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Capítulo 26 – A doutrina da justificação

[Índice]

I. A JUSTIFICAÇÃO DEFINIDA

A justificação é aquele ato de Deus instantâneo, eterno, gracioso, livre e judicial, pelo qual, devido ao mérito do sangue e da justiça de Cristo, um pecador arrependido e crente é livrado da penalidade da Lei, restaurado ao favor de Deus e considerado como possuindo a justiça imputada de Jesus Cristo; em virtude de tudo de que recebe adoção como um filho.

II. O AUTOR DA JUSTIFICAÇÃO

Deus é o autor da justificação. O homem nada tem que ver com a sua justificação, salvo para recebê-la através da fé que o Espírito Santo o habilita a exercer. A Escritura declara: “É Deus que justifica” (Rom. 8:33). E outra vez lemos: “Sendo justificados livremente pela Sua (de Deus) graça por meio da redenção que está em Cristo Jesus” (Rom. 3:24).

De Cristo se pode dizer que nos justifica só no sentido que Ele pagou o preço da redenção.

III. A NATUREZA DA JUSTIFICAÇÃO

1. É INSTANTÂNEO

É um ato e não um processo. Ocorre e está completa no momento em que o indivíduo crê. Não admite graus ou fases. Do publicano se diz ter descido à sua casa justificado. Ele foi justificado completamente no momento em que colocou sua fé na obra propiciatória de Cristo. A justificação do crente está posta sempre em tempo passado. Em toda a Bíblia não há o mais leve vislumbre de um processo contínuo na Justificação.

2. É ETERNA

Quando alguém se justifica, justificado está por toda a eternidade. A justificação não pode jamais ser revogada ou revertida. É uma vez por todo o tempo e eternidade. Por essa razão Deus pergunta: “Quem lançará qualquer acusação contra os eleitos de Deus?” (Rom. 8:33). Cristo pagou inteiro resgate e fez completa satisfação por todos os crentes; doutra maneira Cristo teria de morrer outra vez, ou então o crente cairia em condenação pelos seus pecados futuros. Mas lemos que a oblação de Cristo se fez uma vez por todas (Heb. 10:10), e que o crente “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24).

Tanto quanto a posição do crente está em foco, ele já passou o juízo. Foi julgado e absolvido completamente e eternamente. Que Paulo ensinou uma justificação eterna e imutável mostra-se no fato de ele sentir-se chamado a defender sua doutrina contra os ataques dos que contenderiam que ela dava licença ao pecado. Isto é a acusação que se faz hoje contra a doutrina que ora estabelecemos.

Finalmente lemos: “Por uma oblação Ele aperfeiçoou para sempre aos que se santificam” (Heb. 10:14). Verdade é que são os santificados que estão sob consideração nesta cita, mas é aplicável aos justificados também; porque, santificados e justificados são um. Se os santificados são aperfeiçoados para sempre, assim são os justificados. A perfeição aqui é a de estar diante de Deus.

3. É GRACIOSA E LIVRE

O pecador não merece nada às mãos de Deus, exceto condenação. Logo, a justificação é inteiramente de graça. Está assim estabelecido em toda à parte na Escritura, exceto por Tiago que empregou o significado secundário do termo. No sentido primário do termo a justificação nunca está representada como sendo através das obras ou obediências do homem. Vide Rom. 3:20; 4:2-6; Tito 3:5.

E, enquanto que a justificação é na base da obra meritória e expiatória de Cristo, contudo, da parte de Deus, é livre e espontânea, tanto quanto Deus não estava sob nenhuma obrigação de aceitar a Cristo como nosso substituto.

4. É SOMENTE JUDICIAL E DECLARATIVA

A justificação, no sentido primário, é um termo forense ou legal. É um ato do tribunal do céu. Não faz o crente internamente justo ou santo. Fá-lo justo apenas quanto à sua posição. Muitos confundem sem cessar justificação e santificação; mas não são a mesma coisa. Justificação é apresentada como o oposto de condenação, ao passo que santificação como o oposto de uma natureza pecaminosa. Vide Rom. 5:18.

IV. O FUNDAMENTO DA JUSTIFICAÇÃO

O fundamento da justificação é o sangue e a justiça de Jesus Cristo. A fé é um meio de justificação, mas não é o fundamento dela. Nada no homem é fundamento da justificação. Deus requer perfeição. O homem, por causa da depravação da carne, não pode render obediência perfeita até mesmo depois da regeneração. Daí a justificação deve achar seu fundamento fora do homem.

A justificação toma tanto o sangue como a justiça de Cristo para constituir o seu fundamento. O Seu sangue nos justifica negativamente ; Sua justiça, positivamente. Em outras palavras, o sangue paga a penalidade pelos nossos pecados e a justiça dá posição positiva perante Deus.

Não há contradição entre Tiago e Paulo quanto ao fundamento da justificação. Paulo simplesmente usou a palavra grega “dikaioo” no seu sentido primário, para significar fazer alguém legalmente justo, ao passo que Tiago a usou no seu sentido secundário, para significar como mostra e prova estar alguém justo ou tal como devera estar. O mesmo uso que Tiago faz do termo pode-se achar também em Mat. 11:9 e 1 Tim. 3:16. Paulo ensina que nos é dada uma posição justa diante de Deus pela fé; Tiago ensina que provamos nossa justificação pelas nossas obras.

