Cap 05

A LINDA SENTENÇA EXPLORADA

Dr. W. C. Taylor

Capítulo V

O capítulo V do opúsculo a que respondemos se ocupa do convite de Jesus: “Deixai os meninos, e não os impeçais de virem a mim.” O abalizado teólogo presbiteriano dedica duas páginas à discussão de uma palavra grega no texto original. Portanto , embora contra nosso gosto, e sem pedantismo, estamos obrigados a acompanhar, em várias partes deste livro, o nosso amigo, no terreno que penetrou e abriu para discussão. Isso procuramos fazer de um modo compreensível a quem não entenda a língua grega e incontestável pelas autoridades citadas.

Visto ser o supremo esforço dos pedobatistas sua interpretação desta sentença de Jesus, nós a citaremos, segundo os três Evangelhos, que a dão, no grego e no vernáculo, e veremos na própria Bíblia a maneira de empregar os termos e expor idéias iguais em passagens paralelas, juntamente com o significado dos vocábulos em discussão.

Mat. 19:13-15: “Então lhe trouxeram alguns meninos, para que lhes impusesse as mãos e orasse por eles: e os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Jesus, porém, disse: Deixai os meninos, e não os impeçais de virem a mim; porque dos tais é o reino dos céus. Depois de lhes impor as mãos, partiu dali.”

tote proshnecqh autw paidia ina taj ceiraj epiqh autoij kai proseuxhtai oi de maqhtai epetimhsan autoij o de ihsouj eipen afete ta paidia kai mh kwluete auta elqein proj me twn gar toioutwn estin h basileia twn ouranwn kai epiqeij autoij taj ceiraj eporeuqh ekeiqen

Marcos 10:13-16: “Então lhe traziam alguns meninos para que os tocasse; os discípulos repreenderam aos que os trouxeram. Mas Jesus, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: Deixai vir a mim os meninos, não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o reino de Deus como menino, de modo algum entrará nele. Abraçando os meninos, os abençoava, pondo as mãos sobre eles.”

kai proseferon autw paidia ina ayhtai autwn oi de maqhtai epetimwn toij prosferousin idwn de o ihsouj hganakthsen kai eipen autoij afete ta paidia ercesqai proj me kai mh kwluete auta twn gar toioutwn estin h basileia tou qeou amhn legw umin oj ean mh dexhtai thn basileian tou qeou wj paidion ou mh eiselqh eij authn kai enagkalisamenoj auta tiqeij taj ceiraj ep auta hulogei auta

Lucas 18:15-17: “Traziam-lhe também as crianças, para que as tocasse: e os discípulos, vendo isto, repreendiam aos que as traziam. Mas Jesus, chamando-as para junto de si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais; pois dos tais é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o reino de Deus como um menino, de maneira alguma entrará nele.”

proseferon de autw kai ta brefh ina autwn apthtai idontej de oi maqhtai epetimhsan autoij o de ihsouj proskalesamenoj auta eipen afete ta paidia ercesqai proj me kai mh kwluete auta twn gar toioutwn estin h basileia tou qeou amhn legw umin oj ean mh dexhtai thn basileian tou qeou wj paidion ou mh eiselqh eij authn

É pena, é lastimável, é repreensível, é um desserviço aos Evangelhos que esta linda narrativa, tão simples, tão tocante, cuja inteira significação é tão patente, seja arrastada para o terreno eclesiástico, para fins sectários, para uma interpretação forçada, desnatural e antievangélica. A culpa não é dos batistas, os quais dão ao incidente seu pleno valor e significação espiritual comovedora.

É categoricamente certo, e pela Bíblia declarado, que Jesus não batizou aqueles meninos. João, o apóstolo amado, nos declara, sem rodeios, que Jesus nunca batizou a ninguém. O apóstolo abre parêntese, na sua declaração de que Jesus “fazia e batizava mais discípulos do que João”, a fim de explicar (“se bem que Jesus mesmo não batizava, mas sim seus discípulos”) (João 4:2). Ora, se Jesus mesmo não batizava, então Jesus mesmo não batizou esses meninos. Quem os batizaria? Os discípulos faziam este serviço em lugar e em nome de seu Mestre. Foram os discípulos, pois, que batizaram os meninos? Hipótese impossível. Os discípulos se desassociaram do incidente inteiro; repreenderam os que traziam os meninos; parte nenhuma tomaram. Só Jesus agiu favoravelmente com os meninos, e Jesus nunca batizou a quem quer que fosse, menino ou adulto.

