Cap 09

MISCELÂNEA: A LOUCURA DE ENTRAR NA ÁGUA PARA EFETUAR ASPERSÕES – AS PREPOSIÇÕES EMPREGADAS – A ORIGEM DO LEITÃO ASSADO

Dr. W. C. Taylor

Capítulo IX

O ardoroso defensor do aspersionismo parece pensar que ele teria provado alguma coisa se pudesse demonstrar, com toda sorte de sofismas e lógica sectária, que a afusão ou a aspersão eram remotas possibilidade em alguns casos. Nada disto vem ao acaso. Que adianta estar sonhando com possíveis batismos? A mente evangélica confia que a Bíblia é uma revelação divina, não uma confusão perturbadora da mente, e quer saber como obedecer ao Senhor, não como sofismas de tal forma que fique obliterada a linha de distinção entre a obediência franca e alegre e a desobediência como subterfúgio de probabilismo e supostas possibilidades. Queremos saber e fazer o que Jesus Cristo soube fazer no rio Jordão como nosso divino exemplo. E nada orienta saber que é possível que Jesus tivesse entrado no rio Jordão e pescado um peixe que pesasse des quilos ou se deitasse na lama da margem ou nadasse contra a correnteza um quilômetro ou edificasse na água um monumento de pedras ou se aspergisse com as roupas tiradas. Tudo isto é possível entrar num rio e fazer. Mas temos a declaração categórica de que Jesus estando no rio ebaptisqe (foi imerso). Que adianta sonhar em possíveis atos que ele poderia ter praticado no rio? E se alguém não sabe e não quer saber do grego, ainda este alguém tem a clara declaração de que fomos “sepultados juntamente com ele no batismo”. E a primeira pessoal do plural se refere a quem falava (Paulo) e as pessoas a quem ele falava (os colossenses). Paulo foi sepultado no seu batismo. Os colossenses foram sepultados também, no solene símbolo. Mas foram sepultados “com ele” (Cristo). Como se podiam ter associado com Cristo na sepultura simbólica que é o batismo, se o batismo dele fosse outra coisa que nada viesse a sugerir de sepultura ou regeneração?

O batismo do Novo Testamento, sem sabermos grego, é claro:

1. O batizando e o batizador entram ambos na água (Atos 8:38).

2. Pelo ato simbólico, o batizando é figuradamente sepultado (Rom. 6:4).

3. Pelo mesmo ato é simbolicamente ressuscitado (Col. 2:12).

4. Depois do batismo, saem da água o ministro e o batizado (Mat. 3:16; Atos 8:39).

5. Em tudo isto estamos associados com Cristo e fazemos o que ele fez e nos mandou fazer (Rom. 6:3; Col. 2:12 e os Evangelhos).

À luz destas insofismáveis afirmativas da Bíblia portuguesa, embora se suprima a tradução de um verbo grego, por preconceito sectário, para esconder uma parte da revelação divina, no entanto, a revelação, como o Revelador, não pode ser escondida (Mar. 7:24). Que adianta, pois, multiplicar suposições do que é possível fazer quando se entra num rio? Pode-se até entrar nele e abrir a boca e por-sê a sofismar. Mas isto Jesus não fez – com toda a certeza.

Não falta ao autor imaginação fértil. Lemos na pg. 55:

Por calçado usavam alpercatas que, como a nossa chinela, podem ser facilmente descalçadas, e a vestimentas eram uma sorte de saias que cobriam até pouco abaixo dos joelhos e podiam ser facilmente arregaçada.

Elegante, não é? Especialmente para as mulheres entrarem assim nas águas com a saia arregaçada – para que? Porque assim era absolutamente mister a fim de se borrifar sobre as suas testas umas gotas de água, de uma romântica concha! Talvez aí, por esse aspersionismo com saias arregaçadas, se tenha originado a moda atual de saias curtas. Mais um troféu para o reitor do Seminário Unido!

Infelizmente, para ele, o ilustre discípulo de Calvino se esqueceu de que já nos apresentou gravuras por ele apoiadas que mostram as tais “saias” não “arregaçadas” mas completamente despidas. Ah! que arte presbiteriana “indecente”! Convém lembrar-se disso na próxima vês em que for tentado a chamar a ordenança de Deus “indecente”.

