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CAPITULO 11 – A SANTIFICAÇÃO

Capitulo 11 do livro DOUTRINA FORTE

A SANTIFICAÇÃO

A santificação é um termo que mistifica algumas pessoas e assusta outras; mistifica algumas que acham que é alguma doutrina profunda e misteriosa; assusta alguns batistas porque eles acham que é uma doutrina pentecostal. Mas temos de nos lembrar de que toda heresia é simplesmente a perversão de alguma verdade. Há muita confusão no mundo religioso sobre santificação, e essa confusão existe porque algumas denominações abusam dessa doutrina, e ensinam erro. Alguns dos erros associados a essa doutrina são: (1) Que é alguma espécie de “segunda bênção”, mas as Escrituras jamais mencionam esse termo, e uma pessoa salva que nunca progrediu mais que duas bênçãos do Senhor é lastimadamente um paupérrimo. Aliás, toda pessoa verdadeiramente salva recebe diariamente muitas bênçãos do Senhor. Contudo, a “santificação” é geralmente usada erroneamente com relação à: (2) O viver em perfeição sem pecado. Mas a Bíblia em parte alguma oferece a esperança de que alguma pessoa salva chegará a alcançar perfeição sem pecado enquanto estiver na carne. A verdade é que a Bíblia leva à compreensão de que o pecado permanecerá na carne enquanto a carne continuar em seu estado presente, e só com a glorificação do corpo na vinda do Senhor se alcançará algo como perfeição sem pecado. (3) Alguns também sustentam que a santificação tem a ver com o aperfeiçoamento da carne, mas na carne não habita “bem algum” (Romanos 7:18), e a carne continua a ser o grande inimigo da natureza espiritual do homem até que a morte separe os dois. Veja o capítulo dez, que lida com as duas naturezas no crente.

O mais comum desses erros é o segundo, mas a única conexão que a santificação tem com a perfeição é que a santificação progride na direção da perfeição. C. D. Cole bem disse que:

A santificação pessoal completa no sentido de perfeição sem pecado é uma meta que se deve lutar para alcançar e não uma realidade da qual se gabar. A regeneração é chamada de a crise da doença do pecado, e a santificação o progresso da convalescença. Viver na verdade da doutrina gloriosa da santificação manterá o crente humilde, feliz, esperançoso e útil em sua viagem para a glória. — Definitions of Doctrine [Definições Doutrinárias], Vol. II, p. 75. Bryan Station Baptist Church, Lexington, Kentucky, sem data.

Algumas pessoas se gabam de que chegaram a tal nível espiritual que alcançaram perfeição sem pecado, e chamam essa suposta perfeição de “santificação”. Entretanto, as Escrituras declaram que “Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”. (1 João 1:10) Se alguém alcançar a perfeição nesta vida, ele ficaria deslocado em qualquer igreja à qual se unisse, pois as igrejas são compostas de santos que ainda estão na carne e consequentemente ainda são culpados de pecado. Mas há uma diferença no que os crentes são neste mundo e no que eles são quando considerados aos olhos de Deus; o pecado é uma coisa bem real na vida diária dos crentes, e o crente tem sofrimento por pecar na proporção do grau de sua santificação.

A salvação não muda somente a opinião de Deus acerca do crente, mas muda também a opinião do crente acerca do pecado, pois se alguém foi genuinamente salvo, sua vontade foi mudada. Em resposta à declaração muitas vezes repetida de que “se eu cresse como crêem os batistas, que ‘uma vez salvo, sempre salvo’, eu sairia e cometeria todos os pecados que eu quisesse”, alguém respondeu que “não só peco tudo o que quero, peco mais do que quero”. O crente verdadeiro não é aceito pelo Pai por causa de obras humanas ou excelência, mas ele é feito “agradável no Amado” (Efésios l:6), e consequentemente “estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade”. (Colossenses 2:10)

As palavras “santificar”, “santificação”, “santos”, “santuário”, “santo”, “santidade” e “santificado” derivam da mesma palavra raiz, e essa palavra e seus derivados aparecem umas 280 vezes no Novo Testamento. Essa doutrina é bem importante, na medida em que tem a ver com o viver da vida cristã e progredir na direção do ideal divino pelo qual somos salvos. Muitos não gostam dessa doutrina por causa da grande responsabilidade que ela coloca sobre eles para que façam suas vidas corresponderem ao que professam. Sua importância se vê em Hebreus 12:14: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Sua importância se vê em que é uma parte da salvação, sendo a consequência natural e a continuação daquilo que se começou na regeneração. Charles Spurgeon declara:

