A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção I Gên 4.7

Gên 4.7 "Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? etc."

I. Será adequado questionar se um homem perverso e não regenerado como Caim é capaz de fazer boas obras. Esta pergunta pode ser respondida:

1. Adão tinha o poder de fazer toda boa obra que a lei requer, que os homens, desde a queda, não têm. Os homens, num estado não regenerado, poderiam de fato fazer muitas coisas que eles não fazem, tais como: ler as Escrituras; frequentar os cultos públicos, etc.

Sem dúvida nenhuma, na parábola, as pessoas que foram convidadas às bodas poderiam ter ido a ela se tivessem vontade, da mesma forma que uma delas soube ir ao seu campo e a outra aos seus negócios. Os homens, do mesmo modo, também podem se tiverem tanto o desejo, a vontade, ou a inclinação de ir ao culto público quanto o de ir a uma taverna ou bar. Contudo, quando se trata de uma obra boa, é fácil observar que, frequentemete, as pessoas têm o poder nas mãos, mas não o tem no seu coração: como um rico pode de dar esmolas aos pobres sem compaixão, apenas por lhes sobrar dinheiro, homens não regenerados são capazes de fazer boas obras no sentido natural e civil, mas não no sentido espiritual. Eles podem fazer essas coisas, que aparentemente em relação ao assunto e substancia deles, podem ser boas como: escutar, ler, orar; dar esmolas aos pobres, etc., quando as circunstâncias requeridas para fazer boas obras estão faltando. Por que tudo que é feito como uma boa obra precisa ser feito em obediência a vontade de Deus, com um princípio de amor a Ele, precisa ser feito em fé no Nome de Cristo e para a glória de Deus por Ele. Portanto,

2. é necessário negar que homens tolos, não regenerados tenham capacidade de fazer boas obras de uma maneira espiritual, pois é evidente em seu estado e condição natural, de acordo com a representação escriturística, que a inclinação da suas mentes é para fazer o mal, nada além disso. Como eles são inteiramente carnais, se importam apenas com as coisas da carne, não tem força alguma, são frágeis, de fato, mortos em ofensas e pecados .Na verdade, estão debaixo de uma impossibilidade de fazer o que é bom espiritualmente; Não há quem faça o bem, não há um só, nem são capazes, pois não são sujeitos à lei de Deus, nem em verdade o pode ser. Quando o Etíope mudar a sua pele, e o leopardo as suas manchas, então podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal. Os homens não podem esperar colher uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos, que os bons frutos cresçam sobre eles, ou que boas obras se1am feitas por homens não regenerados Antes é preciso que eles sejam criados em Cristo Jesus, tenham o Espírito de Cristo posto neles e a Sua graça implantada neles; sejam crentes nele, para somente assim serem capazes de fazer aquilo que é espiritualmente bom. E até os próprios crentes não são capazes de ter bons pensamentos ou de fazer boas obras por si só; é Deus que opera neles tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade. Às vezes quando eles têm a vontade de fazer o que é bom, ainda assim,eles não sabem como fazer, não podem fazer nada sem Cristo, que faz todas as coisas, quem os fortalece; muito menos podem, os não regenerados ter o poder nem a vontade de fazer aquilo que é espiritualmente bom. Nem sequer existe qualquer

3. fundamento para tal proposição destas palavras, que são hipoteticamente expressas, e, portanto, absolutamente nada pode ser delas concluído; Isso quer dizer que não devemos argumentar que o fato de Deus ter dito a Caim, Se bem fizeres, significa que Caim tinha o poder de fazer o bem ou de fazer aquilo que era espiritualmente bom; muito menos deveríamos inferir desta passagem, como qualquer um faz que “Deus não poderia propor o fazer o bem como uma condição se Ele não tivesse dado a Caim força suficiente pela qual, seria capaz de fazer o bem.” Já que Deus pode não só ter proposto o fazer do bem, mas o ter requerido de acordo com Sua lei, sem estar sob a obrigação de dar força suficiente para obedecer. Apesar de o homem pelo seu pecado ter perdido a capacidade de obedecer à vontade de Deus do modo correto, ainda assim, Deus não perdeu Sua autoridade de mandar; que Ele pode usar sem Se obrigar a dar força suficiente aos homens para agir em obediência ao seu mandamento. Além disso,

