Cap 06

DOUTRINA DE ASPERSÃO FUNDAMENTADA SOBRE OUTRAS PREMISSAS DE AREIA MOVEDIÇA

Dr. W. C. Taylor

Capítulo VI

Chegando a examinar a outra metade da “Controvérsia Batista”, verificamos que também o ensino do destemido acusador dos batistas, sobre outro aspecto do batismo, isto é, o ato por Cristo praticado e mandado, estriba-se em outras premissas infundadas. Passemos a examina-las, pois o principal característico desse opúsculo aí está – o sangue frio com que anuncia como verdades axiomáticas, princípios sectários, que, longe de serem aceitos como terreno comum entre batistas e presbiterianos, são por nós tidos como erros muito mais perniciosos de que os meros ritos, espúrios que são assim justificados.

I. Quantidade de água

É costume acusarem os batistas de estar fazendo questão de quantidade de água usada numa cerimônia. Isto é injusto e não mostra muita inteligência sobre o assunto em foco.

“Na aspersão, borrifa-se um pouco de água na cabeça do batizado; na afusão usa-se maior porção de água, derramando-se com um pequeno vaso; e na imersão a maior quantidade de água possível, mergulhando-se a pessoa num rio ou num tanque.” (p. 43).

Ora, essa de usar a maior quantidade de água possível nem é verdade nem é costume nem é desiderato dos batistas. Usamos a menor quantidade de água que de para obedecer convenientemente à ordem de Jesus Cristo. Quando vamos aos rios e ao mar para batizar, não penetramos até a maior profundeza até onde podemos chegar, mas paramos em água até ao cinturão. Quando compramos água para encher os batistérios, não compramos uma carga além do necessário. Esse alegado amor à água não passa de uma indireta de uma alma pouco generosa, e pouco justa a um oponente.

A nossa divergência não é sobre a quantidade de água, mas sobre o ato por Cristo praticado e mandado. Se Cristo mandou “borrifar” então borrife-se – e não nos importa que seja a água de um oceano, dum arco-íris ou de um dedal. Se Cristo mandou a afusão, então derrame-se o que é conveniente para dar a idéia inerente do simbolismo. E se Cristo mandou imergir, busquemos água que de ao crente ensejo de cumprir o mandamento de seu Senhor. Certamente, o verbo batizar significou, nos lábios de Jesus Cristo, alguma coisa. Não foi mero nariz de cera a ser torcido e puxado ao gosto do freguês eclesiástico. Pois pratique-se o que Cristo praticou e mandou praticar. Se o nosso amigo tiver na sua grei entes tão pequeninos que possam ser batizados numa gota de água é o que basta, conquanto nela batizando seja sepultado com Cristo pelo batismo no qual também seja ressuscitado, em santa figura.

II. O Grego Bíblico

Uma fábula eclesiástica de que a velha escola de aspersionistas há tempos se servia para esconder de sua vida o odiado fato de que o verbo batizar (baptizo) significa imergir, é uma invenção de uma “língua sagrada”, um idioma limitado tão somente às Escrituras gregas. Esta teoria estourou há décadas no mundo teológico erudito, mas os estilhaços aí restam na “Controvérsia Batista”, da lavra de um teólogo do Seminário Aspersionista. Eis a premissa, relíquia de uma erudição moribunda:

Afirmam, pois, os batistas que o vocábulo batizar (baptizo) no grego clássico só significa imergir e, por isso, essa deve ser sua significação no grego bíblico. Reconhecemos com desassombro que, realmente, no grego clássico a principal significação daquele termo é imergir. Notem, porém, que dizemos significação principal e não única, porque é certo que já no grego clássico a palavra baptizo começou a evoluir. Não era empregada só para significar imersão, mas também no sentido de tingir e molhar. É assim que o Homero na sua descrição da batalha entre as rãs e os ratos fala de ser a água do mar batizada pelo sangue de uma rã. Ninguém jamais dirá que Homero afirmou que o mar foi mergulhado no sangue de uma rã. Essa interpretação é absurda e ridícula e nenhum batista sensato a aceitará. O sentido do verbo nesta passagem é tingir e não imergir. (E o sangue de uma rã pode tingir o mar? – W. C. T.).

Plutarco é também citado como falando de um general romano ferido na batalha que, batizando a mão em sangue, fez num troféu certa inscrição.

O célebre médico Hipócrites também ordenou certa vez a um doente que se o cáustico doesse muito, o batizasse com leite ou óleo. Nestas duas últimas referências a única significação do vocábulo é molhar, não imergir. Eram, pois, duplamente os batistas em afirmar que a palavra baptizo no grego bíblico só significa imergir. O erro é duplo porque aquela palavra tem outros sentidos clássicos e, principalmente, pelo fato de que o grego clássico não pode, de maneira nenhuma, ser padrão científico para interpretar o bíblico: eles são muito distinguíveis. O grego clássico foi usado na Grécia, por poetas, oradores e filósofos gregos, e isto, cerca de 400 anos antes da era apostólica; o grego helenista foi usado fora da Grécia, por povo de raça, costumes e condição históricas muito diferentes das que produziram o dito clássico.

Ora, é sabido que as línguas vivas estão sujeitas às mesmas leis dos demais organismos vivos; modificam-se, evoluem. Qualquer estudante da nossa língua por exemplo, sabe que ela fez dentro de certas leis, muitíssimas migrações etimológicas e semânticas desde o latim até ao estado atual. Ninguém entenderá um trecho do português do século XIII se quiser achar ali a mesma forma e, às vezes, a mesma significação das palavras atuais. Assim também nenhum estudante criterioso tomará um dicionário de Homero e Demóstenes para nele procurar a significação de um trecho de Filo ou de Paulo.

Vamos corroborar estas observações com a opinião de duas grandes autoridades no grego bíblico. O Dr. Hatch (Essays in Bíblical Greek), assim considerada com justiça, diz: “A diferença entre a linguagem de Atenas no 4º século antes de Cristo e a do Novo Testamento pode ser descrita como diferenças de tempo e país”. Depois de nomear as causas por que o curso do tempo e diferença de país produzem modificações nas línguas, ele diz: “Em grande número de casos as causas que são devidas ao lapso do tempo explicam cabalmente as diferenças entre o grego clássico e o bíblico.” Dá ele, em seguida, muitos vocábulos gregos que modificaram ou trocaram o seu sentido clássico por outro bem diferente, da Bíblia.

Remetemos o leitor para esse paciente e admirável estado do Dr. Hatch, de quem faremos ainda mais uma citação. “O grego bíblico”, diz ele, “é, assim, uma linguagem especialíssima. Estudando-a, o que temos de buscar é a espécie de pensamentos que os vocábulos gregos transmitiam à mente semita. Qualquer indução a respeito desse modo de entender deve ser tirada, em primeiro lugar, dos materiais que o próprio grego bíblico fornece. Isto deve ser considerado como um axioma. É obvio demais para carecer demonstração. É a aplicação aos fenômenos filológicos da lei geral da indução. Mas, apesar disso, a aplicação tem sido tão descurada que num considerável número de casos a significação das palavras do Novo Testamento tem de ser acertada de novo; e nem parece provável que a confusão atual deixará de existir enquanto o grego bíblico não for tratado como um dialeto que acaba de ser descoberto, e o pensamento de todas as suas palavras retificado com uma série de novas inferências tiradas dos fatos que as rodeiam.”

Nem mais e nem melhor poderíamos desejar. O Dr. Hatch não só mostra grandes diferenças entre o grego clássico e o bíblico, mas considera este último como uma linguagem especialíssima, que tem de ser entendida com os seus próprios dados. Vai além, para grande confusão do imersionismo que se baseia no grego clássico: declara ele que a verdadeira significação de todas as palavras do Novo Testamento não surgirá senão quando esse livro for isolado e estudado por si, sem o concurso da literatura clássica.

O Dr. Hatch escreveu alguns anos antes da descoberta dos importantes documentos gregos, em papiro e cacos de barro (ostraka) que muita luz trouxeram sobre este assunto. O ilustre helenista, Dr. A. Deissmann, mostra que esses documentos, lingüisticamente irmãos do Novo Testamento, revelam que este é, “como um todo, um monumento do grego vulgar (koinê)” que se falou em todo o mundo mediterrâneo, após as conquistas de Alexandre Magno. Estas descobertas importantíssimas para a filologia bíblica, se não permitem mais que o Novo Testamento seja estudado como um documento único da linguagem que usa (como o Dr. Hatch achava mister para afastar a influência clássica), confirmam plenamente a sua opinião. Agora, mais do que nunca, o estudante está na obrigação de fugir de influência clássica na interpretação do Novo Testamento, porque o grego deste, longe de ser clássico, ficou identificado com a língua comum (koinê), da qual, aliás, pouco usa a forma literária mas quase o falar do vulgo (pág. 44-47).

