Cap 07

AS VERSÕES GREGAS DO VELHO TESTAMENTO TESTIFICAM

Dr. W. C. Taylor

Capítulo VII

Sobre o emprego da palavra baptizo, examinemos primeiro as passagens discutidas no opúsculo sobre “Controvérsia Batista”.

O autor cita quatro casos de empregos deste verbo na Septuaginta, versão grega do Velho testamento. O primeiro é o caso de Naamã, de que o grego diz: kataebh Naiman kai ebaptisato em tw iordanh eptkai.

Na versão Brasileira, na qual colaborou o preclaro Eduardo Carlos Pereira, dá assim o sentido: “Desceu ele e , mergulhou-se sete vezes no Jordão.” Almeida traduz: “Então desceu, e mergulhou no Jordão sete vezes.” A versão francesa diz: “II descendit alors et se plangea sept fois dans lê Jourdain.” A versão inglesa comum: “The he west down and dipped himself seven times in the Jordan.” A Revisão Americana de 1901 (quase idêntica à inglesa de 1881 – 1885): “The went he down and dipped himself seven times in the Jordan.” Moffatt, o mais eminente intérprete presbiteriano da nossa geração, tradutor da Bíblia toda na “Moffatt Version” tem: “At this he went and dipped seven times in the Jordan.”

Mas, diante deste testemunho unânime das Bíblias mais bem traduzidas do Brasil, da outra América, do mundo britânico, da França e da antiguidade, só diverge a pior tradução dos séculos, a do padre romanista Figueiredo: “Foi ele, pois, e lavou-se sete vezes no Jordão.” Nosso opúsculo, porém, traduz: “e batizou-se no Jordão” (p. 50). O que ele verte “batizou-se”, vejam os leitores que as melhores versões brasileiras vertem “mergulhou-se”, à francesa “plangea” e as inglesas “dipped”.

A este testemunho, o autor opõe esta fraca sentença: “num rio também é possível lavar-se sem imersão”. Sim, é possível – mas não num caso onde, segundo todas as melhores versões em muitas línguas, é afirmado que ele sete vezes se mergulhou .

Resta notar o erro da tradução Figueiredo e do argumento que afirma que lavar-se (louw) não exige imersão. Cada ato, porém, a ser sete vezes repetido era lavar o corpo inteiro, pois assim louw significa, em distinção de nipto. Mas o cumprimento deste mandamento foi mergulhar-se. Cada uma das sete vezes o corpo todo seria lavado. Há um só ato em que isto seria a verdade – a imersão. Aspergir uma vez, não lava o corpo inteiro, nem derrubar água uma vez, mais sim imergir-se uma só vez lava neste ato o corpo inteiro. A significação especial de louw - de incluir o corpo inteiro – obriga o verbo baptizo e a incluir o corpo inteiro também, e elimina de vez a aspersão das possíveis significações do termo.

A segunda passagem é figurada mas clara no seu sentido: h anomia me baptizo (Is. 21:4), “a iniqüidade me batiza”- “me sobrepuja, me cobre nas suas ondas vencedoras”. A figura de tanto pasmo não é como umas gotas aspergidas na testa, mas como a submersão nas profundezas da injustiça.

A terceira passagem discutida é Judite 12:7. Citemos a linguagem do prezado irmão presbiteriano:

“No livro de Judite 12:7, achamos esta frase: batizava-se numa fonte. Trata-se da célebre Judite. Tendo permissão de sair de sua tenda, à noite, a fim de orar, ela se banhava (baptizo) numa fonte no vale de Betúlia... Todas as circunstâncias do banho de Judite são desfavoráveis à imersão. Trata-se de uma senhora que, numa fonte, se banhava ao ar livre dentro – ou próximo – dos arraiais de um grande exército” (p. 51).

A narrativa anterior mostra haver fontes numerosas ali. Diz que Judite tinha licença do general para sair cada noite “antes do amanhecer”. Certamente, ela não havia de parar, para suas devoções, no meio de soldados do acampamento. Logo, se ela se mergulhasse na fonte, de madrugada, quem a teria visto? A noite era uma tenda de modéstia sobre tudo. Não há, mesmo neste incidente apócrifo, motivo algum de criar um escândalo sobre uma viúva mergulhar-se numa fonte. Seria fundo manancial fora de lugares habitados, cercado de mais, não uma só fonte artificial moderna para saltar no parque de uma cidade, como quer crer o inimigo da imersão.

Fui criado numa terra da mesma formação geológica como a Palestina. Já vi fontes inúmeras e bem fundadas das quais manavam largos ribeiros. A fonte, de madrugada oferecia lugar esplêndido para as lavagens cerimoniais exigidas pela Lei, e só Deus veria a devoção de sua serva às leis do seu povo.

O quarto caso é o livro apócrifo de Eclesiástico (34:31-30): “Se alguém se lava (baptisamenos) depois de ter tocado um morto, e o toca outra vez, de que lhe serve o ter-se lavado?” (tw lautrw). Notai a identidade outra vez de baptizo com a idéia de lavar o corpo inteiro num só ato (lautiro).

