Capítulo 3

- Comentário - Epístola Aos Gálatas

Dr. W. C. Taylor

COMENTÁRIO

A Epistola Aos Galatas

William Carey Taylor

-- 1954 --

CAPÍTULO III

1-6, Paráfrase: A graça nula?! Justiça por via de lei?! Cristo morto desnecessariamente?! Que loucura é essa? Que mau olhado com que alguém vos fascinou, como o olhar da serpente fascina o pássaro alucinado? Que feitiço? E depois de eu tornar a doutrina da Cruz tão clara como um edito real na praça pública! Cristo como que foi crucificado perante os vossos próprios olhos pela clareza de minha pregação pungente; e o valor de sua morte, seus efeitos expiatórios e santificadores são permanentes. E a vossa experiência história na ocasião de minha primeira visita? É nula também? E os sofrimentos que suportastes e a espiritualidade que gozastes? Tudo também nulo, hein? Ò gálatas loucos. Informai-me já. Lembrai-vos de como fostes convertidos e entrastes na posse e no gozo do Espírito Santo. Foi quando estáveis praticando o rito de circuncisão ou guardando alguma lua nova ou sábado ou cerimónia de ablução legal ou mesmo esforçando-vos para praticar a moral? Antes não veio do céu esse gozo inefável precisamente enquanto ouvistes a pregação e misturastes com fé salvadora o vosso ouvir? Isto sim. Começastes a vida cristã no Espírito. Crer evangelicamente e receber o Espírito Santo são experiencias concomitantes e inseparáveis. O Espírito tanto vos salvou como deu credenciais abundantes, nesta nossa era apostólica de revelações celestes, operando milagres entre vós como um filantropo espalha suas dádivas em magna festa de generosidade. E alguém agora pode vos enganar com a sua propaganda de que isto é apenas a cartilha da vida, e haveis de vos promover para a Lei, e assim vos aperfeiçoar e vos formar nos cursos superiores do discipulado? Ó vítimas alucinadas de tão falsa doutrina! Será que meu ministério entre vós foi em vão? Não posso acreditá-lo. Basta lembrar-vos de uma sentença, tríada do Livro da Lei, se bem que na sua parte história, e esta sentença é concernente ao hebreu dos hebreus, o pai e patriarca da raça. Este supremo judeu foi CRENTE, justificado antes da circuncisão, e sem ela, justificado por crer. Deus tratou sua fé como se fosse justiça completa e absoluta, sem falta ou falha na vida inteira; nós, e não os judaizantes, estamos na sucessão patriarcal da fé, herdeiros da promessa, possuídos e possuidores do Espírito Santo e de seu gozo inefável, pela fé.

1 salientado qual cartaz – o verbo se usava a respeito do notícias publicas, afixadas pelos pais nas praças, a fim de avisar ao comércio que não responsabilizavam pelas dívidas dos filhos. Um cartaz, antes de existir a imprensa, equivalia a um reclamo do tamanho de uma página, nos matutinos de hoje. A cidade inteira lia esses cartazes. Paulo pregara assim, vividamente, de Jesus e ainda com “letras rasgadas” escrevia concernente à cruz. (Também se afixavam cartazes com éditos imperiais.)

1 qual cartaz… - “É possível que, quando Paulo escrevia aos gálatas, que Jesus Cristo crucificado houvesse sido representado ou figurado diante de seus olhos, (Gál. 3:1) e se referia, não meramente à ênfase com que o fato da morte de Cristo fora proclamada na Galáxia, mas ainda ao realismo e vivacidade com que a história lhes fora detalhada. Tão vivido era o relato da crucificação que Paulo fez na Galáxia, que tornara-se para os gálatas como a visão que deparassem de um magnífico quadro de Jesus crucificado”. (“The Origino of Paul’s Religion”, por Machen, p. 150).

1 O tempo perfeito do verbo crucificar “representa a crucificação, não apenas como mero incidente histórico, mas como fato de permanente, sim eterno, valor”. (David Smith, in loco).

1 “desajuizados” – Note como a Bíblia classifica o apego à Lei. A falta de juízo desses gentios consiste em ter sido levados com a onda judaizante, a qual fizera até Pedro e Barnabé sentirem temor e tremor. O caso de Pedro e Barnabé, porém, era bem diferente. Sendo judeus, tinham de pensar na sua influência em Jerusalém. Isto fizeram erradamente. Caíram na hipocrisia. Sabendo melhor, pecaram contra a luz de suas próprias consciência e convicções, sobre as praxes da liberdade cristã de uma igreja em território gentio. O caso dos gálatas era diferente. Sendo judeus, tinham de pensar na sua influência em Jerusalém. Isto fizeram erradamente. Caíram na hipocrisia. Sabendo melhor, pecaram contra a luz de sua próprias consciências e convicções, sobre as praxes da liberdade cristã de uma igreja em território gentio. O caso dos gálatas era diferente. Neles não é falta de sinceridade, senão de juízo. Pedro mantinha no íntimo sua doutrina; apenas deixou-a inoperante, “nula”, por um prazo pequeno, numa visita em cidade estranha, como alguns crentes deixam sua religião na pasta quando estão de viagem. Os gálatas feitos prosélitos pelos judaizantes, porém, já se colocaram fora do terreno onde Cristo salva, são praticantes convencidos do erro, repudiaram o Evangelho de graça mediante a fé. No caso deles, não falta apenas coragem para mentir as convicções: faltam as convicções. O juízo ficou turbado, desviado. É um arrependimento às avessas, mudança fundamental da mente sobre o próprio Evangelho. Praticar a circuncisão, guardar os sábados e luas novas do cerimonialismo judaico era o juramento à bandeira da Lei, a que se entregavam, hesitantes, corpo e alma, supondo alcançar assim a salvação que imaginavam não ter alcançado em Cristo. Paulo, comparando as bênçãos reais em Cristo com a ilusão negativa e inviável de uma vida impotente debaixo da Lei, mesmo debaixo de qualquer sitema de legalismo, deu sua sentença: “desajuizados”, fora de si, alienados do gozo evangélico da razão.

Findlay, em “The Expositor’s Bible”, p. 167, analisa a loucura gálata, de acordo com as várias declarações de Paulo neste capítulo: 1 Os gálatas se esqueceram da cruz do seu Salvador – o primeiro passo em se desviar! 2 Perdendo de vista a cruz, também rejeitaram o Santo Espírito de Deus. 3 Sua insensatez era maior e mais culpável, porque os desligava do fruto de seus sofrimentos e sacrifícios, já experimentados gloriosamente em prol do Evangelho e seu Cristo. Repudiam um passado precioso para apanhar sombras vãs.

1 “enfeitiçou” – Há mais valor no legalismo do que na feitiçaria, ou na magia? Como esperança de salvar, tudo não passa de superstição.

1 “uqal cartaz” – Intérpretes influenciados pelos papiros preferem a ideia do verbo que inclua o desenho e a publicidade de um cartaz. Os intérpretes um pouco mais antigos, porém, apoiam antes a ideia de pintar. Cito, do meu “Dicionário Grego” o preclaro Thayer: “Certamente significa escrever diante dos olhos de todos que podem ler… represento (pinto retrato “diante dos olhos” “… diante de cujos olhos foi pintada a representação de Jesus Cristo crucificado – isto é, fostes ensinados definitiva e claramente concernente à eficácia meritória da morte de Cristo”. O “Expositor’s Bible” tem uma nota no mesmo teor. O peso dos papiros, porém, não foi sentido por essas autoridades, e me parece concludente.