1). Seria difícil uma ignorância ou cegueira maior sobre o Novo Testamento grego e as recentes investigações de sua linguagem do que a suposição de que Deissmann concorda com Hatch sobre o “grego bíblico”. A significação notável daquela brilhante autoridade de cultura alemã é que ele matou para sempre a teoria do “grego bíblico”. Tal coisa nunca existiu. Deissmann provou isto numa série de obras eruditas que ainda continuam a sair do prelo.

O professor presbiteriano diz que “estas descobertas” de Deissmann “confirmam plenamente a sua opinião” (de Hatch). Confirmam-nas tanto quanto as teses de Lutero confirmaram as indulgências propagadas por Eck, e tanto quanto “O Papa e o Concílio” confirma o dogma da infalibilidade papal! Citarei alguns dizeres de Deissmann a respeito da teoria do “grego bíblico” para o leitor apreciar a suposta confirmação da teoria tão preciosa aos olhos dos aspersionistas:

“Do assim chamado grego bíblico (p. 8) é fabricado um “grego sacro” do cristianismo primitivo (p. 65). A teoria tem grande poder na exegese... é conveniente. Mas é absurda... não se pode estabelecer pela psicologia da linguagem ou pela história.” (p. 65).

“O fantasma do grego bíblico” (p. 66). Falando dos papiros contemporâneos da Versão Grega do Velho Testamento, ele diz: “Quando contemplamos estas folhas, somos animados por um sentimento peculiar de como são deliciosamente aproximadas a nós – quase podemos dizer que são ressuscitadas dentre os mortos. Nesta mesmíssima maneira escreveram os Setenta – homens de renome sem igual – no mesmo material, nos mesmos caracteres e na mesma linguagem” (p. 71), “o alegado grego judaico” (p. 74).

O isolamento lingüístico do Novo Testamento forçosamente perde sua última sombra de justificação.” Estas idéias, como cânon de filologia bíblica, são grilhões sobre a investigação” (p. 176).

E numa nota da p. 64, o grande alemão classifica essa teria, tão preciosa ao aspersionista, como “noção perversa!” Todas estas citações são da primeira edição da tradução inglesa do “Bibelstudien”, de Deissmann, que operou de vez o enterro da teoria de Hatch e outros expoentes de uma erudição caduca, eclesiástica e universalmente repudiada hoje em dia, senão nesse opúsculo “Controvérsia Batista”, que procura galvanizar o cadáver para servir de espantalho aos batistas e aos outros que querem ser batizados como o Senhor Jesus se batizou.

A opinião do mesmo Deissmann sobre o batismo ser imersão é citada, no penúltimo capítulo desta obra, de um de seus mais novos livros, preleções feitas na própria Escócia presbiteriana!

O fato do Prof. Teixeira identificar as teorias de Hatch e Deissmann não comento. Ele pode se explicar. Para mim me parece impossível que um professor em qualquer seminário na face da terra pudesse ter escrito semelhante coisa em pleno século XX. As opiniões de Hatch sobre o “grego bíblico” tem tanto valor quanto os escritores de Benjamim Franklin hoje em dia sobre a eletricidade, ou os de Galileu sobre a astronomia, tanto quanto valem os mapas de Cristóvão Colombo no estudo atual da geografia. O fato de que as descobertas dos papiros são mais recentes do que as descobertas da eletricidade e astronomia que revolucionaram estas ciências não diminui a significação da revolução no estudo do Novo Testamento grego.

Na minha “Introdução ao Estudo Novo Testamento Grego”, digo:

O grego do Novo Testamento foi o vernáculo usado no Império Romano como a língua comum do mundo civilizado. O termo usado hoje em dia pelos gramáticos, para descrever este grego, é Koinê, que significa “comum”. Isto não quer dizer apenas que o grego do Novo Testamento foi a linguagem do povo comum, mas sim o grego comum a todo povo. Jesus falou na Galiléia o mesmo grego que encontramos nos papiros do Egito e que Paulo escreveu em Corinto e usou na sua pregação em Roma. Este fato é uma descoberta importantíssima de nossos dias. É importante por si derrubar umas tantas teorias sobre o Novo Testamento grego.

Está provado, por exemplo, por Deissmann, pioneiro alemão neste ramo de ciência, que o grego dos escritos apostólicos não é o grego hebraizado, mas que os mesmos idiomas que foram atribuídos à influência do hebraico se acham mas inscrições e papiros encontrados em todo o Império Romano.

Está provado também que o grego do Novo Testamento não foi uma “língua sacra”. Agradou a Deus revelar a verdade no vernáculo. (p. 1)

2). É igualmente inexato dizer que os batistas baseiam seus argumentos sobre baptizo, no grego clássico. Na mesma obra que acabo de citar, digo:

Todavia, devemos distinguir entre o grego dos escritos clássicos e o koinê. Paulo não escreveu no mesmo estilo, ortografia e formas que Demóstenes e Homero usavam. No entanto, isto não representa inferioridade na linguagem de Paulo, mas sim progresso.

As línguas crescem e se adaptam ao seu ambiente, e à índole do povo. Depois das conquistas de Alexandre, o grego se tornou universal no mundo civilizado e, neste processo, se adaptou a todas as províncias do império e não somente à pequenina Acaia. Os escritos do Novo Testamento são “clássicos” também, registrados no vernáculo mais nobre dos séculos, na sua capacidade de preservar as idéias e ensinamentos de Jesus Cristo e seus apóstolos (p. 1).

Não sou, neste respeito, diferente dos demais batistas. Somos unidos com a erudição moderna de todas as greis em colocar o N. T. grego na corrente central do rio do idioma grego que mana desde a antiguidade até o dia de hoje.

Ora, no progresso de uma língua, a vasta maioria dos vocábulos conserva o seu significado. Mão não chega a significar orelha, nem olho vai ser usado no sentido de perna. Como é, pois, que imergir chegaria a significar aspergir ou derramar ?

A etimologia sempre se pode traçar. Há razão e inteligência no progresso de uma língua. O ilustre presbiteriano confessa que em 400 A. C. bapto significava imergir, geralmente, e às vezes tingir e molhar. Ele não ousa dizer que significa aspergir. Ora, é fácil ver como o vocábulo geral que significava imergir chegaria a significar tingir. Quando menino, eu vi minha mãe tingir panos e roupas, muitas vezes. Sempre os mergulhava muitas vezes no Líquido e nele ficavam imersos até terem sido saturados com uma nova cor. Tingir, pois, envolve a imersão até que o objeto imerso seja saturado com o líquido em que é imerso e tenha completamente assimilado a nova cor. Nada mais natural do que rantizo chegar a significar tingir. O progresso é no sentido de intensificar a idéia de imersão, a qual tanto penetra de dentro como cobre por fora. Mas esse progresso está na direção oposta ao desejo dos aspersionistas! Quando, pois, na marcha da língua grega, parou, deu meia volta e veio a descambar numa fraca aspersão um verbo que estava, no seu desenvolvimento, mostrando precisamente a tendência de intensificar seu sentido de imergir?

No período clássico do grego existiam bapto e baptizo (imergir, tingir) raino e rantizo (aspergir) e ekcuno ou ekceo, derramar. No progresso da língua as formas diminutivas ganham terreno e raintizo suplanta raino inteiramente em o N. T., mas a idéia da raiz dos três pares de verbos não se muda, nem estes se confundem através dos séculos. Pensai. Como podiam se confundir? Marcham lado a lado, pelo corredor dos séculos, bap,-, a raiz da idéia de imersão, ran--, a raiz da idéia da aspersão, e ekcen-, a raiz de afusão. Como, quando e por que se podiam confundir ou trocar significados? Se um tivesse faltado, posso entender que um dos outros talvez lhe tivesse acumulado a tarefa, na língua. Mas, marchando lado a lado, como perderam a identidade e quando e por que psicologia da língua é que se imagina que baptizo assumiria as idéias peculiares a raintizo ou ekcuno? É um mistério que a mente nunca sondará – as razões dessa troca de significados entre verbos que vivem e se referem a atos por todos os homens muito discutidos. Milhões de vezes por dia, os gregos do mundo inteiro usariam raintizo no sentido de aspergir, ekcno no sentido de derramar e baptizo no sentido de imergir. Mas a hipótese é que um dia os gregos do mundo se levantaram com as cabeças tontas e confundiram os significados dos seus verbos mais comuns e não sabiam o que significava um dos seus verbos – se imergir, aspergir ou derramar – e sua linguagem chegou a tal estado de vacilação que hoje em dia não se pode, nem se deve traduzi-lo, e, pela graça do preceito eclesiástico, não se tolera que esse verbo se traduza em, nenhuma língua moderna ocidental. Pobre verbo! Pernoitou na rua, ficou bêbado e, na manhã seguinte não se lembrou do seu nome, natureza e parentela, e assim caiu nas mãos dos aspersionistas e lhes ficou sendo escravo, sem nome e sem memória de seu passado livre e independente.