A santificação começa na regeneração. O Espírito de Deus instila no homem o novo princípio chamado o espírito, que é uma terceira e mais elevada natureza, de modo que o homem crente se torna corpo, alma e espírito, e nisso ele é distinto e distinguido de todos os outros homens da raça de Adão. Essa obra, que começa na regeneração, é realizada de duas formas, por vivificação e mortificação; isto é, dando-se vida àquilo que é bom, e enviando a morte àquilo que é mal no homem; a mortificação, através da qual os desejos lascivos da carne são subjugados e mantidos sob controle; e a vivificação, pela qual a vida que Deus colocou dentro de nós se torna um poço de água que jorra para a vida eterna. A vivificação é realizada diariamente no que chamamos de perseverança, pela qual o cristão é preservado e mantido numa condição graciosa, e é levado a abundar em boas obras para o louvor e glória de Deus; e culmina ou vem à perfeição na “glória”, quando a alma sendo completamente purificada é levada para habitar com seres santos à direita da Majestade no Alto. — Metropolitan Tabernacle Pulpit [Púlpito do Tabernáculo Metropolitano], 1862 Vol., p. 92, Pilgrim Publications, Pasadena, Texas, 1969.

A santificação é uma doutrina tripla em vários diferentes sentidos, conforme notaremos, pois consideramos:

I. O SIGNIFICADO TRIPLO.

As Escrituras usam a palavra traduzida “santificação” de três maneiras diferentes, mas nenhuma das quais contradiz as outras. O primeiro desses sentidos é “separar para um propósito específico”. Muitas vezes significa separar para propósitos santos. Há muitas passagens nas Escrituras que ilustram essa utilização, principalmente no Antigo Testamento. A primeira vez de fato em que aparece na Bíblia essa palavra ilustra esse sentido: “E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que Deus criara e fizera”. (Gênesis 2:3) O sentido de “purificar do pecado” um uso que alguns tentam tornar o único significado de santificação não caberá aqui, pois um dia da semana, não sendo um ser vivo e racional, não poderá ter nenhuma moral sobre a palavra santificação e daí não poderá se purificar do pecado; porém, poderá ser separado para propósitos santos, e esse é o sentido aqui. Cremos que o Sábado foi separado como santo por cinco razões: (1) Descanso do trabalho. (2) Reverência ao Senhor. (3) Instrução religiosa. (4) Avivamento dos santos. (5) Reconhecimento da generosidade do Senhor.

Foi exatamente desse mesmo jeito que o Tabernáculo e todos os seus utensílios, as vestes para os sacerdotes, os sacrifícios, etc., foram todos santificados: foram todos separados para utilizações santas. Nesse sentido exato da palavra, Jesus disse de Si mesmo em João 10:36: “Aquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?” E de novo em João 17:19: “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade”. Em nenhum dos dois casos o verbo “santificar” pode ter o sentido de “purificar do pecado”, pois o Filho de Deus não tinha pecado algum; a palavra necessariamente leva seu sentido raiz de “separar”. Jesus, como “O Eleito”, era separado para cumprir os propósitos do Pai. De modo semelhante, o crente é separado inicialmente para os propósitos de Deus, mas ele é também separado nos outros sentidos da palavra também.

O significado básico da palavra “santificar” entra em toda utilização dela; os outros dois significados são extensões da palavra, desenvolvida a partir do modo como é usada, e não se aplicam necessariamente em todo caso. O significado raiz pode ser usado até mesmo de pessoas não salvas se separando para o pecado, como em Isaías 66:17: “Os que se santificam, e se purificam, nos jardins uns após outros; os que comem carne de porco, e a abominação, e o rato, juntamente serão consumidos, diz o SENHOR”.

O uso mais comum dessa palavra em seu significado básico é separar para propósitos santos, e é assim que Jesus a usou em João 17:17: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”. A Palavra de Deus é o instrumento mediante o qual os homens são separados, mas todas essas referências manifestam que o sentido básico da palavra “santificar” é simplesmente “separar ou ser separado” sem relação com o significado moral dessa separação.

Em segundo lugar, essa palavra desenvolveu o sentido de “considerar, tratar ou declarar ser santo”. Esse sentido se desenvolveu porque a palavra era mais comumente usada acerca da separação de certas coisas ou pessoas para um propósito santo, e assim essas coisas e pessoas seriam consideradas santas por causa dessa separação. Essa palavra é usada nesse sentido em Isaías 8:13: “Ao SENHOR dos Exércitos, a ele santificai; e seja ele o vosso temor e seja ele o vosso assombro”. O Senhor não precisa ser purificado do pecado, e assim esse não pode ser o sentido dessa palavra aqui; em nenhum dos dois sentidos Ele precisa do homem para separá-Lo por alguma razão. Por isso, esse também não é o sentido aqui. Contudo, Ele realmente exige que o homem O considere e trate como ele verdadeiramente ele é — o Deus triplamente santo, Isaías 6:3.