Que cegueira psicológica é a interpretação sacramentalista deste lindo sucesso! Os irmãos presbiterianos supõem que Jesus estava a favor do batismo infantil e seus apóstolos foram batistas e seu Mestre presbiteriano? Tinha havido batismos infantis antes deste tempo, conhecidos aos apóstolos, ou foi iniciado o “sacramento” depois deste tempo? Se foi depois, então, como é que esta passagem vem ao caso, numa discussão, para provar o batismo infantil, visto que ninguém ainda podia saber ou se opor a uma cerimônia que ainda não existia? Mas, se o batismo infantil já era rito estabelecido, como se pode imaginar que os apóstolos em coro unânime levantariam sua voz em protesto contra um sacramento já conhecido? Resta um terceiro alvitre. Talvez Jesus seja julgado de ter feito o primeiro batismo infantil neste incidente mesmo. Sejamos generosos e cedamos que há mais este alvitres. Mas então Jesus não se mostrou razoável! Como não se explicou? – “Ora, senhores apóstolos estou inaugurando agora um sacramento, o batismo de crianças. Em lugar de protestardes contra o que faço, arranjai água para a aspersão, visto que sois meus agentes em batizar e bem conheceis que eu não batizo.” Mas tal explicação não se deu. Jesus parece culpar os apóstolos por uma falta em si mesma repreensível, sua falta de amor e paciência para com os meninos. Nada de razões. Nada de fórmulas. Nada de água. Nada de aspersão. Nada de padrinhos ou credo ou votos ou cerimônia de espécie alguma. E se os apóstolos não souberam com antecedência que isto era a inauguração do batismo infantil, como é que os que trouxeram os meninos sabiam traze-los? Jesus ia tramando planos de novos sacramentos com desconhecidos e, ao mesmo tempo, escondendo um plano de tão vasto alcance dos seus mais íntimos amigos, a quem disse uma vez: “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai”? Onde, pois, está a revelação do batismo infantil?

Não consente, porém, o pedobatista olhar o espírito do sucesso, nem considerar a impossibilidade psicológica dessa oposição apostólica a um sacramento por Jesus ordenado. Custe o que custar, aqui temos de dar na linguagem bíblica uma injeção sacramentariana da idéia do batismo infantil , porque se não há batismo infantil aqui, não o há em canto nenhum em o Novo Testamento. Logo tem que haver aqui, mesmo que não o haja!!

Bom. Vamos busca-lo, servindo-nos de guias nossos amigos pedobatistas. Onde está a idéia de batizar? Olhemos debaixo das capas de todos os verbos para ver se a encontramos: “trouxeram”= batizar? “Impusesse”= batizar? “Orasse”= batizar? “Repreenderam”= batizar? “Deixai”= batizar? “Não impeçais de vir”= batizar? “Partiu”= batizar? “Traziam”= batizar? “Tocasse”= batizar? “Indignou-se”= batizar? “Disse-lhes”= batizar? “Receber”= batizar? “Entrará”= batizar? “Abraçando as mãos”= batizar? Aí esta a bagagem verbal dos Evangelhos Sinópticos sobre o incidente. Onde está escondido o Saul do escolhido verbo pedobatista batizar em toda essa bagagem? Trazei-o perante o Israel de Deus a fim de que o coroemos com os lauréis sacramentais. Não está? Em nenhum desses verbos? Talvez em todos eles juntos? Talvez trazer + impor as mãos + orar + repreender + deixar + não impedir + partir + tocar + indignar-se + dizer + receber + entrar + abraçar + por as mãos = batizar! Sim, talvez. Mas que sacramento complexo é esse do batismo infantil! Tanto rodeio para dizer que Jesus batizava, “se bem que Jesus mesmo não batizasse” (João 4:2).

Agora, palavra por palavra. Sigamos o fio pedobatista, no labirinto de sua interpretação obcuríssima, retendo a Palavra da verdade como lâmpada para os nossos pés.

Oito vezes nos trechos citados dos Sinópticos temos a palavra “menino”, nos lábios de Jesus, e uma vez criança. Lucas usa criança esta única vez e logo em seguida duas vezes menino como sinônimo. Jesus usou um dos dois termos, não ambos. A probabilidade é de oito contra um que ele não falou de crianças, mas sim de meninos. Não recuaremos, porém, de nenhum termo que se possa alegar que Cristo usou.