4. essas palavras dizem respeito a fazer o bem, não no sentido moral, mas no sentido cerimonial. Caim e Abel foram ensinados logo cedo a necessidade, maneira e o uso de sacrifícios. E aconteceu ao cabo de dias, eles trouxeram suas ofertas ao Senhor, cada um de acordo com a sua chamada e ocupação diferente, o primeiro trouxe os frutos da terra, o outro trouxe dos primogênitos das suas ovelhas. E atentou o Senhor ao Abel e o seu sacrifício, isto é, Ele aceitou Abel e a sua oferta; mas para Caim e a sua oferta não atentou, o que fez Caim irar-se e descair-lhe o semblante, e o Senhor expostula com ele desta maneira: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante? Se bem fizeres, ou Se tivesse oferecido corretamente, como a Septuaginta versa as palavras que, embora não tenha o sentido literal da tradução, é suficiente no seu sentido, não é certo que serás aceito? Caim falhou ou na substância ou na maneira do sacrifício, provavelmente no último, como o autor da epístola aos Hebreus observa, que pela fé Abel ofereceu a Deus maior sacrifício do que Caim. (Hebreus 11.4) Caim ofereceu o seu sacrifício sem fé, sem qualquer visão do sacrifício de Cristo: ele realizou esse seu sacrifício hipocritamente, em exibição e aparência apenas; ele não agiu sobre um princípio correto, nem para qualquer fim correto; e, portanto, qualquer aparência de justiça, que tivesse em suas obras, está de acordo com o Apóstolo João, (I João 3.12) certamente chamadas más; assim como também as obras de homens não regenerados e ímpios e. Eu prossigo:

II. Considerando que se a aceitação do homem por Deus seja devido às suas boas obras:

1. Há uma diferença entre aceitar as obras dos homens e aceitar a pessoa deles. Há muitas ações feitas por eles, que são aceitáveis e agradáveis a Deus, quando os que fazem não são aceitos por Ele, pelas obras. Além disso, as obras de nenhum homem são aceitas por Aquele que não aceita a pessoa anteriormente: Deus atentou primeiro a pessoa de Abel e depois para sua oferta, mostrando que a sua pessoa não foi aceita na base da oferta. As melhores obras dos santos são imperfeitas e acompanhadas de pecado e somente são aceitáveis a Deus em e por Jesus Cristo, o Amado, somente nEle e por meior dele é que as pessoas são aceitas e agradáveis a Deus. Nenhum homem pode ser justificado ou salvo pelas próprias obras, e portanto, nenhum homem pode ser aceito por Deus desta forma. Esta é a doutrina geral das Escrituras Sagradas: isso nos ajudará a entender o verdadeiro sentido de tais passagens como Atos 10.35, Romanos 14.18, II Coríntios 5.9, comparado com Efésios 1.6, e I Pedro 2.5.

2. Nem sequer essas palavras supõem que a aceitação do homem para com Deus se firme sobre as obras. A palavra hebraica tas, pois há apenas uma palavra no texto original que nossos tradutores traduzem, não é certo que serás aceito? Significa ou excelência, como em Salmo 62.4, e pode indicar a dignidade da primogenitura, ou a honra da primogenitura, como é em Gênesis 49.3, e assim pode ser traduzido, não é certo que terás a excelência? Isto é, o direito da primogenitura não continuará contigo? A honra e o privilégio de ter nascido primeiro não permanecerão contigo? Você não precisa temer que isso lhe seja tirado e dado ao seu irmão mais novo, quem é disposto a submeter-se a você e pronto para servir-te. Essas palavras concordam bem com o final do texto, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar, ou como a palavra significa uma elevação, ou levantar; e é para ser entendido como Aben Ezra observa em “Mygp tas”, um erguer do semblante, que descaiu, versículos 5 e 6, e, portanto, o sentido é: se tivesse feito o bem, quando trouxeste a sua oferta, tu poderias ter levantado o teu rosto sem mancha, e sem dúvida, tu poderia assim fazer; mas na medida em que pecou e fez o mal, o qual pode ser visto na seu semblante descaído, o pecado jaz a porta da sua consciência; que, uma vez aberto, entrará e fará uma obra terrível como o fez pouco depois, que lhe fez falar, É maior a minha maldade que a que possa ser perdoada. Mas admitir que a palavra signifique aceitação e permitir que seja traduzido: não é certo que serás aceito? É para entender, não a aceitação da sua pessoa, mas dos seus sacrifícios e serviços.

III. Permanece a ser considerado, se Caim tinha um dia de graça , no qual era possível ele ser aceito por Deus.

1. Não há aceitação da pessoa de nenhum homem, exceto quando este é considerado em Cristo, O Mediador. Agora não há nenhuma razão para acreditar que alguma vez Caim, quem era do iníquo, o diabo, foi encontrado em Cristo, ou jamais considerado nEle; portanto, não há nenhuma razão para concluir que ele era ou que fosse possível, ele ser aceito por Deus.

2. O texto não fala de o seu fazer o bem em sentido moral ou espiritual, mas de um modo cerimonial; e jamais da aceitação da sua pessoa, com base nas suas boas obras, no máximo fala apenas da aceitação do seu sacrifício e serviços cerimoniais, supondo que tivessem sido realizados corretamente.

3. As palavras ditas por Deus a Caim não expressam o dia da visitação da graça e misericórdia sobre ele, mas são consideradas uma admoestação para ele devido a sua ira, fúria, semblante descaído, e uma repreensão sobre ele por causa da sua iniquidade, a fim de acordar a sua consciência e trazer-lhe a um sentido pleno do seu pecado; que era tão longe de provar um dia de graça para ele, que logo causou angústia extrema, tortura de consciência, e desespero negro.

Barclay’s Apology, p. 151

In loc.

Assim diz Barclay na sua Apology, p. 154

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: David Gardner, 07/2012 Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 03/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento, 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br