Esse é o mesmo sentido em que essa palavra é usada em Mateus 6:9: “Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome”. Veja também Lucas 11:2. A palavra grega usada é aquela que é comumente traduzida “santificado”, havendo apenas três exceções a essa tradução das vinte nove vezes em que aparece. Pelo fato de que o próprio Deus é santo, e deve ser considerado santo, assim também é Seu nome, que O representa. Esse é o lado positivo daquilo que vem expresso de forma negativa no terceiro mandamento: “Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão; porque o SENHOR não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão”. (Êxodo 20:7) Até mesmo na oração, o homem tem de tratar o nome de Deus como santo e acima do uso comum; jamais deve ser usado de modo comum ou como mero passatempo na fala de alguém. Há muitos cristãos supostamente bons que são diariamente culpados desse pecado por seu uso frívolo do nome do Senhor.

Imaginamos os seguintes como os únicos usos adequados do nome do Senhor em nossa fala: (1) Podemos usá-lo quando oramos a Deus. (2) Podemos usá-lo quando proclamamos a Ele e Suas excelências aos outros. (3) Podemos usá-lo quando O louvamos. Mas tudo o que é mais do que esses usos é um uso vazio, supérfluo e vão do nome do Senhor, e faz com que seus autores recaiam em culpa. — Davis W. Huckabee, Studies On The Ten Commandments [Estudos acerca dos Dez Mandamentos], p. 97. (Manuscrito que não foi publicado.)

A palavra “santificar” pode ser usada nesse sentido acerca de muitas outras coisas inanimadas e intangíveis, tais como a casa do Senhor, o dia do Senhor, e também tem aplicação para os santos, pois aos olhos de Deus, a partir do momento da sua regeneração, Deus o trata e considera como santo, e daí o nome “santo” é dado para até mesmo o mais novo e o mais imaturo cristão; ele pode nem sempre agir como um santo, mas Deus o trata e considera como um apesar disso.

Em terceiro lugar, a palavra “santificar” às vezes significa “purificar ou tornar santo”. Essa é mais uma extensão da primeira nuança de sentido. Às vezes significa purificar somente de uma forma externa, como em Êxodo 19:10 11: “Disse também o SENHOR a Moisés: Vai ao povo, e santifica-os hoje e amanhã, e lavem eles as suas roupas, E estejam prontos para o terceiro dia; porquanto no terceiro dia o SENHOR descerá diante dos olhos de todo o povo sobre o monte Sinai”. Em outras vezes tem a ver com a limpeza e purificação interna da alma na regeneração. É nesse sentido que a palavra é usada em 1 Coríntios 6:11: “E é o que alguns têm sido; mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus”.

“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”. (João 17:17) Aqui a referência é à santificação progressiva da vida do santo depois que ele foi inicialmente separado na salvação.

A santificação ocorre em três tempos gramaticais: quanto à posição, o crente é separado na salvação; é instantânea e absoluta; quanto ao progresso, ele está sendo separado toda a sua vida terrena; quanto à perfeição, ele é glorificado e alcança separação perfeita para Deus na ressurreição. Os meios de santificação são aqui declarados como “na tua verdade” que mais adiante é explicada como “tua palavra”. A base da santificação é a santificação de Cristo (v. 19). Ele garantiu plena salvação (em três tempos gramaticais) para nós, mas essa salvação ainda não se cumpriu em nós e não se cumprirá até que se complete nossa santificação; porém, embora essa salvação ainda não esteja completa, com certeza se completará, pois havendo começado uma obra, Cristo não falha em realizá-la (Filipenses 1:6). — Davis W. Huckabee, Studies On John [Estudos acerca de João], p. 107. (Notas mimeografadas de Escola Dominical da Igreja Batista Immanuel, Wellington, Kansas, 1972.)

Talvez alguém seja levado a perguntar: “Mas como é que posso saber que estou sendo santificado?” Ao que respondemos: Que a própria obra divina se evidencia. Ou, para citar o Dr. J. M. Pendleton:

Embora na definição tripla ora dada de santificação tenham sido mencionados vários pontos que na verdade são evidências do progresso da obra graciosa, essa definição pode bem se referir absolutamente a algumas outras evidências. Cito as seguintes:

1. Um sentimento profundo de indignidade. Em todas as dispensações a piedade verdadeira tem exaltada a Deus e humilhada o homem…

2. Um ódio crescente ao pecado. O pecado é o oposto da santidade e, até onde sabemos, Deus não pode nos tornar santos sem nos fazer odiar o pecado…

3. Um interesse crescente nos meios da graça. A palavra de Deus é mais altamente apreciada como o instrumento de santificação; pois Jesus orou: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”. (João 17:17)

4. Um amor crescente das coisas celestiais… “Ora, um dos efeitos da santificação crescente é o enfraquecimento dos laços que unem os cristãos a este mundo, e o fortalecimento de suas ligações às coisas celestiais”. — Condensado de Christian Doctrines [Doutrinas Cristãs], pp. 306 310. American Bap¬tist Publication Society, Philadelphia, 1878.