Ora, os batistas não fazem a mínima objeção ao batismo de meninos. Eu fui convertido quando menino. Meu irmão foi convertido e batizado, tendo nove anos de idade. O Dr. Truett, talvez o mais eminente pregador batista no mundo, disse em sermões que pregou no Brasil, que ele assistiu a uma reunião de 1.500 dos mais eminentes cristãos da América do Norte, de várias denominações. Perguntou-lhes quantos foram convertidos antes de 18 anos de idade, e a vasta maioria se levantou em testemunho à sua conversão quando meninos. Assim, o evangélico verdadeiro deixa os meninos virem a Jesus. Assim, Jesus os recebe. Menino não significa necessariamente uma criança de peito.

Mas, sigamos na pista da palavra. Mateus e Marcos usam uma só palavra grega: paidion. Mas Lucas usa brefos uma vez com paidion duas vezes como sinônimos. (Os evangelistas dão, às vezes, narração aproximada das palavras de Jesus, variando nos termos, mas unidos nos fatos e idéias que testificam). Vejamos o emprego destes termos em o Novo Testamento.

O termo mais favorável à teoria pedobatista é brefos, traduzido criança pela Versão Brasileira. Vejamos se este vocábulo significa criança irresponsável, inconsciente, incapaz de crer e ser salva. De fato, brefos pode significar um feto, se refere, em Luc. 1:41, a João Batista antes do seu nascimento. Mas crianças em estado embrionário não são aspergidas pelos pedobatistas, portanto, podemos investigar outra significação. Em Luc. 2:12 se usa a respeito da criança – Jesus na manjedoura. Mas o termo não se limita a esta idade infantil, e, portanto, o argumento presbiteriano é impotente para limitar a idade desses meninos a uma idade em que não seja possível crerem e ser salvos. O termo é usado em II Tim. 3:15: “Tu , porém, persevera nas coisas que aprendestes e de que tens certeza; sabemos de quem as aprendeste, e que desde a infância sabes as sagradas letras que te podem instruir para a salvação.” O grego é: Desde criança (brefos) soubeste as sagradas letras. Se Timóteo como brefos (criança) soube as sagradas letras, estes meninos podiam como brefa tê-las sabido também. E, se sabendo, podiam ter sido instruído para a salvação, podiam ter-se orientado por esta instrução e ter sido salvos quando receberam a benção de Jesus. Nada há no grego que impossibilite ou dificulte esta idéia.

Visto, porém, que oito vezes o termo paidion é usado a respeito destas crianças, vamos ver que idade e responsabilidade o termo permite e sugere. A filha de Jairo que Jesus ressuscitou tinha 12 anos de idade e foi paidion, (paidion) em Mar. 5:39.

Em João 4:49, o oficial do rei usa este termo em referência afetuosa ao seu filho, mas no resto da passagem são usados termos que implicam mocidade, e é declarado categoricamente que o homem e toda a sua casa creram. Logo, esse menino chamado se tornou um crente (João 4:53).

Os meninos a que Jesus se referiu como se assentando na praça, gritando, tocando flauta e dançando foram por Jesus chamados paidia (Luc. 7:32). Acho que um menino que pode tocar flauta na praça pode ser crente.

Jesus disse aos apóstolos: “Moços, apanhastes algum peixe?” (João 21:5). O termo que a Versão Brasileira traduz “moços” é paidia. Em I João 2:12, 13, lemos: “Eu vos escrevo, moços, porque tendes vencido o Maligno. Eu vos escrevi, meninos (paidia), porque conheceis o Pai.” Meninos podiam receber instruções do apóstolo por Epístola e eram conhecedores do Deus Pai. Ora, sabemos o que é conhecer o Pai. “A vida eterna é esta, que conheçam a ti, único verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste”. (João 17:4)

Mas não há o mínimo lugar para especulação sobre a possibilidade destes meninos serem salvos: Jesus mesmo afirma, categoricamente, de meninos que ele toma como exemplo, que são crentes. Antes deste caso já houve outro, Mat. 18:1-6:

“Naquela hora chegaram-se os discípulos a Jesus e perguntaram: Quem é, porventura, o maior no reino dos céus? Jesus, chamando para junto de si um menino (paidia), pô-lo no meio dele e disse: Em verdade vos digo, que se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos (paidion), de modo algum entrareis no reino dos céus. Quem, pois, se tornar humilde como este menino, esse será o maior no reino dos céus. Aquele que receber um menino tal como este, em meu nome, a mim é que recebe; mas quem puser uma pedra de tropeço no caminho de um destes pequeninos que crêem em mim, melhor seria que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho e que fosse lançado no fundo do mar.”

