A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 8—Salmo 125:3

“Porque o cetro da impiedade não repousará sobre a sorte dos justos, para que os justos não estendam as suas mãos para cometer a iniqüidade.”

Estas palavras são usadas [1] para provar que "os santos ou verdadeiros crentes, ou homens que já foram verdadeiramente bons, podem deixar de ser assim: pois dizem que este versículo insinua claramente a que grandes e duradouras impressões podem ter esse efeito sobre eles para pisar com confiança no que Deus é assim cuidadoso em evitar. Assim, o justo não tem necessidade de se cuidar para evitar aquilo que Deus tem absolutamente decidido preservar. Estranho! Veja bem:

I. A doutrina da perseverança final dos santos é perfeitamente esclarecida nos dois versículos anteriores a este salmo: “Os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não pode ser abalado, mas permanece para sempre. Como estão os montes ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está ao redor do seu povo, desde agora e para sempre.” Se eles (os que são os santos, os verdadeiros crentes, os homens realmente bons) confiam no Senhor, eles são como o monte Sião, não podem; portanto, ser removidos nem do coração de Deus, nem podem ser arrebatados das mãos de Cristo. Porém, ficarão ali para sempre e, consequentemente, não podem deixar de ser o que são. Se como os montes ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está ao redor das mesmas pessoas antes descritas, que são o Seu povo (e este o é para sempre), como é possível que ele venha então a perecer?

II. Estas palavras estão diretamente ligadas àquelas que as precede e expressam tal efeito nos que confiam no Senhor, que devem certamente os acompanhar a partir do estado seguro e da sua situação feliz ??? porque elas estão com eles, é que: portanto a vara dos ímpios — um governo tirano, as opressões e perseguições de homens ímpios — aos quais os santos são frequentemente sujeitos, não repousará, “será contínua”, sobre a sorte, e não as costas, como o Dr. Whitby cita estas palavras, dos justos. Tal sorte dos justos significa tanto as suas próprias pessoas como seus bens, para que os justos, que são feitos assim pela justiça de Cristo, não estendam as suas mãos para cometer a iniquidade. Isto quer dizer que eles são impedidos de cometer iniquidade, pois mediante as opressões dos homens ímpios, da instigação de Satanás, e seus próprios corações, eles de outra forma correriam risco de ser movidos para fazer o que seria uma afronta a Deus, assim trazendo reprovação aos caminhos dEle, e até vindo a ferir suas próprias almas. Devemos notar que eles poderiam fazer tudo isto e ainda não deixarem de ser santos, crentes verdadeiros e verdadeiramente homens bons, como de forma clara exemplificam os casos de Davi, Pedro e outros. O justo pode estender as mãos para cometer a iniquidade e cair em grandes pecados, mas nem por isso totalmente cairão ou então cairão ao ponto de se perderem e perecerem de vez. A apostasia total não é o que significa a frase não estendam as suas mãos para cometer a iniquidade.

III. É mais estranho ainda que o cuidado Divino em impedir que os justos estendam as suas mãos para cometer a iniquidade, deve ser usado em um argumento contra a perseverança dos salvos, assim militando em favor de sua apostasia. Iremos prontamente concordar que aquilo que Deus tem cuidado de evitar, e mesmo supondo que pudesse ser apostasia total, eventualmente aconteceria aos justos se estes dependessem das suas próprias forças para impedir tal apostasia e fossem destituídos da poderosa proteção de Deus. Na realidade, nem haveria a possibilidade de ser de outra forma! Mas já que o cuidado e o poder de Deus são tão grandemente empregados para preservá-los, é impossível que os justos caiam na apostasia total.

IV. É também um erro grave dizer: “não devemos tomar cuidado para evitar aquilo que Ele (Deus) está se esforçando para nos proteger”. O comprometimento de Deus para preservar o seu povo é a verdadeira razão de Seus cuidados por ele, e isto é necessário para impedir que eles façam a iniquidade que seria feita por eles de outra forma. Deus tem soberanamente resolvido, determinado e colocado em efeito que aqueles que nEle confiam, não devem ser removidos, mas ficarão para sempre. Portanto, Ele estará ao redor deles para sempre e cuidará deles para que nada os fira ou destrua. Ele os manterá pelo Seu poder por meio da fé para a salvação.

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ANOTAÇÕES:

[1] Whitby, p. 436; ed. 2. 425.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Benjamin G.Gardner 05/2014
Revisão: Charity D. Gardner e Calvin G Gardner, 05/2004
Revisão gramatical: Erci Nasimento 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br