II. A FONTE TRIPLA.

Um erro grande de muitos com relação a essa doutrina é que eles atribuem a santificação inteiramente, ou em grande parte pelo menos, à energia e capacidade do homem. Muitas vezes tais passagens das Escrituras como 1 Tessalonicenses 4:3 4: “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação; que vos abstenhais da prostituição; Que cada um de vós saiba possuir o seu vaso em santificação e honra”, são interpretadas como se a santificação fosse inteiramente do homem, mas não é assim. É verdade que há um elemento de responsabilidade humana, mas o poder dela é totalmente do Senhor, e toda santificação tem de ser atribuída em análise final às operações do Senhor. Atribuir o poder da santificação a nós mesmos é nada menos do que roubar de Deus a glória que é dEle, pois as Escrituras ensinam que a santificação vem de Deus, e que todas as três Pessoas da Trindade têm sua parte nela. Judas 1 fala dos santos como aqueles que são “santificados em Deus Pai”, mas jamais se deve compreender isso como negando a obra de Cristo ou a obra do Espírito Santo. Charles Spurgeon bem observa num sermão sobre a “Santificação Tripla”:

Nas obras da graça nenhuma das Pessoas da Trindade age separadamente do resto. Elas são tão unidas em suas obras quanto em sua essência. Em seu amor pelos escolhidos elas são um, e nas ações que fluem daquela grande fonte central elas são ainda unidas. De forma especial gostaria que você reparasse nisso no caso da santificação. Embora possamos sem o mais leve erro falar da santificação como a obra do Espírito, porém temos de dar atenção para que não a vejamos como se o Pai e o Filho não tivessem parte nisso. É correto falar da santificação como a obra do Pai, do Espírito e do Filho. Jeová diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”, e assim somos “feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. — Metropolitan Tabernacle Pulpit [Púlpito do Tabernáculo Metropolitano], 1862 Volume, p. 85. Pilgrim Publications, Pasadena, Texas, 1969.

O próprio fato de que há uma harmonia — uma unidade — entre as Pessoas da Trindade torna evidente que elas devem se envolver completamente naquilo que afeta Qualquer uma dElas. Isso não significa que Elas todas têm o mesmo grau de preocupação em alguma obra determinada, pois Cada uma tem Sua própria obra para realizar. Diz-se que o Pai santifica Seus santos porque Ele é Aquele que decreta que eles têm de ser santificados; a parte de Cristo, então é efetuar aquilo que tornará possível a santificação deles; o Espírito então aplica os efeitos da obra de Cristo ao santo. Sem dúvida é por causa de Sua obra em tornar os homens santos que a terceira Pessoa da Trindade é chamada de Santo Espírito, pois é óbvio que Ele não é, e não pode ser mais santo do que o Pai ou o Filho.

Contudo, não só os crentes são “santificados em Deus Pai” (Judas 1), mas eles são também “santificados em Cristo Jesus” (1 Coríntios 1:2). A santificação, ou santidade, é aquela “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14), porém não há santificação possível sem união com Cristo em Sua obra redentora.

Nos escritos de Paulo aparecem três coisas constantemente: Primeira, os crentes são santificados por meio de sua união com Cristo. Todo impulso santo surge do fato de que eles estão em Cristo. Segunda, em toda fase e em todo detalhe a obra do Espírito Santo é paralela à obra de Cristo em nós. Cristo em nós, e o Espírito em nós, são idênticos em resultado. Terceira, o resultado de “Cristo em nós” e o Espírito em nós se vê na transformação ética e espiritual. — E. Y. Mullins, Christian Religion in Its Doctrinal Expression [Religião Cristão em Sua Expressão Doutrinária], p. 419. The Judson Press, Philadelphia, 1932.

Daí podemos ver a tolice daqueles que esperam pela vida eterna sem confiar em Cristo para obtê-la. O que quer que eles possam ter sem Cristo — e é limitado — eles não podem ter santidade, a qual é necessária para a salvação. Muitos lutam para ter uma santidade pessoal por meio de obras, mas as Escrituras uniformemente designam tais como obras que “não aproveitarão” (Isaías 57:12), “trapo da imundícia” (Isaías 64:6), “prática de iniquidade” (Mateus 7:21-23). Somente aquelas obras que são feitas depois que alguém é salvo — aquelas obras que têm origem numa nova natureza — são proveitosas aos homens (Tito 3:8).