Meninos crentes andavam seguindo a Jesus. Jesus mesmo, quando menino de doze anos, tinha ficado no templo investigando as profundezas da religião. Neste respeito, ele era um menino normal. Entre estes meninos que sempre o ouviam, que forneciam os pães e peixes para seus milagres, e destes participaram, e que cantaram Hosanas na entrada do Filho de Davi em Jerusalém, Jesus tomou um como exemplo de conversão e humildade no reino – “ESTE menino”, não um menino qualquer. Quem quereria tornar-se semelhante a alguns meninos que por aí fazem suas proezas e má-criações?

Agora, a psicologia desses apóstolos em repreender a chegada em outro dia, de nova remessa de meninos – ou da volta dos meninos – é fácil sentir. Esses apóstolos julgavam ser o reino do Messias um reino político em que seriam chefes. Discutem e disputam entre si a chefia. “Mas lá vêem de novo aqueles meninos. Que é que eles entendem de política? Manda-os embora, João. Eles gastam o tempo do Mestre e atrapalham a marcha dos negócios.” Ah! A atitude deles é facilmente compreensível! Já receberam forte repreensão dessa ambição da chefia por Jesus e foram admoestados a se tornarem semelhantes a um daqueles meninos crentes. Quem foi repreendido aguardou a oportunidade de devolver a repreensão. E a dureza da cerviz desses ambiciosos, e seu indiferentismo ao mais sublime patrimônio do reino de Deus – meninos convertidos – fizeram que Jesus ficasse indignado (Mar. 10:13), pois já lhes havia dito que era preferível estar no fundo do mar, e ali ancorado com enorme pedra amarrada ao pescoço, do que ofender um pequeno crente. Sublime lição da salvação, da humildade, da genuína conversão de meninos crentes! Mas nada sobra batismo de criancinhas de peito, a ser aspergidas no meio do seu pranto infantil, porque tais criancinhas nem por um instante se enxergam no horizonte desta narrativa. Se bem que alguns os “Traziam”, não foi nos braços. “Não os impeçais de vir” (não ser trazidas no colo de suas mães), “Vir” – por favor. Vir...

E se quisermos aplicar a exortação aos meninos da atualidade, é oportuno. Não os impeçais de virem a Jesus, de se tornarem “pequeninos que crêem”, pois Jesus disse: “O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora.” “O que vem a mim de modo nenhum terá fome; o que crê em mim, nunca jamais terá sede.” Vir e crer não são duas coisas diferentes. São a mesma atitude do espírito. Vir = crer. Vir a Jesus é crer, e é privilégio de todos os meninos, embora se oponha tudo quanto se chame apóstolo, ontem, hoje e para sempre. Quem não crê em religião de meninos não sabe o que é religião e necessita de radical conversão sobre o assunto, como necessitava os cabeçudos apóstolos da antiguidade, que deixavam o próprio Salvador indignado. Ordinariamente, - mas nem sempre – os que são mais sacramentalistas e mais querem submeter uma criancinha inconsciente a uma cerimônia sem autoridade divina são preciosamente os mais obstinados em impedir que os meninos venham a Jesus, adiando a salvação deles até serem adultos. Esta resolução, em 90% dos casos, os destina ao inferno. É bom que a consciência evangélica desperte e seja admoestada por Jesus e não impeça a conversão de meninos.

Nosso guia nesta investigação muito discute a palavra tais toioutwn. Pessoalmente não vejo motivo de discordar da ilustração do ilustre colega: “A distinção é para alunos tais como este”, isto é, tais = este e outros da mesma categoria ou classe ou aplicação ou caráter, ou seja qual for a base de semelhança na comparação.

De quem é o reino de Deus? Dos tais – twn toioutwn, dos que virem a Jesus Cristo, dos “pequeninos” ou grandes que “crêem em” Cristo, dos convertidos como este menino a quem Jesus se referiu no incidente de Mat. 18. Destes tais – meninos ou velhos – o reino de Deus se compõe. Há qualquer ofensa à linguagem ou ao vocábulo grego ou português neste sentido natural de termo? Não a vejo.

