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Capítulo 24 – A conversão

[Índice]

Virando do lado divino da salvação para o humano, somos trazidos a uma consideração da conversão. Notamos:

I. A CONVERSÃO DEFINIDA

1. A CONVERSÃO PROPRIAMENTE

Por conversão propriamente queremos dizer o sentido técnico e teológico em que o termo é comumente usado. Neste sentido tem sido definido como segue:

“Conversão é aquela mudança voluntária na mente do pecador em que ele se vira do pecado, por um lado, e para Cristo, doutro lado. O elemento primário e negativo da conversão, nomeadamente, virar-se do pecado, denominamos arrependimento. O elemento da conversão, último e positivo, nomeadamente virar-se para Cristo, denominamos fé.” E outra vez: “Conversão é o lado humano ou aspecto daquela mudança espiritual fundamental, que, vista do lado divino, chamamos regeneração.” – A. H. Strong, em Systematic Theology, pág. 460.

Podemos ir mais longe do que Strong vai à última citação e dizer que a regeneração, ou o novo nascimento, no seu sentido mais largo, inclui a conversão, que está assim apresentada em tais passagens como Ti. 1:18 e 1 Pedro 1:23, onde a Palavra de Deus está distintamente representada como o instrumento do Espírito Santo na regeneração. Se o novo nascimento significasse somente a comunhão de vida, então não haveria necessidade da instrumentalidade da Palavra. De modo que podemos dizer que a regeneração tem tanto do lado divino como do humano. O lado divino podemos chamar vivificação e o humano conversão. Aquelas passagens que falam de vivificação tem referência, talvez, só ao lado divino , enquanto que as passagens que falam de regeneração, gerar e nascimento, referem-se à obra completa de trazer o homem do pecado à fé salvadora em Cristo.

2. CONVERSÃO NO SEU SENTIDO GERAL

“Do fato de a Palavra “conversão” significar, simplesmente, um “virar”, toda volta do cristão do pecado, subseqüente à primeira, pode, num sentido subordinado, ser denominado uma conversão (Lc. 22:32). Desde que a regeneração não é santificação completa e a mudança da disposição regente não é idêntica à purificação completa da natureza, tais voltas subseqüentes do pecado são conseqüências necessárias e evidencias da primeira (Cf. João 13:10). Mas não implicam, como a primeira, mudança na disposição regente, – antes são novas manifestações da disposição já mudada. Por esta razão, a conversão própria, como a regeneração, de que é o lado obverso, pode ocorrer apenas uma vez.”- A. H. Strong, em Systematic Theology, pág. 461.

Neste capítulo temos referência ao sentido técnico e teológico da conversão como dado no primeiro caso supra.

II. A ORDEM LÓGICA DE VIVIFICAÇÃO E CONVERSÃO

Como afirmamos acima, vivificação e conversão parecem ser os lados divinos da regeneração ou o novo nascimento. É nosso propósito agora, portanto, considerar a questão quanto ao que é logicamente primeiro, o lado divino ou o humano, na regeneração. Propôs esta questão é respondê-la a todos que são capazes de pensar logicamente. O lado divino é certíssima e logicamente anterior ao lado humano. Em consideração desta atitude notemos:

1. PROVAS APRESETADAS

(1). A conversão envolve virar-se do pecado, o que o homem por natureza não pode fazer.

Por natureza o homem pode reformar sua vida até um certo ponto: pode virar-se de algumas formas de pecado; mas, por natureza não pode mudar a disposição regente de sua natureza. Está isso provado em Jer. 13:23, que reza: “Pode o etíope mudar sua pele, ou o leopardo as suas manchas? Assim podeis vós também fazer o bem, acostumados a fazer o mal?” O pecador está acostumado a fazer o mal; logo, é-lhe impossível virar-se do mal (pecado) até que sua disposição regente se mude. Isto é só tão impossível como é para o mais preto dos negros fazer-se branco, ou o leopardo despir-se do seu manto malhado.

(2). A conversão é agradável a Deus e o homem natural não pode agradar a Deus.

Ninguém pode duvidar da primeira parte da afirmação supra. A última parte está provada em Rom. 8:8, que diz: “Os que estão na carne não podem agradar a Deus.” Isto inclui a todos a quem Deus não deu uma nova natureza.