3 “começado no Espírito” – Notai o testemunho do estudo especial no fim do livro sobre a terrível falha nas Bíblias clericais em que atribuem ao espírito humano o que só o Espírito divino pode efetuar. Qual é o começo da vida cristã? Será a convicção do pecado? Isto é obra do Espírito no pecador, mesmo antes da salvação, João 16:18-11. Será a regeneração? Obra, não batismo infantil, mas do novo nascimento: “o que é nascido do Espírito é espírito.” Se há começo da vida antes do nascimento, é quando esta vida é gerada. O mesmo verbo pode ser traduzido “o que é gerado do Espírito”. Será a justificação o começo da nova vida? “fostes justificados… no Espírito do nosso Deus.” I Cor. 6:11. A vida cristã é acesso a Deus? “Pois por ele (Cristo) temos ambos (judeu e gentio) a nossa entrada ao Pai em um Espírito”, Efés. 2:18. Quer alguém voltar à velha eternidade para examinar como principiou a nossa salvação nos eternos propósitos de Deus? “Deus vos escolheu desde o princípio para salvação na santificação do Espírito e na fé na verdade”, II Tess. 2:13. Seja qual for o aspecto inicial da salvação que contemplemos, começamos no Espírito Santo. Deus dá o arrependimento (Atos 11:18), e tanto a fé como a salvação que esta experiência alcança são “o dom de Deus”, Efés 2:8. Não há aspecto algum da obra de salvação desde a eternidade pré-história até a eternidade futura que não seja operado pelo Espírito Santo em nós e a nosso favor. “Eleitos pela presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e para a aspersão do sangue de Jesus Cristo”. Assim Pedro começou sua Primeira Epístola. Em toda a experiência da salvação Deus o Espírito está nos separando para si, santificando-nos através de todo o processo da peregrinação cristã. E este dom inicial do Espírito, derramado em nossos corações quando cremos, é abundante e generoso, comparado à liberalidade de um promotor de festa que supre aos músicos do seu coro, com toda a largueza, as evidências de sua generosidade.

3 “fé” – Depois da palavra “lei”, esta é a magna ideia da Epístola; acha-se usada 22 vezes. É a essência da pregação evangélica (1:23), o canal pelo qual manam para nós, livremente, as bênçãos de justificação, igualmente aos judeus convertidos, antes e depois do Pentecostes, e aos gentios (2:16); é o âmago da vida em Cristo (2:20), recebe o Espírito no coração no momento de ser “misturada” (Heb. 4:2) com o ouvir (3:2, 5), é a base e garantia da nossa filiação espiritual de Abraão, no Israel de Deus (3:7, 8, 2), é o fôlego vital da vida eterna (3:11), regime diferente por completo do da Lei (3:12), recebe o Espírito prometido (3:14); toda a promessa do alívio do universo das consequências da queda canaliza-se mediante a fé (3:20), “antes de Cristo” e “antes de fé” são frases sinónimas (3:23); a espectavia dos séculos antes de Cristo foi a revelação da fé vindoura (3:23); a própria Lei visava a morte do legalismo e a preparação de um povo espiritual em plena era de justificação pela fé (3:249; depois da aurora da fé justificadora, a Lei não tem função na vida religiosa do povo evangelizado (3:25); a fé nos outorga nossa filiação na família de Deus (3:26), justifica nossa esperança de justiça (5:5), é uma força ética na vida, operosa pelo amor (5:6), é o elo que constitui os crentes numa família, a casa da fé, os domésticos de Deus (6:10). Vede como temos neste capítulo uma das grandes passagens clássicas da Bíblia sobre a fé. As alternativas são a fé e o Espírito versus a Lei e suas obras. Nada de confusão ou ecletismo. Sobre a principal palavra e assunto da Epístola, vede a súmula do emprego da palavra Lei na epístola em uma nota sobre 2:16.

4 “sofrestes” – Burton insiste que este verbo é neutro, isto é, não significa em si experiências boas ou más, porém, apenas experiência. Se assim é, a ênfase é ainda maior sobre o fato de que o legalismo imposto pelos judaizantes era essencialmente contraditório a toda a experiência cristã genuína que houvera entre os gálatas.

5 “A palavra traduzida “está provendo com largueza”, em Gál. 3:5, significa, etimologicamente, “ser dirigente de um coro”, referia-se, originalmente, ao costume ateniense de um cidadão rico prover as despesas do coro em uma das festas dramáticas. Mas tarde, porém, empregava-se para designar qualquer provisão generosa. Quando Paulo a empregou, sua origem estava inteiramente esquecida”. (“The Orign od Paul’s Religion”, por Machen, p. 271-2).

5 “milagres” – Convém notar certos fatos instrutivos. (a) Os milagres eram abundantes nas igrejas apostólicas do primeiro século cristão. Era um período de revelação, o maior na história do universo. A encarnação, visões celestes quando Jesus foi batizado, transfigurado, crucificado, ressuscitado, e apareceu aos seus discípulos e a Paulo, a vinda do Espírito para sua missão especial, as revelações a Paulo e a João em “apocalipse” são coisas nunca antes vistas e jamais repetidas na vida cristã. Acompanhando estas supremas revelações da Trindade na vida humana, havia milagres secundários: curas da lepra, cegueira, e toda sorte de moléstias que ainda não são curáveis pela medicina, ressurreição de mortos, a intervenção da personalidade divina as águas ou multiplicou os pães e peixes, e o notável milagre de falar línguas no dia de Pentecostes e em outras ocasiões, em grandes centros onde a presença de ouvintes de muitas províncias, de fala diferente, tornaria instantaneamente claro e insofismável o milagre. Estes dons de milagres não se distribuíam universalmente e para sempre. Pela imposição das mãos dos apóstolos o Espírito era dado para esta missão especial de possibilitar soberanamente o uso de dons secundários e miraculosos, como falar línguas ou curar os doentes. Os milagres assim continuavam em cada igreja, mesmo sem a presença dos apóstolos. Mas o Espírito distribuía estes dons, e não eram acessíveis a todos e em toda as circunstâncias. I Cor. 12:4-11.