O batismo de Jesus é assim descrito pelos dois evangelistas que o narram:

baptisqeis de o ihsous eu qus anebh apo tou udatos - Mateus.

kai ebptisqh eis ton Iordahn upo Iwantou. Kai euqus anabainwn ek tou udatos - Marcos.

Ouçamos agora o comentário aspersionista sobre o ato (p. 55):

Afirmam eles que esta frase só se compadece com a idéia de imersão, porque para aspergir não era mister entrar na água.

Respondemos que se pode subir da água, primeiro, sem se ter estado dentro dela, e segundo, sem nela se ter estado imerso. A frase grega – “anébe apó tou ydatos”, literalmente, significa subir desde a água. A preposição apó que se traduz de em português, corresponde aa preposição ab latina, que indica lugar de onde. Assim, pois, se a frase “subiu da água” significa “subiu de dentro da água” traduz quando se diz – “e Saulo levantou-se da (apó) terra” (Atos 9:8) – significa que o perseguidor dos cristãos, após a visão no caminho de Damasco, levantou-se de dentro da terra.

Aquela é a tradução mais razoável da preposição apó na frase controversa, mas admitindo que ela ali significa dentro, ainda assim não se prova a tese batista, porque dentro da água também se pode aspergir. O batizado e o ministrante podem entrar na água até certa fundura e ali ser feita a cerimônia do batismo por aspersão tão bem como pela imersão.

Nosso autor esconde dos seus leitores – ou, pelo menos, não lhes revela o fato de que, em a narrativa de Marcos, temos ek, não apo, que esclarece que Jesus tinha estado no rio e saiu da água. Ele deixa o leitor supor que nos Evangelhos só se encontra apo nos contextos sobre o batismo de Jesus. Combinando, pois, o testemunho de Mateus e Marcos, temos a certeza de que Jesus tanto “saiu da água” como “subiu da água”.

Sobre estas preposições, o autor diz o seguinte:

Outro argumento batista, de que fazem grande cabedal e que apresentam como prova de sua teoria é o fato de que as preposições gregas, eis, em e ek aparecem nas passagens que tratam do batismo. Essas preposições correspondem às tinas ad, inf e ex, que significam, respectivamente – para, em, de. A primeira indica lugar para onde, a segunda, lugar onde e a última, lugar donde. Pretendem, porém, os imersionistas que eis só significa para dentro de e ek, para fora de.

1. Eu duvido que já houvesse alguma vez imersionista conhecedor da língua grega que dissesse que eis só significa para dentro de e ek para fora de. Se dissesse, teria de ser classificado de incompetente na matéria. Rara é a palavra de um só sentido.

2. Nosso autor está obsecado na idéia de que um vocábulo tem de ser imprensado numa única definição. E se isto não for possível, logo, não tem significação certa e pode significar qualquer coisa, em qualquer contexto, conforme ditar a conveniência do argumento aspersionista. Palavras são inteligíveis no seu contexto, e é preciso seriedade em defini-las.

3. A regra áurea de interpretação bíblica é: “O contexto interpreta o texto.” Há textos onde dentro e fora são impossíveis idéia na tradução de eis e ek, e há passagens onde são absolutamente necessária para lhes verter no vernáculo o sentido inegável. Até o tal ex-batista Fairchild, ilustre desconhecido, cujo nome inglês significa Criança Imparcial, mas cujo espírito é de Criancice Partidaríssima, - até esse fugitivo da verdade testifica que há vários textos em que se exigem estas traduções das referidas preposições: ek - de fora de, e eis - para dentro de.

4. É insensato estar sempre dizendo que é possível uma significação diferente da que o contexto exige, como o sentido da palavra nele, e então desafiar os batistas a provar que o possível seja impossível, clamando, se não nos arrojamos a este esforço supérfulo: “Logo, está provada a aspersão ser batismo.” Nossa obrigação mútua é buscar o sentido natural da Bíblia e não negar mil impossibilidades e possibilidades e probabilismos.

5. É falta de tino lingüístico querer logo dizer que três preposições gregas são equivalentes a três preposições latinas. Não é verdade. Deixemos isso para os frades.