Mas seja bem claro que Jesus não está se referindo a nenhuma criança de peito, dormindo nos braços da mãe ou da ama. Nós não havemos de nos converter para isso! Nem é dos tais que o reino de Deus é composto. Que vamos imitar numa criancinha como aquela? Sua amamentação? Seu choro? Seus movimentos doidos de braços e pernas? Seus risos pouco inteligentes, que mostram gengivas sem dentes? Na imortal palavra do martirizado presidente paraibano: Nego!

“Quem, pois, se tornar humilde como este menino” ... ah! Isto é outra coisa! Temos algo a admirar, a imitar, a alcançar. “Aquele que receber um menino, tal como este”,... ah! Sim, aqui já estamos no terreno de inteligência, responsabilidade, caráter, virtudes formosíssima. Um menino, não um adulto moralmente manchado, torto, depauperado, inchado, gasto, mas um menino na flor de sua vida e personalidade, sem desilusões, já convertido do pecado inato, crente no Salvador, já companheiro alegre e leal de Jesus Cristo, neste menino, sim, e em tais meninos há muito que imitar. Devemo-nos volver para este estado e Deus reinará em nossa vida e o céu se abaixará à terra num ósculo de paz. Este menino, e todos os tais meninos e todos os tais como meninos que vierem a Cristo, seja qual for a sua idade ou sua luta para se humilhar – dos tais (destes e outros de igual fé e humildade e conversão) é o reino dos céus , e os que forem os mais destes modo assimilados a este exemplo de fé juvenil serão os maiores no reino de Deus.

O Prof. Teixeira propõe argumentar sobre o significado de toioutwn. Eu recuso argumentar, pois concordo com a definição dada. Ele concordará comigo sobre a idéia de outra palavra de comparação usada por Jesus Cristo nesta conexão? Refiro-me à palavra ws, como. Muito simples, e bem importante. Volvei a atenção para a passagem de Lucas 18:17, já citada no grego e no português. “Aquele que não receber o reino de Deus como (ws) um menino, de maneira alguma entrará nele.” A partícula é traduzida em outras passagens: “Como se” (Mar. 4:26), “como” (Rom. 5:15), “à medida que” (Gal. 6:10), “um como” (At. 8:8), etc. Tomemos, por exemplo, João 7:46: “Responderam os oficiais: Nunca homem algum falou como este homem.” Está incompleto, embora claro, o sentido. Como este homem... o que? Que é que ele fez? É preciso suprir o mesmo verbo na outra parte da comparação: “nunca homem algum falou como este homem fala.”

Pois bem. Qual é o verbo que se subentende em Luc. 18:17 para tornar claro o sentido da comparação? “Aquele que não recebe o reino de Deus como um menino recebe o reino e Deus, de maneira alguma entrará nele.” Agora, as idéias que ws mostra serem correlativas são completas na comparação.

Mas esta sentença de Jesus é a negação absoluta da teoria fundamental do teólogo pedobatista. E aqui chegamos ao aspecto mais triste das opiniões externadas pelo eminente presbiteriano independente. Se estas opiniões são bem pensadas e representam sua atitude coerente e refletida, então ele não é evangélico!

Esta linguagem antievangélica é de “membros naturais da igreja”, sendo idênticos, no pensamento do autor, a igreja e o reino dos céus. Isto se acha na p. 28 e na p. 29, onde lemos:

“De modo que, no texto de Mateus que nos preocupa, as crianças não podem de modo algum ser excluídas, mas, juntamente com os que se lhes assemelham, fazem parte do reino dos céus.” E na p. 32: “quando Jesus, pois, disse que das crianças é o reino dos céus, ensinou não só que elas vão para o céu quando morrem, mas também que fazem parte da igreja enquanto estão neste mundo. Como os seus semelhantes, em espírito tem direito tanto ao céu como à igreja. Devem, pois, ser batizadas.”