(3). A conversão é uma boa coisa e nenhuma boa coisa pode proceder do coração natural

Disse Paulo que não havia nenhuma coisa boa na sua natureza carnal (Rom. 7:18). Esta é a única natureza que o homem possui até que Deus lhe de uma nova; portanto, a doação da nova natureza, ou vivificação, deve vir antes da conversão. Afirmar diferente é negar a depravação total, a qual significa que o pecado permeou cada parte do ser humano e envenenou cada faculdade, não deixando no homem natural nenhuma coisa boa.

(4). A conversão envolve submeter-se alguém à vontade ou à Lei de Deus e isto é impossível ao homem natural

Que tal é impossível ao homem natural está estabelecido em Rom. 8:7, onde lemos: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à Lei de Deus e nem em verdade o pode ser.”

(5). A conversão envolve receber a Cristo como Salvador de uma pessoa, o que é uma coisa espiritual, e o homem natural não pode receber coisas espirituais.

Esta última verdade está declarada em 1 Cor. 2:14; como segue: “O homem natural não pode receber as coisas de Espírito de Deus: porque são para ele loucura; não pode conhece-las, porque se discernem espiritualmente.” Se a verdade do poder salvador de Cristo pela fé não é uma coisa do Espírito de Deus, a saber, uma coisa que o homem pode entender somente pela revelação do Espírito, então que verdade é uma coisa do Espírito de Deus?

(6). A conversão envolve fé e a fé opera-se no homem pelo mesmo poder que levantou Jesus dentre os mortos.

Tal é a declaração de Efe. 1:19,20, na qual lemos da “sobre-excelente grandeza do Seu poder em nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu poder, a qual operou em Cristo ressucitando-O dos mortos.”

(7). A conversão é uma ressurreição espiritual e numa ressurreição a comunicação da Vida Deve sempre preceder a manifestação da Vida nascente

A conversão está representada em Efe. 2:4-6 como uma ressurreição espiritual, que diz: “Deus, que é rico em misericórdia, pelo Seu grande amor com que nos amou, ainda quando estávamos mortos em pecados, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça somos salvos); e juntamente nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.” O ressuscitar aqui representa a conversão. Assim, a questão que estamos considerando é quanto ao que é primeiro, o vivificar ou o ressuscitar. Não pode haver dúvida razoável que o vivificar é o primeiro num sentido lógico.

(8). A conversão envolve a vinda de Cristo e o ato do Pai em dar homens a Cristo precede a vinda deles a Cristo

Em João 6:37 lemos como segue: “Todos quantos o Pai me dá virão a mim.” Certamente que esta passagem coloca o ato do Pai em dar homens a Cristo logicamente anterior à vinda deles a Ele, o Filho. Este ato do Pai é um ato discriminativo e efetivo, porque todos que são dados vem e todos os homens não vem. De modo que este ato de dar não podia aludir ao mero dar da oportunidade de vir a Cristo nem podia aludir à “graciosa habilidade” assim chamada ou “graça proveniente” que se supõe pelos seus advogados ser dispensada a todos os homens. O ato não pode referir-se a nada menos que à doação atual de homens à possessão imediata de Cristo por vivificá-los à vida. Os homens vêm a Cristo na conversão. Assim o vivificar deve preceder a conversão.

(9). A conversão envolve a vinda a Cristo e nenhum homem pode vir a Cristo a menos que Deus lhe de habilidade para fazer assim

Em João 6:35 lemos: “Nenhum homem pode vir a mim se por meu Pai lhe não for concedido.” Esta passagem, como a notada há pouco, não se refere à mera doação de oportunidade de vir a Cristo, nem à comunicação de “habilidade graciosa” assim chamada ou “graça proveniente” pelas mesmas razões apresentadas supra em comentar João 6:37. Esta última passagem, assim como a primeira, refere-se a um ato discriminativo, efetivo. O contexto o faz claro no caso de João 6:65. As palavras desta passagem foram faladas em vista de e como uma explicação do fato que alguns não crêem.

