi validado pelo livro de Atos em ocasiões várias pela dádiva dos dons milagrosos.

C. Versículo 3 - Todo o batismo é “em referência à” doutrina e autoridade de alguém (I Coríntios 10.2). Com o ato do batismo nós nos identificamos com alguém ou algum sistema de doutrina. Quando Paulo ouviu as respostas ignorantes dadas por estes, perguntou-lhes em referência ao que foram batizados. Eles responderam que haviam sido batizados à autoridade e ao ensino de João. Eles não estavam reivindicando terem sido batizados pessoalmente por João.

D. Versículo 4. - Paulo, então, explicou para aqueles homens que estavam mal informados. Eles não sabiam o propósito do batismo ministrado por João e pareciam ignorantes de tudo ou quase tudo sobre a Cristo.

E. Versículo 5 - Paulo não batizou aqueles homens por considerar o batismo de João inválido. Jesus Cristo, o cabeça da igreja, tinha o batismo de João. Os apóstolos, originais, tiveram somente o batismo de João. A primeira igreja instituída por Cristo durante o Seu ministério terrestre, era composta por pessoas que tinham somente o batismo de João. Nenhum destes foi rebatizado. É verdade que a igreja naquele momento estava em um estado pouco desenvolvido. Contudo, não há nenhuma razão para rejeitar o batismo de João. Fazer isso seria o mesmo que anular o batismo de todas as igrejas verdadeiras. Nosso batismo veio de João por Cristo. Estes homens foram rebatizados porque:

      1. Eles haviam sido batizados por um administrador sem autorização.

2. O batismo é um ato de obediência à verdade. Estes homens não conheciam a verdade. De acordo com o versículo 4 eles nem mesmo sabiam o propósito do batismo de João.

F. Versículo 6-7 - Tendo sido batizados por Paulo aqueles homens receberam o sinal do batismo com o Espírito.  Este foi um sinal público que o Espírito Santo veio a eles e que aquilo ensinado por Paulo era verdadeiro. Agora, aqueles homens verdadeiramente vieram a saber a verdade que João pregou. Eles seguiram o Messias que João havia pregado e receberam o Espírito Santo (testemunhado pelos dons extraordinários) de quem João havia profetizado.

 

[1]Nota do Tradutor - A não ser anotado diferentemente, todas as citações bíblicas são da ACF: Tradução por João Ferreira de Almeida,  Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original, Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil , 1994, Bíblia Online em Português, 2006.

 

Autor: Pr Ron Crisp
Tradução: Batismo de Cristo: Calvin G Gardner 07/2012
Tradução: Adenda de Atos 19.1-7: Albano Dalla Pria 09/1998 Tradução de umas adaptações da Adenda  pelo autor: Calvin G Gardner 07/2012 Editoração: CGG 07/2012
Revisão Gramatical: Robson Alves Lima 07/2012
Fonte: www.palavraprudente.com.br