Mas, diz o intérprete aspersionista da passagem que a purificação do contato com um cadáver foi por aspersão (Num. 19:13). Sim, pela aspersão de água benta da velha dispensação – água misturada com as cinzas de uma novilha vermelha queimada, inclusive couro, carne, sangue e excremento (Num. 19:6). Os pedobatistas são muito zelosos em identificar o batismo cristão com a aspersão de tal água, contudo, ficariam horrorizados se tivessem de aspergir semelhante água na face de seus filhinhos. Esta cerimônia de aspersão fazia parte da purificação cerimonial de alguém que tivesse tocado um cadáver na sua tenda, ou entrado mesmo na tenda, ou tocado até um osso de homem ou uma sepultura. Havia duas partes da cerimônia, a aspersão da água sacrificial que fala com símbolos do sacrifício de Cristo. Um terceiro aspergiria o imundo, ao terceiro e ao sétimo dia, com essa água em que foram lançadas as cinzas de couro, carne, sangue e esterco do animal morto. E o fim da cerimônia é: “e aquele que era imundo lavará os seus vestidos, banhar-se-á (lousetai) em água (não nessa mistura sacramental) e ficará limpo à tarde” (Num. 19:19). Ora, nosso irmão sabe desse banho como o último passo da exigência da Lei. Como é que procura deixar a impressão de que a única coisa exigida fosse a aspersão dessa água de sangue, esterco, etc., queimados? Ora, a parte que ele omite é a parte a que se refere a passagem no Eclesiástico. E não há surpresa que banhar o corpo inteiro (louw) é efetuado por se imergir, baptizo. Mas, infelizmente para a causa aspersionista e felizmente para a verdade, não são esses os únicos casos do emprego de baptizo em versões gregas do Velho Testamento. A Versão dos LXX não é a única versão grega no Velho Testamento. Como nós temos três versões da Bíblia em português, há também quatro versões gregas do Velho Testamento, e são incluídas na magistral “Concordância” de Redpath e Hatch. E as outras empregam baptizo em várias passagens.

A luz destas outras versões sobre a teoria de que baptizo ia perdendo seu significado anterior de imergir é valiosa, pois a Versão de Áquila foi feita, segundo Epífânio, 430 anos depois dos LXX (New Schaff-Hertzog Encyclopedia, Vol. II, pg. 119) e foi preservada na Hexapla de Orígenes.

Simmachus fez uma versão grega para os samaritanos, Teodotiano fez uma revisão dos LXX e sua versão de Daniel é a base do Daniel da Bíblia de Jerônimo, Figueiredo e dos presbiterianos do Brasil. Orígenes achou mais duas versões, mas não as temos hoje em dia. Ainda outra, mil anos mais nova do que a LXX foi descoberta em 1740. Logo, estes homens, segundo a querida teoria presbiteriana, devem ter baptizo cada vez menos com a evolução da língua, pois a teoria é que baptizo ia se distanciando cada vez mais de bapto, nos séculos sucessivos à época clássica, e a evolução do termo despejou dele a idéia de imersão e só ficou a de aspersão e afusão. Ora, o leitor será o juiz. Temos bapto, usado em as seguintes passagens por Áquila, centenas de anos depois da LXX, que está, por sua vez, longe do grego clássico. Mas, de fato, embora seja fatal à teoria presbiteriana, o que vemos é o verbo traduzindo o hebraico precisamente onde nossas versões traduzem imergir. Vejamos:

Áquila tem baptizo em Jó 9:31: “Todavia, me submergirás no fosso.” E tem baptizo no Sal. 69:2: “Atolado estou em profundo lamaçal, onde não se pode firmar o pé; entrei nas profundezas das águas, e a corrente me submerge.” E em Jer. 38:22 temos: “agora estão teus pés atolados no lodo.”

Outra versão ainda usa baptizo em Lev. 6:28: “Mas o vaso de barro em que foi cozido será quebrado; se for cozido num vaso de cobre, será esfregado e lavado na água.” E no Sal. 9:15: “Afundam-se as nações na cova que abriram...”

No próprio caso de Naamã, as versões (exceto a péssima obra do Padre Figueiredo) traduzem a passagem em que a Septuaginta usa baptizo, “mergulhar”. E o grego antes de Cristo e o de depois de Cristo, longe de se afastarem da idéia de imersão, empregam baptizo sempre para as idéias que os próprios tradutores aspersionistas são obrigados a traduzir mergulhar, submergir, atolar, lavar na água, afundar-se, e qualquer outra linguagem que implique imersão em alguma substância. O júri das versões gregas é unânime em condenar aspergir como significado de baptizo. Aqui, com igual unanimidade, dão o valor, real ou figurado, de imersão.

Não podemos verificar as citações de Homero, etc. porque o ilustre autor não diz onde se acha o que ele alega. Mas nem ele ousa afirmar aspergir como significação de baptizo em nenhum caso que ele cita.

E nas passagens que ele cita da Septuaginta, os mais ilustres tradutores presbiterianos do mundo traduzem baptizo, mergulhar, no caso de Naamã, e em várias outras passagens em que é usado em versões gregas do Velho Testamento.

Logo, este é o significado que Jesus e os apóstolos encontraram nas suas Bíblias: Empregaram o termo em sentido diferente? A própria posição do folheto obriga o autor a dizer não. Se Naamã foi imerso, Jesus foi imerso e nós devemos ser imersos também.

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos - 23/08/05

Revisão: Luis Antonio dos Santos - 24/08/05