O opúsculo que discutimos marca 400 A. C. como o tempo em que estes verbos não tinham perdido seu significado clássico. Mas a Septuaginta começou a ser traduzida no reinado de Ptolomeu Filadelfo, 287-245 A. C. (segundo o Dicionário Bíblico de Davis). Mas neste século e pouco, com o povo dizendo milhões de vezes por dia baptizo, imergir, tingir,

raintizo, aspergir, ekcuno, derramar, todavia, numa noite se encerra a conversa e, quando se baralham os vocábulos na manhã seguinte, raintizo ainda significa aspergir, ekceo, derramar e bapto, imergir, mas o pobre baptizo não significa nada, embora ainda muito usado! Sem que raintizo deixasse de significar aspergir, baptizo perdeu seu significado e chegou a sugerir a idéia de aspergir, de modo que quando Naamã se batizou sete vezes no rio Jordão, é claro como o sol meridiano (lá no Seminário Unido) que se bem que baptizo é incapaz de ser traduzido e não significa nada, todavia, Naamã penetrou no rio principal da Palestina a fim de se aspergir sete vezes.

Ah! Tortuoso sectarismo! Contra o batismo bíblico, católico, único, como tu és capaz de mistificações portentosas!

3). Nosso crítico da “Controvérsia Batista” admite demais. Ele quer salvaguardar o baptizo, mas cede bapto aos batistas. Infeliz concessão, pois o novo dicionário do grego dos papiros e inscrições, e ostraka (cacos de cerâmica usados pelos humildes para notas), cujos autores, Moulton e Milligan, são peritos nesta nova erudição, e não menos peritos, porem mais interessantes autoridades para nós, por serem ambos de denominações aspersionistas, afirmam, e citam exemplos para provar, que no século subapostólico, em que nosso distinto oponente busca abrigo, se usava bapto, imergir, confessadamente imergir, a respeito do rito ordinariamente descrito por bahtio. Claramente, pois, os dois termos não se divorciaram, mas ainda são idênticos no ato descrito. Moulton era metodista e Milligan presbiteriano, salvo engano, mas, sendo eruditos, dão os fatos, sem olhar a quem favoreçam. Citam o fragmento de um evangelho não canônico (p. Oxy., V. 840 43, em que ambos os verbos (bapto e baptizo) são usados como sinônimos. Um judeu é citado como sendo batizado (bapto).bapto é usado no sentido de tingir; e fazendas tingidas = baptááa.

Sob o baptizo temos, como último exemplo destes ilustres lexicógrafos, o caso de baptizomeqa, usado em uma passagem, e somos informados que deve significar, em uma passagem figurada ser “submergidos como que num dilúvio de calamidades”. “Que a palavra tinha já este sentido metafórico (compare-se Dicd. I. 73.6) mesmo entre pessoas incultas, ilustra de modo saliente nosso Senhor falando de sua paixão como um batismo” (Mar. 10:38).

Os mesmos autores dizem: “baptismos é o ato de imersão (Gramática de Blass, p. 62) e, portanto, em Heb. 6:2, Chase (Confirmation in the Apostilic Age, p. 44 s.) entende didach baptismon como = ‘o ensino sobre atos de lavagem’, a exposição das verdades e princípios espirituais envolvidos no batismo deste, daquele e daquele outro discípulo.”

Longe de baptizo se distanciar de bapto e assumir as funções de rantizo, o próprio grego subapostólico, em escritos cristãos, usa ambos a respeito de batizar e o adjetivo verbal de “fazendas tingidas” vem de bapto não baptizo, e o sentido necessário de imersão em ambos indiscriminadamente é afirmado pelas mais novas investigações da língua grega, no mais novo e completo dicionário do grego koinê.

4). Note-se: o progresso do grego estava no “estilo, ortográfica e formas”. O vocábulo não mostrou grande variação. O novo dicionário grego-inglês de Liddell e Scott se expandiu para incluir os períodos clássicos e koinê. O Dr. A. T. Robertson, na sua “Breve Gramática do N. T. Grego”, p. 60, cita Deissmann como afirmando que “há 50 novas formações entre as 5.000 palavras do Novo Testamento” e o Dr. Robertson acrescenta: “Talvez essas 50 sejam reduzidas a 10 antes de findarmos o exame dos papiros.”

Mas se o vocábulo permaneceu quase o mesmo, todavia, o sentido das palavras pode variar ou enriquecer-se. Isto sim. Como baptizo se estendia às imersões dos tintureiros em tingir fazendas, assim chegou a abranger as imersões do batismo de prosélitos, entre os judeus, e de crentes entre os cristãos, e, sem dúvida, mil e uma outra sorte de imersões, mas nunca perdeu sua idéia radical de imergir.

Mas o vocábulo que o folhetinista da “Controvérsia Batista” apresenta como tendo significado diferente no “grego bíblico” do que significava no grego profano não se agüenta à luz da investigação. Ele cita presbytero, diácono, ecclesia, charis, anjo. O Dr. A. T. Robertson cita presbytero como uma das palavras usadas nos papiros no mesmo sentido como em o Novo Testamento – um oficial, não um velho. (Breve Gramática, p. 60). E Deissmann diz: “As comunidades cristãs da Ásia Menor, que chamaram seus superintendentes presbuteroi, talvez tenham tomado emprestado a palavra de seu ambiente e não por intermédio do judaísmo de forma alguma.” E ele prova com várias inscrições haver este nome de oficiais na vida dos gregos na sociedade, comércio, religião e governo. diakonos é usado em o Novo Testamento no sentido de qualquer servo, quer numa capacidade oficial religiosa, quer num trabalho material. Os papiros mostram o emprego popular do termo para oficiais religiosos (Moulton e Milligan, 11, 141).

Sobre anjo, o dicionário dos papiros cita vários casos do emprego do termo fora do Novo Testamento no sentido de anjo e diz que este sentido monta até ao tempo de Homero, mas o reitor unionista negou aggelos ter significado anjo, senão em o Novo Testamento. Mas sabedoria caduca!

Ecclesia sempre foi assembléia. Há tanto razão de falar da igreja pagã de Atenas, ou da igreja comunista de um soviet russo, ou da igreja de Israel. Todas são assembléias (ekklhsia). Nenhuma é igreja.

Falta-me o último tomo da obra de Moulton e Milligan, portanto, não posso citar o seu testemunho sobre caris (charis).

5). Os pedobatistas se afligem e joeiram toda a literatura grega na procura de uma só passagem em que se use baptizo onde a idéia de imersão não seja a natural interpretação. Descansem a mente. Se encontrassem cem passagens no grego clássico ou koinê profano em que imersão fosse um significado impossível de baptizo nesses cem contexto, nem por isso se provaria que deixa de ser sua significação nos contextos do Novo Testamento, sobre o batismo.

Posso ilustrar. Quando cheguei ao Brasil, uma das primeiras palavras que aprendi foi manga. A chácara do Colégio e Seminário tem inúmeras mangueiras e, para mim, manga significava tão somente o saboroso fruto da mangueira. Mas logo descobri que meus braços se cobriam com as mangas do paletó. E ouvi de mangas de certas lâmpadas. E viajei no Sul da Bahia e ouvi, atônito, que iam deixar os animais passar a noite na “manga do Sr. Fulano”. E ouvi crianças dizerem: “Ele manga de mim.” Mas a despeito de tantos sentidos do termo, quando alguém me afirma que haverá boa safra de mangas este verão, eu sei que o que ele quer dizer e não há possibilidade de dúvida. Podem encher um livro de exemplos de outros sentidos de manga, mas o contexto esclarece que não vem ao caso na sentença citada. A safra é da fruta.