Nenhuma destas últimas passagens pode referir-se a qualquer espécie de mera ajuda que Deus pudesse supostamente dispensar ao homem natural, porque arrependimento e fé não podem proceder do coração natural, segundo já o mostramos. Ambas as passagens não podem referir-se a nada menos que o poder vivificador de Deus, no qual os homens se habilitam a vir a Cristo.

2. AS ESCRITURAS EXPLICADAS

Sendo verdade que a conversão é o resultado de vivificar e, portanto, não uma condição disso, pode ser perguntado como entendermos aquelas passagens que fazem da fé uma condição de filiação. Vide João 1:12; Gal. 3:26. Respondemos que essas passagens se referem à filiação através da adoção e não a filiação através da regeneração. Como já notamos, a adoção é um termo legal: ela vem como um resultado imediato da justificação. Não é o mesmo como um resultado imediato da justificação. Não é o mesmo como a regeneração. Ela confere o direito de filiação. A regeneração confere a natureza de filhos.

III. A RELAÇÃO CRONOLÓGICA DA VIVIFICAÇÃO E DA CONVERSÃO

Porque a vivificação precede logicamente a conversão não é prova que assim o faz cronologicamente, ou quanto ao tempo. Mantemos que a vivificação não precede a conversão em matéria de tempo senão que ambas são sincrônicas ou simultâneas. Notemos:

1. ARGUMENTOS EM PROVA DISTO

(1). Uma diferença cronológica entre vivificação e conservação envolveria a monstruosidade de um individuo com vida do alto e contudo na incredulidade.

Na comunicação da vida divina participamos da natureza de Deus (2 Ped. 1:4). E é impossível que uma semelhante natureza fosse em incredulidade. Todos os incrédulos na Bíblia dizem-se como estando mortos. Daí, não pode ser que haja ainda um tempo quando haja vida sem fé.

(2). A Escritura declara que somente o que tem o Filho tem vida.

Isto está declarado em 1 João 5:12. Ter o Filho envolve crer no Filho. Daí, ninguém tem a vida exceto crentes; ou, para pô-lo de outra maneira, todos os que têm vida são crentes; logo, não pode haver período algum de tempo entre vivificar e converter.

2. EXPLICAÇÃO

Como pode haver uma sucessão lógica sem uma sucessão cronológica? Um número de ilustrações podia ser dado para mostrar que é possível, mesmo no reino físico. Uma ilustração apta é como segue. Imagine-se um tubo que vá da costa do Atlântico dos Estados Unidos ao Pacífico. Agora imaginai também que este tubo está cheio de um fluido incompreensível. Que se faça pressão deste fluido na costa atlântica, instantemente será registrada no Pacífico. Todavia, logicamente, a exerção da pressão deve preceder o assentamento dela no outro extremo.

Damos então a seguinte bela ilustração da simultaneidade de vivificação e conversão. É de Alvah Hovey, como dada por A. H. Strong: “Ao mesmo tempo em que Deus faz sensível a chapa fotográfica, Ele derrama a luz da verdade por meio da qual se forma na alma a imagem de Cristo. Sem a sensibilização da chapa ela nunca fixaria os raios de luz de modo a reter a imagem. No processo de sensibilizar, a chapa é passiva; sob a influência da luz é ativa. Tanto em sensibilizar como em tirar o retrato o agente real não é nem a chapa nem a luz, mas o fotógrafo. Fotógrafo não pode executar ambas as operações no mesmo momento. Deus pode. Ele dá o novo afeto e no mesmo instante Ele consegue o seu exercício em vista da verdade.”

3. OBJEÇÃO RESPONDIDA.

A posição pré-citada pode ser objetado que “a tristeza divina obra arrependimento” e que um morto em pecado não pode ter tristeza divina. Isto é verdade, mas a tristeza divina obra arrependimento instantaneamente e é sincrônico com o arrependimento. É impossível conceber apropriadamente um homem como tendo tristeza divina sem possuir também uma mente mudada ou atitude mudada para com o pecado. A tristeza divina, a mesma como vivificar, precede logicamente o arrependimento, mas nenhuma delas o precede cronologicamente.

Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Luis Antonio dos Santos – 09/12/05
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

Published inTeologia sistemática T. P. Simmons