6. Dito isto, vejamos desapaixonadamente as preposições gregas em conexão com baptizo são en, com o caso locativo, para indicar o lugar onde ou aquilo em que se batizar – água, Espírito, fogo, sofrimento, ou nuvem e Mar Vermelho; com o caso acusativo indicando o lugar para onde se chega ou entra ou dentro do que se penetra; apo, com o caso ablativo, indica o ponto de partida, não afirmando se a partida era do lado de dentro ou do lado de fora – nem nega nem afirma coisa alguma sobre isto; e ek, com o caso ablativo, que indica o lugar de onde e em contextos em que é distinguido de apo, salienta que o ponto de partida era de dentro para fora. Até o Sr. UN-Fairchild afirma este sentido de ek. Não negamos que ek às vezes é sinônimo de apo, mas o sentido de origem, fonte ou partida de dentro para fora é necessário em inúmeras passagens para fazer jus à idéia da preposição. É a frase formal para as genealogias – Fulano “gerou” Beltrano de ek. Fulano, ou alguém “nasceu” ek. É o termo usado na expulsão de demônios de ek, os endemoniados. É a palavra que indica a procedência de toda a sorte de sentimentos que procedem do íntimo, do coração. É a palavra que descreve a ressurreição “de entre os mortos” (ek). É o termo que se refere ao que sai “da boca”, “do céu”, de cidades e países, do mundo, do túmulo. O sentido ordinário de ek é procedência do lado de dentro, e os demais sentidos derivam-se naturalmente deste de uma maneira facilmente vista no original. Por exemplo, o sentido partitivo “um dos doze” conserva a mesma idéia, no grego.

Mas o Sr. Um-Fair-Child é citado outra vez:

“Na Bíblia inglesa, segundo o testemunho do Dr. A. G. Fairchild, que examinou o ponto, nas 264 vezes em que eis é usada nos Atos dos Apóstolos, somente 61 vezes foi traduzida pela palavra dentro, e em 64 empregos de ek, somente 5 vezes foi interpretada pelo termo fora.” (pg. 58).

Descansa na minha mesa uma concordância grega da Bíblia inglesa (The Englishman’s Greek Concordance). Ela cita a tradução da Bíblia inglesa de 89 passagens no livro dos Atos em que se usa ek, e nestas 89 passagens ek é traduzido out of (fora de) 18 vezes, from among (dentre) 2 vezes, out among (dentre) uma vez, e out from (dentre) uma vez. Em quase todos os demais casos, a tradução é from (de), onde o contexto torna claro que a procedência era de dentro para fora – “do céu”, “do ventre”, “dentre os mortos”, “da terra dos caldeus”, “do Egito”, “do cárcere”, etc. etc. A única vez que é usada com baptizo a tradução inglesa é “come up out of the water” que dá dupla idéia de sair de dentro da água e subir. Nosso Fairchild é uma criança que ganharia a nota de “fair” (sofrível) em aritmética, pois ele nem sabe contar nem dizer o que contou.

No idioma português, de traduz perfeitamente a idéia de ek quando o contexto esclarece que era de dentro. Mas temos na Versão Brasileira 20 vezes que ek é vertido dentre, no livro dos Atos, e três vezes do meio de, “sair de”, sete vezes, etc. eis usa-se em os Atos 286 vezes, e na Versão Inglesa é traduzida por into (para dentro de) 85 vezes, segundo o “Englishmen’s Greek. Concordance”, inclusive a história do batismo do eunuco. O Sr. Fairchild disse 64 vezes. É ainda traduzido among (entre), throughout (por entre), in among (no meio de), e in (em) a respeito de lugares entrados.

Nosso bom do Child que tirou a nota de fair (sofrível) em aritmética tira nota pior em leitura! Ele só sabe ler uma frase de vez em quando que, pelo seu uso idiomático, pode servir de argumento contra a imersão.

Na pg. 57:

Vejamos alguns passos: “Não sou enviado senão às (eis) ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mat. 15:14). “Tudo está pronto, vinde às (eis) bodas” (Mat. 22:4). “Vai ao (eis) sepulcro para chorar ali. Tendo, pois, Maria, chegado onde estava Jesus, e vendo-o, lançou-se aos (eis) seus pés” (João 11:31, 32). Dê o leitor à partícula eis o sentido batista e terá nestas passagens: Jesus enviado para dentro das ovelhas de Israel, e Maria chorando dentro do sepulcro de Lázaro (que não estava aberto) e lançando-se dentro os pés de Jesus!

Quanto à ek, veja-se Mat. 25:34: “Então dirá aos que estiverem à (ek) sua direita ...” e, no verso 41, “aos que estiverem à (ek) sua esquerda”. Ajuntará os seus escolhidos dos (ek) quatro ventos da terra” (Mar. 13:27).