Uma coisa me admira. É que nosso irmão não se lembra de que os adultos da atualidade eram todos crianças há poucos anos. Por sua vez, eram “membros naturais da igreja”, “não podem de modo algum ser excluídos”, “fazem parte do reino dos céus”, “vão para o céu quando morrem”, e “fazem parte da igreja enquanto estão neste mundo”. Mas estes adultos, todos eles ex-crianças, estão neste mundo.” Será que ainda “vão para o céu”? De novo nos achamos em pleno universalismo. As crianças são membros naturais, fazem parte da igreja, “vão para o céu”. Onde, pois, está o lugar da regeneração e fé salvadora das exigências do evangelho? Claramente, estas coisas só são para os adultos que nunca foram crianças! Ainda hei de encontrar entre as muitas e contraditórias teorias do batismo infantil uma que não seja antievangélica. Quem der crédito a esse opúsculo, deve tomar sua Bíblia e tesoura e cortar e queimar o Evangelho de João, capítulo 3. Para que uma doutrina do Novo Nascimento? Jesus diz: “Em verdade, em verdade te digo”- é aviso solene quando Jesus fala assim – “que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Mas, incontinente, esse “alguém” protesta. “Não, Senhor Jesus. Meus mestres presbiterianos assim não entendem. Não ver o reino de Deus, Jesus? Que horror! Impossível. Eu nasci no reino. Sou membro natural dele. Como vê-lo quando foi do lado de dentro dele que primeiro abri meus olhos? Vou para o céu, e não verei o reino do céu?! Sou da igreja, a igreja é o reino do céu. Como, pois, não hei de vê-lo? Não, Jesus. Tu és hereje. Essa doutrina da necessidade do novo nascimento mesmo para espiritualmente enxergar pela primeira vez o reino de Deus é incompatível com o meu batismo infantil.” O católico romano diz que a regeneração é necessária, mas ele diz que a criança nasce da água e do Espírito no batismo infantil. O presbiterianismo responde: “Não. Não é verdade a regeneração batismal, mas é o primeiro nascimento que dispensa o segundo. O que é nascido da carne é espírito, embora Jesus diga o contrário. É membro natural do reino, sem o nascimento sobrenatural.” Logo, este é supérfluo, e o evangelho uma fábula, e cada um coma e beba porque amanhã morrerá e irá para o céu. Tal será a conclusão, como sempre foi a conclusão, de hostes de pecadores romanistas e protestantes que foram batizados na infância.

Entre a doutrina presbiteriana e a católica romana do estado da criança é bem superior a teoria romanista. Ambas são indiscriminadamente falsas, antievangélicas e prejudiciais ao destino da raça humana, uma praga sobre a vida infantil que fica logo desnorteada, para mais tarde julgar que já tem o que pelo contrário precisa receber – o nascimento que o admite para o reino de Deus.

A mãe de todas as heresias na cristandade é a idéia da regeneração batismal, superstição sobre o poder da água que primitivos pagãos, mal convertidos, incorporaram no cristianismo deteriorado dos séculos pós-apostólicos. Logo, a filha primogênita desta princesa de heresias foi o batismo infantil, que quis garantir a regeneração da criança destinada a morrer na infância. Do romanismo, o presbiterianismo afinal revoltou-se e saltou-se para o outro extremo, conservando, porém, o sacramento romanista, adotando em explicação uma teoria antievangélica que dispensa a regeneração, como condição de entrada no reino, do qual as crianças são membros naturais, em virtude apenas do nascimento carnal. É fútil dizer que esta deslealdade ao evangelho é apenas parcial, tendo referência somente às crianças e na capacidade de crianças alcançaram posição na igreja e destino para o céu! O batismo infantil é forçosamente antievangélico. É o âmago do sacramento romanista num exterior de novas frases protestantes.

Dizendo isto, reconhecemos que muitos crentes ignoram a base de ritos que aceitam e outros vivem numa bendita incoerência, gozando gloriosa salvação e apoiando teorias logicamente incompatíveis com a mesma. Mas, embora tantos pedobatistas saibam que foram salvos depois de chegar aos anos responsabilidade, outros são realmente enganados pelas premissas do batismo infantil e assim dispensam o novo nascimento e se perdem. Portanto, não pretendemos julgar a experiência de salvação de nossos irmãos, mas sim mostrar o perigo de um erro, que, para os que por ele se orientam, provará ser outro evangelho. Com toda a sinceridade declaramos: Ai daqueles que do título de cidadão do reino de Deus só tem o nascimento natural!