(b) Esses milagres secundários não eram provas da santidade, nem de ser verdade o que pregavam os que praticavam o miraculo. Os magos do Egipto igualaram os milagres de Moisés, até certo ponto, Ex. 7:11, 22; 8:7, 18; 9-11. Milagres não provaram a verdade de seu paganismo, nem apoiaram os sórdidos motivos de Balaão. Judas, sendo filhos da perdição e sob o poder de Satanás, operava todavia milagres como os demais apóstolos. Milagres podem ser evidência de origem divina de uma doutrinam ou podem, igualmente, ser prova de sua inspiração diabólica, II Tess. 2:9, 10, 11. Deus consente no uso de milagres pelas forças satânicas, como consente em abusis do dom da personalidade e da influência social. Muitos se esquecem de que Satanás é uma entidade de vasta superioridade à nossa ordem terrestre de fenómenos e que com toda a facilidade ele pode fabricar maravilhosas credenciais para impor o erro e a superstição e para contrafazer enganosamente tudo quanto Jesus tem feito neste terreno, até s limites que Deus lhe impõe (Jó 1:12). Milagres não provam a falsidade de uma doutrina ou experiência nem a sua verdade. É por isto que os apóstolos mandavam: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai os espíritos, se vêm eles de Deus”, I João 4:1. Paulo disse que o mesmo Espírito que distribuía dons de milagres dava a outros na mesma igreja dons do “discernimento de espíritos”. Para cada centro de milagres havia fiscais do dom, sobrenaturalmente. Para cada aparecimento do dom de línguas havia o dom paralelo de “ interpretação de línguas”, com a ordem tão fatal a todos os fanatismos hodiernos: “Se alguém falar em língua… haja um que interprete”, I Cor. 12:10; 14:27, 28) (“se não houver intérprete, esteja calado na igreja”) 29 (“falam os profetas, dois ou três. E OS OUTROS JULGUEM”). Nunca houve um uso desenfreiado de milagres nas igrejas apostólicas, e o apóstolo João, no contexto da passagem citada acima, mostra aos seus leitores que milagres não provam nem a doutrina nem o caráter nem espiritualidade do operador de milagres, ANTES É DOUTRINA QUE ESQUADRINHA MILGRES E OS APROVA OU OS REPUDIA. Notai, no estudo especial no fim do livro sobre o Espírito, como Jesus constituía os frutos, e não os sinais, como provas cabais de sua doutrina. As piores igrejas do Novo Testamento eram as que mais valor davam a milagres, sinais sem frutos.

(c) Nem nas igrejas apostólicas eram milagres um fenómeno superior ao fruto do Espírito. Paulo claramente classifica os milagres como numa escala inferior, I Cor. 12:23. “Mas desejai ardentemente os dons que são maiores. E ainda um caminho sobremodo excelente vou mostrar-vos. Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver amor… se eu tiver o dom de profecia, souber todos os mistérios, toda a ciência, se fé a ponto de remover montes, e não tiver amor, NADA SOU”. Inferioridade até ao ponto de nulidade é a sentença contra meros milagres. O amor é dom superior.

(d) O amor não é milagre, não viola nenhuma lei da natureza, antes é a influência mais natural na vida. Todavia, é um fruto sobrenatural. Os grandes intérpretes conservadores, como Benjamin Warfield, abrem uma nítida distinção entre o sobrenatural e o miraculoso. Não é miraculoso Deus minha oração, pois ele é também Espírito, personalidade. É tão natural que ele ouça minha súplica quanto é que o espírito de um pai terrestre ouça a súplica de seu filho. Esta natural disposição paterna de Deus é sobrenatural porque Deus está sobre a natureza humana e terrestre; existe, porém, e age acima dos terrenos onde se observam fenómenos físicos, sujeitos às leis da química ou da física ou de outras ciências de fenómenos terrestres.

(e) Barateiam e põem em dúvida os milagres reais de Cristo e do Espírito na época apostólica os que insistem hoje em dia em confundir a obra sobrenatural da salvação com os milagres manifestados física e materialmente no primeiro século, como a encarnação, a ressurreição e a vinda do Espírito e os milagres reais narrados no Novo Testamento. Os milagres de Jesus na vida humana superam infinitamente as pálidas mentiras de milagres fingidos de falar línguas ou de curar pelos processos psíquicos que todos os médicos inteligentes e os psiquiatras empregam todos os dias nos hospitais e policlínicas. Tem feito, pois, um serviço calamitoso ao Novo Testamento os advogados de semelhante teoria. Qualquer estudante moderno da psicologia sabe que a mente tem influência sobre a matéria que ao inculto parece milagre. Essa influência não é nem violação das leis da natureza nem invasão das mesmas por uma força que suspenda sua operação. A oração pode libertar influências humanas, divinas, providenciais, coletivas e individuais, dentro e fora do doente, que maravilhosamente podem sacar dos recurso escondidos no corpo enfermo para curá-lo. Tais curas não são milagres, nem provam doutrina, pois são comuns aos advogados das doutrinas mais contraditórias. São prova do valor do contacto invisível de um espírito com outro espírito, em despertar a vitalidade física do corpo humano. Estas curas “pela fé”, porém, ou pelos médicos ou pelos psiquiatras ou a vinda do Espírito. E estes estão limitados ao poder inerente na personalidade.

Mil vezes maior prejuízo trazem ao cristianismo os que insistem em que, se suas mentiras de falar línguas e operar milagres não forem admitidas, então perigam os milagres do Novo Testamento. E a maior blasfémia de que linguagem humana seja capaz é o embuste da missa. A causa é maior do que o efeito. Se palavra do padre tem poder para encarcerar numa hóstia a deidade, corpo e sangue de Jesus Cristo, então tal padre é maior do que Deus, pois criou o próprio Criador pelo fiat de uma palavra clerical. O sacramentalismo que supõe ser canal da graça divina a água batismal, o pão ou o vinho é mero materialismo a serviço de ambições eclesiásticas de mando insolente na vida alheia. Tudo isso é misticismo falso. O verdadeiro misticismo é a comunhão de nossos espíritos com o Espírito Divino, mediante a fé, o Espírito Santo operando sobrenaturalmente em nossas vidas na esfera invisível e intangível de salvação eterna, e de seus frutos, o amor, o gozo, a paz e as demais virtudes sobrenaturais da vida cristã.

Nós não temos os milagres do Novo Testamento em nossa experiência cristã hodierna, porém, permanecem eles em nossa apologética, com a força cumulativa dos séculos da fé. Os milagres de Jesus são os nossos milagres. Cremos “por causa das mesmas obras.” (João 14:11) Não queremos milagres melhores como base da fé, pois são os estupendos milagres que revelaram deus em Cristo como a finalidade da revelação. Não precisando nós de revelações suplementares, não precisamos de milagres suplementares para lhe servirem de credenciais. Quem não tiver doutrina nova, desconhecida e estranha ao Novo Testamento, não precisa de milagre novo, pois ao doutrina do Novo Testamento já tem em seu favor os milagres de Jesus e os apóstolos. Nós outros temos bênção infinitamente maior do que milagres, o fruto sobrenatural da salvação e vida eterna que o Espírito outorga abundantemente ao crente.

7-14 Paráfrase: Esse recuo para a Lei não é apenas a estratificação de vossa experiência cristã. É contrário à Escritura, ao universalismo da promessa feita a Abraão e aos aspectos da obra expiatória do Calvário na qual Cristo agiu como nosso Substituto, Vigário e Fiador. Na religião há dois pontos de partida: a fé salvadora e as obras da Lei, regime no qual alguém se inscreve pela circuncisão. A Lei não parte do princípio de fé, mas de uma exigência de absoluta perfeição moral e absoluta conformidade cerimonial, como única condição da vida eterna. Quem, pois, se inscreve na carreira de vida sob a Lei, obriga-se a uma vida imaculada por toda a existência como condição para escapar à condenação. Nem vida nem justiça são viáveis sob a lei. O Evangelho, porém, é a expansão multissecular da promessa. Merece acatamento do judeus porque foi dado a Abraão. Garante a salvação do gentio que crê, porque desde sua primeira anunciação abrange todos os povos, a raça comum dos homens que os judeus desairosamente chamam “gentios”. A filiação mostra uma hereditariedade espiritual. A feição do espírito que passa do pai Abraão aos filhos espirituais é a fé: todos os crentes estão na descendência da promessa, membros da raça espiritual do crente-patriarca. Os adeptos da Lei, pelo contrário, estão na descendência da maldição, pois a Lei só tem para o pecador sentença contra todos os transgressores. Há remédio. Cristo assumiu nossa posição debaixo desta maldição, identificou-se com a sorte que o legalismo nos outorgava, comprou-nos por preço infinito, a fim de nos transferir de tamanha escravatura e cativeiro para a liberdade dos filhos de Deus, em plena maioridade e madureza evangélica, um regime de promessa, fé e poder ético e dinâmico pelo Espírito que em nós habita.