Se ek significa “de dentro de” como traduzem os batistas na passagem do eunuco, então teríamos aqui os justos e os ímpios saindo, respectivamente, de dentro da mão direita e esquerda de Jesus e ele ajuntando os seus escolhidos de dentro dos quatro ventos da terra! Absurdo (pg. 57, 58).

O leitor ajuizado notará logo que eis com um substantivo plural não significa dentro de cada um indivíduo que faz parte da coletividade, mas dentro da própria coletividade, dentro do povo de Israel, dentro do rebanho das ovelhas perdidas. Jesus certamente foi enviado para entrar no meio desta coletividade, do mesmo modo como entrou nas águas do Jordão para ser batizado.

“Vinde às bodas”. Lede o resto da narrativa e vereis que o próprio rei “entrou” e que perguntou ao homem que não trajava veste nupcial: “Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial?” Em obediência ao convite: “Vinde às bodas”, “a sala nupcial ficou cheia de convivas”. Todos entraram dentro desta sala, onde se realizou a festa das bodas. / eis tem seu significado natural.

João nos afirma que os judeus julgavam que Maria ia (eis) ao sepulcro. Mais tarde, João afirma que Jesus entrou ercetai eis to mnhmion. hn de sphlain. O túmulo não era uma cova artificial, mas um covil, como é traduzido nos outros lugares em que é usado em o Novo Testamento. Nestes covis, às vezes, bandos de ladrões habitavam. Certamente, Maria e Jesus poderiam penetrar dentro do covil a seu trecho estrito onde a pedra estaria colocada junto ao cadáver.

eis pode ter seu significado natural de para dentro, mas não sendo raro o emprego de eis com verbos de movimento, para indicar o destino, sem salientar a entrada, pode ter este sentido aqui sem limitar contra o outro sentido, onde for por sua vez mais natural. Nada pode ser mais falso do que dizer que os batistas opinam que para dentro é o único significado de eis. Só insistimos em que é o sentido natural e prevalecente nos contextos onde este sentido evidentemente cabe.

Na frase sobre Maria “cair aos pés de Jesus” não há o grego eis. A lição é epesen autou pros tous podas. Alto lá, M. D. Sr. Reitor! Que será de vossa reputação, se multiplicardes assim lições equívocas? Outrossim, de todas as passagens sobre ek, nosso industrioso polemista buscou precisamente a frase mais estranha que podia achar, e a citar como se fosse característico do emprego geral de ek. E ainda mais, baseia seu argumento na palavra mão, na tradução portuguesa, que nada tem no grego da passagem citada que corresponda ao termo mão.

Eis a frase grega: tois ek dexiwn autou ... tois ex euwnumwn. Ora, dexiwn e euwumwn são vocábulos no plural. Mão, subentendida na frase portuguesa à (Mão) direita... à (mão) esquerda, é singular. Mão é feminina, em português e grego, mas estes dois adjetivos estão no gênero neutro; logo, mão não está subentendida no grego. O grego tem a frase às vezes, de epi thn dexiam, à (mão) direita, subtendendo a palavra ceir (mão), mas não empregou esta mesma frase no texto que se discute. Não há vislumbre de sugestão de mão no grego e, portanto, ninguém saiu de dentro da mão, pois não há mão alguma no horizonte da passagem.

O grande dicionário grego de Grimm-Theyer diz, em explicação desta frase ek, sexiwn, que o neutro plural do adjetivo é usado com a preposição ek, “do mesmo modo como os romanos usam ab (sedere a dextra alicuius, próximo esse ab aliquo) porque define a posição de alguém que fica de pé ou sentado junto a outro como procedendo do outro junto a quem está sentado” (p. 129). Logo, esta complexa e raríssima frase é tomada pelo nosso bom teólogo como quase a única que lhe serve de meio para contestar a significação natural de ek, e logo ele foge do grego e começa a argumentar sobre outros dizeres de outra frase em outro idioma, baseando suas críticas numa palavra que não existe, nem se subentende, no grego da passagem em foco.