O Dicionário Contemporâneo dá fim, intuito, como um dos significados de por. E, de fato, na Versão Figueiredo de Prov. 26:12 leio: “Não respondas ao louco segundo a sua loucura por não vires a ser seu semelhante.” (As outras versões tem para). Mas embora isso seja uma possível significação, não nos enganaria nem nos atrapalharia em interpretar a preposição por uma vez em cem mil. Quando alguém me escreve: “Estou lhe enviando dez mil cruzeiros por meu criado”, eu sei que não é para o criado dele, embora não dispute a declaração do Dicionário de Aulete de que semelhante idéia cabe em um caso raríssimo.

Que nos importa algum uso poético, altamente figurado, imaginativo, exagerado e hiperbólico do termo baptizo? O batismo de Jesus é simples narrativa histórica. Jesus batizou-se no rio principal do seu país. O eunuco e Filipe descem do carro, entram ambos na água, o batismo se efetua, saem da água. Os colossenses e os romanos foram sepultados e ressuscitados, no santo símbolo que é chamado batismo. Mesmo se baptizo tivesse os sentidos de mergulhar, aspergir, tingir, derramar, nadar, afogar, voar, saltar e mil outros movimentos, todavia, seu primeiro sentido é imergir, seu natural sentido é, confessadamente, imergir onde o contexto combina com este sentido, e, em todos os contextos, desde Naamã até o eunuco e aos colossenses, onde está descrito o ato de batismo, é claro que este ato foi a imersão. E se imersão fosse apenas um em mil sentidos de batismo, em lugar de seu único e universal sentido, como o é, mesmo assim a inteligência e a sinceridade prevaleciam e mentes sem preconceitos saberiam que Jesus e os apóstolos praticaram a imersão.

Toda essa industriosa caça de significados raros e fantásticos, em frases poéticas ou figuradas, é vã. O juízo triunfa sobre o capricho sectário. Todos confessam que baptizo pode significar imergir, que ordinariamente significa imergir, pelo menos na linguagem do grego profano. É o que basta. Grego profano e grego bíblico é o mesmíssimo idioma. E, numa narrativa de simples apóstolos, não vamos esperar saltos de imaginação poética no emprego de um termo como se eles fossem doze Homeros. (O termo significará pelo ato que se entra no rio naturalmente para efetuar o que pode ser descrito como sepultura e ressurreição simbólica.)

Não admito que se encontre em toda a literatura grega um único caso de baptizo significando um ato ou um estado figurado de coisas que não tenha por sua base a idéia de imersão que está arraigada no termo. Tenho visto muitos dicionários gregos e todos assim definem e mantém todas as suas definições figuradas nesta base. Mas se houvesse outra significação remota e rara, seria como para em definir por. Não influiria jamais na conversação ordinária dos homens nem na linguagem do Novo Testamento, que é sem rodeis ou mistificações. E este fato explica como multidões de crentes não batistas, sem conhecer batistas, e em países onde não havia batistas, às vezes, se tem tornado batistas pela leitura de descrição do batismo, embora a palavra não seja traduzida mas apenas latinizada nas versões no vernáculo. Eles discernem o que significa baptizo pelos contextos em que se emprega, sem saberem uma letra do alfabeto grego.

6). “Nem mais nem melhor poderíamos desejar.” Faz-nos lembrar da outra declaração do cândido autor: “É tempo agora de dizer ao leitor porque levamos tanto a peito deixar que a igreja cristã e a judaica, são, no essencial uma e a mesma. É que dali surge, como verdade necessária, o batismo infantil.” Na segunda, como na primeira parte, o autor, confessadamente, não investiga a verdade desinteressadamente. Ah! Como ele deseja que baptizo signifique aspergir! Ah! Como ele levaria a peito achar na velha dispensação uma justificação para o batismo infantil que não podia encontrar na nova!

III. Os Batistas Excomungando o Mundo Inteiro e Impedindo a Frente Unida de Protestantismo. Que Horror!

“O que admira e assombra é como podem os batistas satisfazer-se com a interpretação do grego bíblico pelo clássico e ficarem com a consciência em paz quando, por conta do tal sentido clássico, excomungam tão grande parte do cristianismo.” (p. 57).

Já vimos que “o grego bíblico” é muito, e que a suposição de que os batistas procuram interpretar o Novo Testamento pelo grego clássico é ignorância da parte dos acusadores dos batistas.

Resta ver se os batistas excomungam tão grande parte do cristianismo. É claro que, se trata das igrejas batistas, não excomungamos delas quem nunca fez parte delas. Estamos prontos a receber o ilustre presbiteriano em qualquer igreja batista na mesma maneira em que qualquer outro batista tenha entrado. Ele quererá proteção e favores especiais? Uma coisa certa é que não aceitaremos crentes não batizados, sejam presbiterianos ou sejam quem forem. Mas isto não excomunga a ninguém porque antes do batismo bíblico não se pode pertencer a uma igreja bíblica e não se pode ser excomungado de uma organização de que nunca se fez parte.

Mas, se trata da igreja universal ou do reino de Cristo ou da família de Deus, a comunhão dos santos, não excomungamos como não aceitamos ninguém nesta comunhão. Entra-se nesta comunhão pelo novo nascimento. Qualquer presbiteriano que se contenta em ser filho natural do seu suposto reino dos céus nunca verá o reino de Deus. Mas nós temos cordial, afetuosa e duradoura comunhão cristã com muitos e muitos irmãos presbiterianos, concidadãos nossos no reino de Deus. Neste reino, ninguém na terra admite nem excomunga. Jesus é o porteiro e a porta e nós nem por sonho lhe queremos açambarcar as funções. A acusação é feita para multiplicar ódios contra os batistas.

Agora, quanto às excomunhões, é frívolo um presbiteriano independente que excomunga de sua grei seus próprios irmãos presbiterianos sinodais pelo mero fato de serem maçons, assumir ares de caridade superior e dizer: “Eu sou mais santo do que tu.” Menos pavonear-se e mais respeito pelos fatos convém a todos nós, mortais tão cheios de faltas.

Na p. 73 lemos:

Concluímos, pois, que o exclusivismo da igreja batista (Não há tal coisa – W. C. T.), neste respeito, a pões fora do espírito e da letra das Escrituras. E não só isto, mas como é sabido, esse exclusivismo a põe fora da comunhão com o resto da cristandade.

Agora, quem excomunga?

Que maravilha! Os batistas apenas querem praticar e ensinar o que a Escritura claramente manda e ensina. Logo, os desobedientes querem por isto nos por “fora do espírito e da letra das Escrituras”. Felizmente, Jesus, não os aspersionistas, é quem decidirá isto.

“Fora da comunhão.” Nada mais falso. Os batistas estão no pleno gozo da comunhão cristã com milhões de crentes não batistas. Acordai, irmãos, desse sonho sacramentalista. Os ritos nem outorgam nem retiram a quem quer que seja a comunhão cristã. Isso é o âmago do romanismo. Os que estão em Cristo pela fé tem nele comunhão fraternal e santa. Não é preciso aceitar a enorme bagagem sacramentariana que veio dos pagãos, mediante os reformadores e papas, para gozar comunhão cristã. Voltemos ao a b c do evangelho. “Mas a todos os que o recebem, aos que crêem em seu nome, deu ele o direito de se tornarem filhos de Deus: os quais não nasceram do sangue (logo, não eram membros naturais do reino – W. C. T.) nem da vontade da carne (logo, o batismo infantil não os incorporou no Israel de Deus – W. C. T.) nem da vontade do homem (logo, não é dado a homens outorgar esta comunhão ou excomungar da mesma. – W. C. T.) mas sim de Deus.” Portanto, todos quantos são filhos de Deus pela fé são irmãos em Cristo; e igrejas ritos de Deus ou sacramentos de homens absolutamente nada tem com esta comunhão, que é gozada por tantos batistas, presbiterianos, católicos romanos ou pessoas sem ligação eclesiástica – por tanto, digo eu, quantos são crentes. Estes nasceram no reino divino, são filhos na família divina e gozam entre si a divina comunhão.

Logo, quando os batistas insistem em que o crente deve obedecer ao seu Senhor em lugar de ficar solidário com erros que vieram do paganismo, não abalam a comunhão cristã de quem quer que seja.

IV. Os Batistas São uma Seita: Os Presbiterianos Antimaçônicos Não o São!

Em primeiro lugar a igreja batista (não há tal coisa – W. C. T.) se isola do resto da cristandade, constituindo-se uma seita no sentido da palavra (p. 86).