7 “filhos de Abraão” – “Aí está a doutrina extraordinária de Paulo para os judeus, isto é, que os verdadeiros filhos de Abraão são os que crêem, como ele creu, “os que são de fé”, um idioma comum a Paulo para expressar esta ideia (v. 9, Rom. 3:27; 4:16; 14:23), aqueles cuja filiação espiritual procede da fé, não do sangue. João Batista denunciou os fariseus e os saduceus como víboras, embora fossem descendentes de Abraão (Mat. 3:7) e Jesus classificou os fariseus como filhos do diabo, não e filhos espirituais de Abraão (não filhos de Deus), em João 8:37-44.” (De A. T. Robertson, em “Word Pictures in the New Testament”, Vol. IV. p. 292).

7 “Ficai sabendo” – Este fato, de a bênção consistir no Espírito, na experiência, e ser outorgada à fé, é coisa a lembrar, a saber, incessantemente. “Continuai a sabê-lo”, diz Paulo. Há certos fatos que têm um ministério perpétuo ao espírito humano, e a cruz é um, e o início e a continuidade da vida cristã e do gozo e possessão do Espírito desde o momento quando nasceu a fé enquanto ouvíamos o Evangelho, é outro. Sabei e meditai neste fato de modo que seja um companheiro de toda a vida.

8”A Escritura previu” – Paulo atribui à Palavra de Deus presciência. Por uma figura muito natural, são predicados da palavra divina as qualidades pessoais do seu autor. Suas referências sempre foram mais do que locais e efémeras. Previram os nossos dias e problemas e, por isto, não se emaranharam em detalhes passageiros de regulamentos complexos de conduta, (excito o parêntese da legislação mosaica para a nação israelita, Gál. 3:17). Deram, porém, tantos princípios eternos, adequados para os novos problemas de nossos dias, como, às vezes, uma frase cuja plena aplicação parece predestinada directamente para séculos longe do tempo do escritor. “A Escritura previu”, em uma época antiga, e resolveu uma situação bem posterior, nos dias de Paulo, como as Escrituras de Paulo previram e resolveram por seus princípios eternos os problemas de nossos dias.

1. A Escritura previu a época missionária e Deus fez o pacto da graça contemplar em Abraão “todas as nações”.

2. A Escritura previu a mariolaria e deu os nomes dos filhos da mãe de Jesus.

3. A Escritura previu o ritualismo e declarou que o guardar dos dias santos vem tornar em vão todo o esforço apostólico, 4:11.

4. A Escritura previu o batismo infantil e o proibiu, tacitamente, quando deu a norma: “quem crer e for batizado”, “fazei discípulos, batizando-os”, exigindo frutos dignos do arrependimento antes do batismo.

5. A Escritura previu o sacramentalismo e incorporou em sua palavra autorizada a declaração de Paulo de que o batismo não faz parte do Evangelho, I Cor. 1:17.

6. A Escritura previu a corrupção eclesiástica e impossibilitou-a, entre crentes obedientes, quando usou a palavra “congregação”, “assembleia” como o nome imutável da organização eclesiástica por Cristo ordenada e tantas vezes fala nas igrejas de Deus, na igrejas de Macedônia, Judéia, Acaia, Ásia, dos gentios, etc. Mostrando cabalmente que a palavra não evoluiu em significação diferente, pois Jesus remata sua última revelação falando “a favor das igrejas” e mostrando-se o divino Zelador de suas luzes, Apoc. 22:16; 1:11-20.

7. A Escritura previu”bispos” da apostaria, soberbos, pomposos e paramentados e indentificou imutavelmente a palavra e o efício genuíno com as palavras e o efício de pastores e presbíteros, Atos 20:17-28, as Epístolas Pastorais, mostrando vários bispos numa igreja, não várias igrejas constituindo império de um bispo espúrio, que não tem vislumbre de direito ao título bíblico para sua carreira ant-bíblica.

8. A Escritura previu a fábula da infalibilidade e do papado de Pedro e encheu o Novo Testamento, desde os evangelhos até ao epístolas gerais, cm contradições de semelhante propaganda tendenciosa, da parte de ambiciosos e pretensos sucessores do apóstolo.

9. A Escritura previu a evolução de padres e categoricamente proibiu o termo como título ministerial.

10. A Escritura previu os perigos da democracia cristã de igrejas autónomas e cooperadoras e historiou o único mandamento de Jesus sobre questões surgidas entre os membros e sua disciplina correccional. Se Mateus 18 fosse obedecido nas igrejas, exigindo sempre o esforço pessoal antes da discussão pública, e limitando esta à voz de testemunhas, as igrejas seriam livres de 90% das dificuldades que às vezes amaçam sua democracia.

Reuni todos os erros que a mente fértil dos homens inventaram durante os séculos. O antídoto aí está na Palavra de Deus. É uma das evidências maravilhosas de sua origem divina, de sua autoridade e adaptabilidade perpétua e suficiência em guiar a vida pelos seus princípios.

8 “anunciou previamente” – “A palavra grega corresponde às latinas ante a evangelizare; por isso nota neste lugar S. João Crisóstomo: Não disse revelais, mas evanglizavit (anunciou coisas alegres), para fazer compreender que o próprio patriarca regozijara deste modo para justificar-se e ardentemente desejara que isto se realizasse.” (Versão Franciscana, com notas, Tomo III, p. 305, primeira edição). Pois, não seria mais consentâneo que o clero de Roma participasse desta alegria na justificação pela fé, colocando-se pelo menos a par de Abraão?

10 É três tempos vivos de verbos usados no original contribuem sua ideia à citada e seu uso doutrinário por Paulo.

1 É maldito todo legalista que não for perfeito em perseverança em, intimamente, conformar-se com as exigências espirituais da Lei de Moisés. Tempo presente linear.

2 O livro da Lei de Moisés foi escrito e permanece em vigor agora. Ainda está em nossa Bíblia. Para a alma que opta pelo sistema de justiça pelas obras, o supremo padrão legal pelo qual o pecador tem ser julgado é a Lei de Moisés, desabrochada na sua interpretação espiritual e perfeita no Sermão da Montanha. A Lei está em vigor sobre a consciência do pecador, mormente o pecador legalista, a fim de matar-lhe essa falsa confiança e conduzi-lo a Cristo para ser salvo pela sua graça redentora. Tempo perfeito. O que tem sido escrito ainda vigoram para condenar pecadores. Nunca foi escrito para salvar ou reger crentes, a não ser para reger a vida cívicoreligiosa do israelita, provisoriamente, debaixo da teocracia, até a queda de Jerusalém em 70 d. C.

3 É maldito todo adepto de legalismo, se sua vida inteira, contemplada como um ponto, um todo, (num aoristo efectivo), não for real e perfeitamente uma conformidade absoluta com a Lei, em letra e espírito.

Pregai isto e assim conduzireis os legalistas a Jesus, como fazia Paulo.