Ajuntar os eleitos ek twn tess arwn anemwn, dos quatro ventos. Ele não quis citar o resto da frase: “da extremidade da terra à extremidade do céu”. Isto mostra em linguagem vívida e imaginativa que os eleitos serão colhidos de dentro de todo o mundo para se ajuntar com o Cristo que volta. Thayer define anemwn aqui, dos quatro cantos da terra. Mas nosso crítico não gosta de pensar de os eleitos saírem dos quatro ventos, de ajuntarem-se da procedência de dentro dos ventos. Bem, irmão. De duas, uma. Ou saíram do lado de dentro dos quatro ventos ou saíram do lado de fora. O leitor pode escolher. Pessoalmente opino que não há nenhum eleito que more neste globo terrestre que esteja do lado de fora dos confins dos quatro ventos. Logo, saíram do lado de dentro do território onde eles sopram. Veja o leitor que mistificações se buscam para justificar a investida apaixonada contra o sentido natural de ek.

Resta dizer uma palavra sobre apo. Alguém, partindo de um ponto, expressa esta idéia com sem apo dizer se saiu de dentro ou de fora. Está usado em Jesus vir “da Galiléia” (certamente de dentro da Galiléia, mas apo apenas menciona que Galiléia era seu ponto de partida, sem dizer se era do centro ou da fronteira da província), em um til passar “da Lei”, tirar argueiro “do olho”, saindo Jesus “da casa”, de Pedro “saindo da barca”. apo pode indicar, pois, e inúmeras vezes indica, partida do lado de dentro, mas este fato é indicado pelo contexto – não pelo sentido obrigatório de apo, como é de esperar em ek. Mas ambas as preposições são usadas para descrever Jesus saindo do Jordão depois do seu batismo. Ninguém é batizado como foi batizado seu Salvador, a não ser quem sai da água depois do seu batismo.

O maior gramático do grego Koinê, da atualidade e, provavelmente, de todos os séculos, é Dr. A. T. Robertson. Ele diz, na sua Grande Gramática, p. 577, 578:

“apo precisa ser comparado com ek... Os dois nunca são nitidamente equivalente. ek significa “de dentro”, enquanto que apo meramente indica o ponto de partida geral. apo não nega a qualidade de (“withinness”) ter estado do lado de dentro, mas apenas não a afirma, como ek a afirma. Assim, em Mar. 1:10, lemos anabaiwn ek tou udatos quando a afirmação é feita por ek, que Jesus tinha estado dentro da água. (Compare kata - eis, - ana - ek em Atos 8:38, seg.). Mas em Mat. 3:16 temos meramente anebh apo tou udatos, uma forma de expressão que não contexta o ek de Marcos.

Assim testifica o maior gramático do grego Koinê de todos os séculos, no seu opus magnum. Sua voz é incontestável.

É cavalo de batalha do aspersionismo a lavagem de “leitos” pelos judeus. É outro caso em que o autor busca o escuro esconderijo de uma lição equívoca. Em Mar. 7:4 a tradução que Jesus classifica de “preceitos de homens”, v. 7, 8, se refere à lavagem (baptismous) de “copos, jarros e vasos de metal”. O leitor pode abrir o capítulo deste livro, que cita os dicionários todos e verificar que a palavra traduzida “lavagem” = imersão. Logo, não resta motivo de discussão. A Palavra de Deus diz que essas lavagens eram por imersão, como era de esperar. Quem lavaria um copo aspergindo umas gotas de água nele?

Mas a esperança do autor aspersionista é posta em uns poucos manuscritos inferiores, de uma data remota da época apostólica, que acrescentam ao que Marcos escreveu as palavras kai klinwn e camas. É outra tradição dos homens que Jesus condena e o reitor unionista abraça. Mas não há motivo de temermos o exame, mesmo de uma falsa lição. Alguém acrescentou kai klinwn ao texto verdadeiro e este alguém não se espantou à idéia de imersão de camas.

É extraordinário como a imaginação presbiteriana inventa, a seu gosto, soluções na Bíblia. Lemos atônitos:

Mas se a referida palavra faz parte do texto (Não faz. – W. C. Taylor) como é mais certo (Não há nem texto nem crítico respeitável na face da terra que confirme tal afirmação – W. C. Taylor), então temos ali mais uma prova da posição antibatista. De fato, os leitos em que os judeus se reclinavam para comer, e nos quais cabiam até três pessoas, eram grandes e pesados demais para serem imersos: deviam ser purificados por derramamento ou aspersão de água (p. 63).