A verdadeira santificação ocorre apenas como resultado de união com Aquele que disse: “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade”. (João 17:19) A verdade da Palavra de Deus é o instrumento pelo qual essa união é ocasionada, e o crente se torna participante da natureza divina. “Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo”. (2 Pedro 1:4) É por meio do conhecimento e prática das Escrituras que o homem regenerado é transformado mais e mais na semelhança de Jesus Cristo (2 Coríntios 3:18; 4:4,6).

O que nos leva a considerar que os homens também são “em santificação do Espírito” (1 Pedro 1:2). Isso explica Romanos 8:14: “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”, pois o mesmo Espírito que conduz os homens a confiar em Jesus Cristo quanto à salvação, também os santifica como filhos de Deus. A santificação tem relação vital com a justificação e regeneração, sendo a consequência natural e prova delas. E. Y. Mullins comenta:

Tem relação à fé porque na santificação repetimos constantemente o primeiro ato de confiança. Gradualmente se torna a atitude habitual e normal da alma. A fé é a condição da santificação como da salvação no primeiro instante. A santificação tem relação com a justificação porque em seu significado como separação ou devoção a Deus, corresponde à nova condição conferida a nós no ato justificador de Deus. A santificação tem relação com a regeneração porque é a revelação do princípio vital da nova vida implantado na regeneração. Tem relação vital com a obra do Espírito Santo porque o processo inteiro é conduzido pelo Espírito Santo, que habita no crente e gradualmente aperfeiçoa seu novo caráter moral. — The Christian Religion in Its Doctrinal Expression [A Religião Cristã em Sua Expressão Doutrinária], p. 420. Judson Press, Philadelphia, 1932.

Quando os homens se recusam a ser conduzidos pelo Espírito a confiar em Cristo, eles cortam os meios de sua santificação inicial, sem os quais os portões do céu lhes são trancados; assim, muitos realmente se trancam do lado de fora do céu. Mas o crente que se recusa a ser conduzido pelo Espírito a viver uma vida de mais santidade também se exclui de muitas bênçãos, e torna necessário o castigo do Senhor: “Porque aqueles [nossos pais terrenos], na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este [Deus], para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”. (Hebreus 12:10-11)

A parte do Espírito Santo na santificação é mais proeminente do que a parte do Pai ou do Filho, porque Sua obra é a aplicação ativa da Palavra santificadora, que produz as evidências da santificação. Portanto, somos aptos a pensar que só Ele faz a santificação do crente, a menos que estejamos atentos ao que as Escrituras ensinam. É uma bênção saber que a Trindade inteira é organizada, não só para nossa salvação, mas também para nossa santificação e nossa segurança.

III. O EFEITO TRIPLO.

A santificação realiza três coisas no homem quando está em operação nele; dizemos quando está em operação nele, pois há muitos que afirmam estar santificados, mas nos quais não vemos evidência de uma santificação bíblica e verdadeira, e assim temos de concluir que eles têm apenas uma pseudo ou quase santificação. Não existe nenhuma verdade que Satanás não tenha falsificado e pervertido, e é assim que ele produziu uma santificação fraudulenta em muitas pessoas a ponto de fazer com que a santificação verdadeira seja questionada e desprezada. Muitas pessoas não salvas presumem que foram santificadas só porque “começaram uma nova fase”, “se tornaram religiosas” ou “se tornaram membros de igreja”. Mas nenhuma dessas coisas constitui santificação, nem são necessariamente evidências de santificação, pois todas essas coisas podem ser feitas por aqueles que jamais tiveram um verdadeiro novo nascimento. Não se deve confundir a santificação com a justificação; Abraham Booth bem comparou a santificação e a justificação nas palavras seguintes:

Embora a justificação e a santificação sejam ambas bênçãos da graça, e embora sejam absolutamente inseparáveis; porém são tão claramente distintas que há em vários aspectos uma diferença ampla entre elas. Essa distinção pode ser assim expressa. A justificação diz respeito à pessoa num sentido legal, é um único ato da graça, e termina numa mudança relativa; isto é, uma liberdade de castigo, e um direito à vida. A santificação o considera num sentido físico, é uma obra continuada da graça, e termina numa mudança real, quanto à qualidade tanto dos hábitos quanto das ações. A justificação é por meio de uma justiça sem nós; a santificação é por meio de uma santidade operada em nós. A justificação vem antes, como causa; a santificação vem depois, como efeito. A justificação é mediante Cristo como sacerdote, e diz respeito à culpa do pecado; a santificação é mediante ele como rei, e se refere a seu domínio. A justificação anula seu poder condenador; a santificação seu poder de reinar. A justificação é instantânea e completa, em todos os seus súditos reais; mas a santificação é progressiva, e se aperfeiçoa gradualmente. — The Reign of Grace [O Reino da Graça], pp. 199 200. American Baptist Publication Society, Philadelphia, sem data.