10 “Todos os escritos” – Tudo ou nada. Aqui, como no comêço do Capítulo 5, a fusão de Lei e Evangelho, obras e fé, Espírito e um ritual da carne, é terminantemente proibida e declarada impossível. É mister escolher. O ecletismo não é possível, pois Deus é quem justifica, santifica e glorifica, e nada disto faz no terreno de lei. Vede a nota sobre 5:3.

10-13 “A lei… lei” – Neste trecho da Escritura, como em outros também, quase não há diferença final na referência à palavra “lei” com ou sem o artigo grego. A gramática grega permite traduzir “as obras da Lei” ou “obras de lei”. O sentido é este, a aplicação é aquela. A razão que explica estar debaixo de maldição os que são de obras de lei, é aquela que chama de maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas “na livro da Lei”. Ninguém, todavia, é justificado “em lei” ou “por meio de lei”. “A Lei não é de fé”. Assim passa-se de “lei” genérica para “A Lei” de Moisés sem solução de continuidade na discussão. A referência é sempre para a Lei de Moisés. Sem o artigo a ideia é genérica, “a Lei” de Moisés ou qualquer outra lei. Com o artigo se refere definitivamente “a Lei” de Moisés, às vezes como típica de todas as leia do género, às vezes somente à Lei. Pelas referências genéricas, Paulo deu à sua linguagem possível alcance contra todos os legalismos, seja de Israel ou de qualquer outro regime legalista e ritualista que surgir através dos séculos para escravizar a consciência. A “lei”, porém, que está sempre no seu horizonte e no dos gálatas, nesta discussão, é “a Lei” mosaica, que os judaizantes queriam impor sobre os gálatas gentios como meio de salvação e norma da vida cristã gentia.

10, 13 “viverá… terá vida” – “O verbo traduzido viver tem seu sentido soteriológico, em citações do Velho Testamento: “escapar à morte, pena do pecado”, “alcançar o apoio divino”, “ser justificado”. (Burton em “The International Critical Commentary”, Vol. sobre Gálatas, p. 135).

10-13 debaixo… em nosso lugar… redimir da maldição – “Paulo aqui desenha um quadro por meio de três preposições. Estávamos debaixo da Lei, qual espada suspensa por um cabelo sobre nossas cabeças. Cristo vem pôr-se sobre nós e a espada. Esta cai sobre Ele, em lugar de sobre nós. Saímos assim de esta posição – debaixo da maldição. Os papiros são ricos em tais significações de huper – como, por exemplo, no caso de alguém assinar um documento (huper), em lugar de um analfabeto”. (A. T. Robertson em “The Expositor”, série 8, Vol. 18, páginas 324 e 325, num artigo sobre “The Use of huper in Business Documents is the Papyri”.

12 Aquele que faz… - “A Lei achava-se no Velho Testamento, especialmente nos livros de Moisés. Em torno da Lei escrita, crescera verdadeira multidão de interpretações orais que contribuíam para aumentar as adições. Por esta “tradição dos anciãos” regulava-se a vida do judeu devoto, nos mínimos detalhes. A moralidade tornara-se assim uma questão de regras externas, e a religião uma relação de crédito e débito que o homem estabelecia com Deus.

“Para claro que a religião do fariseu dos tempos de Paulo estava carregado com todos os defeitos de uma religião de mérito, que a distinguisse de uma religião de graça.” (De The Origim of Paul’s Religion, por Machen, p. 178 e 179).

15-16 Paráfrase: A Lei foi um parêntese (duração: do Sinai até o Calvário, jurisdição territorial: de Dã até Berseba, cem léguas no máximo, e no Mediterrâneo até o deserto, vinte e cinco léguas, no máximo, juntamente com algumas colónia, em bairros judaicos nas cidades do império romano, onde exercia limitada regência de costumes nas sinagogas), (caduca na sua regência político-teocrática nesta período de transição, finada na sua função preparatória de um povo para seu Messias, porque o Messias está aqui em nossos corações). Este parêntese tão curto, tão local, tão bairrista, tão estreito, nunca foi nem a lei moral para a raça humana nem a promessa de salvação, eficácia ética, vida espiritual, vitória e energia viral. Estas bênção pertenciam à promessa, as boas novas evangelizadas a Abraão quatrocentos e trinta anos antes do abrir do parêntese, concretizadas na justificação e na justiça provenientes da fé e agora iluminadas, definidas e proclamadas no cartaz do evangelho de Cristo, nas letras rasgadas mensagem apostólica, depois do fechar do parêntese da Lei, operando no Calvário e no repúdio do templo e sistema mosaico quando Deus rasgou o véu e deixou o santíssimo lugar oco e profanado. A aliança da promessa é o aspecto permanente da graça salvadora revelada em Cristo Jesus, imutável, infenso a concílios, acréscimos, evolução eclesiástica ou sacramental, mistura de tradições ou ecletismo de regimes incompatíveis. Nada além. A fé salva, moraliza, vence o mundo, unifica a família de Deus. Estas bênçãos Deus deu eternamente à semente e herdeiro da aliança de promessa: foi dada de graça e por toda a história e para todo o sempre constitui um regime únicamente de graça.

15-17 “aliança” – Correntes fortes e eruditas de interpretação bíblica optam pela significação “testamento” da palavra que aqui é traduzida “aliança”. É um questão da escolha entre duas fontes de influência sobre o vocabulário do Novo Testamento. Nos papiros a significação geral, quase única, é testamento. Na Septuaginta, porém, a palavra traduz a ideia de “aliança”, “pacto”, “concerto”. Ora, tanto os papiros como Seputaginta e o Novo Testamento pertencem ao grego koinê. Indubitavelmente, porém, a LXX tinha preponderante influência sobre os autores das escrituras cristãs. Se, pois, a Bíblia deles, em tão constante uso e meditação, depositava uma significação de uma palavra, nas suas mentes, e as praxes comerciais, alheias ao uso religioso do termo, contribuem para outro possível significado do termo, sinto que a preponderância está a favor do sentido herdado da Septudinta, nada havendo ao contrário no uso paralelo do vocábulo no contexto ou em outras passagens do Novo Testamento.

Se optarmos pela tradução testamento, surge a dificuldade que Deus não está morto. É possível diminuir a força desta consideração, lembrando que a linguagem, em qualquer hipótese, é figurada e que no emprego de qualquer figura, sempre há detalhes que não se podem aplicar ao caso. A morte do testador, porém, não me parece detalhe secundário num testamento. O sentido “aliança”, uma aliança unilateral de graça divina, preserva a ideia essencial da imutabilidade, sem rejeitar o tradicional valor do vocábulo na Septuginta. Reconheço, porém, que a palavra bem pode ter, em qualquer contexto, mais força por causa da dupla imutabilidade associada com seu uso popular comercial, no sentido de testamento, e seu histórico emprego bíblico com o significado de “aliança” Lightfoot nega que o termo tenha o sentido “testamento” senão numa passagem na Epístola aos Hebreus. O dr. A. T. Robertson admite a possibilidade do sentido “testamento” em várias passagens, dando geralmente, porém, a tradução “aliança”.