Essa é rigorosa mesma! Os batistas uma seita, porque só admitem ser batismo bíblico o ato bíblico de batismo, mas os presbiterianos independentes não são uma seita! Que quer dizer seita, “no sentido rigoroso da palavra?” O Sr. Cândido de Figueiredo é lexiógrafo rigoroso? Ele define seita como “conjunto de indivíduos que professam doutrina que se afasta da geralmente seguida”. Nosso irmão afirmará – como os padres – que sua doutrina é “da maioria”?

Paulo declarou ser uma seita própria o cristianismo. “Confesso-te isto que, segundo o Caminho a que eles chamam seita, sirvo ao Deus de nossos pais.” (Atos 24:14). Essa seita era “em toda parte impugnada” (Atos 28:22). O distinto sectário da seita antimaçônica não nos meterá medo com esse termo. Se a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Grega e a Velha Igreja Católica e a Igreja Católica Copta e a Igreja Católica Mexicana e inúmeras outras “igrejas católicas” nacionais e orientais e as igrejas reformadas ligadas com o Estado presbiteriano e luteranos e as vintenas de denominações não-conformistas, livres e independentes, constituem “a cristandade”, qual o povo cristão que não seja seita? Há inúmeras seitas católicas e inúmeras seitas presbiterianas. Só na outra América há mais de uma dúzia de seitas presbiterianas. Algumas destas tem missionários no Brasil e há duas seitas presbiterianas nacionais, divididas em relação à maçonaria. São cortados, separados e isolados do resto da cristandade no que diz respeito à maçonaria, que nada tem a ver com as doutrinas bíblicas. O romanismo é outra seita antimaçônica.

Não estou apelando ao preconceito dos maçons, pois sou também francamente contrário à absorção das energias dos crentes nas lojas maçônicas. Mas reconheço a liberdade de escolha, no terreno de coisas de que a Bíblia não fala. Não é assim a seita do autor da “Controvérsia Batista”. Ela se isola da cristandade evangélica, na sua intolerância sobre este assunto. Igreja presbiteriana, lado a lado de igreja presbiteriana de outra seita, em várias cidades do Brasil, presbitérios rivais, sínodos opostos, tudo em duplicata. E um adepto disso sai mundo a fora a fazer discursos contra seitas! E seu órgão oficial vive numa propaganda sectária sem fim sobre esse assunto extrabíblico e açula o mesmo separatismo, sobre coisas secundárias importância, entre as outras denominações cristãs no Brasil, como se deu há pouco entre os batistas. “Médicos, cura-te...” E quando tiveres alcançado uma cura radical desse sectário intolerante, os batistas te convidarão para os admoestares de serem ou não uma seita! Até então, achamos graça em a frigideira taxar de preta a panela !

A cristandade, com seriedade, não é uma unidade. Está cheia de seitas, seitas católicas, seitas protestantes, seitas presbiterianas, seitas batistas e até temos várias seitas anti-sectárias que se chamam “Igrejas Cristãs” e se separam das outras seitas, em solene, se bem que ridículo, protesto contra o sectarismo alheio. O irmão, que é tão inimigo dos batistas, se adianta para louvar uma das tais “Igrejas Cristãs”, que, aliás, em sua atitude para com os batistas tem-se mostrado amargurada e intolerantemente sectária ao extremo. Ela, porém, comunga com a Igreja Presbiteriana Independente; logo, não é seita! Quem é que ligará importância a semelhante absurdo? A própria comunhão sacramental de seitas apenas salienta seu sectarismo. “Um só pão, um só corpo é a divisa da Ceia. E quando olhamos para o auditório, é isso o que vemos? Não. Vemos umas tantas migalhas de presbiterianismo sinodal e independente e metodismo e congregacionalismo em momentânea justaposição até se separarem para se entregar de novo à sua propaganda mutuamente hostil sobre a maçonaria, etc.”

Os batistas sabem que o batismo que Cristo praticou e mandou não é sectário e não ficamos magoados com injustas acusações de uma seita que se isolou da cristandade inteira sobre matéria de preferência pessoal de somenos importância. Obediência a Cristo só é considerada sectária na roda dos desobedientes.

V. Medrosos do Batismo de João

Os presbiterianos têm um medo do batismo de João! Era o início da ordenança no cristianismo e se tornou claro seu significado. Nada de batismo infantil, pois se exigia arrependimento, cabalmente demonstrado pelos frutos morais da vida, como condição do batismo. E, sendo administrado no rio principal do país ou em outros lugares de muitas águas, só a idéia fixa enxergará nele qualquer vislumbre de aspersão. Portanto, os aspersionistas ambicionam encostar, como elemento do judaísmo, o batismo original que esclarece o significado perpétuo do rito. Mas a menção do batismo nos Atos pressupõe o ensino claro dos Evangelhos e não repete muito que estes tem. O presbiteriano, pois, se esconde no abrigo desse parcial silêncio de Lucas nos Atos, livro este que pressupõe o que ele escrevera no seu Evangelho.

Mas lemos que o batismo dos Evangelhos é pleno judaísmo:

O primeiro caso de batismo cristão que encontramos é o dos três mil no dia de Pentecostes: João Batista viveu e morreu no judaísmo (p. 65).

Essa é cruel! Nada vale diante de um aspersionista a categórica declaração do Salvador: “A lei e os profetas duraram até João (não até o Pentecostes – W. C. T.); desde esse tempo (o tempo de João, não do Pentecostes – W. C. T.), o evangelho de Deus é anunciado e todos à força entram nele” (Lucas 16:16).

Porque é que os presbiterianos não incluem os quatro Evangelhos no seu Velho Testamento, começando seu Novo Testamento com o livro dos Atos? Se o batismo dos Evangelhos não é “batismo cristão”, será a Ceia dos Evangelhos Ceia cristã? Só Jesus presenciou o estabelecimento da Ceia, no entanto, a Trindade inteira presenciou, e se agradou e bendisse o batismo de João. Mas a Ceia começou no ministério de Jesus, e o batismo foi recebido por Jesus, nosso exemplo, daquele a quem Deus do céu deu autoridade para inaugurar a ordenança; e a igreja foi fundada por Jesus no seu ministério, e o apóstolo, etc. Será que a Ceia antes do Pentecostes era elemento do judaísmo? E o apostolado, era uma oficialidade do judaísmo? E a igreja que Jesus prometeu edificar e que ele mencionou como existindo quando disse: “Dize-o à igreja”, era também parte integral do velho vinho nos velhos odres da dispensação caduca? Se o batismo de João não foi batismo cristã, então Cristo não é nosso exemplo no batismo, pois não recebeu o batismo que nos manda receber. E nenhum apóstolo recebeu batismo cristão, nem a mãe do Salvador nem Tiago, primeiro bispo da primeira igreja, e no próprio dia do Pentecostes a igreja dos 120 que pregaram: “cada um de vós seja batizado”, era uma igreja sem batismo cristão e administrou aos três mil o que não tinha, pois como pode dar batismo cristão quem nunca recebeu batismo cristão? E para que cortar da árvore o galho em que estamos sentados? Será evangélico esse preconceito contra o batismo e a Ceia e o ministério e a igreja dos Evangelhos? Não. É a defesa de uma teoria indefensável que teme a luz dos Evangelhos. Onde é que se ele, em o Novo Testamento, de dois batismos, sendo um “batismo cristão” e o outro não? Pedimos o livro, capítulo e versículo sobre batismo “cristão”. Nunca encontramos tais dizeres na Bíblia.

Duas perguntas se farão:

1. “Se quem não recebeu batismo cristão não pode dar batismo cristão, como é que João Batista o pode dar?” É simples. Por uma comissão recebida diretamente de Deus. João 1:33: “O que me enviou a batizar com água, disse-me...” Deus pode estabelecer o que entende por comissionar.

2. “Se o batismo de João foi cristão, porque foram rebatizados os doze discípulos em Éfeso?” Bem. O contexto prova cabalmente que não foi por terem sido batizados por João, pois Apolo, no mesmo contexto, é declarado conhecer unicamente o batismo de João e não foi rebatizado mas sim instruído e enviado a Corinto a evangelizar (Atos 18:25-28).

Também, se Paulo encetasse a tarefa de rebatizar todos que receberam o batismo de João, teria começado com os doze apóstolos, e não lá num remoto centro cristão entre os gentios. Nosso irmão supõe que Paulo estava organizando um cristianismo cismático com um batismo diferente do de Cristo e os apóstolos?

