Cap 10

AS TESTEMUNHAS DA ANTIGUIDADE

Dr. W. C. Taylor

Capítulo X

A. Os Dicionários

Nosso autor não cita um homem sequer, de toda a raça humana, que ouse dizer baptizo significa aspergir. Numa página, ele tem toda a certeza que significa tão somente molhar, em outra página só pode significar lavar, e, em ainda outra, forçosamente quer dizer purificar e em outra não tem significação alguma, pois não se pode traduzir.

É fácil informar-se da significação de palavras de qualquer língua civilizada, antiga ou moderna, pois há dicionários de todas elas, como os há do grego Koinê em que o Novo Testamento foi escrito.

A quem interessar saber, peço entender que não foi e não será citado nestas páginas nenhum dicionário de grego clássico. São dicionários do Novo Testamento grego, preparados por peritos na matéria, todos eles, menos um, da autoria de homens de denominações aspersionistas. Há seis destes que descansam na minha mesa.

I. O que Deissmann declara ser o melhor do mundo é o produto de três mentes enciclopédicas da Alemanha e da América. O Prof. C. G. Wilke preparou o “Clavis Novi Testamenti Philologica”, em dois tomos, em 1851. Esta obra foi revista e aumentada pelo Prof. C. L. W. Grimm, de Jena, e traduzida para o inglês pelo Dr. J. H. Thayer, da Universidade de Harvard, E.U.A., com suas notas acrescentadas. Ele era congregacionalista, e Grimm eminente teólogo luterano. Eis suas definições: baptizo - I. 1. Propriamente, mergulhar repetidas vezes, imergir, submergir. 2. Purificar por imergir ou submergir, lavar, limpar com água. 3. Metaforicamente, submergir... em calamidades.

II. Em o Novo Testamento é usado especificamente no rito de sagrada ablução, primeiro estabelecimento por João Batista e depois pelo mandamento de Cristo, recebido pelos cristãos e ajustado à natureza e conteúdo de sua religião, isto é, uma imersão em água, efetuada como sinal da remoção do pecado, e administrado aqueles que, impulsionados por um desejo de salvação, buscaram admissão dos benefícios do reino do Messias.

a). A palavra se usa absolutamente, administrar o rito de ablução, batizar, (Vulgata, baptizo. Tertuliano, tingo, tinguo [compare mergito, de corona mil §3]). b) Com as preposições: aa, eis, para indicar o elemento no qual a imersão se efetua, bb. en, com o dativo, daquilo em que é imerso alguém. cc. epi tw onomati Ihsou cristou = dependendo do Nome de Jesus Cristo, isto é, depositando a confiança nele.

ek, 1. universalmente do lugar de que, de um lugar cercado ou circunscrito, do interior de. 2. Do meio de (um grupo, número, companhia, coletividade). 3. De uma superfície local. 4. Da direção de onde. (Nesta conexão, ele cita ek dexias e diz a palavra subtendida é cwras) (logo, os que estavam à destra não estariam na mão, mas na região ao lado direito de Jesus. – W. C. T.) (seguem os sentidos de origem, fonte, causa e tempo.)

II. A grande sociedade bíblica de Samuel Bagster e Filhos, Londres e Nova York, publicou com o Novo Testamento grego, editado por Westcott e Hort, um dicionário grego-inglês do Novo Testamento, que já chegou a 13 edições por causa de sua excelência. É obra revista pelo Rev. Thomas Sheldon Green.

baptizo propriamente, mergulhar, imergir, purificar por lavagem, ministrar o rito do batismo, batizar; com várias idéias associadas com o batismo cristão, com ato de devoção, etc., baptisma imersão, batismo, ordenança de batismo; figuradamente, batismo nas provações de sofrimentos.

III. A grande sociedade editora evangélica de Nova York, Chicago, Londres e Edimburgo, Fleming H. Revell Cia., publica uma “Introdução à Gramática do Novo Testamento Grego”, com vocabulário completo e os principais sinônimos, obra excelente de um grande lingüista batista de Londres, o Dr. Samuel G. Green.

baptizo (forma freqüentativa do bapto) (1) méd. ou pás. reflex. banhar-se , unicamente em Mar. 7:4; Luc. 11:38; (2) da ordenança cristã, imergir, submergir: batizar. O material (água, fogo, o Espírito Santo) é indicado pelo dativo eis ou en; o propósito ou o resultado por eis. Pás. ou méd. ser batizado, receber batismo; (3) figuradamente, submergir em aflições,

ek = de, fora do interior.