O primeiro efeito da santificação é que o santo é purificado da mancha do pecado, pois a santificação é inicialmente a aplicação do sangue purificador de Cristo à alma. Na regeneração o homem é tanto purificado quanto separado como pertencente a Deus. É a esse aspecto da santificação que Hebreus 10:10 14 se refere: “Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas. Ora, todo sacerdote se apresenta, dia após dia, a exercer o serviço sagrado e a oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca jamais podem remover pecados; Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados”.

Podemos notar as seguintes coisas nesse texto: (1) A santificação inicial é associada à morte sacrificial do Senhor. (2) Esse sacrifício é suficiente para santificar “uma vez por todas”, e essa idéia está na palavra grega ephapax; veja-a de novo em Romanos 6:10; Hebreus 7:27; 9:12. Essa mesma idéia se acha no versículo 12: (i) Só um sacrifício é oferecido. (ii) É oferecido “para sempre”. (iii) Depois dessa oferta, Cristo “assentou-se à destra de Deus”, significando com isso que Sua obra estava terminada. (3) Essa única oferta foi suficiente para “aperfeiçoar para sempre” os que são através dela santificados.

O sacrifício de Cristo pelo santo efetua sua purificação do pecado e santificação ao Senhor; assim, nesse exemplo, todas as três nuanças de sentido dessa palavra se encontram juntas, pois o santo é separado para santos propósitos, ele é declarado pelo Senhor como uma pessoa “santa” e é assim considerado, pois ele foi realmente santificado pelo sacrifício de Cristo.

Define-se santidade, quando aplicada a Deus, como “aquele elemento na natureza divina que está na base de, determina e molda a reverência que o homem deve a Deus”. A palavra também tem um sentido no grego clássico de “dedicado aos deuses”; um animal para sacrifício, uma casa para adoração, um vaso para uso sagrado, uma veste para uso sacerdotal, um homem para serviço, se torna por tal designação santo. Assim nas Escrituras uma pessoa ou coisa é designada santa por haver sido separada do pecado e possuindo pureza absoluta. — Emery Bancroft, Elemental Theology [Teologia Fundamental], p. 221. Zonder¬van Publishing House, Grand Rapids, 1945.

O primeiro efeito da santificação é realizado instantaneamente e, na maior parte, acima da compreensão do indivíduo, pois embora o indivíduo saiba que desde o momento da fé em Cristo ele é inundado com um sentimento de paz com Deus, mas ele não percebe na hora que isso tudo é devido ao efeito santificador da obra remidora de Cristo. Mais tarde, como resultado de estudo e meditação, ele virá a compreender isso.

O segundo efeito da santificação é uma consagração contínua do santo à vontade de Deus, conforme o crente se entrega às influências santificadoras do Espírito Santo. Spurgeon, no sermão mencionado antes, diz de novo:

A santidade é o plano arquitetural sobre o qual Deus edifica seu templo vivo. Lemos nas Escrituras dos “ornamentos de santidade”; só o que é santo é belo diante de Deus… oro para que vocês, que professam ser seguidores de Cristo, valorizem a pureza de vida e a piedade de conduta. Valorizem o sangue de Cristo como o alicerce da esperança de vocês, mas jamais falem depreciativamente da obra do Espírito que torna vocês merecedores da herança dos santos na luz; sim, vem vez disso, valorizem-no com o coração tão aberto a ponto de temer a própria aparência do mal. — Metropolitan Taber¬nacle Pulpit [Púlpito do Tabernáculo Metropolitano], 1862 Volume, pp. 85, 66. Pilgrim Publications, Pasadena, Texas, 1969.

O crente não está aqui passivamente inconsciente desses efeitos, como é o caso na regeneração, mas ele assume uma parte ativa nesse aspecto da santificação, e o sucesso dessa parte da santificação varia na proporção exata à submissão do crente à liderança do Espírito. Deus não só santificou Seu povo, mas também os chamou para serem santos — para colocar em prática real em suas vidas diárias os elementos básicos da santidade. “Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação. Portanto, quem despreza isto não despreza ao homem, mas sim a Deus, que nos deu também o seu Espírito Santo”. (1 Tessalonicenses 4:7-8) É algo solene para um crente resistir à influência santificadora do Espírito Santo em sua vida; é sua débil tentativa de impedir a obra redentora de Cristo no meio do curso, pois a redenção de Cristo é mais do que apenas uma purificação inicial; é uma aplicação contínua de Sua obra salvadora e santificadora até que o crente chegue à “unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. (Efésios 4:13) Até que se alcance essa fase, a obra redentora de Cristo não está completa, pois Ele continuará a santificar Seus santos até que sejam glorificados.