O motivo de batizar esses doze discípulos falsos e que não receberam o Espírito Santo quando creram. Logo, não eram crentes genuínos, pois o Espírito Santo é dado a todos os que crêem (Rom. 8:9,14,15,16; Gal. 3:26; 4:6; 3:2,5,6,14; João 1:12,13; I João 5:1,5,7,10; Ef. 1:13; I Cor. 6:11; 12:3; II Cor. 3:16,17; 4:13; Atos 26:18; I Cor. 2:4,5; Efe. 3:16,17; II Tes. 2:13; Rom. 15:19, 13,16; II Cor. 11:4; Gal. 5:3-6,8,25; Ef. 2:18; Rom. 5:2; Fil. 3:3; I Tess. 4:7; I Tim. 1:12,14; Tito 3:4-8; Heb. 6:4,5; 10:10,14,22; Rom. 3:25; I Ped. 1:2; I João 4:2; I Ped. 2:5).

Eles dizem: “Nem sequer ouvimos falar que há Espírito Santo” (V. B., margem).

O batismo deles era como o batismo infantil – mera água antes de se operar a obra regeneradora da graça de Deus na vida pelo Espírito Santo. Tal água – seja pouca ou muita – não é água de batismo genuíno. Paulo lhes repetiu o evangelho que João Batista pregou, isto é, o arrependimento e a fé – o único evangelho – e os batizou sob profissão da fé que João anunciara, mas que eles antes ignoravam. Batismo cristão só pode ser batismo de cristãos. Tudo mais é antievangélico, falso e pelo grande apóstolo aos gentios abertamente repudiado. “Salvação antes do batismo, Cristo antes da igreja, o sangue antes da água” é a divisa dos batistas, desde João Batista até hoje. E o Espírito Santo no coração vem antes da possibilidade de receber qualquer cerimônia cristã.

VI. O Batismo e a Ceia.

O polemista que não admitiu a lógica dos batistas sobre o batismo confessa que nossa posição sobre a Ceia é perfeitamente coerente. Falando das “tristes conseqüências” da nossa doutrina de imersão como o único batismo, ele assim nos interpreta:

Afirmam que a imersão é o único modo divinamente autorizado e por esta razão não reconhecem as outras igrejas como igrejas: são meras associações cristãs, que não estão organizadas em igrejas porque o batismo é a porta da igreja e sem imersão ninguém fica batizado.

Pela mesma razão não se assentam à mesa da comunhão presidida por ministros pedobatistas, nem admitem às suas mesas pessoas que não seja batista.

Admitindo o princípio donde partem, de que a imersão é o único modo válido do batismo, têm eles razão em todas essas conseqüências, porque todas elas nascem logicamente daquele princípio (p. 86) (ênfase nossa).

Agradecemos essa confissão de que nossa posição sobre as restrições da Ceia é lógica e coerente com os princípios que advogamos. Nem todos assim confessam. De fato, o batismo bíblico isola os batizados dos não batizados. Mas é tão somente nas igrejas, não na vida doméstica ou social ou na comunhão da família de Deus. E este isolamento é quase tão grande entre os presbiterianos sinodais e presbiterianos independentes quanto é entre os batistas e qualquer um dos dois grupos . Já visitei várias cidades onde os presbiterianos independentes tinham comunhão mais cordial com os batistas do que com os presbiterianos maçons. Certo isolamento é o preço da independência e da liberdade. Enquanto houver liberdade de haver seitas, estas estarão separadas.

Nosso irmão diz que somos “fariseus” (p. 87), e nos representa como “do alto de nossa santidade”, dizendo que não somos “como os demais homens”, e entregando um ultimatum e “bloqueando a cristandade”. Está quase no fim do seu folheto quando diz de nós estas lindas coisas. Contudo, ele quer comungar com os tais fariseus! Parece-me que, se ele buscasse o real farisaísmo, seria encontrado em abundância no fingimento de uma unidade, à mesa do Senhor, entre maçons e antimaçons, entre metodistas e calvinistas, entre imersionistas e aspersionistas, entre episcopais e congregacionais, quando todo o mundo sabe que nem unidade alguma nem cordialidade existe em tais cerimônias de seitas rivais.

Seja como for, há “um só batismo” e é a única base cerimonial da unidade do Espírito. Paulo diz que devemos ser unidos no batistério e nem sequer menciona a Ceia como um dos elementos da unidade do Espírito. Logo, onde há três batismos, não pode haver a unidade do Espírito analisada por Paulo em Ef. 4.

Quem é responsável por esta separação? Claramente, são os desobedientes, os que aceitam três batismos, quando Deus diz que há um só. Nosso problema é o mesmo que se levantou entre Elias e Acabe. Este rei exclamou, ao encontrar-se com o profeta: “És tu o perturbador de Israel?” Respondeu Elias: “Eu não tenho perturbado a Israel; mas tu e a casa de teu pai, por terdes deixado os mandamentos de Jeová” (I Reis 18:17-18).

Nós não somos fariseus, Sr. Reitor. Somos tão sinceros como queremos ser quando comparecermos perante o tribunal de Cristo. Não fingimos superioridade a quem quer que seja. Mas temos de ordinária inteligência e lemos nossa Bíblia e nela só vemos um único batismo, na Grande Comissão, para os discípulos de todas as nações e todos os séculos.

Quem propaga este e mais dois batismos é quem se separa dos crentes obedientes a Cristo, pelas divisões na cristandade. A culpa é dos desobedientes ao Novo Testamento, não das igrejas que ficam fiéis à norma apostólica. Voltai ao ensino apostólico e de novo o cristianismo será um, em obediência a Cristo. Nunca será um em uma desobediência relaxada e indiferente aos mandamentos de Deus.

Um respeitoso aparte. O insigne folhetinista fala dos batistas e “suas mesas”. O irmão está redondamente enganado. Cordialmente, hospedamos presbiterianos e pessoas de todas as greis eclesiásticas em nossas mesas. São bem vindos e sua presença a nossas mesas nos honra e deleita.

Talvez o bom irmão, que se esqueceu e inventou uma Escritura a seu gosto, e, esquecendo-se dos nomes das famílias batizadas e não teve tempo de abrir a Bíblia e fazer uma lista delas, nem se lembrasse de que se tratava, não de nossas mesas, mas sim da mesa do Senhor! Ah! Isto é outro assunto! É claro que os batistas não estabelecem as condições de chegada à mesa alheia, mormente sendo esta a mesa do Senhor Jesus, e um símbolo precioso e santo que comemora o evento mais importante na história. Aqui não há lugar para fingimentos e generosidade sentimentais, porém desobedientes. Nosso irmão concorda em que temos toda a razão para nossa posição, se a imersão é o único batismo bíblico. A razão é que cabe a Jesus Cristo decidir quem tem direito à mesa dele, e nosso irmão concorda em que Cristo não deu este privilégio aos não batizados. Se Cristo não o deu, como teremos nós a autoridade de dá-lo? Nosso crítico confessa que somos lógicos em nossa posição a respeito da Ceia do Senhor. E vamos além. Somos também bíblicos e obedientes. Lealdade a Cristo é o fundamental princípio batista.

Diz o folheto (p. 87): “Deus comunga conosco.” Mas certamente qualquer menino veria que isso nada tem com a Ceia, em que se come e bebe vinho. Trata-se, inegavelmente, de outra coisa. Pode nosso prezado colega nos mostrar um cálice presbiteriano de que Deus bebeu vinho? Ele poderia vendê-lo por uma soma fabulosa! Não, Deus não toma a Ceia, nem entre os batistas nem entre os presbiterianos. Isso é fita, Cristo mesmo disse que nunca o tomaria outra vez até que voltasse à terra na sua segunda vinda (Mat. 26:29). A comunhão que batistas e presbiterianos tem com Deus é inteiramente independente de cerimônias que praticam. Não há justificação dessa confusão propositada sobre tão importante tema.

VII. O Proselitismo – Quem É O Réu?

Quanto mais perto chega ao fim, tanto mais feroz é a linguagem de nosso crítico. E é pena! Já chega a acusar os batistas de serem blasfemos (p. 88), arrogantes, usurpadores dos direitos do próprio Cristo e anticristãos (p. 89). É muito. É demais. Falta-nos pouco para sermos chamados próprio anticristo! E acrescenta ainda esta:

Outra tristíssima conseqüência do exclusivismo batista é o seu proselitismo. Se há proselitismo nas outras igrejas, é isso fruto da fraqueza humana, mas o dos batistas é fruto do seu sistema: é dogmático.