Como as três passagens no original enriquecem e enaltecem o amor mútuo, a terníssima comunhão, a recíproca confiança, o intercâmbio de apreciação e de deliciosa camaradagem entre Jesus e aqueles meninos! O tempo de vários verbos indica ação contínua, prolongada, ou repetida. Não é um só grupo de meninos que vai a Jesus. Continuaram a traze-los (proseferon). Não é para um toque só, formal e cerimonial, mas que sucessivas vezes os tocasse (apthtai). Não foi uma só repreensão que os apóstolos deram, mas iam repreendendo tantos quantos se iam chegando a Jesus (epetiuwn). Não é uma só oração ou reza de um livro de ordem eclesiástica que Jesus repete de cor ou lê segundo a rubrica, mas (kateulogei) ele repetia bênçãos espontâneas e prolongadas suas eficazes súplicas. E a oração e a bênção não foram uma fria formalidade sacramental, mas cada menino recebeu o afeto e a benção do Senhor num caloroso aperto daqueles braços que haviam de ser estendido no madeiro. Não passou a mão rapidamente de testa em testa, molhando-as com água benta, mas impunha prolongadamente as mãos sobre cada um (tiqeis) . Mas a indignação de Jesus, a um relance, abrasou-se de vez contra os apóstolos que manifestavam tão pouco espírito cristão (idwn e hganakthsen). Deixai de estar impedindo os meninos de chegarem continuadamente a mim (uh Kwluete ercesqa). Ah! Cegueira sectária e ousadia sacramentariana que tens a temeridade de transformar toda esta sublimidade em um rito mágico de derramar água sobre pequeninas cabeças inconscientes e irresponsáveis!

Voltemos à mentalidade de Jesus, abandonando as relíquias do medievalismo que só ligava importância ás criancinhas no terreno da superstição do cristianismo semipagão. Meninos têm vasta possibilidade na religião. E a religião lhes é mais fácil, razoável e natural – sobrenaturalmente natural – do que aos adultos. Uma maldição sobre esse obstinado preconceito que só abre as portas da fé salvadora a adultos! Jesus se indigna contra tamanha cegueira interesseira dos doze. O cristianismo, como seu Cristo, abre os braços para os meninos – não para um arrolamento arbitrário e artificial numa comunhão de crentes regenerados, espiritualmente nascido no reino, e depois batizados e ativos nas igrejas de Deus. Deixai os meninos – não só adultos – ir a Jesus e receber o reino. Os batistas, de uma extremidade do Brasil a outra, estão evangelizando os meninos. Nossa atitude almeja ser a do Salvador. Nossos mais severos críticos, escarnecedores e oposicionista contra a evangelização da juventude e mocidade são ministros presbiterianos, que pregam o evangelho (que não é evangelho), de que “só adultos podem crer”. Tal evangelho é outro evangelho, e é dos maiores obstáculos à salvação do Brasil e á moralização das igrejas. Como os demais “outros evangelhos”, é anátema, segundo a Palavra de Deus.

Jesus deu ao mundo nova mentalidade sobre a juventude. Não sejamos refratários. Não a impeçamos de ir a Jesus e receber o reino. Ninguém nasce no reino. Isso é naturalismo – nega o novo nascimento. Encaminhemos para Jesus nossos filhos que chegam a anos de responsabilidade, e os ensinemos a ser salvos pela fé e a obedecer ao Salvador voluntariamente.

Margarida, a linda irmã de Lord Macauley, disse: “Eu sei de onde veio o estilo sublimemente simples de Jesus. Veio de seu amor às crianças. Essas lindas histórias das parábolas, ele as narrou mil vezes aos pequeninos. Daí seu encanto universal e alcance e todas as inteligências e corações. Imitemos a Jesus. Demos larga expansão à evangelização da juventude. Cercando-se os pregadores do evangelho de meninos e dando-lhes o melhor de seu ensino e o mais cordial e amoroso zelo de sua personalidade, serão melhor compreendidos e mais frutíferos do que no seu ministério aos adultos. Afunde-se no mais baixo abismo do mar do esquecimento, atrás das costas de Deus aquela mentira de Satanás que ousa dizer: “Só um adulto pode crer.” E queira Deus que antes de findar este lustro vejamos uma inteiramente nova mentalidade sobre este assunto em todos os arraiais do evangelismo brasileiro. “Tendes em vós este sentimento que houve também em Cristo Jesus.”

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos - 23/08/05

Revisão: Luis Antonio dos Santos - 24/08/05