O terceiro efeito da santificação — sua fase final — então é a glorificação. É quando Deus finalmente tiver aperfeiçoado o crente em corpo, alma e espírito. Ele jamais fica frustrado em Sua obra redentora, nem Ele chega a começar tal obra só para interrompê-la na metade, deixando-a vir a nada. Filipenses 1:6 menciona isso: “Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo”. O “dia de Jesus Cristo” marca o fim da santificação de Deus, pois na ressurreição e renovação dos corpos dos santos todo crente é levado à semelhança completa de Cristo. A santificação só estará completa quando a carne for renovada e glorificada, pois é só então que o pecado será completamente erradicado do santo.

Essa é a esperança que sempre se ofereceu ao povo do Senhor com uma grande meta a ser alcançada, com esforço e expectação: “Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, Que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”. (Filipenses 3:20-21) A glorificação é o último elo nessa cadeia de ouro das atitudes redentoras de Deus que começou com a presciência de Seu povo em Seu amor eletivo (Romanos 8:29 30). Muitas vezes menciona-se a glorificação como associada à volta de Cristo à terra, pois é quando ocorrerá. É por isso que todo santo verdadeiro, de um ponto de vista puramente egoísta, tem de desejar a volta de Cristo, pois marcará o fim de sua luta com o pecado e com os problemas que o pecado causou, e o começo de seu eterno gozo de glória com seu Salvador e Senhor. Que Deus apresse o dia.

IV. A OPERAÇÃO TRIPLA.

Com isso temos a intenção de considerar como se realiza essa santificação. Que poder a realiza? Como já observamos, o Espírito Santo é Aquele que aplica essa santificação; Ele é o agente ativo nela. Mas temos de nos lembrar de que não há apenas um agente na santificação, porém também um elemento; e esse elemento é a Palavra de Deus. A Palavra de Deus isolada é letra fria e morta que nada pode fazer senão condenar o homem; é necessária a aplicação ativa do Senhor pelo Espírito Santo para vivificar o homem tanto na salvação quanto na santificação. “O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica”. (2 Coríntios 3:6) O Espírito Santo opera inicialmente na salvação para separar o santo para Deus, e Ele não cessa Suas operações, mas continua a executá-la por toda a vida do santo.

A santificação é resultado da continuação da atuação do Espírito Santo, após o ato da regeneração. (a) Em fortalecer e aumentar as graças existentes: fé, esperança, caridade, etc. (b) Em despertá-las para funcionar, por meio da leitura e audição da palavra, os sacramentos, oração, providências, aflições e castigos. — W.G.T. Shedd, Dogmatic Theology [Teologia Dogmática], Vol. II, p. 554. Zondervan Publishing House, Grand Rapids, sem data.

Há alguns que, aliás, tentam amarrar as mãos do Espírito e forçá-Lo a recorrer a outros meios para santificá-los, pois eles firmemente se recusam a ler ou ouvir as Escrituras, e se isolam de todos os outros meios de santificação. Alguns professam crer na santificação do Espírito, porém se recusam de forma absoluta a fazer uso dos únicos meios de santificação. O que quer que professem, eles o negam em suas obras, e se chegarem a se salvar, serão salvos “como que por fogo”, e terão poucas obras pelas quais serão recompensados diante do Tribunal de Cristo.

O Espírito Santo também não trabalha de forma independente nesse assunto, pois em Hebreus 10, onde no começo notamos as referências à obra santificadora de redenção por Cristo (vv. 10 14), encontramos nos versículos 15 18 que esse é totalmente um assunto da aliança do Deus Triúno, pois todas as três Pessoas são mencionadas como tendo Sua parte nessa grande realização.

Pois em segundo lugar, não daria para haver nenhuma aplicação de santificação ao indivíduo por meio do Espírito Santo, senão para a obra sacrificial de Cristo, que é a base dessa santificação. Os homens são santificados pelo sangue de Cristo (Hebreus 13:12), que é chamado de “o sangue da aliança” (Hebreus 10:29), O Espírito Santo aplica o que Cristo operou por Sua morte expiatória, mas Sua morte teve mais do que um mero efeito transitório sobre Seu povo; eles não são simplesmente salvos por uma aplicação uma vez por todas de Seu sangue; eles são também mantidos num estado de salvação por meio da aplicação contínua dos efeitos salvadores da morte de Cristo pelo Espírito Santo. É por isso que, ao falar daqueles que já estavam salvos, João foi inspirado a dizer: “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica [note o tempo gramatical presente] de todo o pecado [todo pecado, futuro bem como passado]”. (1 João 1:7) Não só isso, mas o sangue de Cristo também purifica a consciência de obras mortas (Hebreus 9:14), e continua a purificar as vidas dos redimidos (Tito 2:14). A eficácia purificadora do sangue de Cristo só deixará de ser aplicada à vida e consciência do santo quando sua santificação estiver completa.