17 A Lei que veio depois – “Paulo podia, perfeitamente, em boa consciência, aceitar o incalculável apoio do Velho Testamento em sua obra missionária, ao mesmo tempo que rejeitava para os gentios convertidos as exigências cerimoniais que o Velho Testamento impunha. A solução do problema é claramente apresentada na Epístola aos Gálatas. A Lei do Velho Testamento, de acordo com Paulo, era autorizada e divina. Era porém, temporária; tinha autoridade, apenas, até que visse o cumprimento da promessa. Era um aio que deveria conduzir os judeus a Cristo; e (tal é a implicação, de acordo com a Espístola aos Romanos) podia bem ser o aio que conduzir a necessária convicção de pecado”. (“The Origin of Paul’s Religion”, por Machen, p. 18).

17 “quatrocentos e trinta anos” – “É este o prazo em Ex. 12:40 da peregrinação no Egipto (cf. Gên. 15:13). A LXX, porém, adiciona palavras calculadas a incluir neste prazo o tempo em que os patriarcas viviam em Canaã, assim cortando pela metade o tempo da sua demora no Egipto. Cf. Atos 7:6. Não é material ao argumento de Paulo, qual das duas cronologias se adota, senão que “quanto maior o prazo em que a aliança esteve em vigor, tanto mais impressionante seu argumento” (Burton.)” (De A. T. Robertson, “Word Pictures”, Vol. IV, p. 295). A Versão Franciscana confessa que a Vulgata segue a Seputaginta aqui, que é um dos muitos defeitos de tão imperfeita e errada tradução. As Bíblias evangélicas seguem o original hebraico.

18 “deu… que ainda gozamos” – “Tempo perfeito, médico, indicativo do verbo dar de graça. O dom ainda está em vigor mesmo depois que a Lei veio.” (A. T. Robertson em “Word Pictures”, Vol. IV, p. 296).

19-29 Paráfrase: - Que é, pois, a Lei, qual a sua função e razão de ser, qual sua missão no serviço dos eternos propósitos da revelação divina? Visava definir, acentuar e fazer abundar o pecado, relevando assim a natureza retrataria humana, ensinando aos homens a impotência moral deles, preparando-os assim para o diagnóstico de seu desespero moral e espiritual em si, impulsionando-os por suas exigências irrealizáveis a correr para Cristo e ser salvos. “Até vir a semente”, Jesus – o término da Lei! Deus não podia utilizar-se de um parêntese da Lei, no meio do regime da promessa, para salientar a necessidade e o valor desta, para dar uma demonstração da futilidade de legalismo a que o homem decaído é tão propenso, para conservar um povo peculiar sob uma tutela severa da moral a fim de servir de berço para Cristo e a inauguração da carreira universal do seu evangelho? Podia, e assim fez a própria Lei, reconhecendo sua futilidade para alcançar a justiça exigida e encaminhando seus adeptos ao regime de graça salvadora e vitória moral pelo Espírito mediante a fé. Nosso texto contra a Lei é tirado da própria Lei.

A Lei fez tudo que qualquer lei podia ter feito. Cumpriu sua missão. Foi um escravo fiel, gradando os menores da aliança mosaica sob sua tutela, até terminar sua missão com a maioridade do crente. Somos filhos maiores mediante a fé em Jesus Cristo. Desde que nos tornamos maiores, em plena gozo da cidadania no reino de Deus, demos de mão as coisas de menor, saímos da era das faixas e fraldas; em nosso batismo revestimos a togada nossa maioridade na graça e no Espírito e vivemos na liberdade responsável, na qual desaparecem umas tantas distinções arbitrável que não podem vigar legitimamente na liberdade e unidade dos filhos de Deus. Cristo é o nosso vestir, o nosso unir, o nosso herdar, a realidade preciosa de toda a promessa.

19 “em estímulo das transgressões” – Uma ilustração velha e humilde é a mãe que, saindo para um visita, disse aos filhinhos: “Enquanto eu estiver fora, ninguém ponha feijões nas narinas ou nos ouvidos.” Quando voltou, a cabeça de cada criança estava entupida de feijões. Vemos esta influência provocativa de lei até para pessoas inocentes, no Éden. O Diabo logo tomou partido desta vantagem legalista para seduzir a Eva, que esta quis logo tomar o que era proibido. A Lei estimula transgressões e Deus deu esta legislação para que não ficassem escondidas na vida íntima mas vissem a se manifestar, diagnosticar e curar. A Lei era como uma limonada quente, boa, doce e eficaz que me deram quando tive catapora. Logo depois, as evidências da moléstia se manifestaram, o médico pode dar o diagnóstico com certeza, e a cura não tardou.

“Em outras palavras, o objetivo da Lei de Moisés foi desenvolver o pecado. Não é a resposta do apóstolo na sua inteireza; é a chave, porém, à resposta… A declaração de Paulo em Rom, 5:20 é seu comentário sobre esta sentença: “Sobreveio a Lei para que abundasse a ofensa”. A mesma necessidade se expressa em I Cor. 15:56 – “A força do pecado é a Lei”… Este resultado tristonho Deus certamente teve em mente quando deu a Lei. “Em estímulo de” significa promoção, não prevenção. A Lei não piora a situação; releva quão será está … A Lei de Moisés, portanto, foi uma dispensação provisória… Seu objetivo foi tornar-se supérflua… Pela sua operação sobre a consciência a Lei ensinou homens sua necessidade de redenção… A Lei distribui suas ordenanças como sentinelas ao redor da célula do pecador preso; ele não pode escapar… O judaísmo era uma educação para o cristianismo. Preparou o mundo para a vinda do Redentor.” (Findlay, em “The Expositor’s Bible”, sobre Gál., Cap. 14).

19 “estímulo de transgressões” – “O judaísmo do período paulino não era, aparentemente, caracterizando por uma acentuada noção de pecado. A razão disto não se tem que se tem que procurar longe. O legalismo dos fariseus, regulando os mínimos detalhes da vida, não tornou a lei excessivamente difícil de cumprir, porém, facilitava-lhe a obediência. Jesus disse aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não exceder à dos escribas e fariseus, de modo algum entrareis no reino dos céus.” É, na verdade, mais fácil limpar o exterior de um vaso que seu interior. Se os fariseus reconhecessem que a Lei exige não somente a observância de regras externas, senão e precìpuamente, a misericórdia, a justiça e a amor para com Deus e os homens, não se precipitariam na satisfação de sua medida de obediência, e a Lei teria então cumprido sua magna função de aio, para conduzi-los a Cristo. Uma visão baixa da Lei conduz ao legalismo religioso; a visão elevada da Lei conduz o homem a buscar a graça”. (De The Origin of Paul’s Religion, por Machen, p. 179).

19 As Epístolas aos Coríntios tratam mais dos aspectos facciosos deste movimento judaizante, extravagências locais doutrinárias, do que da magna questão da Lei. Paulo mostra, porém, em qualquer outro assunto que tenha ligação com este, o mesmo forte sentimento de associar fundamentalmente a Lei e o pecado. Assim no zénite de sua doutrina gloriosa da ressurreição ele exclama: “O agruilhão do pecado é a morte e a força do pecado é a Lei” (com o artigo no original – a Lei de Moisés). Os que, a despeito destas quatro magnas epístolas de Paulo, insistem em fazer que a Lei continue a ser regra da vida cristã nem avaliam a seriedade de vida, precisamente, o que a Palavra de Deus declarara ser “a força do pecado”.