Não há razão para essas ambiciosas afirmativas. O mesmíssimo termo klinh se usa em Mat. 9:2, 6. Um paralítico é trazido a Jesus “deitado num leito”. Marcos usa o humilde sinônimo de klihn que é krabbatos, de que Thayer diz: “esteira, cama portátil” (uma cama humilde para uma só pessoa). E não seria difícil imergir tais camas. De fato, qualquer pessoa decente que tenha passado uma temporada de doença em cima de uma delas não contentaria com a aspersão de umas gotas de água nela, mas exigiria que fosse lavada às direitas. Jesus mandou este homem levantar sua cama e ir para casa. Se ele podia leva-la assim sem auxílio pelas ruas de Jerusalém, podiam lava-la quando chegou a casa.

Mas nosso ansioso reitor só admite camas grandes e pesadas para três pessoas. Realmente, três pessoas num leito! É demais, mesmo que fossem aspersionistas que assim se apertassem para provar seu argumento “antibatista”!

Sobre esta passagem, o Dr. A. T. Robertson, no seu novo livro “Word Pictures in the New Testament”, Vol. I, pgs. 321, 322, assim comenta:

Da feira (ap agoras). A contaminação cerimonial era inevitável no contato público com a massa popular dos homens. Esta agora, de agerw, reunir ou congregar, era uma praça pública em cada cidade... Os discípulos já se achavam cerimonialmente contaminados. “Lavem-se” (baptiswntai) – primeiro aoristo subjuntivo médio de baptizo, mergulhar, imergir. Westcott e Hort imprimem rantiswntai, traduzido no texto “se asperjam”, na margem da Versão Inglesa Revisada, porque Aleph, B e alguns dos melhores manuscritos cursivos tem esta lição. Gould declara rantiswntai ser “uma evidente emenda do original”, a fim de evitar a suposta dificuldade de imergir ou banhar o corpo inteiro. Meyer diz: “A sentença progride ao auge: Antes de comer, sempre lavam as mãos. Quando voltam da feira, tomam um banho antes de comer”. Aqui não é o lugar de entrar numa controvérsia sobre a significação de baptizo, imergir, rantizo, aspergir e ekcew, derramar, todos usados em o Novo Testamento. As palavras têm aqui seu sentido distinto, como em qualquer outro lugar. Alguns escribas copistas sentiram dificuldades no emprego de baptizontai aqui. Os manuscritos das classes ocidentais e siríacas acrescentam “e leitos” (kai klilwn) no fim da sentença. Swete considera a imersão de camas, baptismous klinwn “uma combinação estranhável”. Mas Gould diz: “Edersheim mostra que a ordenança judaica exigia imersões (baptismous) destes vasos.” Precisamos deixar manifestar-se os escrúpulos judaicos como eles entendam; contudo, “e leitos” não tem autoridade dos manuscritos Aleph, B, L, D, e o Bohairico, e é provável que a lição não seja genuína.

Outra afirmativa do autor, em que lhe basta evidentemente a autoridade única de reitor do Seminário Unido Aspersionista, é:

O particípio grego anastas é sempre empregado para designar uma ação que se vai seguir imediatamente. (E entre as passagens citadas em prova são: “Levantar-me-ei e irei a meu pai”, e “Pedro, porém, levantando-se correu ao sepulcro).”

Pode haver maior cegueira do que um escritor citar estas passagens para provar que anastas nos obriga a crer que Paulo foi batizado ali no próprio quarto onde Ananias o encontrou porque “anastas é sempre empregado para designar uma ação que se vai seguir imediatamente”? Todavia, o pródigo (anastas) “levantando-se foi para seu pai”. Onde estava? “Num país longínquo.” Se anastas pode contemplar uma jornada de um país para outro tão distante, não pode contemplar a pequena distância da casa de um judeu para um dos lindos rios de Damasco ou outro lugar de abluções? E se anastas introduz a declaração de uma viagem em que Pedro teve de sair completamente de Jerusalém para alcançar o túmulo de Jesus, não pode introduzir a partida de Paulo para ser batizado dentro da cidade de Damasco?

Outra encanecida contradição dos inequívocos dizeres da Bíblia é a afirmação (p. 68) de que o carcereiro foi batizado “na própria prisão” de Filipos. Não há esperança de que os aspersionistas deixem de dizer isto, embora já lhe fosse citada mil vezes a contradição categórica da Palavra de Deus. Leiamos Atos 16:19-34:

“O carcereiro, tendo pedido uma luz, saltou dentro da prisão e, tremendo, lançou-se aos pés de Paulo e Silas e, tirando-os para fora, perguntou-lhes: Senhores , que me é necessário fazer para me salvar? Responderam eles: Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa. Anunciaram-lhe a Palavra de Deus, e a todos os que estavam em sua casa. Ele, naquela mesma hora da noite, tomando-os consigo, lavou-lhes as feridas, e foi logo batizando, ele e todos os seus. Fazendo-os subir para sua casa, deu-lhes de comer e alegrou-se muito com toda a sua casa, por haver crido em Deus.”