Tanta necessidade há de reconciliar Tiago consigo mesmo como de reconciliar Tiago com Paulo; porque Tiago afirma que “Abraão creu em Deus e que isso lhe foi reconhecido como justiça” (Tiago 2:23). Vide Rom. 4:3.

V. O MEIO DE JUSTIFICAÇÃO

A fé em Cristo é o meio de justificação. Isto é, pela fé é que a justificação é aplicada ou feita experiencial. Ninguém se justifica senão os que crêem. A fé é logicamente anterior à justificação, ainda que não cronologicamente anterior. A justificação é através da fé porque a justificação é só uma de uma série de atos pelos quais Deus nos ajusta para Seu reino aqui e além. Sem fé a justificação se estragaria e não ajudaria a realizar o propósito de Deus em nós.

A fé não tem mérito em si ou de si mesma. Ela não é aceita em lugar da nossa obediência. Nem ela produz um rebaixamento do padrão de Deus, de modo que possamos ganhar favor com Deus pelas nossas obras.

VI. OS BENEFÍCIOS DA JUSTIFICAÇÃO

1. LIBERDADE DA PENALIDADE DA LEI

Em Rom. 10:4 lemos: “Cristo é o fim da Lei para justiça de todo àquele que crê”. E Gal. 3:13 diz: “Cristo nos remiu da maldição da Lei fazendo-se maldição por nós.” Isto quer dizer que, para o crente, a Lei não é mais um instrumento de condenação. Cristo arrancou-lhe as garras para o crente. O Monte Sinai ajuntou-se em tremenda fúria e atirou seus dardos de condenação contra Cristo sobre o madeiro. Ele recebeu esses dardos no Seu próprio corpo na cruz, consumiu sua força e robou-lhes o poder de condenarem o crente. Por essa razão o crente nunca entrará em condenação (João 5:24; Rom. 8:1). Cristo morreu como substituto do crente; daí o crente é para a Lei como um já morto.

2. RESTAURAÇÃO AO FAVOR DE DEUS

A justificação não só alforria meramente o homem da penalidade da Lei: fá-lo à vista de Deus como um que nunca quebrou a Lei. A justificação torna o crente tão inocente perante Deus em relação à sua posição como Adão foi antes de cair.

3. IMPUTAÇÃO DA JUSTIÇA DE CRISTO

As passagens seguintes ensinam que, na justificação, a justiça de Cristo nos é imputada ou reconhecida: Rom. 3:22, 4:3-6, 10:4; Fil. 3:9.

Estas passagens nos ensinam que o crente não só é inocente perante Deus, mas é considerado como possuindo a perfeita justiça de Cristo; logo, tanto quanto se considera a posição e o destino do crente, ele é reconhecido como sendo tão justo como Cristo. Sua posição perante Deus é a mesma como aquela de Cristo. Nesta conexão o imortal Bunyan escreveu: “O crente em Cristo está agora, pela graça, envolto sob uma justiça tão completa e abençoada que a Lei do Monte Sinai não pode achar nem falta nem diminuição nele. Isto é o que se chama a justiça de Deus pela fé.”

4. ADOÇÃO DE FILHOS

Lemos: “Deus enviou Seu Filho… para remir os que estavam debaixo da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” (Gal. 4:4,5). É na base desta redenção que somos justificados. A adoção é o topo da justificação. Cristo tomou nosso lugar; portanto, quando cremos nEle, tomamos Seu lugar como um filho. É assim que recebemos o direito de nos tornarmos filhos. Está em ordem a adoção para que sejamos “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo” (Rom. 8:17), e para que tenhamos um direito legal à herança “incorruptível e impoluta, que não fenece, reservada no céu” para nós (1 Pedro 1:4). Quando fomos justificados, já éramos filhos do diabo. Não podíamos ser inascíturos como tais; daí tínhamos de ser transferidos da família do diabo para a de Deus por adoção. Tornamo-nos filhos experiencialmente pela regeneração, mas legalmente pela adoção. Regeneração e adoção não são as mesmas.

5. PAZ COM DEUS

Rom. 5:1. O crente tem paz com Deus por causa do conhecimento e através do conhecimento de todos os benefícios precedentes.

Um sumário: De maneira a ajudar o estudante a agarrar melhor o que temos dito, damos o seguinte sumário, o qual é adaptada da discussão de Bancroft sobre o método da justificação (Elemental Theology, pág. 206).

Somos justificados:

1. Judicialmente por Deus. Rom. 8:33

2. Causalmente pela graça. Rom. 3:24

3. Meritória e Manifestamente por Cristo.

(1). Meritoriamente pela Sua morte. Rom. 5:9

(2). Manifestamente pela Sua ressurreição.

Rom. 4:25. A ressurreição de Cristo manifestou o valor justificante de Sua morte.

4. Mediatamente pela Fé. Rom. 5:1.

5. Evidencialmente pelas Obras. Tiago 2:14-24.

Autor: Thomas Paul Simmons, D.Th.
Digitalização: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos, 2004
Revisão: Luis Antonio dos Santos – 10/12/05
Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

Published inTeologia sistemática T. P. Simmons