19-20 a ideia é a mesma expressa categoricamente em Rom. 5:20 – “Sobreveio a Lei para que abundasse a ofensa.” O mediador, nestes versículos, é Moisés. Por isto se usa o artigo definido. Há 250 interpretações, colecionadas por algum curioso, do sentido do versículo vinte. A dúvida principal surgiu na mente de padres primitivos ou medievais, porque opinaram que só Jesus podia ser o “Mediador”. Moisés, porém, era mediador da aliança nacional da lei levítica. Aí havia duas partes, Deus e Israel, e Moisés era mediador. Na aliança evangélica, porém, anunciada a Abraão, não há duas partes. É incondicional. O povo não é parte, e a bênção não depende do povo. Logo a aliança foi feita sem aparecer um terceiro. Desta linguagem figurada, Jesus é o Herdeiro e nós, em solidariedade corpórea com a Cabeça, somos coerdeiros, incorporados espiritualmente na Semente. Logo Deus é a única parte contratante. A bênção universal é incondicionalmente prometida à Semente Jesus. Entre Deus e Jesus não há mediador. Logo semelhante figura é impossível aqui, embora seja possível em outra linguagem figurada, de outras passagens. Uma passagem figurada não pode caminhar sobre as pernas de outra passagem cujo simbolismo seja bem diferente. A aliança evangélica é unilateral. Logo, a promessa não depende nem dos recipientes nem de terceiros, mas únicamente da graça de Deus.

19 Se aceitássemos a tradução: por causa de transgressões, o sentido seria: “As nossas versões (inglesas), traduzem isto, “por causa de transgressões”, desprezando o artigo grego. Não existiram, obviamente, transgressões antes de existi a Lei, mesmo dada uma profunda degradação moral. O verdadeiro significado é que a Lei foi instituída com vista às ofensas que ela especifica, pronunciando-as, daí por diante, como transgressões da Lei. Resumido, colhe-se, do conteúdo da Lei o seu propósito. As proibições dos Dez Mandamentos revelam seus próprios propósitos: foram instituídos para reprimir o culto a deusas falsos, a idolatria, a blasfémia, a violação do sábado, a desobediência aos pais, o homicídio, o adultério, o roubo, o falso testemunho, e a cobiça. Esses pecados prevaleciam anteriormente à Lei. Pronuncidados, porém, definitivamente como transgressões, invocava-se o temor da ira de Deus para reforçar a fraqueza do senso moral e educar a consciência do homem. O mesmo aspecto da Lei é rigorosamente apresentado em I Tim. 1:9. As leis não são feitas para o justo, mas para libertinos e insubordinados.” (De “The Expositor’s Greek Testament”, in loco).

22 “outorgada aos crentes, originária de sua fé” – “Não é mera tautologia. Os antagonistas de São Paulo concordaram com ele em que somente um crente poderia obter a promessa. Eles discordaram do apóstolo ao manter que o crente obtém a realização da promessa, não pela sua fé, mas sim pelas suas obras.” (Lightfoot, Com. Sobre Gálatas, p. 148). E quantos outros não necessitam dessa mesma bendita “tautologia”: “outorgada aos crentes, originária de sua fé”, “justificados gratuitamente pela sua graça”. Os que odeiam a doutrina da graça mediante a fé saltam qualquer barreira de linguagem bíblica. Quando, porém, a corrida tem de ser por cima de dois obstáculos que a inspiração bíblica coloca na senda do pensamento, é-lhes mais difícil ir avante em franca contradição com a Palavra de Deus. É outorgada ao crente, e proveniente de sua fé, não ao crente proveniveniente de alguma obra, sacramento ou influência clerical ou eclesiástica subsequente à fé. Vede o estudo suplementar: “Nada Além”.

22 “A Escritura apanhou o universo debaixo do pecado” – No v. 8, a Escritura “previu”. Aqui a Escritura rege o universo, julga, determina, toma providências, ordena a vida do universo a fim de que a promessa fosse dada aos crentes, da procedência de sua fé em Jesus Cristo. O crente recebe as bênçãos da graça de uma só fonte – de sua fé em Jesus Cristo. É fé pessoal numa pessoa, não crença em dogmas. Jesus Cristo é o objeto da fé traz a realização da promessa. É a fato central do universo, o segredo da redenção do universo dos efeitos do pecado. A ideia de que o universo jaz na sombra do pecado e é afetado pela redenção de Cristo, não é estranha a Paulo. Rom. 8:22, 23; I Cor. 15:24-28; Heb. 9:23-24, etc.

“A fé”- é aqui o nome de que nós chamamos a religião crista, como “o Caminho” o era em Atos. A parte dá nome ao todo, o característico ao caracterizado. Nem por isto a fé significa aqui dogma ou crendo. “A vinda da fé” foi a chegada da era cristã quando passasse a Lei como período de revelação e entrasse em vior, evidente e universal, o período de revelação na qual a fé salvadora em Cristo crucificado é o único caminho de justiça diante de Deus. Houve o vislumbre disto na experiência de Abraão. Chegou à sua plenitude e clareza no ministério de Jesus e do Espírito Santo. “A vinda da fé” salvadora teve sua, na história evangélica.

24 “escravo-tutor” – Milligan cita um papiro em que a mãe de um aluno menciona o seu “pedagogo” e lhe enviou saudações bem respeitosas: “Saúde seu estimado pedagogo”. Seu comentário é: “A referência ao pedagogo é interessante, provando que era a sua função tanto levar o aluno ao professor como agir na capacidade de tutor ou curador até que o menino chegasse à maioridade, no mesmo sentido em que na famosa passagem, Gál. 3:24. São Paulo descreve a lei como “pedagogo” para trazer os homens ao seu pleno desenvolvimento e liberdade em Cristo… O pedagogo seria um escravo e a estima em que era tido bem nos pode informar que a sorte da classe superior de escravos não foi absolutamente tão dura como às vezes se representa – era antes considerada com máxima boa vontade, de parte a parte”. (“Here and There among the Papyri”, p. 97).

26 “vós outros todos, em união com Jesus Cristo, sois filhos” – “A ênfase da sentença é todos e filhos; “todos”, judeus e gentios indistintamente, os que estão debaixo da Lei e os que estão sem a Lei; “filhos”, tomando para si, pois, os privilégios, a liberdade de sua filiação em plena maioridade, de modo que a supervisão rigorosa do tutor se acaba quando cessais de ser menores.” “Em Cristo Jesus. O contexto obriga estas palavras a serem tomadas em separação da frase mediante a fé… “ Vós sois filhos em virtude da vossa união com Cristo Jesus, vossa existência em Cristo Jesus.” (Lightfoot, Comentário sobre Gálatas, p. 149).

28 “um só homem” – “Um homem” – Nenhuma palavra diz “homem”, no grego todavia um é masculino, não neutro. “Uma personalidade moral” (Vincent). O ponto é que “em Cristo Jesus” distinções de raça nação (“nem judeu nem grego”) não existem, divergências de classe (“nem escravo nem forro”, nenhum proletariíssimo e nenhum capitalismo) desaparecem, a rivalidade dos sexos (nem sexo masculino nem sexo feminino) se acaba. Esta declaração radical marcou a senda que o cristianismo havia de trilhar na esfera e no espírito de Cristo. A candura nos obriga a confessar que este alvo não foi alcançado. Estamos, porém, caminhando e certamente nenhuma esperança existe de chegar ao destino senão no “Caminho-Jesus”. (Robertson, “Word Pictures of the Now Testament”, Vol. IV, p. 299).