Vede o itinerário:

1. “Saltou dentro da prisão”

2. “Tirando-os para fora”

3. “Tomando-os consigo”

4. “Lavou-lhes (louw) as feridas”

5. “Foi logo batizado, ele e todos os seus”

6. “Fazendo-os subir para sua casa”

Nem na prisão nem na casa do carcereiro foi efetuado o batismo, mas no lugar onde este lavou (louw - banho total) as feridas dos apóstolos . Ali mesmo, ele foi batizado.

Tanta perversão da Bíblia é um cansaço do espírito. “Não nos agastemos”, porém.

Demos umas linhas ao “Espírito dos Doze” (“Didache”). Lemos na “Controvérsia Batista” (p. 80), a surpreendente declaração:

O “Ensino dos Doze” , que depois do Novo Testamento é o mais antigo e precioso documento histórico que a igreja possui, mostra isto. Citemo-lo: “E, com relação ao batismo, batizai assim: havendo primeiro declarado todas estas coisas, batiza-o em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em água viva. Se, porém, não tiverdes água viva, batizai em outra água, e se não puderdes faze-lo em água fria, então em água quente. Mas, se não tendes nem uma outra, derramai água na cabeça três vezes em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Antes do batismo, jejue o batizando com outras pessoas que possam faze-lo: mandarei, porém, ao batizando jejuar um ou dois dias antes.”

Deste documento fica evidente que a imersão era o modo preferido, podendo, porém, haver a afusão quando a água fosse pouca, e ser com água quente se a saúde do batizando o exigisse. A igreja nesta época não era, pois, batista, isto é, não conhecia a imersão como a única forma do batismo. A sua posição era mutatis mudantis a da Igreja Presbiteriana – reconhecer todos os modos, com preferência por um deles.

1. Este documento nem apóia os batistas nem os presbiterianos. É da época em que as igrejas iam perdendo seus característicos batistas (apóstolos) e cambaleando para o crescente paganismo que evolucionou no catolicismo romano e grego.

2. Vejamos se é presbiteriano. Os presbiterianos exigem dois dias de jejum antes do batismo? Os presbiterianos exigem, se for possível, a imersão em água viva? Os presbiterianos exigem, no segundo lugar da preferência, imersão, em água dormida se não há água viva? Os presbiterianos exigem imersão dos doentes em água morna, se não podem ser levados para receberem o ato em outra água? Os presbiterianos praticam o derramamento em algum caso? E, os presbiterianos praticam três vezes sobre o batizando o ato que erroneamente chamam batismo? O viajor pode visitar absolutamente todas as igrejas presbiterianas na face do orbe e nunca encontraria uma sequer em que se pratique um só dos itens aqui especificados do Didache. Este documento foi escrito precisamente quando as igrejas apostólicas iam deixando de ser o que hoje se chama batistas, e cambaleando para o semipaganismo da confiança supersticiosa em água para tirar o pecado. Este escrito apócrifo teve sua origem catorze séculos antes de existir no mundo o primeiro cristão com idéias presbiterianas.

3. Derramar não é dado como um dos significados de baptizo. O próprio reitor independente admite que baptizo nesta passagem significa imergir e ele usa em na sua tradução (Por que não faz o mesmo nos Evangelhos ? É o mesmo verbo e a mesma preposição). O que o Didache permite é, na impossibilidade de batizar em água viva, água dormida ou água quente, então, como último recurso para um doente, omitir o batismo e derramar três vezes, na falta da possibilidade de batizar. Derramar não é dado como sinônimo de batizar.

4. A data deste escrito não é de forma alguma o século apostólico. O Seminário Unido deve zelar pela sua reputação de erudição. Seu reitor diz que o Didache é “o mais antigo documento que a igreja possui”, depois do Novo Testamento. Quem concordará com isso? Não possui a Epístola de Clemente de Roma, mais ou menos contemporâneo com certos escritos o apóstolo João? Não possui certos escritos de Inácio, citações de Papias, uma Epístola de Policarpo, o Pastor de Hermas, a Epístola de Barnabé, e certas versões da Bíblia – tudo colocado por Newman antes do Didache? Harnack deu ao escrito a data de 130 a 160, Schaff-Hertzog de 120 a 160. Newman diz que é “da última parte do segundo século”.