IV. Temos ainda a citar a obra magistral de Cremer, notável alemão luterano.

(Bíblico-Theological Lexicon of New Testament Greek, by Hermann Cremer. Translated from the German by D. W. Simon, Ph. D. and William Urwick, M. A., p. 101 baptizo - imergir, submergir. O sentido peculiar do N. T., ou sentido cristão da palavra para significar imersão, submersão para um fim religioso = batizar (João 1:25), (ti oun baptiízeis) pode ser traçado com regular clareza às lavagens levíticas: Lev. 14:8, 9; 15:6, 7, 8, 10, 11, 16, 18, 21, 22, 27; 17:15; 15:13; 16:4, 24, 26, 28; Num. 19:7, 19; Êx. 19:19; 24:4; 40:12, pelo que a LXX tem lousqai. Compare Atos 22:16: baptisai kai apolonsai tas amartais sou... (Depois de citar umas passagens em prova, que já discutimos, Cremer continua:). Esta é a razão por que também baptizem em si não foi desconhecido aos judeus, e porque não consideraram que era direito para qualquer adiantar-se, como faria João Batista (João 1:25). O que era desusado em João era que ele praticava o baptizem em outros, mas a Lei exigia que cada um praticasse tais abluções para si.

V. Há novo dicionário do Koinê por um leigo presbiteriano, Alexandre Souter. Ele fez um esforçozinho para afastar-se meia polegada da imersão como definição de baptizo, mas a obra dele foi declarada ser sem erudição ou justificação, neste e em outros pontos, por autoridade como o Dr. A. T. Robertson. É quase uma cartilha do grego Koinê.

baptizo, literalmente, eu mergulho, eu submerjo, mas especificamente a respeito de imersão cerimonial (quer por imersão quer por afusão) eu batizo.

A referência do autor parece ser a provisão no chamado “Ensino dos Doze Apóstolos”, que permite abundantemente afusão dos doentes nas suas camas, em caso de impossibilidade de serem levados para serem imersos. Note-se o máximo que um autor presbiteriano ousaria dar como significado de baptizo não é aspergir, mas imersão cerimonial, quer por imersão ou imersão... por afusão!! Logo, ninguém é assim batizado que não for imerso ou que não receber tão grande afusão que produza a imersão do batizando! Era muita ansiedade de fugir da verdade, não é? E custou bastante na reputação do sectário autor. “O Ensino dos Doze Apóstolos” já discutimos.

VI. Quão diferente o testemunho de Moulton (metodista) e Miligan (presbiteriano erudito e imparcial), no seu vasto tesouro do grego Koinê, tirado dos papiros, inscrições e ostraka.

Vocabulary of the Greek New Testament, Ilustrated from the papyry and other non-literary sources, Tomo II, p. 102.

baptizo - até no quarto século d. C. a palavra se encontra num papiro mágico P. lond 46 69 (= Ip. 67) a respeito de um bote submergido... baptizomeqa só pode significar “afogado” ou submergido em calamidades. baptismos... em distinção de baptisma, em que se inclui o resultado, baptismos é o ato de imersão.

(Outros trechos do mesmo são citados em capítulos anteriores.)

Tudo isto finda a possibilidade de duvidar ou o direito de sofismar. Que adianta imaginar dificuldades na imersão de 3.000 numa acostumada às abluções de 300.000 habitantes, sem contar os peregrinos? Que adianta, mesmo se essa imaginação fosse mais razoável, quando a Bíblia declara categoricamente que foram imersos, segundo o testemunho de todos os dicionários?

Que adianta alegar a possibilidade da tola prática de entrar num rio para aspergir? A Bíblia afirma a imersão. Que adianta tanta ginástica mental, para negar a verdade, quando a Bíblia em todos os casos do batismo apostólico, invariavelmente, usa os termos que todos os dicionários concordam significar imergir, imersão? Este fato fez Judson abandonar tudo e todos e, sem sustento, amigos, ou apoio humano, tornar-se batista, pelo puro amor à verdade, confiando em Cristo para o sustentar e abençoar na obediência.

B. Liturgias e Credos

As liturgias e confissões de fé históricas da cristandade são as únicas outras testemunhas formais e oficiais que citaremos. Conant cita as seguintes vozes históricas:

1. A Igreja Grega: Extraída do “Euchlogion, ou Ritual dos Gregos”, de Goar. Ofício da Santa Imersão (batismo).

(Após as cerimônias preparatórias). “E quando o corpo inteiro tiver sido ungido, o sacerdote imerge-a (a criança), mantendo-a ereta e virada para o oriente, dizendo: O servo de Deus (chamando o nome dele) é imerso em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, agora e para sempre, até os séculos dos séculos. Amem.”

Em cada invocação, o deita e o levanta. E, depois da imersão, o sacerdote lava as mãos, cantando com o povo: “Felizes são aqueles cujos pecados foram perdoados.”

