A Causa de Deus e A Verdade - Parte I - John Gill D.D.

Seção 11—Isaías 1:16, 17

“Lavai-vos, purificai-vos, etc.”

Acredita-se que estas palavras expressem o poder do homem e contradigam a necessidade da graça infrustrável na conversão. O argumento deles é formado desta maneira: [1] "Se a conversão é efetuada apenas pela operação infrustrável de Deus, e o homem é puramente passivo nela, todos estes mandamentos e exortações dirigidas a homens ímpios são vãos. A fraqueza de tal conclusão aparecerá ao se considerar particularmente cada mandamento ou exortação.

1. “Lavai-vos, purificai-vos”. Estes dois devem ser considerados como um só, uma vez que eles pretendem ser a mesma coisa, e supondo que no seu estado natural, os homens sejam imundos e impuros; e de fato sua imundícia seja de tal sorte e modo, que eles não podem purificar-se a si mesmos, quer por abluções cerimoniais ou serviços morais, ou ordenanças evangélicas; pois “quem poderá dizer: “Purifiquei o meu coração, limpo estou do meu pecado?”(Provérbios 20:9). Esta é uma a obra apenas de Deus, como é mostrado em Suas promessas de limpar o Seu povo dos seus pecados; a partir do derramamento completo do sangue de Cristo e da eficácia deste, das influências santificadoras do Espírito, e das orações a Deus feitas pelos santos, isto é, por quem já se converteu (Salmos 51:2,7,10), que Ele criaria corações limpos neles, lavaria completamente as suas maldades e os purificaria de seus pecados. Contudo, se caso é esse : A purificação do pecador é obra exclusiva de Deus, com a total incapacidade de o homem purificar-se do pecado por iniciativa e esforço próprio. Alguém poderá argumentar: “Então, qual a finalidade das exortações citadas? Eu respondo: Para convencer os homens de sua imundícia e de que eles necessitam ser lavados e limpos do que são naturalmente ignorantes, pois existem muitos que são “puros aos seus próprios olhos e ainda não foram lavados de sua imundícia (Provérbios 30:12); como também, para fazê-los cair em si da própria incapacidade de se purificarem por iniciativa e esforço próprio, o que parece ser a concepção particular das palavras aqui; uma vez que estes judeus achavam que tinham se lavado de suas imoralidades por meio de seus serviços cerimoniais, os quais, no entanto são rejeitados por Deus, Provérbios, versículos 11-15; e apesar de todas as suas purificações legais, eles são convocados para se lavar e se purificar. Além disso, tais exortações podem ser úteis para levar as pessoas a se questionarem: “Quais os meios adequados de purificação?”e assim buscarem a fonte do sangue de Cristo, na qual apenas as almas que são lavadas são purificadas. Estas exortações, portanto, não são em vão, embora a conversão seja realizada apenas pela operação infrustrável de Deus, e o homem seja puramente passivo nela. Esta visão delas vai nos ajudar a entender corretamente algumas passagens paralelas, tais como: Jeremias 4:14, 13:27, 2 Coríntios 7:1; Tiago 1:21 e 4:8, as quais geralmente fazem companhia a estas.

2. Tirai de diante dos meus olhos a maldade das vossas ações. O mal deve ser eliminado da nação quando quem o praticou for punido, veja Deuteronômio 13:5, e Deuteronômio 17:7, 12; e quando uma família, e pessoas em particular que não se sentem estimuladas a praticá-lo

e se abstêm dele, Jó 11:14 e 22:23. Mas deve ser observado, que a exortação aqui não é apenas para deitar fora suas ações, mas o mal delas; e não de si mesmos, mas de diante dos olhos de Deus. Agora, para tirar o pecado neste sentido, é levá-lo para longe, removê-lo, como aquele que é perdoado, e os homens absolvidos e quitados dele, mas isto é impraticável para os homens, e é um ato apenas de Deus, como é evidente de suas promessas para remover os pecados de seu povo; a partir do sacrifício completo de Cristo que era para tirar o pecado para sempre, e das orações dos santos, que desejam que Deus tire toda a iniquidade, e eles recebam o que é bom. Mas então por que é dada tal exortação? Primeiro para convencer os homens que tirar fora o pecado de diante dos olhos da justiça vingativa de Deus, é absolutamente necessário para a salvação; e então esses homens não podem fazer isto por meio de todos os seus serviços cerimoniais e morais; porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados (Hebreus 10:4); como também atender e dirigir suas visões para o sacrifício de Cristo, o qual efetivamente o faz; e sem ele, qual é a finalidade dessa multidão de sacrifícios? e vãs são todas as oblações, versículos 11, 12.

3. Cessai de fazer o mal; o que considera tanto uma cessação das obras cerimoniais, as quais sendo efetuadas com intenção maligna, eram uma abominação ao Senhor, versículos 13, 14, ou uma abstinência de imoralidades exteriores; tais como o derramamento de sangue inocente, a opressão o órfão e a viúva, versículos 15, 17. Agora, um homem natural pode ser capaz de se abster de tais enormidades externas da vida, sem supor um poder nele para fazer o que é espiritualmente bom; ou que a graça infrustrável de Deus é desnecessária na conversão.

4. Aprendei a fazer o bem, isto é, fazer atos de justiça, beneficência, liberalidade e caridade, tais como são aqui mencionados: procurai o que é justo; ajudai o oprimido, fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas: tudo o que é mais louvável e pode ser realizado por homens não convertidos, porém, essas atitudes praticadas por não regenerados, não podem, de modo algum, militar contra a passividade do homem, ou a necessidade da graça eficaz de Deus na obra de conversão.

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NOTAS DE RODAPÉ:

[1] Ibid. pág. 237; ed. 2. 231.

 

Autor: John Gill,D.D.
Tradução: Hiralte Fontoura 08/2012
Revisão: Calvin G Gardner, 05/2014
Revisão gramatical: Erci Nascimento 08/2014
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br