5. É um documento do Egito, concordam Zahn, Newman, etc., e representa a prática do cristianismo naquela terra onde nunca pisou nenhum apóstolo. E não temos nele o “Ensino dos Doze Apóstolos”. Isto temos tão somente em o Novo Testamento, que não pede luz de um escrito apócrifo. O escritor, se bem que permita, em casos extremos e raríssimos, desobedecer ao Novo Testamento, contudo, é forte testemunha a favor da consciência subapostólica exigir a imersão como a prática universal no batismo daquela época.

A maneira em que um aspersionista argumenta tenazmente a possibilidade de entrar num rio a fim de praticar a aspersão, me faz lembrar o famoso ensaio de Carlos Lamb sobre como os chineses aprenderam a preparar o saboroso prato de leitão assado. Ele representa que um chinês teve a desdita de perder a casa por um incêndio. Mas depois do incêndio verificou que um leitão ficara preso na casa e aí estava emitindo um cheiro apetitoso. Experimentando a carne, deu graças aos seus deuses pelo incêndio e chamou seus vizinhos para a inaudita festa. Um a um, seus cobiçosos vizinhos prenderam seus leitões dentro da choupana e queimaram-na e houve novo banquete de leitão assado até que toda a China rompeu num vasto incêndio a fim de gozar o novo prato de leitão. Afinal, um velho discípulo dos filósofos descobriu que havia outro jeito de assar um porco sem deixar toda a população do Oriente desabrigada.

Da mesma maneira João Batista é suposto ter praticado a aspersão, entrando no rio Jordão, molhando-se e molhando o povo que se batizava, imergindo uma extremidade do batizando e aspergindo a outra, elegantemente arregaçando as saias, segundo à moda do Seminário Unido, ou praticando tal aspersão sobre gente quase nua, segundo a moda da arte medieval predileta. Para que tanta insensatez? Ah! a razão é que ele foi João Batista ! Daí a sua obstinação na loucura. Se tivesse sido João Presbiteriano, ele teria meditado, depois de entrar umas 800.000 vezes no rio para aspergir umas gotas de água de uma concha sobre a cabeça do batizando, e teria dito com seus botões: “Porque entro nesse rio, molhando as peles até que cheiram, incomodando-me, generalizando esta moda de saias arregaçadas, e provocando da parte dos incautos essa nudez tão desnecessária? Um copo de água não me serviria igualmente bem? Eu não poderia borrifar até toda a multidão junta, em pouco tempo, e o resto do dia caçar gafanhotos e mel silvestre? Quem já viu uma coisa mais estúpida do que entrar num rio, molhando e enlameando pés e pernas, tão somente para borrifar umas gotas de água na cabeça? Estou evidentemente praticando um franco absurdo. Estou fora de mim. Vou cobrar juízo. Doravante eu asperjo no templo ou nas sinagogas ou num vale onde haja sombra e repouso. Não sou eu adepto do judaísmo? E a nova igreja para a qual estou preparando a matéria não é idêntica à velha dispensação? Pois bem. Tudo é a mesma coisa. Vou deixar de ser batista. Basta ser presbiteriano e não mais me molhar os pés.

Tudo isso, porém, é sonho. O velho João não se convence. Batiza um milhão de vezes, mas não aprende. Não ganha juízo. Não se ensina. Não aproveita a experiência. Continua desequilibrado. Entra no rio para aspergir gente. Batiza mais gente – gente responsável e convertida – numa semana do que todo o numeroso ministério presbiteriano em cinqüenta países em meio século, mas nunca adivinha que poderia ficar fora do rio e aspergir em terra enxuta. Como se explicará que até o mais insignificante ministro presbiteriano no mundo tem juízo suficiente para não se molhar a si mesmo quando borrifa água sobre seus adeptos e seus bebes, mas o maior nascido de mulher nunca pode perceber uma coisa tão simples como a inconveniência e a insensatez de entrar num rio para praticar a aspersão?

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos - 23/08/05

Revisão: Luis Antonio dos Santos - 24/08/05