2. A Igreja Latina: “Sacramentarium Gregorianum, sive Sacramentorum ardo a sancto Gregório I, Papa Compositus” (ed Muratori, Vol. II, p. 73).

Benedicto fonte, et eo tenente infantem, a quo suscipiendum est, interroget sacerdos ita:

Quis vocaris?

Respondet:

(Ille). Credis in Deum Patrem omnipotentem, Creatorem coeli et Terrae?

Respondet: Credo.

Et in Jesum Christum Filium ejus unicum, Dominum nostrum, natum et passum?

Respondet: Credo.

Credis et im Spiritum Sactum, santam Ecclesiam Catholicam, remissionem peccatorum, carnis resurrectionem?

Respondet: Credo.

Deinde baptizet sacerdos sub trina mersione tantum sanctam Trinitatem semel invocans, ita dicendo:

Et ego te baptizo in nomine Patris:

Et mergat semel.

Et Filii;

Et mergat iterum.

Et Epiritus sancti;

Et mergat tertio.

Traduzimos a instrução sobre o ato:

“Então o sacerdote batize pela trina imersão, uma só vez invocando a santa Trindade, dizendo: E eu te batizo em nome do Pai (e imerja uma vez) e do Filho (e imerja segunda vez) e do Espírito santo (e imerja terceira vez)”.

(Veja adiante o testemunho do N. T. Franciscano.)

3. A Igreja Anglicana. Trecho do primeiro “Livro de Oração Comum e Administração dos Sacramentos, o primeiro livro do Rei Eduardo VI, 1549” (Fracsimile de Pickering).

Então o sacerdote tomará a criança nas suas mãos e pertará o nome dela. E, pronunciando-lhe o nome, a imergirá em água três vezes. Primeiro, mergulhando o lado direito, segundo, o lado esquerdo, e a terceira mergulhando-a com o rosto da criança para a pia. Assim seja feito discreta e cautelosamente, dizendo: (Nome) Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. E se a criança for fraca, será suficiente derramar água sobre ela, dizendo as palavras acima citadas.

Conant cita outros Livros de Ordens de 1552, 1559, 1604 e 1662, sendo que o último exige apenas uma imersão.

E o Concílio de Calchuth em 816, cap. XI, diz: “Saibam os presbíteros que, quando administram o santo batismo, não podem derramar a água santa sobre as cabeças dos infantes, mas sempre sejam estes imersos na pia, como o Filho de Deus nos deu exemplo de si mesmo a cada crente quando ele foi três vezes imerso nas ondas do Jordão...”

O grande presbiteriano Schaff em seu “Greeds of Christendum”, Vol. III, p. 223, tem a seguinte nota sobre Confessio Helvetica Posterior, d. C. 1566. ( A Segunda Confissão Helvética): “É a mais elaborada e a mais católica de todas as confissões suíças. Foi adotada, ou pelo menos altamente aprovada, por quase todas as igrejas reformadas no Continente e na Inglaterra e na Escócia.”

Eis o artigo sobre De Santo Batismo:

“O batismo foi instituído e consagrado por Deus; e o primeiro que batizou foi João, que imergiu Cristo em água no Jordão...”

Este testemunho primitivo adotado tão largamente pelos presbiterianos é tarde agora para repudiar. Schaff também cita assim o Catecismo Pequeno de Lutero (p. 86, 87).

Que significa batizar com água?

Significa que em nós o velho Adão é afogado por diária tristeza e arrependimento, e perece com todos os pecados e más concupciencias, e que o novo homem deve diariamente surgir e se levantar, o qual viverá perante Deus em justiça e pureza para sempre. (E, como prova, Lutero cita Rom. 6:4).

Outra confissão luterana citada por Schaff, p. 184, é Articuli Visitatorii, 1592: “Todos que são batizados em Jesus Cristo são batizados na sua morte; e pelo batismo são sepultados com ele na sua morte e se revestiam de Cristo.”

O testemunho oficial e unido da cristandade Católica Romana, Católica Grega, Anglicana, Luterana e Reformada é que o batismo é a imersão, sejam quais forem suas respectivas práticas hoje em dia. Com quase igual unanimidade confessam suas vozes mais acatadas, autorizadas e eruditas que mudaram a ordenança divina, substituindo-a por uma nova tradição humana. Mas, sobre o que era o batismo do Novo Testamento,todos concordam formal e oficialmente. É a imersão.

 

Autor: Dr William Carey Taylor
Fonte: www.palavraprudente.com.br

Digitação: Daniela Cristina Caetano Pereira dos Santos - 23/08/05

Revisão: Luis Antonio dos Santos - 24/08/05