Pelo fato de se julgarem a única igreja legitimamente organizada, entram pelas igrejas irmãs e fazem tudo para aniquilá-las chamando para si os seus membros. O tema de seus sermões proselitistas é a imersão, fora do qual não há batismo.

Só posso falar por mim e do ambiente que conheço. Já testifiquei que, em quinze anos de ministério bastante ativo no Brasil, não me lembro de nunca ter pregado um sermão sobre a imersão. Acrescento que também não me lembro, nestes quinze anos, de ter ouvido um único sermão sobre imersão em nenhuma igreja batista. Tenho sabido de semanas inteiras em que o que há de mais ilustre no presbiterianismo se dedicou com uma fúria sectária a uma campanha pública a favor da aspersão com ataques amargurados e personalíssimos contra o ministério batistas. É minha solene convicção que onde há um sermão batista a favor da imersão há vinte sermões presbiterianos contra a imersão. E esses sermões e os folhetos que deles nascem não poupam a quem discorda. Vários dos melhores batistas no Brasil hoje em dia me testificam que foram afastados do presbiterianismo e levados a investigar e aceitar o batismo bíblico pelas coisas duras e extravagantes ditas por seus próprios ministros nesses mesmos sermões. Sempre quando um presbiteriano prega sobre batismo, é certo que ele vai perder membros para alguma igreja batista, pois ele desperta a investigação e esta é fatal ao aspersionismo, em qualquer mente aberta. Mas, inúmeras vezes, a vida destes presbiterianos, pedindo ser batizados, é para nós uma grande surpresa.

Os folhetos que alguns presbiterianos escrevem contra o batismo e contra os batistas são um escândalo. A linguagem é de uma baixeza inominável. É mancha na liberdade de imprensa. Só o Padre Dubois! Tais homens caem na categoria condenada pelo Salmo I – os escarnecedores. Não tendo Escritura ou argumentos, ridicularizam o batismo bíblico com um escárnio indigno de um cristão, esquecidos de que o Senhor Jesus e a Trindade toda honraram precisamente o que eles odeiam e deturpam. A maneira por que falam deste primeiro ato público do ministério do Salvador é um insulto ao Filho de Deus.

Quem é que usa o proselitismo como sua arma predileta? Há 500 igrejas batistas no Brasil. Em cada uma há testemunhas do proselitismo dos frutos da nossa obra de evangelização pelos discípulos de Calvino. Um pobre, eles desprezam. Não se importam que seja batista. Mas apareça um homem de classe média ou classe alta da sociedade! Então o proselitismo presbiteriano começa uma atividade febril. O povo batista é taxado de ser pobre e plebeu. Se quiser andar com os aristocratas, urge ser presbiteriano. E tais considerações mundanas, e a proteção oferecida por um ministério que em tantos casos é funcionário de César – tudo isto pesa na balança da decisão do inexperiente investigador, e vemos mais um que evangelizamos arrastado para desobediência ingrata para com o Senhor que o salvou.

Se há um povo que deva calar-se, envergonhado, sobre o assunto do proselitismo, são os presbiterianos. Esse próprio folheto o diz, na sua última sentença, que visa a batistas (p. 91).

VIII. O Ensino da Desobediência a Cristo e as Doutrinas Falsas Que a Justifiquem, Não Será Heresia?

Nosso irmão se ufana. Diz na p. 88:

Na verdade, nenhum crente sincero se unirá em atos de culto, com pessoas que considera hipócritas e herejes, ou pecadores escandalosos. Os batistas não nos consideram nessas condições e por isso tem conosco comunhão espiritual.

A comunhão espiritual temos e cultivamos, mas o irmão está redondamente enganado se pensa que os batistas não consideram heresia várias doutrinas presbiterianas.

Para nós é hereje todo aquele que discorda do Novo Testamento. E se as doutrinas presbiterianas de duas salvações, de membros naturais do reino de Deus, da igreja unida com o Estado, de uma igreja nacional, do batismo infantil, da confusão da velha dispensação com a nova, das fogueiras e da intolerância inquisitorial pregada e praticada por Calvino, da identidade da igreja e do reino, da solidariedade do filho com o pai contra sua consciência , da mulher ser “propriedade” do seu marido (p. 20), da reputação do individualismo e responsabilidade pessoal e competência religiosa da alma para com Deus, da presença, nas igrejas, de pessoas nunca regeneradas – se estes e outros elementos numerosos do presbiterianismo não são heresias, então não há e nunca houve heresia. São algumas das principais heresias dos séculos!

Não é questão de somenos importância discordar do Novo Testamento. É verdade que hereje, entre nós, não tem o sentido odiento que tem no romanismo, mas quem discorda do Novo Testamento é hereje ao nosso ver, por mais simpático que seja.

IX. A Imersão dos Nus É Horrenda, Indecente, Maldita... Contudo, a Aspersão dos Nus É Boa, Louvável, Elegante... Prova Nosso Aspersionista, Não É?

Escandaliza o modesto reitor descobrir que, séculos depois de Cristo, os supersticiosos adeptos de um cristianismo semipaganizado administravam o batismo aos batizandos estando estes em estado de nudez. Ah! Mas isso é terrível! Alguém chame a polícia! Esses batistas são um horror (se bem que o autor supõe que os batistas têm sua origem séculos depois). Precisamos responsabilizar a teoria da imersão por esse escândalo (se bem que parece não ter sido escândalo algum aos olhos dos contemporâneos).

Mas neste período surge uma arte eclesiástica rude, inexata, herética, falsa. Representa o rio Jordão como da largura de uma cama. Figuras de ambos os lados são vistas e Jesus no meio, na água. Os aspersionistas querem crer que Jesus está sendo aspergido por João. A figura no Dicionário Bíblico de Davis (p. 115) representa o Salvador na água até ao cinturão – tendo o Onisciente escolhido este meio dificultoso e insensato de ser aspergido! Mas a figura está nua, exceto um pano amarrado ao redor das coxas. Ah! Isso é lindo! É decente e modesto pintar o Salvador do mundo quase nu – e essa nudez para facilitar que ele viesse a ser aspergido! Para que tirar a roupa, no rito de aspersão? Ah! Mas os batistas não devem fazer tantas perguntas. É irreverente!

Ora, a respeito dessas nulidades de arte eclesiástica, há dois fatos, aliás três, a considerar:

1. O próprio fato de que Jesus está quase completamente nu, e o Batista veste apenas a pele do animal que cobre as partes privadas do corpo, sugere fortemente que o artista quis representar a imersão como já tendo sido realizada.

2. Corrobora este fato a decida visível do Espírito em forma de pomba, que os Evangelhos testificam ter-se realizado depois do batismo.

“Batizado que foi Jesus, saiu logo da água; eis que se abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como pomba e vir sobre ele” (Mat. 3:16). “Logo ao sair da água, viu o céu abrir-se e o Espírito como pomba descer sobre ele. (Mar. 1:10). “Quando todo o povo havia recebido o batismo, tendo sido Jesus também batizado e estando a orar, o céu abriu-se, e o Espírito desceu como pomba sobre ele em forma corpórea.” (Luc. 3:21-22).

Vede a gravura no Dicionário de Davis. Jesus está nu, como tendo sido imerso. E a cerimônia vista sincroniza com a descida da pomba. Logo, não é o batismo que se vê, pois se efetuara antes segundo o testemunho dos três Evangelhos.

3. Havia uma cerimônia pós-apostólica que correspondia a este simbolismo da descida do Espírito? Havia. Era o crisma. E o eminente historiador cristão, o Dr. João T. Christian, publicou uma obra, até hoje impossível de ser contestada, sobre. “O Batismo na Arte”, na qual ele, depois de examinar pessoalmente todas estas gravuras, diz que elas não pretendem representar o batismo de Jesus mas sim o rito do crisma, efetuado depois do batismo.

Isso explica a nudez, a concha na mão do Batista, e o óleo que cai sobre a cabeça de Jesus. Tudo é superstição do cristianismo semipaganizado, que, crendo na eficácia da água para tirar pecado, não permitiu que a roupa fizesse perigar sua atuação acabada. (Vede no penúltimo capítulo como os judeus até tiravam os anéis para não quebrarem a santa magia da água purificadora!). Logo, nosso irmão se abrigou numa manifestação supersticiosa de nudez que os batistas nunca praticam nem apoiaram. O abrigo é casa sem teto, pois a referida arte não se refere batismo mas a outro rito, precioso aos olhos dos cristãos romanizados.

Vede, no penúltimo capítulo, o testemunho do Dicionário e Enciclopédia Internacional de que toda a primitiva arte cristã representa o batismo como sendo a imersão.

