A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill:

Seção 3 – Deuteronômio 5.29

"Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem todos os meus mandamentos todos os dias, para que bem lhes fosse e a seus filhos para sempre."

I. Comenta-se que esses desejos veementes de Deus para o bem do Seu povo são irreconciliáveis com os Seus decretos de eleição e reprovação, e supondo esses decretos, eles são representados como hipócritas: aos quais podem ser respondidos:

1. Não há nenhuma contradição em Deus fortemente desejar coisas boas, até a própria salvação para alguns, não para todos, mas, está perfeitamente de acordo com a doutrina da eleição. Se qualquer coisa for falada com o propósito de militar contra essa doutrina, deve ser falado e provado que Deus tem fortemente desejado a salvação de toda a humanidade; de qual afirmação estas palavras não servem de prova, já que são acerca apenas do povo de Israel, o qual era o menor de todos os povos. Quanto àquelas Escrituras que representam Deus querendo que todos os homens se salvem (I Timóteo 2.4; II Pedro 3.9), e não querendo que alguns se percam, elas serão consideradas nos seus devidos lugares.

2. Pode parecer repugnante a estes decretos, implicar hipocrisia e astúcia, se pode ser produzido qualquer instância de Deus ardentemente querendo a salvação daqueles que as Escrituras representam como Deus tendo os rejeitado, entregues a uma mente réproba, vasos de ira preparados para destruição ou que não serão eventualmente salvos, mas nenhum dirá: Tais eram o povo cujo bem e prosperidade foram desejados veemente nesta passagem da Escritura. Pois

3. essas são as instâncias mais impróprias que poderiam ser consideradas: já que foram de um povo peculiar ao Senhor, quem Ele tinha escolhido para Si mesmo, com objetivo de torná-los um povo especial, acima de todos os povos na face da terra (Deuteronômio 7.6).

II. Dizem que esses desejos ardentes, também, considerando a doutrina da redenção particular, são cheios de dolo, engano, insinceridade, dissimulação e hipocrisia; aos quais eu respondo.

1. A doutrina da redenção particular é uma doutrina das Escrituras. Cristo morreu não por todos os homens, mas por alguns apenas que são chamados Seu povo, Suas ovelhas, Sua igreja, a não ser que todos os homens possam ser chamados povo, ovelhas e a igreja de Cristo.

2. Deve ser afastada de Deus, a acusação da blasfêmia de dolo, engano, insinceridade, dissimulação e hipocrisia, pois Ele não pode mentir, nem enganar, nem dissimular, nem negar a Si mesmo, pois também é o Deus da verdade, sem iniquidade; Justo e Santo. Muito menos afastar de Deus

3. que o Seu desejo veemente para o bem deste povo, por quem Ele tivera tão grande consideração ao ponto de redimi-los da escravidão do Egito, implica qualquer coisa desta natureza ao supor a doutrina de redenção particular, como têm sido observado em respostas às perguntas anteriores. É necessário provar que Deus tem sempre usado tais expressões de vontade para a salvação de toda a humanidade, e especialmente daqueles que não são salvos; dentre os quais nenhum desejará colocar o povo de Israel, especialmente porque é dito (Romanos 11.26) que todo o Israel será salvo. E,

4. afinal, essas palavras não expressam o desejo de Deus para a sua eterna salvação, mas somente para o seu bem e bem-estar temporário, e o da sua posteridade; pois a sua eterna salvação não foi obtida por obras de justiça que eles fizeram, pelo seu temor e adoração a Deus ou pela sua obediência universal e constante aos Seus mandamentos. Eles foram salvos pela graça do Senhor Jesus Cristo, assim como nós. O seu temor ao Senhor e obediência à sua vontade trouxeram a abertura de fato da sua prosperidade temporária, e nesse sentido, foram rigorosamente intimados para que pudessem viver; bem lhes suceder e terem os seus dias prolongados na terra que possuiriam, como aparece no versículo 33; e com visão a isto, Deus ardentemente desejou essas coisas a eles, e para serem feitas por eles.

III. Pensa-se que tais expressões patéticas sugerem que Deus dá a todos os homens a graça suficiente para conversão e para militar contra a necessidade da operação irrecusável da sua graça nessa obra.

1. Admitindo que a obra salvadora da conversão seja desejada aqui; tal obra, não de forma necessária, supõe que a graça suficiente para ela foi ou será dada, e se a coisa desejada foi efetuada, não se deve concluir, portanto, que ela não foi realizada pela operação da irresistível graça de Deus.

2. Ao aceitar que essa graça, um coração para temer ao Senhor, e tudo que é requisito para ele, foram dados aos Israelitas, Com base nisso não se deve concluir que todos os homens tenham a mesma a mesma coisa, ou que Deus deseje o mesmo para todos os homens.

3. Nós não devemos imaginar que tais veleidades e desejos estejam rigorosamente em Deus, Quem fala aqui, como R. Aben Ezra observa, Mda ygb zwvlk, por uma antropopatia, segundo a maneira dos homens; tais desejos foram atribuídos a Ele da mesma maneira que paixões e afetos humanos são: como ira, tristeza, arrependimento e desejos semelhantes: nem os tais desejos e vontades declaram o que Deus faz ou vai fazer, mas o que ele aprova, e são gratos a Ele; como um coração temente a Ele e uma obediência constante e universal aos Seus mandamentos.

4. As palavras são versadas por alguns, porque eles não expressam nenhuma vontade ou desejo por Deus, mas não obstante aquilo que é desejado pelos próprios Israelitas; assim a versão Árabe, deve ser desejada por eles, que tal coração continuará neles; isto é, o coração que eles professaram ter no versículo 27, quando falaram a Moisés: “Chega-te tu, e ouve tudo o que disser o SENHOR nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o SENHOR nosso Deus, e o ouviremos, e o cumpriremos”. O Senhor observa esta declaração, no versículo 28: Eu ouvi, diz Ele, as palavras deste povo, que eles te disseram; em tudo falaram bem; e depois acrescenta: segundo esta versão, que uma continuação de tal coração de ouvir e fazer será muito desejável por eles. Além disso, as palavras zty ym, podem ser traduzidas como são pela Septuaginta, tisdwsei, Quem dará? E, portanto, ser consideradas uma interrogação, como o próprio Dr. Whitby diz: Quem lhes dará este coração? Eles não poderiam dar a si mesmos: nenhuma criatura poderia dá-lo a eles; somente Deus poderia dar-lhes um coração assim. E talvez esse modo de expressão possa ser usado de propósito para convencê-los da falta de um coração como este, e que apenas Deus poderia dá-lo a eles; e, portanto, devem buscá-LO para obter e não presumir como eles parecem fazer ao ouvir os Seus mandamentos e obedecê-los na sua própria força, sem a assistência da graça. Ou,

5. essas palavras podem ser consideradas como uma repreensão do povo, pela falta de um coração temente ao Senhor e pela mesma falta de habilidade para guardar os Seus mandamentos, que sempre, não obstante as jactâncias vãs e resoluções vazias que acabaram de fazer. Do mesmo modo, devemos considerar as expressões patéticas de natureza parecida; tais como: Deuteronômio 32.28, 29 e Salmos 81.11-13.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: David Gardner, 07/2012
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/2004
Revisão gramatical: Erci Nascimento 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br