27 “A declaração de que, no ensino de São Paulo, é o batismo o meio de acesso a Cristo, considero incorreto”. (Adolpho Deissmann, “St Paul”, p. 131).

27 “revestistes” – “A concepção da maioridade espiritual, está aqui associada com o batismo por uma figura tirada do uso grego e romano. Em uma certa idade, o jovem romano mudava sua toga praetexta pela toga virilis, passando à categoria de cidadão. Assim o cristão era investido de sua maioridade espiritual, no ato do batismo. Ele estivera, até então, sob leis e regulamentos, como uma criança na casa paterna. Agora, porém, passou a gozar a independência de um filho adulto. Esta figura da vestimenta é aplicada de vários modos na Escritura: Os efeitos da morte e ressurreição são decretos em II Cor. 5:4 pela figura de “despidos” e “revestidos”, as figuras de “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” e “revesti-vos de toda a armadura” em Rom. 13:12, 14, Efés. 5:11, expressam o novo apoio e força de nossas vidas necessárias ao guerrear cristão. O sentido exato do texto depende em todos os casos do contexto. Aqui o autor tem, evidentemente, em vista a mudança de indumentária que assinala a transição da juvenilidade para a maioridade. Gregos e romanos faziam grandes celebrações nestas ocasiões, e festejavam a investidura do jovem no traje de adulto com grandes reuniões familiares e ritos religiosos. O jovem, até aí sujeito às regras domésticas, era então admitido aos direitos e responsabilidades de cidadão, e tomava seu lugar ao lado do pai no conselho familiar. O batismo é, de fato, assemelhado à entrada na maioridade espiritual: o convertido, que estava até então preso a obedecer mandamentos definidos, a preencher deveres prescritos estava de agora em diante liberto para aprender a vontade de Deus pela voz íntima do Espírito, cumprindo as obrigações, aumentadas em peso de responsabilidade, que repousavam sobre um cidadão da comunidade celeste sob a guia da consciência iluminada. Ele entrara na sua maioridade espiritual, e estava assim emancipado de seus primitivos laços à uma lei externa. Existe uma óbvia correspondência entre esta figura de “revestir-se do Senhor Jesus Cristo” no batismo, e a cerimónia que prevalecia na igreja, em séculos subsequentes de se vestir os catecúmenos com trajes brancos no momento do batismo. Ambos dão expressão a pensamentos ligados: alguns dos Pais da Igreja associam-nos, e é possível que a linguagem do apóstolo servisse de base da introdução e uso geral do cerimonial. O simbolismo, porém, diferia materialmente. O traje branco correspondia antes às vestes nupciais da parábola; eram um emblema de pureza e significavam os efeitos purificadores do batismo, onde, por outro lado, o contexto da Epístola aponta à libertação e emancipação do controle. (“The Expositor’s Greek Testament” in loco). É instrutivo este contraste entre a figura de Paulo e a superstição pós-apostólica que imaginava “efeitos purificadores do batismo”. Tal ideia é de origem pagã. Tais efeitos não existem. Mas o símbolo da toga é leal. Não é a toga que traz a maioridade – apenas a proclama simbolicamente. Antes é a maioridade que traz a toga, sua constumeira proclamação ao público. Em toda a história da religião não há maior estultificaçao de um simbolismo do que o batismo infantil, relegando, precisamente, para a inconsciente e irreponsável infância, o símbolo apostólico da maioridade espiritual do crente, a responsabilidade e liberdade da fé, seja qual for a idade daquele que crê.

27 maioridade… batizados… vos revestistes – A linguagem de Gál. 3:26-27 é devida a esta figura de maioridade. O batismo é cerimónia cristã. Um judeu que se submetesse a esta cerimónia professava seu progresso além das cerimónia levíticas. Estas em rudimentares na revelação subordinando a alma a Moisés e ao regime legalista. O batismo proclama o regime da graça e glorifica Cristo como o Senhor da nossa vida. Ficamos, pela profissão e segundo os votos batismais, revestidos de Cristo.

Fiquem, porém, eternamente separadas coisas distintas. “Sois filhos de Deus mediante a fé – todos.” Não há crente no sentido evangélico, que não seja filho de Deus, regenerado, na posse e no gozo da vida eterna. O batismo não é fator para constituir-nos filho de Deus.

Quando o jovem romano chegava à maioridade, deixava a moda de menino, I Cor. 13:11. Entrava em nova fase de vida e indicava isto pela vestimenta. O símbolo de sua maioridade era a toga e revestia-se deste manto e tornava-se homem e entrava no pleno gozo de seus direitos civis. Paulo afirma que o batismo é a toga da nossa cidadania. A toga não conferiu a cidadania – a filiação, na maioridade, conferiu-a. A toga era apenas o símbolo e a profissão dos fatos baseados na maioridade. A filiação, no sentido mais amplo, procede de crer. A toga do filho na maioridade é o batismo.

Os crentes, debaixo da Lei, eram filhos de Deus pela fé; não receberam, porém, a liberdade de filhos. Eram meninos, sujeitos a escavos-tutores, num período em que Deus os educava e os preparava para mais larga liberdade e responsabilidade. Semelhante posição não é diferente da escravidão religiosa, pois o menino que esteja sujeito ao escravo, é inferior ao escravo, é mesmo um escravo, porquanto é forçado a obedecer à vontade de outrem e não seguir seus próprios propósitos e orientação.

Na juventude do povo de Deus esse regime era necessário. Cristo, porém, o aboliu. Convençamo-nos do fato. O regime e o método legal não vingam mais. A principal fraqueza da cristandade é que não acredita neste fato. É a derrota de muitos pastores evangélicos e outros líderes cristãos. Crentes em Jesus Cristo não podem ser tratados como meninos; precisam, porém, ser tratados como filhos de Deus no pleno gozo e no exercício responsável de sua maioridade. Cristo os liberta e Cristo os responsabiliza, e nem por um instante imaginemos haver liberdade sem responsabilidade, e sem as consequências de responsabilidade mal e timidamente desempenhada.

O mesmo propósito da redenção efetuada por Cristo é introduzir em nós o espírito filial, e acabar com o espírito servil. Cristo nasceu súdito da Lei para nos redimir da sujeição à Lei e nos transportar para o regime de filhos de Deus.

Verifica-se o efeito revolucionário desta doutrina sobre o judaísmo e o romanismo, que neste terreno são iguais, e igualmente opostos ao espírito de Cristo.

27 “batizados” – “Para um judeu contemporâneo o batismo cristão era um dos vários batismos, bem significativo – pois um homem é sepultado com Cristo pelo batismo; atravessa uma linha e abandona a velha vida e suas associações; está morto ao mundo e a seus amigos de outrora – mas a ideia não é mágica, absolutamente”, (T. R. Clover, “Paul of Tarsus”, p. 112).

28 Eis uma grande distinção entre o Evangelho e o legalismo. A Lei criou uma aristocracia religiosa. Os séculos do judaísmo demonstraram ser isto um insucesso. O Evangelho sempre cria o espírito de democracia. Todas as distinções artificias não têm mais significação religiosa. Escravo e senhor, homem e mulher, judeu e grego, têm os mesmos privilégios em Cristo Jesus, e são herdeiros segundo a promessa. O apóstolo Paulo foi o grande democrata espiritual da história humana. O Evangelho fez do aristocrata de Traso um democrata espiritual.

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Sabryna dos Santos 08/2009