X. Não Se Pode Traduzir baptizo, Logo Não Significa Nada Certo!

A terceira consideração que temos a fazer é que o verbo baptizo, aplicado ao rito de iniciação na igreja, tem sentido especial que não pode ser traduzido e é transladado em nossas traduções da Bíblia. Este fato foi reconhecido desde a primeira tradução latina que adotou o termo grego em vez de traduzi-lo. Como vimos no capítulo em que tratamos do batismo de João, o verbo batizar fica sem sentido se o substituirmos por imergir ou aspergir, nas passagens que narram aquele batismo. Num lado, teríamos a declaração de que o Batista arpergia o povo no Jordão; e o no outro, que o povo era imergido no referido rito. A primeira experiência daria um franco absurdo e a segunda não daria, por si, nenhuma noção do rito batismal; um banho não é um batismo (p. 72).

Concordamos em que a “declaração de que o Batista aspergia o povo no Jordão” é “um franco absurdo”, porque a idéia é absurda e baptizo não significa aspergir.

Quanto à referencia grosseria ao batismo ser um banho – frase com que os oradores presbiterianos procuram ridicularizar nos púlpitos a ordenança de Cristo – a Bíblia contradiz o ilustre reitor em vários lugares. A figura de um banho é parte do simbolismo do batismo como veremos no último capítulo. Escarnecendo disto, estão zombando de Deus e de sua Palavra.

Mas o ponto principal é essa idéia de que baptizo é incapaz de se traduzir. Que há palavras que são difíceis a verter outra língua por uma só palavra é fato. Mas nos vários contextos é possível dar as idéias certas, senão por uma palavra, então por diversas. Saudade é uma palavra que não tem equivalente no inglês, mas há diversos termos que o traduzem em diferentes sentidos. E, por ser assim no inglês, não prova que todas as línguas humanas são igualmente incapazes de oferecer tradução. Mas a teoria de nosso autor é que baptizo não se traduz em nenhuma língua.

Pelo contrário, afirmo que é traduzido em todas elas, sem a menor dificuldade, a não ser onde o preconceito eclesiástico o proíbe.

Não é real que a mais antiga versão latina transliterou o termo. A Vulgata é uma versão que tinha várias versões antecedentes no latim. Tertuliano, o mais primitivo dos “padres” latinos, usava uma versão no segundo século, que ele assim cita: Lex enim tinguerndi imposita est, et forma praescripta. Ite (inquit) docete nationes, tinguentes eas in nomen patris et filii, et spiritus sancti (Tertul., de Batismo, c XIII (ed, Semler, Vol. IV, p. 172)). Conant, em sua obra magistral sobre baptizein, cita esta e mais quatro passagens em que Tertuliano uniformemente deu o verbo tinguere como tradução de baptizo.

Em Roma, o grego, e o latim eram falados lado a lado pelo povo bilíngüe, por séculos. Não é de estranhar que baptizo ficasse permanentemente na língua latina como Batizo, mas a versão conhecida por Tertuliano prova que fora traduzido e não havia dificuldades ou confusão em verte-lo imergir.

Cipriano cita, assim, a mesma versão, meio século depois (Conant, p. 144).

Este erudito autor cita as primitivas versões siríacas, copta e etíope, como também traduzido, não transliterando baptizo e a tradução é por palavras definidas em todos os dicionários imergir.

Na primitiva versão gótica, Ulfilas não transliterou, mas traduziu: daupjan = latim mergere, e em dois casos (Luc. 3:21; 7:29) por ufdaupjan = submergere..

A primeira Bíblia do baixo saxão, 1470-80, verte baptizo por doepen = “dip”, imergir.

A Bíblia alemã de Augsburgo (1473 – 1475) não transliterou mas traduziu por taufen = mergulhar. Lutero (1522) traduziu baptizo por taufen = imergir.

O Dr. I. A. Schott em 1839 traduziu o texto crítico grego em latim, para os universitários, e verter baptizo por immergo.

William Carey foi o maior lingüista na história humana. Foi assim dotado providencialmente para dar a Bíblia em o vernáculo a maior número de raças, povos e línguas do que qualquer outro tradutor, ou uma dúzia qualquer de tradutores, até ao dia de hoje. Em todas as línguas, ele traduziu fielmente baptizo = imergir.

Judson, pelo estudo do Novo Testamento grego para se fortalecer contra os batistas, viu os batistas tinham razão na Palavra de Deus e se fez batista e verteu baptizo = imergir, na versão da Birmânia.

William Rainey Harper, vir eminentíssimos, Pres. da Universidade de Chicago, João A. Broadus, Pres. do Seminário Batista de Louisville e João R. Sampey, Pres. do mesmo Seminário, o maior do mundo, deram ao público na América uma versão fiel da Bíblia inteira. Traduziram uniformemente baptizo = imergir. Há várias versões ao pé da letra no inglês. Todos vertem baptizo = imergir.

Mas não temos de sair da língua de Camões. O caso de Naamã aí está. E nossas versões evangélicas todas traduzem mergulhar a passagem em que a Versão Grega tinha baptizo.

Longe de ser impossível traduzir, baptizo não apresenta dificuldade alguma em ser traduzido, senão a má vontade de certos tradutores.

Os aspersionistas conquistaram o domínio das sociedades bíblicas e arbitrariamente determinaram que esta palavra de Jesus não fosse traduzida, daí em diante, mas sim transliterada. Foi um pecado contra a luz. Eles sabiam o significado de baptizo, mas deliberadamente sufocaram os fatos e esconderam do povo a luz.

Alexandre de Stourdza, conselheiro real da Rússia antiga, disse:

“O característico distinto da instituição do batismo é a imersão, baptisma, que não se pode omitir sem destruir o sentido misterioso do sacramento, e contradizer ao mesmo tempo a significação etimológica da palavra, que serve para designá-lo”.

“A Igreja do Ocidente, pois, apostatou do exemplo de Jesus Cristo; obliterou toda a sublimidade do sinal exterior; enfim, abusa das palavras e idéias, em praticar batismo por aspersão, que é uma contradição decisiva dos termos. O verbo baptizo, immergo tem uma única significação. Quer dizer sempre e em todo lugar mergulhar. Batismo e imersão são, portanto, idênticos, e dizer batismo por aspersão é como se dissesse imersão por aspersão, ou qualquer outro absurdo igual.”

É a voz da cristandade grega, que deve saber qual era o significado de baptizo e sempre testificou, por doutrina e prática, que é imersão.

Nossas versões em português são vítimas desta mesma arbitrariedade eclesiástica. Os batistas são a mais numerosa denominação evangélica no Brasil. Sua obra de educação cristã é empolgante. E a coroa de toda são seus Seminários Teológicos. Incontestavelmente os corpos docentes destes são o grupo de teólogos mais bem preparados e peritos nas línguas hebraicas e grega que há na América Latina. Há mais seminarista em seus seminários do que todas as demais denominações juntas possuem. E os graus acadêmicos e teológicos de seus mestres, obtidos nos maiores Seminários e Universidades de três continentes, põem fora de contestação sua competência.

Mas o sectarismo aspersionista, com uma mesquinhez partidária e vergonhosa, formou o corpo de tradutores da Versão Brasileira sem nele incluir um único batista. E se bem que em outros respeitos a tradução é ótima, seus autores não pouparam esforços para minorar o claro testemunho das Escrituras quanto à imersão. Não se pode esconder a verdade, mas manobraram as frases sagazmente para darem a si mesmos a máxima vantagem em argumentar.

De sorte que, temos a versão do Padre Figueiredo, péssima e sectária, que parece ter sido traduzida, no Salmo 23 e Isa. 53, etc. , quando o padre estava embriagado.

Temos a Versão Almeida, da autoridade de um missionário da Igreja Reformada (presbiteriana) no Oriente. E temos a Versão Brasileira, manobrada pelos aspersionistas tanto quanto sa erudição sincera o permitia. É essa a idéia de justiça, imparcialidade e lealdade à Palavra de Deus, que vai prevalecer no evangelismo brasileiro?

Não há dificuldade alguma em traduzir baptizo. Para centenas de milhões de nossos semelhantes e através de 18 séculos, as traduções seguem uma após outra, vertendo baptizo, no vocábulo que significa imergir.

O único motivo de não querer traduzi-lo é que os aspersionistas sabem que traduzindo-o aspergir é “franco absurdo”; logo, não consentem em traduzi-lo em sentido algum.

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos - 23/08/05

Revisão: Luis Antonio dos Santos - 24/08/05