A suficiência da obra expiatória de Cristo se vê em Hebreus 10, onde Ele é comparado com os sacerdotes levitas e seu ministério; isso é de modo especial evidente nos versículos 12 14. Mas ao falar dessa “única oferta” que foi oferecida “pelos pecados para sempre”, e que “aperfeiçoa para sempre” os santificados, nenhum espaço sobra para quaisquer supostas ofertas da “missa” como repetição de Sua obra expiatória, nem sobra espaço para a suposta necessidade de obras humanas para aperfeiçoar Sua obra redentora, e é blasfêmia do pior tipo alguém tentar substituir tais “trapos imundos”. Tudo o que é necessário é que o Espírito Santo aplique os benefícios do sangue na regeneração, e continue a aplicar os benefícios purificadores dele na santificação.

Em terceiro lugar, vemos outra operação na santificação em que essa é completamente a vontade do Pai, pois o sacrifício do Filho, e a aplicação dos benefícios da morte de Cristo pelo Espírito vêm declarados como Sua vontade em Hebreus 10:9 10. “Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez”. Qual é o instrumento da aplicação dos benefícios salvadores e santificadores da morte de Cristo pelo Espírito Santo? É a Palavra pregada, pela qual o Pai santifica os crentes: “Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”. (João 17:17) Lembre-se, Jesus estava falando, mas Ele não estava falando ao Espírito. Ele estava falando ao Pai, e assim se torna claro que o Pai também opera na santificação dos santos. Assim, a Palavra pregada não só é “o poder de Deus para salvação” (Romanos 1:16; 1 Coríntios 1:18), é também o poder de Deus para a santificação.

Não podemos nesse assunto dividir a Trindade; todas as três Pessoas trabalham juntas para efetuar a separação completa do santo do mundo e suas contaminações, e embora os castigos do Pai celestial sejam dolorosos no momento, porém têm o objetivo de desenvolver santidade em nós e nos tornar aptos para a comunhão eterna com Ele. “Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne, para nos corrigirem, e nós os reverenciamos; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos espíritos, para vivermos? Porque aqueles, na verdade, por um pouco de tempo, nos corrigiam como bem lhes parecia; mas este, para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. E, na verdade, toda a correção, ao presente, não parece ser de gozo, senão de tristeza, mas depois produz um fruto pacífico de justiça nos exercitados por ela”. (Hebreus 12:9-11)

A santificação é uma doutrina importante, pois é uma porta trancada que mantém fora do céu todos os que não têm a santidade de Cristo. Muitos que pensam em apresentar sua própria santidade pessoal serão rejeitados. Essa santidade pessoal Deus vê como “trapos imundos” (Isaías 64:6). Mas embora alguns tenham errado em confiar em suas próprias obras, há outros que vão ao extremo oposto e não fazem esforço algum para praticar a santidade pessoal. Ambas as coisas são erros, pois as Escrituras falam tanto do estado de pecado do crente quanto de sua perfeição no Senhor Jesus Cristo (1 João 1:8; 3:9). A. J. Gordon diz disso:

“Que paradoxo é que lado a lado na Epístola de João temos a afirmação mais forte do estado de pecado do cristão… e a afirmação mais forte de seu estado sem pecado… Ora, heresia significa uma divisão ou escolha, e quase todos os erros mais graves surgiram quando se adotou alguma declaração extrema das Escrituras rejeitando-se o outro extremo. Se considerarmos a doutrina da perfeição sem pecado como uma heresia, consideramos como heresia maior o contentamento com a imperfeição pecadora. E tememos seriamente que muitos cristãos tornam as palavras do apóstolo “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos”, a justificativa consciente para uma vida cristã de baixo padrão. Seria quase melhor exagerarmos as possibilidades da santificação em nossa ânsia de obter a santidade, do que dizer menos do que se deve em nossa satisfação complacente com a tradicional falta de santidade. Certamente não é um espetáculo edificante ver um cristão mundano atirando pedras num cristão perfeccionista. — The Ministry of the Spirit [O Ministério do Espírito], pp. 116 117. The Jud¬son Press, Philadelphia, 1949.

A santificação é tanto a vontade de Deus quanto a obra de Deus, mas é também a responsabilidade do santo praticá-la, e se ele não possui santidade pessoal, ele está enganado se pensa que tem esperança do céu, pois as Escrituras dizem: “Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. (Hebreus 12:14) O leitor diga-me, o que sua vida proclama que você é, um santo ou um pecador?

 

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